IEDI na Imprensa - Após tarifaço, invasão de produtos chineses no Brasil preocupa indústria
Folha de São Paulo
Maeli Prado
Dono de um mercado consumidor relevante, o Brasil é um dos alvos da esperada redistribuição maciça de produtos chineses dos EUA, que impuseram ao país asiático uma tarifa de 145%.
Essa potencial invasão alarmou o setor produtivo brasileiro, que defende monitoramento das compras da China — alguns setores já notam disparada de importações — e eventual adoção de mecanismos de defesa comercial.
Apreocupacao é coma escala monumental dos manufaturados da China, que responde por um terço da produção mundial, Ao mesmo tempo, diferentes setores reconhecem que os produtos brasileiros podem ganhar espaço no mundo com a provável reorganização do comércio mundial.
"As regras do jogo estão mudando, e ha prejuízos e oportunidades num cenário de muita incerteza", afirma Rafael Cagnin, economista do IEDI (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), que lembra que outra consequéncia é o menor crescimento da economia mundial.
Ele aponta que o Brasil precisurá avaliar as importações de forma detalhada, determinando os casos em que serão necessárias medidas de proteção, como mecanismos antidumping (taxação de importações de bens que chegam a preços inferiores aos praticados na origem).
Para uma parte da indústria, essa possibilidade é insuficiente, já que os processos de dumping são demorados e caros. Na avaliação de Fernando Valente Pimentel, diretor superintendente da Abit (Associação Brasileira da Indústria Textil e de Confecção), o Brasil precisará impor cotas para limitar importações da China.
"Processos de dumping possuem um prazo de resolução de até 18 meses. Se todos os setores entrarem com processos ao mesmo tempo, o problema só será resolvido em cinco anos", diz. "Mas depois que as tropas chinesas ocuparem o país, não tem mais volta"
O executivo diz que os EUA importaram US$ 113 bilhões em têxteis em 2024, e que a China respondeu por 25% desse total. "Não acredito que tudo isso deixará de ser vendido para os EUA, mas o maior risco no curto prazo é: para onde vão mandar tudo isso?"
Cagnin defende que, apesar da necessidade de defesa comercial, o Brasil não pode ser levado pelo calor do momento, entrando na seara do protecionismo, e fechar o mercado. "O Brasil está atrasado na
agenda de integração internacional, e esse seria um erro".