Carta IEDI
Exportações industriais na frente no 1º trim/23
O superávit de comércio de bens da economia brasileira somou US$ 15,8 bilhões no 1º trim/23, cifra 30% superior à registrada no mesmo trimestre de 2022. Este resultado decorreu do avanço de +4,8% das exportações (US$ 76,2 bilhões) e de uma ligeira queda de -0,3% das importações (US$ 60,3 bilhões).
A corrente de comércio de bens, que soma tudo o que o país transacionou com o restante do mundo, avançou +2,4% em termos nominais entre os primeiros trimestres de 2022 e 2023, mas recuou em porcentagem do PIB: de 30% para 28%.
Já no acumulado em 12 meses findo em mar/23, as exportações somaram US$ 337,6 bilhões e as importações US$ 272,4 bilhões, cifras +13,3% e +17,2% superiores às registradas no mesmo período do ano anterior. Com isso, o superávit comercial acumulado no período recuou -0,5%, para US$ 65,2 bilhões.
O ranking dos principais destinos das exportações brasileiras de bens manteve-se estável no 1º trimestre de 2023 frente ao mesmo trimestre de 2022 e os 5 principais destinos continuaram respondendo por mais de 50% do total. A China seguiu na liderança, com uma participação de 27,5%, e os Estados Unidos, na 2ª posição, com uma participação de 10,8%, isto é, ligeiramente maior do que a do 1º trim/22 (10,4%).
O aumento da participação dos Estados Unidos ocorreu sob influência de uma a taxa de crescimento das vendas externas brasileiras para esse destino (+9%) superior àquela registrada no caso da China (+4,8%). Se o cenário atual do FMI, que prevê aceleração da economia chinesa e desaceleração da economia americana, se confirmar (Carta IEDI 1200), esse padrão deve mudar nos próximos meses.
Considerando a variação trimestral frente ao mesmo período do ano anterior, tanto as exportações como as importações perderam dinamismo frente ao mesmo período de 2022 (quando ambas avançaram em torno de +30%), bem como ao último trimestre de 2022. Esse desempenho está associado à desaceleração das economias global e brasileira e à queda dos preços das commodities.
No caso das exportações, o efeito-preço foi nulo no agregado, já que o quantum exportado cresceu +4,7%, praticamente no mesmo ritmo do valor exportado (+4,8%). O volume de vendas externas de agropecuária e da indústria de transformações ficou praticamente estagnado e o valor dessas exportações dependeu de efeitos-preços positivos. Na extrativa, foi o quantum que avançou, dado o recuo dos preços de commodities, notadamente energéticas.
Contribuíram para esse desempenho diferenciado dois fatores: a defasagem entre os contratos de exportação e dos embarques (em geral, de 6 a 12 meses) e a intensidade da queda de preços das commmodities que variou tanto entre as diferentes categorias, como dentro de cada uma delas.
As vendas externas da indústria de transformação registraram a maior taxa de crescimento: +6,4% frente ao mesmo trimestre de 2022 e atingiram US$ 41,4 bilhões. Isso representou uma participação de 46,5% do total das exportações brasileiras contra 49% no mesmo trimestre de 2022. Não é de agora que as exportações industriais vêm perdendo espaço em nossa pauta exportadora.
Como a alta em quantum das exportações industriais foi de somente +0,9%, denota-se que a alta dos preços de produtos manufaturados derivados de commodities tiveram um papel crucial nesse aumento, mesmo padrão observado em 2022
Os embarques da agropecuária, por sua vez, avançaram num ritmo bem inferior: +3,5% ante o 1º trim/22, somando US$ 16,9 bilhões. Pouco recebeu contribuição positiva de um efeito-quantidade (+0,3%) e o preço médio de seus bens seguiu sendo o principal fator de expansão.
Assim, no caso desses dois setores (indústria e agropecuária), a desaceleração da economia global e, assim, da demanda externa a partir do segundo semestre de 2022 já impactou as quantidades exportadas. Em contrapartida, apesar da trajetória descendente dos preços das commodities a partir de meados de 2022, o efeito-preço ainda foi positivo, embora menor do que nos dois trimestres anteriores, devido à defasagem dos contratos de exportação firmados.
Já as exportações da indústria extrativa, que somaram US$17,4 bilhões, sofreram um efeito-preço negativo, dada a queda da cotação internacional do petróleo, a partir de meados de 2022. Todavia, a forte alta do quantum exportado (+18,5%) foi mais que suficiente para neutralizá-lo, resultando num aumento de +1,6% no valor exportado.
Na indústria de transformação, as exportações de 13 de um total de 23 setores aumentaram no 1º trim/23 frente ao mesmo período do ano anterior, uma parcela levemente majoritária de 56% dos total de ramos. “Outros equipamentos de transporte” registraram a maior taxa de crescimento (+43,7%), seguido por “automóveis, reboques e semi-repoques” (+24,1%) e “máquinas e equipamentos” (+22,4%).
Produtos alimentícios ficaram na 7ª posição em termos de taxa de crescimento, com uma alta de +11,2%. Contudo, esse setor seguiu na liderança no ranking dos 7 principais setores exportadores (que responderam por 84% to total no 1º trimestre de 2023). Metais básicos seguiram na 2ª posição, apesar do recuo de -4,7% de suas exportações. Já “automóveis, reboques e semi-repoques” ocuparam o lugar de “produtos químicos” na 3ª posição. As demais posições não se alteraram.
Quanto às importações de bens, o recuo de -0,3% no 1º trim/23 só não foi maior porque o aumento de preços amorteceu o efeito-quantidade negativo. O quantum importado retraiu-se -2,2%, já como reflexo, ao menos em parte, da desaceleração da atividade econômica doméstica em 2022 (Carta IEDI 1194).
Nos três grandes setores, o efeito-quantidade sobre nossas importações foi negativo, embora em diferentes intensidades. Já o efeito-preço foi positivo na agropecuária e na indústria de transformação, mas negativo na indústria extrativa, assim como no caso das suas exportações.
Introdução
Esta Carta IEDI analisa o desempenho do comércio exterior brasileiro de bens no 1º trimestre de 2023, detalhando sua evolução por valor, destino, grandes setores, quantum exportado e importado, bem como as exportações da indústria de transformação com base nos dados do Ministério da Indústria, Desenvolvimento e Comércio (MIDC).
Resultados gerais
O saldo de comércio de bens da economia brasileira somou US$ 15.844 milhões no 1º trimestre de 2023, cifra 30% superior à registrada no mesmo trimestre de 2022. Este resultado decorreu do avanço de 4,8% das exportações – que atingiram US$ 76.173 milhões - e de uma ligeira queda de 0,3% das importações – que somaram US$ 60.329 milhões.
No acumulado em 12 meses, as exportações somaram US$ 337.593 bilhoes e as importações US$ 272.408 milhões, cifras 13,3% e 17.2% superiores às registradas no mesmo período do ano anterior. Com isso, o superávit comercial recuou ligeiramente na mesma base de comparação, somando US$ 65.186 milhões.
Considerando a variação trimestral frente ao mesmo período do ano anterior, tanto as exportações como as importações perderam dinamismo na comparação com o desempenho registrado no mesmo período de 2022, quando ambas avançaram em torno de 30%. Nota-se a mesma tendência na comparação com o último trimestre de 2022.
Como detalhado a seguir, esse desempenho está associado à desaceleração das economias global e brasileira (e, assim, das demandas externa e interna) e à evolução dos preços das commodities.
Já a corrente de comércio de bens avançou 2,4% em termos nominais, de US$ 133 bilhões no 1º trimestre de 2022 para US$ 137 bilhões no 1º trimestre do corrente ano. Todavia, em porcentagem do PIB, houve um recuo de 30% para 28% no mesmo período.
Principais destinos das exportações de bens
O ranking dos 15 principais destinos das exportações de bens brasileiras manteve-se estável no 1º trimestre de 2023 na comparação com o 1º trimestre de 2022 (Carta IEDI 1195). Os cinco principais destinos continuaram respondendo por 50,5% do total.
A China seguiu na liderança, com a mesma participação no total (27,5%). Contudo, nossas exportações de bens para este destino avançaram somente 4,8% no 1º trimestre de 2023 contra 14% no mesmo período de 2022 (sempre na comparação com o mesmo trimestre do ano anterior). Essa redução decorreu da queda dos preços das commodities e da desaceleração da economia chinesa no ano passado.
Se a aceleração prevista pelo FMI para o desempenho da China em 2023 se confirmar - de 3% em 2022 para 5,2% em 2023 (Carta IEDI 1200) -, seus efeitos sobre as exportações brasileiras serão sentidos nos próximos trimestres dada a defasagem entre os contratos de exportações e os embarques (em geral, de 6 a 12 meses).
Os Estados Unidos mantiveram-se na segunda posição no ranking, mas sua participação no total aumentou ligeiramente - de 10,4% no 1º trimestre de 2022 para 10,8% no 1º trimestre de 2023 – como reflexo do crescimento de 9% das vendas externas brasileiras para esse destino – ritmo superior ao registrado no caso da China. Esse padrão, todavia, deve se alterar, já que a economia americana deve desacelerar de 2,1% em 2022 para 1,6% em 2023, segundo o cenário atual do FMI.
Em relação aos três destinos seguintes, as taxas de crescimento foram muito mais altas. Contudo, somente as vendas externas para a Argentina tiveram um desempenho melhor do que no 1º trimestre de 2023 (24,3% contra 21,8%). Já as exportações para os países baixos desaceleraram de 42,9% para 25,9% e para a Espanha de 108% para 28,8% no mesmo período, como reflexo, ao menos em parte, do menor ritmo de crescimento nesses dois destinos.
Desempenho por grandes setores
No 1º trimestre de 2023, as exportações brasileiras de bens avançaram 4,8% frente ao mesmo período de 2022. Como o quantum exportado cresceu praticamente no mesmo ritmo (4,7%), no agregado, o efeito-preço foi nulo. Os três grandes setores - indústria de transformação, agropecuária e indústria extrativa – contribuíram para o avanço das exportações, mas em ritmos e composições (efeito-preço e/ou efeito-quantidade) diferenciados.
As vendas externas de bens foram puxadas, sobretudo, pelas exportações da indústria de transformação, que atingiram US$ 41.396 milhões, um avanço de 6,4% frente ao mesmo trimestre de 2022. Como a alta em quantum foi de somente 0,9%, denota-se que a alta dos preços de produtos manufaturados derivados de commodities tiveram um papel crucial nesse aumento, mesmo padrão observado em 2022 (Carta IEDI 1195).
As vendas externas da agropecuária no período em tela avançaram 3,5%, somando US$ 16.956 milhões, também sob influência da alta dos preços de commodities, uma vez que, em quantum, as vendas externas do setor ficaram praticamente estáveis (+0,3%).
Assim, no caso desses dois setores (indústria e agropecuária), a desaceleração da economia global e, assim, da demanda externa a partir do segundo semestre de 2022 já impactou as quantidades exportadas. Em contrapartida, apesar da trajetória descendente dos preços das commodities a partir de meados de 2022, o efeito-preço ainda foi positivo, embora menor do que nos dois trimestres anteriores.
As exportações da indústria extrativa, por sua vez, sofreram influência de um efeito-preço negativo associado à queda da cotação internacional do petróleo.Todavia, a forte alta quantidades exportadas (de 18,5%) foi mais que suficiente para neutralizar esse efeito, resultando num aumento de 1,6% no valor exportado. Com isso, as vendas externas desse setor somaram US$17.358 milhoes no 1º trimestre de 2023.
Esse efeito-preço diferenciado nos três setores explica-se tanto pela defasagem entre os contratos de exportação e dos embarques, como pela intensidade da queda de preços das commmodities que variou tanto entre as diferentes categorias, como dentro de cada categoria.
As commodities energéticas e o petróleo cru registraram a deflação mais intensa. O índice de metais básicos se recuperou entre outubro e janeiro, mas nem todas commodities metálicas registraram alta das cotações. Já os índices de commodities agrícolas e alimentos ensaiaram uma ligeira alta no 1º trimestre de 2023. Contudo, no caso desses 3 índices, os patamares continuaram inferiores aos registrados no 1º trimestre de 2022.
Neste contexto, a indústria de transformação continuou sendo o líder nas nossas vendas externas de bens, mas sua participação no total diminuiu de 49,1,% no 1º trimestre de 2022 para 46,9% no 1º trimestre de 2023, praticamente o mesmo patamar registrado no 1º trimestre de 2021.
Quanto às importações de bens, o recuo de 0,3% no 1º trimestre de 2023 frente ao mesmo período do ano anterior somente não foi maior porque o aumento de preços amorteceu o efeito-quantidade negativo. O quantum importado retraiu-se 2,2%, já como reflexo, ao menos em parte, da desaceleração da atividade econômica doméstica em 2022 (Carta IEDI 1194).
Nos três setores, o efeito-quantidade foi negativo, embora em diferentes intensidades. Já o efeito-preço foi positivo na agropecuária e na indústria de transformação, mas negativo na indústria extrativa, assim como no caso das exportações.
Na indústria de transformação, as importações aumentaram 3,2%, atingindo US$ 54.160 milhões, pois a alta dos preços mais do que compensou o recuo de 0,7% no quantum. Na agropecuária, o avanço de 3,8% no valor de suas compras externas, deve-se integralmente ao aumento de preços dos produtos importados, já que em quantum houve redução de 9,8% no periodo em tela.
Já o valor das importações da indústria extrativa recuou 29,3% como reflexo da queda de 10,8% do quantum e do efeito-preço negativo pelo segundo trimestre consecutivo devido à deflação do preço do petróleo.
Por dentro das exportações da indústria de transformação
No 1º trimestre de 2023, 13 de um total de 23 setores da indústria de transformação (56% do total) registraram aumento nas suas vendas externas frente ao mesmo trimestre do ano anterior. “Outros equipamentos de transporte” registraram a maior taxa de crescimento (43,7%), seguido por “automóveis, reboques e semi-repoques” (24,1%) e “maquinas e equipamentos” (22,4%).
Nos três casos acima, o efeito-quantum predominou frente ao efeito-preço. Já nas quarta e quinta posições – “fabricação de papel e produtos de papel” (22%) e “fabricação de produtos de tabaco” (18,9%) –, o efeito-preço foi mais relevante.
Produtos alimentícios ficaram na 7ª posição em termos de taxa de crescimento, com um avanço de 11,2% das suas exportações frente ao mesmo trimestre anterior. Contudo, esse setor seguiu na liderança no ranking dos 7 principais setores exportadores da indústria de transformação (que responderam por 84% to total no 1º trimestre de 2023), com exportações de US$13,1 bilhões.
Metais básicos seguiram na 2ª posição, apesar do recuo de 4,7% das exportações. Já “automóveis, reboques e semi-repoques” ocuparam o lugar de “produtos químicos” na 3ª colocação. As demais posições não se alteraram.