Carta IEDI
Relativa resiliência na economia global
De acordo com o último cenário do FMI, recentemente divulgado, o ano de 2025 tem sido marcado por acentuada volatilidade, como reflexo da reordenação de política econômica dos Estados Unidos e de seus efeitos sobre os demais países. Tal reordenação, observa do Fundo, não se refere apenas à política tarifária, mas também a cortes na ajuda internacional ao desenvolvimento, medidas mais restritivas contra a imigração e políticas fiscais mais acomodatícias, em função do aumento dos gastos em defesa.
Apesar disso, a economia global mostra-se relativamente resiliente. O atual cenário básico do Fundo chega a ser razoavelmente superior às suas projeções anteriores. O resultado esperado do PIB mundial em 2025, que era de apenas +2,8% em abr/25, sob efeito da escalada da tensão comercial entre EUA e China, progrediu para +3,0% em jul/25 e então para +3,2% agora no cenário de out/25.
Caminhamos, assim, de volta ao desempenho projetado logo na entrada do ano (+3,3% em jan/25), mas ainda assim a economia mundial seguirá abaixo do ritmo médio pré-pandemia (+3,7% em 2001-2019). Esta desaceleração terá sequência em 2026, segundo o Fundo.
A projeção do PIB global para 2026, não foi alterada em relação ao cenário anterior, devendo ficar em +3,1%, menor portanto do que o resultado de +3,2% de 2025 e +3,3% de 2024. Muito disso, virá de efeitos secundários sobre o comércio global de bens e serviços, que em 2026, deve crescer apenas +2,3% ante +3,6% em 2025 e +3,5% em 2024.
Cabe observar que o cenário mais recente da OCDE, divulgado em setembro último, prevê a mesma taxa de crescimento para o PIB global que o FMI no caso de 2025. Para 2026, sua projeção é ligeiramente menor do que a do Fundo, de +3% ante +3,3%, como visto acima.
Entre os grupos de países, as economias avançadas são as que menos devem crescer nos próximos anos e é também o grupo cuja revisão para cima no cenário de out/25 foi mais discreta. Projeta-se desaceleração de +1,8% em 2024 para +1,6% em 2025 (somente +0,1 p.p. ante a projeção de abr/25), ficando neste mesmo ritmo em 2026 (sem alteração frente ao cenário anterior).
Muito disso, ficará a cargo dos EUA para quem o FMI projeta uma perda de ritmo da seguinte ordem: de +2,8% em 2024 para +1,8% em 2025 e então uma pequena recuperação em 2026, quando deve registrar +2,1%.
Já para as economias emergentes e em desenvolvimento, o FMI espera um desempenho superior e corrigiu para cima as projeções deste ano e do próximo, indicando uma trajetória menos acentuada de desaceleração. Após alta de +4,3% em 2024, o PIB deste grupo crescerá +4,2% em 2025 (+0,5 p.p. ante o cenário de abr/25) e então +4,0% em 2026 (+0,1 p.p. frente a abr/25).
Para o FMI, três fatores que explicam a relativa resiliência do desempenho global, a despeito do contexto de aumento do protecionismo.
Em primeiro lugar, o choque tarifário dos EUA foi menor do que o esperado. As contramedidas dos parceiros comerciais foram limitadas e as tarifas sobre os parceiros comerciais que concluíram acordos com os EUA foram reduzidas. Com isso, taxas tarifárias efetivas dos EUA recuaram frente aos patamares recordes de abril para uma faixa entre 10% e 20%. No entanto, elas seguem bem acima dos patamares de 2024, contribuindo para a desaceleração apontada anteriormente.
Em segundo lugar, alguns aspectos conjunturais contrabalancearam parte dos efeitos do protecionismo:
(1) As famílias anteciparam seu consumo e as empresas seus investimentos, o que impulsionou a atividade global no início de 2025.
(2) Os atrasos na implementação das tarifas permitiram às empresas adiar aumentos de preços.
(3) O acúmulo de estoques e sua subsequente redução, as pré-vendas, os pedidos em espera ou os produtos colocados em armazéns alfandegários e a fixação de preços pouco frequentes, devido a contratos de longo prazo, também retardaram o ritmo de repasse dos custos crescentes.
(4) As margens de lucro saudáveis na esteira do aumento da inflação após a pandemia da COVID-19 proporcionaram amortecedores para que os fornecedores nos países de origem e os importadores nos países de destino absorvessem as tarifas mais altas.
Em terceiro lugar, o dólar americano se depreciou, ao contrário do observado em episódios anteriores de tensões comerciais, contribuindo para sustentar o comércio global e aliviar as condições financeiras globais e a pressão inflacionária do repasse cambial, proporcionando aos formuladores de política (sobretudo nas economias emergentes) raio de manobra para ações acomodatícias.
Para o Brasil, os últimos cenários do FMI trazem boas e más notícias. Do lado positivo, as revisões apontam para um ritmo de crescimento mais forte em 2025. Era de +2,3% em abr/25, caindo para +2,0% em jul/25 e voltando a subir para +2,4% em out/25.
Do lado negativo, o resultado projetado para 2026 foi sendo cortado, conferindo ao Brasil uma trajetória de desaceleração bem mais acentuada que o PIB mundial e o PIB da América Latina como um todo. No cenário mais recente, passará de +3,4% em 2024 para +2,4% em 2025 e então para +1,9% em 2026 ante +2,3% na América Latina e +3,1% no total global, como visto anteriormente.
O cenário básico do FMI também aponta para queda nos preços de commodities energéticas (-7,9% em 2025 e -3,7% em 2026) e desaceleração das não-energéticas no ano que vem (+7,4% em 2025 e +4,1% em 2026). Esta evolução contribuirá para dissipar pressões inflacionárias. A inflação ao consumidor deve cair de +5,8% para +4,2% entre 2024 e 2025 e então para +3,7% em 2026.
Quanto às políticas econômicas dos principais países, o Fundo trabalha com as seguintes hipóteses:
• Política monetária: Nos EUA, o FMI projeta uma redução um pouco mais antecipada do que o previsto no cenário de abril, com a taxa dos fundos federais reduzindo-se para a faixa de 3,50-3,75% no final de 2025. No Japão, a política monetária deve seguir o caminho oposto, com a taxa básica aumentando gradualmente até um nível neutro de cerca de 1,5% no médio prazo. Na área do euro, a taxa básica deve se manter estável em 2%.
• Política fiscal: as economias avançadas devem manter uma postura fiscal neutra, ao contrário o que considerava o cenário de abr/25. Em contrapartida, nos emergentes, a política fiscal se tornará mais restritiva em 2026 em cerca de 0,2 p.p. do PIB em média, revertendo a orientação expansionista prevista para 2025. A dívida pública nesse grupo de economias deve atingir 82% do PIB em 2030, em comparação com pouco menos de 70% em 2024.
• Política comercial: O cenário atual inclui as tarifas anunciadas e implementadas no início de setembro. As hipóteses subjacentes são que essas medidas permanecerão vigentes indefinidamente e que a incerteza em relação à política comercial permanecerá elevada ao longo de 2025 e 2026.
À medida que a economia global entra em um cenário mais fragmentado, os riscos para o cenário básico aumentam, segundo FMI. A incerteza em relação à política comercial continua elevada na ausência de acordos claros, transparentes e duradouros entre os parceiros comerciais. Além disso, há sinais crescentes de que os efeitos adversos das medidas protecionistas estão começando a aparecer.
Os padrões nas exportações líquidas e nos estoques impulsionados pela antecipação do consumo e investimento em grande parte se reverteram. A inflação ao consumidor aumentou nos EUA e o desemprego subiu ligeiramente. A inflação está se estabilizando acima das metas dos bancos centrais em vários outros países e as expectativas de inflação ainda são frágeis, agravando as escolhas difíceis para os formuladores de política monetária, à medida que a incerteza e as tarifas começam a pesar sobre a atividade econômica.
Posturas mais restritivas em relação ao fluxo transfronteiriço de mão de obra aumentam a pressão sobre os países que já enfrentam desafios decorrentes do envelhecimento da população e podem resultar em quedas na produção em escala global no longo prazo. As perspectivas adversas de crescimento no médio prazo amplificam as preocupações com a sustentabilidade fiscal.
Ademais, a redução da ajuda internacional agrava essa dinâmica para os países mais vulneráveis, ao mesmo tempo em que corrói os padrões de vida e, paradoxalmente, fortalece os incentivos à migração nos países de origem.
Neste contexto, o balanço de riscos continua com um viés negativo, como nos cenários de abril e julho de 2025.
Introdução
Esta Carta IEDI apresenta o cenário atual do Fundo Monetário Internacional (FMI) para o desempenho da economia global em 2025 e 2026, divulgado no World Economic Outlook (WEO) de outubro. A primeira seção apresenta os principais dados deste cenário e, a título de comparação, as projeções da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgadas em setembro. Na seção seguinte, o cenário do FMI é detalhado por grupos de países. A terceira seção sumariza o balanço de riscos e a quarta seção resume as recomendações de política do FMI.
Cenário para a economia global
De acordo com o FMI, o ano de 2025 tem sido volátil como reflexo da reordenação das prioridades de política nos Estados Unidos e da adaptação dos demais países à nova realidade. A reordenação não envolve apenas a política tarifária, mas também cortes na ajuda internacional ao desenvolvimento, medidas mais restritivas contra a imigração e políticas fiscais mais acomodatícias, devido, em grande parte, ao aumento dos gastos em defesa.
O cenário básico atual do Fundo é mais favorável do que os de abril (ver Carta IEDI n. 1315) e de julho. Projeta-se uma desaceleração da economia global de 3,3% em 2024 para 3,2% em 2025 e 3,1% em 2026 (contra os percentuais de 2,8% e 3% em abril e 3,0% e 3,1% em julho). Isto porque o impacto das mudanças políticas sobre o desempenho global foi significativo, mas menor do que o esperado, como detalhado a seguir. O cenário da OCDE de setembro prevê a mesma taxa de crescimento que o FMI para 2025 e ligeiramente menor para 2026 (3%).
Até o fechamento do cenário atual, o impacto das medidas tarifárias sobre o crescimento e a inflação globais foi limitado. A resiliência da economia mundial ao novo contexto decorre, principalmente, do impacto limitado das medidas tarifárias sobre a atividade econômica, como evidencia a manutenção do crescimento trimestral anualizado de 3,5% no primeiro semestre de 2025.
Em primeiro lugar, o choque tarifário foi menor do que o esperado. A série de novas medidas tarifárias adotadas pelos EUA nos quatro primeiros meses do ano elevou as alíquotas tarifárias a patamares recordes em um século. As contramedidas dos parceiros comerciais foram limitadas, quase não alterando a alíquota tarifária efetiva sobre as exportações americanas. Seguiu-se uma série de anúncios de redução de tarifas para os parceiros comerciais que concluíram acordos com os EUA e de aumento para aqueles sem acordo comercial. O resultado líquido foi a redução das taxas tarifárias efetivas dos EUA frente aos patamares de abril para uma faixa entre 10% e 20% para a maioria dos países.
No entanto, as tarifas estão ainda bem acima dos patamares de 2024. A incerteza em relação à política comercial continua elevada na ausência de acordos claros, transparentes e duradouros entre os parceiros comerciais — e com a atenção começando a mudar do patamar das tarifas para seu impacto sobre os preços, os investimentos e o consumo.
Em segundo lugar, fatores temporários aliviaram o impacto das tarifas. As famílias anteciparam seu consumo e as empresas seus investimentos, o que impulsionou a atividade global no início de 2025. Os fluxos comerciais começaram a se ajustar, com o desvio para terceiros países. Ao mesmo tempo, os atrasos na implementação das tarifas permitiram às empresas adiar os aumentos de preços.
O acúmulo de estoques e sua subsequente redução, as pré-vendas, os pedidos em espera ou os produtos colocados em armazéns alfandegários e a fixação de preços pouco frequentes devido a contratos de longo prazo também retardaram o ritmo de repasse dos custos crescentes. As margens de lucro saudáveis na esteira do aumento da inflação após a pandemia da COVID-19 proporcionaram amortecedores para que os fornecedores nos países de origem e os importadores nos países de destino absorvessem as tarifas mais altas.
Em terceiro lugar, o dólar americano se depreciou, ao contrário do que se observou em episódios anteriores de tensões comerciais, refletindo o aumento da demanda por proteção por parte dos investidores estrangeiros e uma possível reavaliação do mercado em relação à alta do dólar na última década.
Embora o enfraquecimento do dólar amplifique o choque tarifário, ele também contribuiu para sustentar o comércio global e para aliviar as condições financeiras globais e a pressão inflacionária do repasse cambial, proporcionando aos formuladores de política (sobretudo nas economias de mercado emergente e em desenvolvimento - EMEDs) raio de manobra para adotar políticas acomodatícias.
Contudo, há sinais crescentes de que os efeitos adversos das medidas protecionistas estão começando a se manifestar.
Os padrões nas exportações líquidas e nos estoques impulsionados pela antecipação do consumo e investimento em grande parte se reverteram. A inflação ao consumidor aumentou nos EUA e o desemprego subiu ligeiramente. A inflação está se estabilizando acima das metas dos bancos centrais em vários outros países, e as expectativas de inflação ainda são frágeis, agravando as escolhas difíceis para os formuladores de política monetária, à medida que a incerteza e as tarifas começam a pesar sobre a atividade econômica
O cenário básico do FMI baseia-se nas seguintes hipóteses:
• Preços das commodities: o Fundo projeta uma queda de 7,9% nos preços das commodities energéticas em 2025 e de 3,7% em 2026, resultado da redução do preço do petróleo a um ritmo inferior ao previsto no cenário de abril. Os preços das commodities não-energéticas devem crescer 7,4% em 2025 e 4,1% em 2026, percentuais menores do que em abril porque os aumentos dos preços dos alimentos e bebidas foram revistos para baixo.
• Comércio global de bens e serviços: o volume do comércio global desacelerará de 3,8% em 2024 para 3,6% em 2025 (+1,9%, na comparação com abril) e 2,3% em 2026 (-0,2 p.p. na mesma base de comparação). A revisão para cima para 2025 reflete os fatores temporários mencionados acima.
• Inflação global: a projeção atual do FMI é de uma desaceleração da inflação ao consumidor para 4,2% em 2025 e 3,7% em 2026, praticamente os mesmos percentuais dos cenários de abril e junho.
Política monetária: Os bancos centrais nas principais economias avançadas (EAs) devem seguir caminhos distintos em suas decisões sobre as taxas de juros básicas, refletindo pressões inflacionárias heterogêneas.
Nos EUA, o FMI projeta uma redução um pouco mais antecipada do que o previsto no cenário de abril, com a taxa dos fundos federais recuando para a faixa de 3,50-3,75% no final de 2025 e atingindo seu intervalo terminal de 2,75-3,0% no final de 2028.
No Japão, por sua vez, o cenário é o mesmo de abril: a política monetária deve seguir o caminho oposto, com a taxa básica aumentando gradualmente até um nível neutro de cerca de 1,5% no médio prazo, em consonância com a manutenção da inflação e das expectativas de inflação ancoradas na meta de 2% do Banco do Japão. Na área do euro, a taxa básica do banco central europeu deve se manter estável em 2%, também em linha com o previsto em abril.
Política fiscal: as EAs, consideradas conjuntamente, devem manter uma postura fiscal neutra, ao contrário da orientação mais restritiva assumida em abril.
No cenário atual, a relação do saldo do governo geral em relação ao PIB nos EUA se deteriorará em 0,5 ponto percentual (p.p.) em 2026, refletindo em grande parte a aprovação da Lei One Big Beautiful Bill Act (OBBBA) e apesar de uma compensação de cerca de 0,7 p.p. do PIB proveniente das receitas tarifárias projetadas. Consequentemente, a dívida pública dos EUA não se estabilizará, passando de 122% do PIB em 2024 para 143% do PIB em 2030, 15 p.p. acima do projetado em abril.
Na área do euro, o déficit fiscal também aumentará — incluindo um aumento de 0,8 p.p. do déficit na Alemanha, decorrente das maiores despesas em infraestrutura e defesa — e a relação dívida/PIB atingirá 92% em 2030, contra 87% em 2024.
Em contrapartida, nas EMEDs, em média, a política fiscal se tornará mais restritiva em 2026 em cerca de 0,2 p.p. do PIB, revertendo a orientação expansionista prevista para 2025. Na China, o déficit diminuirá ligeiramente até 2030, após um aumento de 1,2 p.p. em 2025. A dívida pública nesse grupo de economias deve seguir em trajetória ascendente, atingindo 82% do PIB em 2030, em comparação com pouco menos de 70% em 2024.
Política comercial: O cenário atual considera as tarifas anunciadas e implementadas no início de setembro. As hipóteses subjacentes são que essas medidas permanecerão vigentes indefinidamente (mesmo quando uma data de expiração foi declarada) e que a incerteza em relação à política comercial permanecerá elevada ao longo de 2025 e 2026, devido à suspensão adicional das tarifas mais elevadas entre a China e os Estados Unidos até novembro e aos processos judiciais em curso nos Estados Unidos relativos à utilização da Lei dos Poderes Económicos de Emergência Internacional como base jurídica para a imposição de tarifas.
Desempenho por grupo de países
No cenário básico do FMI, a projeção é de uma desaceleração do crescimento nas EAs de 1,8% em 2024 para 1,6% em 2025 (+0,1 p.p. frente à projeção de abril de 2025) e manutenção do mesmo ritmo em 2026 (mesma projeção que em abril), o que reflete o resultado líquido de tendências divergentes nas principais EAs. Contudo, em todos os casos, a revisão na comparação com o cenário de outubro de 2024 foi negativa.
A economia americana desacelerará de 2,8% em 2024 para 1,8% em 2025, com um pequeno avanço em 2026 para 2,1%. Essas projeções são mais favoráveis do que em abril (+0,2 p.p. e +0,4 p.p., respectivamente) devido às menores tarifas, ao estímulo fiscal associado à OBBBA e ao alívio nas condições financeiras.
Na área do euro, em contrapartida, o crescimento avançará de 0,9% em 2024 para 1,2% em 2025 (+0,4 p.p. na comparação com o cenário de abril), puxado pela aceleração da economia alemã de uma retração de 0,5% para um crescimento de 0,2% e pela economia irlandesa. Isso mais do que compensará a perda de ritmo na França, Itália e Espanha. Para 2026, projeta-se um suave desaceleração para 1,1% (-0,1 p.p. frente a abril).
A economia japonesa registrará a maior aceleração, de uma virtual estagnação em 2024 para uma expansão de 1,1% em 2025, desacelerando para 0,6% em 2026 (respectivamente, +0,5 p.p. e mesmo percentual que em abril). Esta expansão decorre da expectativa de recuperação do crescimento dos salários reais, apoiando o consumo privado, que mais do que compensará o efeito negativo da elevada incerteza em relação à política comercial e do enfraquecimento da demanda externa.
No Canadá, o crescimento recuará de 1,6% em 2024 para 1,2% em 2025, ganhando impulso para 1,5% em 2026. A economia britânica, por sua vez, acelerará de 1,1% em 2024 para 1,3% em 2025 e 2026 (+0,2 p.p. e -1,0 p.p. frente a abril) como reflexo da forte atividade no primeiro semestre de 2025 e da melhora no ambiente externo, incluindo o acordo comercial com os EUA anunciado em maio.
Para as EMEDs, o FMI prevê uma desaceleração do crescimento de 4,3% em 2024 para 4,2% em 2025 e 4,0% em 2026 (+0,5 p.p. e +0,1 p.p. na comparação com o cenário de abril). O maior dinamismo das EMEDs, por sua vez, decorre da aceleração das economias de baixa renda de 4,2% para 4,4% e 5,0% (+0,2 p.p, e -0,2 p.p. frente a abril), enquanto as economias de mercado emergente e renda média desacelerarão de 4,3% para 4,1% e 3,9% no mesmo período. Contudo, a revisão negativa frente a outubro de 2024 foi maior para o primeiro grupo de economias.
A Ásia Emergente e em Desenvolvimento continuará sendo a região líder em termos de crescimento, com relativa resiliência entre 2024 (5,3%) e 2025 (5,2%) e desaceleração para 4,7% em 2026 (+0,7 p.p. e +0,1 p.p. frente a abril). Para vários países da região — particularmente na ASEAN — a evolução das previsões de crescimento acompanhou aquela das alíquotas tarifárias efetivas.
No cenário atual, a economia chinesa desacelerará de 5,0% em 2024 para 4,8% em 2025 e 4,6% em 2026, percentuais maiores do que os previstos em abril (+0,8% e 0,2%) devido à atenuação das tensões comerciais com os EUA. O melhor desempenho do que o esperado nos últimos trimestres, como reflexo do avanço do comércio internacional e do consumo interno relativamente robusto, apoiado pela expansão fiscal em 2025, mais do que compensou os efeitos adversos da maior incerteza e das tarifas.
Na Índia, o crescimento acelerará ligeiramente de 6,5% em 2024 para 6,6% em 2025, perdendo ritmo para 6,2% em 2026 (+0,4 p.p e -0,1 p.p frente a abril). A revisão positiva para 2025 também reflete o melhor desempenho do que o esperado nos primeiros meses do ano, mais do que compensando o aumento da tarifa efetiva dos EUA sobre as importações indianas desde julho.
Na América Latina e Caribe, o crescimento permanecerá estável em 2,4% em 2025 e diminuirá ligeiramente para 2,3% em 2026. A previsão para 2025 foi revisada para cima em 0,4 p.p. em relação a abril devido ao desempenho mais favorável do que o esperado no primeiro semestre de 2025 e às taxas tarifárias mais baixas para a maioria dos países da região.
O principal responsável pela revisão é o México, que desacelerará de 1,4% em 2025 para 1,0% em 2025, 1,3 ponto percentual acima da previsão de abril. Para o Brasil, a projeção para 2025 também foi revisada para cima (+0,4 p.p. ante projeção de abril), mas ainda assim o ritmo de crescimento recuará de 3,4% em 2024 para 2,4% 2025. A projeção de 2026, contudo, foi revisada para baixo (de 2% para 1,9%), em parte devido às tarifas mais altas sobre as exportações para os Estados Unidos (ver Cartas IEDI nos. 1327 e 1328).
Na Europa Emergente e em Desenvolvimento, a desaceleração do crescimento de 2024 para 2025 será significativa, passando de 3,5% em 2024 para 1,8% em 2025, e se recuperando modestamente para 2,2% em 2026 (-0,3 p.p. e +0,1 p.p. frente a abril). Essa trajetória reflete a deterioração do desempenho da economia russa, de 4,3% em 2024 para 0,6% em 2025 e 1,0% em 2026. A revisão do crescimento para 2025 foi negativa (-0,9 p.p.) devido à divulgação de dados recentes que mostram uma concentração dos gastos fiscais no quarto trimestre de 2024, o que elevou a estimativa de crescimento do PIB em 2024 de 4,1% para 4,3% e, em contrapartida, diminuiu a projeção para 2025.
No Oriente Médio e na Ásia Central, o crescimento acelerará de 2,6% em 2024 para 3,5% em 2025 e 3,8% em 2026, refletindo a dissipação dos efeitos das interrupções na produção e no transporte de petróleo e a diminuição dos conflitos na região. A revisão para cima de projeção para 2025 (+ 0.5 p.p.) frente a abril decorre, em grande parte, do melhor desempenho dos países do Conselho de Cooperação do Golfo, em particular da Arábia Saudita, onde o crescimento acelerará de 2% em 2024 para 4% em 2025 e 2026 (+1,0 p.p. e +0,3 p.p.) devido à reversão mais rápida dos cortes na produção de petróleo.
Na África Subsaariana, o crescimento deverá permanecer moderado, mantendo-se estável em 4,1% em 2025 e acelerando para 4,4% em 2026, percentuais superiores aos previstos em abril (+0,3 p.p. e +0,2 p.p.).
A economia nigeriana desacelerará de 4,1% em 2024 para 3,9% em 2025, ganhando impulso para 4,2% em 2025 (percentuais é 0,9 p.p. e 1,5 p.p. superiores aos previstos em abril) devido a fatores domésticos favoráveis, incluindo maior produção de petróleo, maior confiança dos investidores e uma postura fiscal favorável em 2026. Na África do Sul, o crescimento seguirá anêmico, mas acelerará de 0,5% em 2024 para 1,1% em 2025 e 1,2% em 2026 (+0,1 p.p. e -0,1 p.p. frente a abril).
No caso de várias outras economias da região, apesar da exposição limitada às tarifas mais altas dos EUA, as revisões das projeções de crescimento foram negativas devido às mudanças no comércio internacional e aos cortes na ajuda oficial ao desenvolvimento. Além disso, a expiração em setembro da Lei de Crescimento e Oportunidades para a África, que concedeu acesso preferencial ao mercado dos EUA a muitos países de baixa renda na África Subsaariana, deverá ter efeitos negativos consideráveis.
Balanço de riscos
À medida que a economia global entra em um cenário mais fragmentado, os riscos para o cenário básico aumentam, alerta o FMI. Os fatores que mantiveram a atividade econômica resiliente no curto prazo, como o desvio e o redirecionamento do comércio, são temporários. Além disso, a realocação subótima de recursos produtivos, o desacoplamento tecnológico e as limitações na difusão do conhecimento tendem a restringir o crescimento no longo prazo.
Posturas mais restritivas sobre o fluxo transfronteiriço de mão de obra aumentam a pressão sobre os países que já enfrentam desafios decorrentes do envelhecimento da população e podem resultar em quedas na produção em escala global no longo prazo. As perspectivas adversas de crescimento no médio prazo amplificam as preocupações com a sustentabilidade fiscal.
Ademais, a redução da ajuda internacional agrava essa dinâmica para os países mais vulneráveis, ao mesmo tempo em que corrói os padrões de vida e, paradoxalmente, fortalece os incentivos à migração nos países de origem.
Neste contexto, o balanço de riscos continua com um viés negativo, como nos cenários de abril e julho de 2025. Do lado negativo, seis fatores podem contribuir para que o crescimento seja menor do que o esperado no cenário básico.
1. Incerteza prolongada em relação à política comercial e intensificação das medidas protecionistas
Um aumento adicional da incerteza em relação à política comercial afetaria negativamente as decisões de investimento das empresas e pioraria as perspectivas de crescimento. Além disso, prejudicaria a capacidade das empresas de otimizar os estoques, podendo provocar volatilidade na produção no curto prazo. Novos aumentos nas tarifas prejudicariam a atividade econômica nos países diretamente afetados pelas medidas comerciais.
Embora outros países possam se beneficiar do desvio comercial induzido pelas tarifas, especialmente se suas exportações incorporarem uma parcela crescente do valor agregado doméstico, o impacto agregado provavelmente deprimirá a produção global no médio prazo, devido à interrupção nas cadeias de abastecimento.
O aumento das medidas protecionistas, tanto por meio de tarifas quanto de medidas não tarifárias (incluindo controles de exportação de novas tecnologias), pode resultar em mais interrupções e fragmentação das cadeias de abastecimento, revertendo alguns dos ganhos de eficiência das últimas décadas decorrentes da liberalização do comércio.
A dependência de acordos bilaterais não reduziria significativamente a incerteza da política comercial. Se tais acordos forem acompanhados de novas medidas discriminatórias contra países terceiros, podem gerar efeitos colaterais negativos adicionais e uma dinâmica de retaliação.
No médio prazo, posturas mais protecionistas e a fragmentação também podem impedir a difusão tecnológica global, prejudicando ainda mais as perspectivas de crescimento, especialmente das EMEDs, o que pode resultar em polarização interna e agitação social.
2. Choques na oferta de mão de obra
Uma maior deterioração da oferta de mão de obra devido a políticas de imigração mais rigorosas nas EAs poderá comprometer as decisões de investimento e de contratação das empresas, especialmente em economias onde determinadas competências são escassas e que, têm dependido dos fluxos de imigração para aliviar a tensão no mercado de trabalho. Isto constituiria um choque negativo do lado da oferta, com impacto direto na capacidade produtiva potencial.
Tensões no mercado de trabalho — como as que se verificaram na sequência do choque da pandemia da COVID-19 — podem exercer pressão altista sobre os preços dos serviços e aumentar a inflação subjacente.
3. Vulnerabilidades fiscais e fragilidades do mercado financeiro e suas interações
Tendo em vista o recente aumento dos rendimentos dos títulos soberanos de longo prazo nas principais EAs, o impacto das reações abruptas do mercado às vulnerabilidades fiscais pode ser ampliado. O aumento das preocupações com a situação fiscal pode pressionar ainda mais os custos de financiamento.
Nos países onde a dívida em poder do público é de curto prazo, precisando ser renovada anualmente, o aumento dos rendimentos aumentaria os custos do serviço da dívida e poderia reduzir outros gastos essenciais, como investimentos e apoio a famílias vulneráveis a choques. Além disso, muitos países de baixa renda estão sofrendo com o impacto da redução dos fluxos de ajuda oficial ao desenvolvimento, o que aumenta sua dependência de credores privados para atender às suas necessidades brutas de financiamento externo e aumenta sua vulnerabilidade fiscal.
Uma reavaliação dos rendimentos dos títulos públicos poderia ser amplificada por descasamento de vencimento e alavancagem entre instituições financeiras não bancárias e poderia contaminar outros ativos, provocando correções desordenadas de preços nos casos em que a avaliações dos ativos estão descoladas dos fundamentos. O impacto negativo da reprecificação dos ativos sobre os balanços patrimoniais das famílias e das empresas pode deprimir o consumo e o investimento.
O rápido crescimento das stablecoins como alternativas aos ativos seguros tradicionais (como títulos públicos) e aos depósitos bancários, pode incentivar a substituição monetária. A corrida a uma determinada stablecoin pode comprometer o mercado dos ativos subjacentes — tais como títulos públicos de curto prazo ou depósitos — e representar riscos sistêmicos para o sistema financeiro.
4. Reavaliação das novas tecnologias
As expectativas de crescimento excessivamente otimistas em relação à Inteligência Artificial (IA) podem ser revisadas em resposta a dados provenientes dos primeiros usuários e desencadear uma correção do mercado.
Os preços elevados das ações dos setores de tecnologia relacionados à IA têm sido alimentados pelas expectativas de ganhos de produtividade. Se esses ganhos não se concretizarem, o impacto nos lucros pode levar à reavaliação dos preços, com implicações sistêmicas.
Um potencial colapso do boom da IA pode ser equivalente ao crash de 2000-2001 em termos de gravidade, considerando o domínio de algumas empresas de tecnologia nos índices de ações e o uso de empréstimos privados menos regulamentados como principais fontes de financiamento do setor. Tal correção pode corroer a riqueza das famílias e reduzir o consumo.
Na medida em que o boom da IA atraiu capital para um pequeno conjunto de empresas e setores, qualquer reversão dessas posições pode acarretar uma recuperação econômica lenta, prejudicada pela má alocação de capital. Essas vulnerabilidades são agravadas pelo espaço fiscal limitado, o que pode reduzir a eficácia das respostas políticas.
5. Deterioração da boa governança e da independência institucional
A intensificação da pressão política sobre instituições políticas protegidas pela constituição, estatutos e jurisprudência de um país pode erodir a confiança da população em sua capacidade de cumprir seus mandatos. Este é dos bancos centrais, cuja perda de independência pode desestabilizar as expectativas de inflação. As evidências mostram que a pressão política sobre os bancos centrais tende a aumentar a intensidade e a persistência das pressões inflacionárias.
Pressões sobre as instituições públicas encarregadas da coleta e divulgação de dados também podem corroer a confiança do público e dos mercados nas estatísticas de fontes oficiais, complicando significativamente as tarefas dos bancos centrais e dos formuladores de políticas na tomada de decisões. Simultaneamente, essas pressões diminuem a transparência e dificultam a precificação nos mercados financeiros, também aumentando a probabilidade de erros de política se a interferência política comprometer a qualidade e confiabilidade dos dados.
6. Aumento dos preços das commodities como resultado de choques climáticos, conflitos regionais ou tensões geopolíticas mais amplas
A escalada dos conflitos regionais pode resultar em aumentos nos preços dos alimentos, combustíveis e outras commodities essenciais, com os países importadores de commodities particularmente suscetíveis a pressões inflacionárias intensificadas em meio a um espaço fiscal reduzido.
Além disso, o calor extremo, a seca prolongada e outros desastres naturais, exacerbados pelas mudanças climáticas, podem afetar negativamente a produtividade agrícola, provocando choques no abastecimento de alimentos e ampliando os desafios à segurança alimentar. O impacto negativo seria desproporcional nos países de baixa renda, onde as famílias alocam uma parte substancial de seus gastos em commodities essenciais.
Do lado positivo, três fatores de risco podem resultar num crescimento maior do que no cenário básico.
1. Avanço nas negociações comerciais, levando à redução de tarifas e maior previsibilidade das políticas
Os custos potencialmente elevados associados à fragmentação do comércio global e ao deslocamento das cadeias de abastecimento podem estimular avanços nas negociações comerciais que reduzam as alíquotas tarifárias agregadas como parte de acordos ampliados de cooperação regional ou multilateral.
Além disso, restaurar estruturas não discriminatórias baseadas em regras poderia melhorar significativamente a previsibilidade das políticas comerciais e facilitar ganhos de eficiência generalizados. O fortalecimento da cooperação em áreas como o comércio de serviços, a simplificação da regulação da atividade empresarial e a promoção da integração do mercado de capitais poderiam ajudar a desbloquear investimentos e impulsionar o crescimento da produtividade.
2. Ritmo mais rápido de reformas estruturais
Em um ambiente global cada vez mais desafiador, tanto as EAS como as EMDEs poderiam aprimorar as iniciativas de reforma estrutural doméstica para evitar novas quedas na produtividade e no potencial de crescimento. Acelerar o ritmo das reformas estruturais — como aquelas destinadas a aumentar a participação da força de trabalho, reduzir a má alocação de recursos nos mercados de trabalho e de capitais ou promover a inovação empresarial — poderia contribuir para um crescimento mais forte no médio prazo.
3. Aumento da produtividade devido à inteligência artificial
A adoção mais rápida da IA pode ajudar a gerar fortes ganhos de produtividade, à medida que as empresas aumentam a adoção das várias ferramentas baseadas em IA que estão sendo desenvolvidas e implantadas em alta velocidade. Isso pode ser acompanhado por um aumento do dinamismo empresarial, se forem implementadas as políticas certas para permitir que as empresas de alta produtividade continuem a crescer — e permitir que as improdutivas saiam do mercado —, promovendo uma alocação eficiente de recursos que apoie o crescimento agregado da produtividade.
Os ganhos com a IA podem muito bem exceder os custos potenciais de seus efeitos adversos sobre o emprego, especialmente se os governos implementarem estruturas regulatórias adequadas e oferecerem programas de apoio ao mercado de trabalho voltados para a qualificação e requalificação de trabalhadores em risco de desemprego.
Recomendações de política
O quadro abaixo detalha as recomendações de política do FMI para que o balanço de riscos negativo não se concretize no curto prazo, bem como recomendações com efeitos no médio prazo.











