IEDI na Imprensa - Investimento cai 2,2%, a primeira queda após seis trimestres de alta
O Globo
Taxa como proporcao do PIB fica em 16,8%, considerada baixa, e reflete impacto da Selic no esfriamento da economia brasileira
Vinicius Neder, Mayra Castro e Bruno Rosa
Destaque negativo do Produto Interno Bruto (PIB) do segundo tri- mestre, os investimentos cairam 2,2% na comparação com os três pri- meiros meses do ano. A queda inter- rompeu uma sequência de seis trimestres seguidos de alta nessa base de comparação e manteve a taxa de investimentos estacionada em 16,8% do PIB, considerada baixa para os padrées internacionais e para as necessidades do Brasil.
Segundo economistas, o desempenho dos investimentos foi um dos principais sinais de que, no segundo trimestre, os efeitos da política de juros restritiva no esfriamento da economia começaram a ser sentidos com mais força.
Os investimentos cairam tanto por causa da menor produção local de máquinas e equipamentos quanto devido a um recuo na importação de bens de capital, informou o IBGE.
Nesse quesito, o dado do primeiro trimestre tinha sido inflado pela importação de uma plataforma de petróleo. Consequentemente, a comparação com a base mais elevada do início do ano ajuda a ampliar a magnitude da queda no segundo trimestre, disse Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do órgão de estatísticas.
O economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), Rafael Cagnin, chamou a atenção para o fato de que os investimentos puxaram o crescimento econômico ano passado, comum salto de 7,3%. Agora, a queda sinaliza para uma mudança na com- posição do crescimento.
— Isso acende uma luz amarela, apontando para uma mudança no perfil do crescimento, com o investimento ficando pra trás — afirmou Cagnin, explicando por que os invesimentos são importantes. — O investimento une presente e futuro. Ao crescer, ele dinamiza a economia hoje, mas quando tem um cresci- mento puxado pelo investimento, as condições de oferta melhoram no futuro, com mais capacidade e mais produtividade, o que ajuda a arrefecer a inflação.
AUMENTO DA INCERTEZA
Para Jonathas Goulart, economista- chefe da Firjan, a queda nos investi- mentos revela uma economia dese- quilibrada, de baixo potencial decrescimento, que enfrenta pressões inflacionárias mesmo quando avança entre 2% a 3% ao ano. O elevado nível dos juros seria um sintoma desse desequilíbrio.
—Juro alto é um sinônimo de que alguma coisa não está indo muito bem. Toda vez que o setor público entra na economia de maneira forte acaba expulsando o setor privado. O aumento da taxa de juro reflete um governo mais efetivo no gasto —afirmou Goulart.
O problema, para as perspectivas de crescimento para este e os próximos anos, é que, para aumentar seu potencial, a economia brasileira pre- cisava de mais produtividade, o que passa, necessariamente, por mais investimentos, tanto na capacidade produtiva das empresas quanto na infraestrutura.
A Motiva Rodovias (novo nome da divisão de concessões rodoviárias da CCR) investiu R$ 4,2 bilhões em 2024 e deverá repetir a cifra este ano, informou Josiane Carvalho, diretora financeira de Novos Negócios da companhia, que controla 12 concessionárias. Mas manter esse ritmo de aportes dependerá da demanda da economia, que se reflete no fluxo de veículos nas estradas, alertou a executiva:
—Não estou fazendo investimento onde não há tráfego.
Segundo o economista da Firjan, juros menores dependem de uma maior confiança dos agentes econô- micos no equilíbrio das contas do governo, o que seria ainda mais importante agora, com a guerra tarifária iniciada pelos EUA elevando a incerteza no cenário externo.
A economista Juliana Trece, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), avalia que essa incerteza pode inclusive já ter apresentado algum impacto negativo no segundo trimestre, já que a guerra comercial está colocada desde abril, quando o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou o primeiro tarifaço contra todos os países.
—Esse aumento da incerteza global, além da dinâmica interna da econo- mia brasileira, já aperta a decisão de investimento —afirmou.
