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                          Carta IEDI

                          Edição 1341
                          Publicado em: 12/12/2025

                          O quadro da produtividade latino-americana

                          Sumário

                          Para que o Brasil cresça de forma sustentada, com elevação da renda per capita, redução da desigualdade e sem pressões sobre a inflação, é incontornável que consigamos uma trajetória superior de ganhos de produtividade, ainda mais em um cenário de esgotamento do chamado “bônus demográfico”. Nas últimas décadas, deixamos muito a desejar neste quesito. 

                          Esta deficiência, contudo, não é uma especificidade brasileira, mas acomete a grande maioria dos países latino-americanos, implicando um ritmo muito baixo de crescimento econômico na região vis-à-vis o restante do mundo.

                          De fato, baixa capacidade de crescimento, além de alta desigualdade e limitada mobilidade social e governança ineficaz formam três armadilhas que bloqueiam o desenvolvimento da América Latina e Caribe, segundo o estudo recente da CEPAL, intitulado “Panorama das políticas de desenvolvimento produtivo na América Latina e Caribe 2025: como sair da armadilha do baixo crescimento?”.

                          Nesta Carta, o IEDI volta a discutir o tema da produtividade, agora a partir do estudo da CEPAL acima mencionado, bem como de outra análise, neste caso, realizada pela McKinsey sob o título “Latam Productive Imperative”. Ambos os estudos se complementam e dão um panorama latino-americano e a evolução brasileira recente.

                          Outras divulgações do IEDI sobre o tema incluem, por exemplo, as Cartas n. 1173 “Produtividade: o Desafio Brasileiro” e n. 1319 “Dinâmica da Produtividade, segundo a McKinsey”, além do próprio documento “Indústria e Estratégia de Desenvolvimento Socioeconômico do Brasil”.

                          O estudo da CEPAL traz não apenas a evolução decepcionante da produtividade do trabalho latino-americana nos últimos anos, como também analisa suas características segundo o porte das empresas, sua localização e sua atividade. E ainda se vale da situação europeia como comparativo.

                          O diagnóstico é claro: na América Latina, a produtividade cresce muito pouco e é bastante heterogênea.

                          Razão de muito debate entre economistas, se a produtividade é baixa e cresce pouco devido à composição da estrutura produtiva ou devido às deficiências internas de cada setor, o caso latino-americano atende a ambas as visões. Ambos os fatores estão presentes, embora o segundo deles possa ser mais proeminente.

                          Setores como agropecuária e comércio têm os níveis mais baixos de produtividade na América Latina, equivalente a apenas 38% e 59% da produtividade da manufatura e 19% e 30% da produtividade de serviços empresariais. Mas pesam 37,5% do emprego total da região ante 29% na União Europeia, por exemplo. 

                          Já manufatura e serviços empresariais, onde a produtividade é mais alta do que a média da economia, têm participações menores na América Latina: -3,3 e -4,3 pontos percentuais em comparação com a Europa. Ou seja, a composição da estrutura econômica é um fator a ser considerado.

                          O crescimento da produtividade na região, embora baixo, de +0,6% a.a. em 1991-2019, tem se dado justamente porque o peso da agricultura no emprego caiu e a participação de serviços empresariarias aumentou. Mas que fique claro, ainda é preciso que todos estes setores sejam mais produtivos: do aumento de +0,6% a.a. somente +0,1% a.a. veio de progressos intrassetoriais.

                          Por isso, se a composição setorial da América Latina fosse igual ao da UE, sua produtividade seria 12% mais alta, portanto, insuficiente para anular a defasagem atual. Vale destacar que a produtividade média latino-americana era equivalente a 29,7% da europeia em 2023.

                          Segundo o estudo da McKinsey, porque a região investe pouco, obtém ganhos muito pequenos de produtividade e cresce pouco. Suas estimativas identificam que em 1997-2022 apenas 35% do crescimento do PIB da América Latina foram explicados por ganhos de produtividade, sendo 33% no caso do Brasil. Isso contrasta fortemente com a experiência asiática: 97% na China e 81% na Índia.

                          Vejamos o que isso significa: se a produtividade brasileira tivesse crescido no ritmo da indiana, o PIB do país em 2022 seria duas vezes maior. Se tivesse acompanhado o ritmo da produtividade da China, nosso PIB seria quatro vezes maior, segundo o estudo. Saltos de produtividade fazem toda a diferença.

                          A força propulsora que falta? Investimento. A McKinsey observa que a taxa de investimento do Brasil é de 18% e da média da América Latina, 20% no período 2003-2023 ante 31% na Índia e 41% na China. Investimento em modernização produtiva, infraestrutura, inovação etc.

                          Além da alta informalidade, assimetrias no acesso a financiamentos adequados, na capacidade de oferecer garantias, de estruturar projetos de investimento afetam o custo de capital, o que se soma a outros custos sistêmicos do ambiente de negócios brasileiro e latino-americano, prejudicando notadamente a capacidade de investimento das empresas de menor porte.

                          Os dados da CEPAL mostram que a produtividade de empresas menores é muito mais baixa do que as empresas de maior porte, como costuma ser a regra, mas o contraste com a realidade europeia indica que este tipo de heterogeneidade é muito mais intensa na América Latina. E vale observar que isso atinge inclusive empresas médias.

                          Na União Europeia, a produtividade das microempresas corresponde a 23,4% da produtividade de suas grandes empresas, relação que é de apenas 12,5% na América Latina e Caribe. Quanto às médias empresas, sua produtividade é 77,4% e 63,8% da produtividade das grandes, respectivamente em cada região.

                          Ou seja, para as microempresas, a produtividade relativa às grandes é 10,9 pontos percentuais menor na América Latina do que na Europa (12,5%-23,4%) e para as média empresas chega a 13,6 pontos percentuais (63,8%-77,4%).

                          Destravar o investimento é, por tanto, fundamental para alavancar a produtividade e reduzir as heterogeneidades é um potencial campo para a política pública.

                          A McKinsey avalia que o mundo passa por transformações que podem representar oportunidades para os países da região aumentarem sua produtividade, com destaque para o Brasil. 

                          Entre elas estão o imperativo da transição energética; a emergência de um mundo multipolar, com aumento da influência asiática e reestruturação do comércio exterior e das cadeias globais; forças demográficas que pressionam a oferta de alimentos e ampliam necessidades sociais; revoluções tecnológicas e crescimento de ecossistemas digitais que transformam a operação industrial.

                          Segundo suas estimativas, soluções de automação e de IA generativa podem reduzir em 36% o tempo de trabalho na manufatura até 2030. E também podem levar a uma maior ênfase dos gestores em atividades de maior valor.

                          Já a CEPAL aponta a importância de políticas que promovam o aumento da produtividade em empresas de diferentes portes, de todos os setores de atividade econômica e em todas as regiões do país. Também chama atenção para a falta de mecanismos de monitoramento e avaliação nos países latino-americanos e para o seu baixo impacto nos indicadores de produtividade e crescimento. 

                          Por isso, entre suas recomendações de política estão: adotar abordagem horizontal e vertical para impulsionar a produtividade; contemplar todos os setores da economia, não apenas a indústria; definir prioridades; promover a coordenação entre múltiplos atores dos setores público, privado, acadêmico e da sociedade civil; reforçar a governança das políticas; assegurar que uma parcela significativa das ações ocorra no nível subnacional; estimular iniciativas de cluster; adotar uma abordagem de internacionalização visando ampliar os mercados, competir efetivamente com as importações, atrair e maximizar o impacto do IDE etc.

                          Evolução recente da produtividade na América Latina, segundo a CEPAL

                          A produtividade de um país está relacionada ao nível de renda e ao bem-estar da população. A CEPAL também aponta evidências de que o aumento da produtividade do trabalho está associado à melhoria da satisfação da população com a vida.

                          Segundo a entidade, uma das formas mais poderosas e eficazes de aumentar a produtividade é por meio da transformação produtiva, entendida como a sofisticação, a diversificação e a geração de mudanças estruturais positivas, que a entidade classifica em três grupos: 

                               i)  melhoria da produtividade das atividades existentes; 

                               ii)  surgimento de novas atividades mais produtivas e; 

                               iii)  migração de fatores de produção de setores de menor produtividade para setores de maior produtividade.

                          Apesar do aparente consenso em torno da importância do aumento da produtividade, o relatório revela declínio na produtividade do trabalho na América Latina e Caribe (ALC) na última década, em contraste com o crescimento médio da produtividade global no período. 

                          A situação se agravou a partir de 2017, como mostra o gráfico abaixo, quando a região registrou produtividade em patamar inferior à média global. A produtividade total dos fatores seguiu a mesma tendência, embora com maiores variações interanuais e com queda que começou mais cedo, em 2011. 

                           

                          No contexto desse movimento descendente da produtividade do trabalho na ALC, o ano de 2024 representa uma exceção. Neste ano, a região apresentou crescimento de 2,2% em relação ao ano anterior, com avanços observados em 23 países, três a mais do que em 2023. 

                          A CEPAL argumenta, ainda, que o nível e a evolução da produtividade e da renda de um país estão vinculados aos níveis de produtividade e à dinâmica das atividades ou setores predominantes em cada economia. 

                          Nesse contexto, chamam atenção, nos dados de 2023, os grandes diferenciais nos níveis de produtividade entre os setores. Alguns, como mineração, serviços básicos e serviços empresariais, apresentam alta produtividade relativa, e outros, como agricultura e comércio, baixa. 

                          Recomenda-se, porém, cuidado ao comparar níveis de produtividade do trabalho entre setores com intensidades de capital muito díspares, pois é razoável esperar que setores intensivos em capital tenham níveis de produtividade muito mais elevados do que setores intensivos em trabalho. Se a produtividade do trabalho é calculada como o valor agregado (VA) dividido pelo número de trabalhadores (ou pelo número de horas trabalhadas), uma empresa (ou um setor) com maior proporção de trabalhadores em relação ao VA terá um nível de produtividade inferior ao de uma empresa (ou setor) no qual essa proporção seja menor, independentemente de qualquer outro critério de eficiência assumido. Numericamente, um setor com VA = 100 e 10 trabalhadores terá o dobro da produtividade do trabalho de um setor com VA = 100 e 20 trabalhadores. O mesmo raciocínio vale para comparações entre países com estruturas setoriais muito distintas. 

                           

                          A essa diferença “intrínseca” de produtividade entre os setores, soma-se o fato de que, segundo a CEPAL, nas economias da ALC os setores de baixa produtividade respondem por uma parcela muito alta do emprego. 

                          A comparação com a estrutura setorial do emprego na União Europeia mostra que, na ALC, as participações dos dois setores de menor produtividade, agricultura e comércio, são significativamente maiores: 37,5% ante 21,9%, respectivamente. 

                          Por outro lado, um dos setores de maior produtividade, o de serviços às empresas, tem uma participação significativamente menor do que a observada na Europa: 9,5% ante 13,8%.

                           

                          Canais de aumento da produtividade: intersetorial e intrasetorial

                          O relatório da CEPAL decompõe as mudanças na produtividade do trabalho em dois componentes: i) um intersetorial, que representa a mudança estrutural e decorre da variação da produtividade entre setores diferentes; e ii) um intrasetorial, que decorre de variações na produtividade dentro de cada setor.

                          Segundo suas estimativas, da década de 1990 em diante, o crescimento da produtividade na região é explicado em parte pelo fenômeno da "mudança estrutural", que ocorre quando o fator trabalho se desloca de atividades de menor produtividade para atividades de maior produtividade, podendo incluir mudanças para subsetores de maior produtividade anteriormente inexistentes.  

                          Nesse contexto, as mudanças mais notáveis observadas entre 1991 e 2023 estão ligadas à queda de participação da agricultura de 21% para 12,1% ao e aumento da participação dos serviços empresariais no emprego total de 5% para 9,5%. 

                          A CEPAL avalia que, se tal mudança estrutural não tivesse ocorrido e a estrutura produtiva atual preservasse a antiga participação setorial no emprego, em 2023 a produtividade do trabalho na região seria 9,5% menor.

                          Com relação à produtividade intrasetorial, a entidade destaca um movimento de convergência, ou redução da heterogeneidade da produtividade entre setores: atividades com altos níveis de produtividade, como mineração e serviços empresariais, perderam produtividade, enquanto atividades com índices mais baixos, como agricultura, pesca e silvicultura, ganharam. 

                           

                          Entretanto, mesmo que a composição setorial do emprego na ALC se assemelhasse ao da União Europeia, o aumento da produtividade da região seria muito restringido pelo diferencial de produtividade dentro de cada um dos setores.

                          A ALC possui uma produtividade equivalente a apenas 29,7% da produtividade da União Europeia, sendo que essa diferença é explicada fundamentalmente pela produtividade intrasetorial e é observada em quase todos os setores de atividade econômica, com exceção de mineração e exploração de petróleo e gás. As maiores defasagens estão na construção, agricultura e comércio.

                          O relatório aponta que uma mudança estrutural que igualasse a composição setorial da região com a da UE resultaria em uma produtividade apenas 12% mais alta. 

                           

                          Entre 1991 e 2019, a produtividade média do trabalho na região cresceu 0,6% ao ano, sendo que o componente intersetorial foi responsável pela maior parte da variação (0,5%). A CEPAL destaca que esse resultado foi bastante influenciado pelo crescimento do componente intersetorial nas maiores economias — Argentina, Brasil e México —, que puxou a média regional para cima e compensou a contribuição negativa do componente intrasetorial registrada em um número significativo de países.

                          O gráfico abaixo ilustra a contribuição dos dois componentes na variação da produtividade dos países entre 1991 e 2019. Como se pode observar, no caso brasileiro a contribuição do componente intersetorial foi mais expressiva do que a do componente intrasetorial. 

                           

                          Esses resultados sugerem que não basta fomentar a criação e o crescimento de setores de alta produtividade. É fundamental promover o crescimento da produtividade dos setores existentes, atuando no nível das empresas, como o IEDI também tem argumentado.

                          Heterogeneidades da produtividade na América Latina

                          O relatório da CEPAL também chama atenção para a heterogeneidade da produtividade entre os diferentes territórios dos países da ALC e destaca casos em que o território mais atrasado tem produtividade 12 vezes menor do que o registrado no território mais produtivo.

                          De forma análoga ao que foi feito na seção anterior, a variação da produtividade entre regiões pode ser decomposta em dois efeitos: i) o intrarregional, que decorre de ganhos de produtividade das atividades dentro de uma determinada área; e ii) o inter-regional, resultante do deslocamento de fatores de produção de uma região para outra ou ainda de diferenciais de natalidade/mortalidade entre regiões. 

                          O relatório conclui que a variação negativa da produtividade da ALC no período recente é explicada fundamentalmente por aspectos intrarregionais. Ou seja, as variações populacionais entre regiões tiveram um efeito muito pequeno na produtividade do trabalho, o que reforça a importância de políticas de desenvolvimento produtivo que enfrentem essa situação. 

                          Na última década foram registradas variações negativas na maioria dos 172 territórios para os quais existem séries temporais comparáveis de produtividade do trabalho. As maiores quedas ocorreram nos territórios que iniciaram a década anterior com altos índices de produtividade. Em muitas dessas áreas, nas quais há produção significativa de minerais, petróleo e gás, uma causa para a queda da produtividade é a influência da queda nos preços internacionais das commodities.

                          A CEPAL chama atenção para o fato de que o declínio majoritário da produtividade nos países da região coexiste com um fenômeno de convergência regional da produtividade na última década, pois os territórios com maior e menor produtividade estão se aproximando em termos de produtividade do trabalho. A entidade alerta que esse fenômeno de “convergência regressiva” é o oposto da “divergência progressiva” que se observa entre os países da OCDE, onde ocorre crescimento da produtividade com aumento da desigualdade entre regiões.

                          Outro fator de heterogeneidade é por porte das empresas.

                          A diferença de produtividade entre empresas maiores e menores em uma economia não é exclusividade da AL e decorre principalmente das diferentes economias de escala associadas ao porte das firmas. Apesar disso, em uma comparação internacional, observa-se que, em 2023, a produtividade das empresas da ALC foi inferior à das europeias para todos os portes. Mesmo no caso das grandes empresas, a produtividade média da ALC corresponde a apenas 32,3% da europeia. 

                          Uma segunda característica que chama a atenção é que o diferencial de produtividade entre as grandes empresas e as MPEs é muito mais acentuado na ALC do que na UE. Como destaca a CEPAL, essa característica prejudica a integração do sistema produtivo, pois a baixa produtividade associada à falta de escala e carências técnicas dificulta que as pequenas empresas se tornem fornecedoras daquelas de maior porte.  

                          Na União Europeia, a produtividade das microempresas corresponde a 23,4% da produtividade de suas grandes empresas, relação que é de apenas 12,5% na América Latina e Caribe. Quanto às médias empresas, sua produtividade é 77,4% e 63,8% da produtividade da grandes empresas na União Europeia e na América Latina, respectivamente.

                           

                          O maior diferencial, vale notar, se dá nas médias empresas. A produtividade relativa destas empresas frente às grandes na América Latina é 13,6 pontos percentuais inferior à da União Europeia (diferença entre 63,8% e 77,4%). No caso das pequenas e das microempresas, a produtividade relativa na América Latina é, respectivamente, 12,6 p.p. e 10,9 p.p. menor do que na União Europeia.  

                          Diante disso, a entidade defende políticas de encadeamento produtivo entre empresas de diferentes tamanhos, como iniciativas de cluster e outros mecanismos de coordenação produtiva, bem como melhorar a produtividade por meio de esforços de extensão tecnológica em empresas com menor produtividade, iniciativas também defendidas na Carta IEDI 1173.

                          O imperativo da produtividade no Brasil e na AL, segundo a McKinsey

                          Outro estudo, que também mapeia o baixo desempenho da produtividade latino americana é o “Latam Productive Imperative”, divulgado em agosto de 2025 pela McKinsey, no qual destaca a posição do Brasil.

                          O documento observa que a contribuição da América Latina para o crescimento global está abaixo da sua potencialidade: a região conta com 8% da população mundial e 6% do PIB global, mas contribuiu apenas com 5% do crescimento global nos últimos 25 anos. Nesse período, sua participação no PIB global caiu 15%.

                          Entre os fatores que explicam esse desempenho, a McKinsey destaca o baixo crescimento da produtividade do trabalho, que faz com que o crescimento da economia dependa fundamentalmente da expansão do emprego, em contraste com a realidade observada em outros países nos quais os ganhos de produtividade são a principal fonte da evolução do PIB.

                          Ao decompor a taxa de crescimento do PIB, identifica que entre 1997 e 2022 a contribuição da produtividade para o crescimento na China atingiu 97% e na Índia, 81%. Se tomada a Ásia emergente como um todo, esta contribuição foi de 60%, isto é, bem acima daquela da América Latina, de 35%. No Brasil, esta contribuiu é mais menor, de apenas 33%.

                           

                          O estudo da McKinsey simula o que teria ocorrido com o PIB brasileiro entre 2003 e 2022 caso a produtividade do país tivesse crescido às taxas observadas em outras economias. 

                          A conclusão é que, caso a produtividade brasileira tivesse crescido no ritmo da indiana, o PIB do país em 2022 seria duas vezes maior. Se, por outro lado, ela tivesse acompanhado o ritmo da produtividade da China, nosso PIB seria quatro vezes maior. Mesmo considerando o ritmo da produção média da Ásia emergente, teríamos tipo um PIB 40% maior do que tivemos em 2022.

                          Um padrão semelhante teria ocorrido para a América Latina como um todo, como ilustra a figura a seguir: 1,3 vez maior assumida a produtividade média asiática emergente ou então 1,9 e 3,7 vezes maior se considerado o ritmo de expansão da produtividade indiana e chinesa, respectivamente.

                          A principal explicação para o baixo crescimento da produtividade, segundo a McKinsey, tem sido o baixo nível de investimento. A posição do Brasil é particularmente ruim nesse indicador, com uma taxa de investimento (18% do PIB) inferior, inclusive, à média da AL (20%) no período 2003 – 2023, quanto mais em relação aos asiáticos (31% na Índia e 41% na China).

                          Em boa medida devido a esta baixa taxa de investimento brasileira, para a América Latina atingir uma participação no investimento proporcional ao seu peso no PIB global terá que dobrar o valor corrente de seus investimentos.

                          Transformação tecnológica, transição climáticas e oportunidades para a América Latina

                          A Mckinsey lembra que produtividade depende do valor adicionado das empresas em suas operações e identifica três teixos para ampliá-la, envolvendo tecnologia, talentos e eficiência de custos.

                          Em primeiro lugar, operar com excelência, o que implica adaptar a cultura e as práticas de gestão para direcionar recursos às iniciativas de maior valor. A McKinsey aponta que cerca de 50% do tempo dos gestores seguem alocados em atividades de baixo valor.

                          Em segundo lugar, equilibrar os custos de talentos, ativos físicos e tecnologia para multiplicar o impacto da linha de frente da produção. A adoção de soluções de automação e de IA generativa irá possibilitar importantes ganhos de produtividade. Na manufatura, por exemplo, 36% do tempo de trabalho atual que podem ser automatizados até 2030.

                          Em terceiro lugar, acelerar o crescimento das receitas, aprimorando os benefícios das ofertas existentes e oferecendo experiências novas e inovadoras aos clientes.

                           

                          A McKinsey alerta, ainda, que o esgotamento do bônus demográfico no Brasil e nos demais países da AL reforça o sentido de urgência de políticas que promovam o crescimento da produtividade.

                          Apesar do histórico recente e dos desafios existentes, a consultoria avalia que o mundo passa por transformações que podem representar oportunidades para os países da região, com destaque para: 

                               i)  O imperativo da transição energética, que aumenta a relevância de recursos estratégicos; 

                               ii)  A emergência de um mundo multipolar, com aumento da influência asiática e reestruturação do comércio exterior e das cadeias produtivas globais; 

                               iii)  Forças demográficas que pressionam a oferta de alimentos e ampliam necessidades sociais; e 

                               iv)  Revoluções tecnológicas e crescimento de ecossistemas digitais que transformam a operação industrial.

                          A McKinsey defende que a AL está especialmente bem posicionada para tirar proveito dessas tendências, sendo que o Brasil possui vantagens de mercado diferenciadas considerando aspectos econômicos, políticos, demográficos e tecnológicos. 

                           

                          Se bem aproveitados, esses fatores de competitividade podem destravar oportunidades de investimentos em áreas como alimentos e recursos naturais; minerais críticos; revitalização da base industrial; novas energias de baixa emissão; digitalização e datacenters.

                          A McKinsey estima em US$ 1,2 trilhão de receitas adicionais para a América Latina até 2040 nestas seis áreas de investimento identificadas: US$ 380 bilhões na produção e processamento de alimentos e US$ 120 bilhões na extração de minerais críticos (lítio, cobre e iron), US$ 190 bilhões em novos setores manufatureiros (veículos elétricos, semicondutores, equipamentos médicos), US$ 50 bilhões em vetores energéticos ou “power to X” (amônia, metanol, querosene sintética, hidrogênio), US$ 380 bilhões em serviços digitais e BPO – Business Process Outsourcing e US$ 70 bilhões em datacenters.

                          Nova visão para políticas de desenvolvimento produtivo

                          Já a CEPAL aponta a importância de políticas que promovam o aumento da produtividade em empresas de diferentes portes, de todos os setores de atividade econômica e em todos os territórios nacionais.

                          Do ponto de vista setorial, a diferença de produtividade entre os setores na ALC sugere que há grande potencial para aumentar a produtividade por meio de mudanças estruturais positivas mais profundas. 

                          Por outro lado, a diferença de produtividade entre os setores em comparação com seus pares internacionais demonstra que há uma oportunidade significativa para melhorar a produtividade dentro dos setores existentes, inclusive daqueles intensivos em mão-de-obra.

                          Na dimensão regional, os desafios indicam a necessidade de políticas de desenvolvimento produtivo implementadas pelos governos subnacionais em toda a região.

                          Por fim, a análise da evolução da produtividade considerando diferentes portes de empresas reforça a necessidade de políticas específicas para MPEs, como políticas de extensionismo tecnológico e iniciativas de formação de encadeamentos produtivos.

                          Segundo a Cepal, as três armadilhas que a ALC enfrenta – baixo crescimento; alta desigualdade e pouca capacidade institucional – podem se tornar mais graves em um contexto de tensões geopolíticas e incerteza econômica. 

                          Além dos impactos diretamente associados à mudança de direção na política comercial dos EUA nos países da região, a persistência e o aumento dos conflitos militares provocaram uma redefinição de prioridades entre as grandes potências mundiais, que estão alocando mais recursos para o desenvolvimento de suas capacidades produtivas e de defesa em detrimento de áreas ligadas ao apoio aos países em desenvolvimento.

                          Para a ALC, esse novo cenário reafirma a urgência para que os países e territórios subnacionais definam estratégias que lhes permitam enfrentar as três armadilhas e abordar os problemas estruturais subjacentes, com destaque para o desafio da produtividade.

                          Para isso, a Cepal defende que os países da região avancem na concepção e implementação de políticas de desenvolvimento produtivo visando: 

                               i)  Aumentar a produtividade dos setores, empresas e territórios mais atrasados; 

                               ii)  Melhorar a produtividade dos setores, empresas e territórios líderes; 

                               iii)  Incentivar o investimento e o desenvolvimento de novos setores, atividades e empresas de maior produtividade; e 

                               iv)  Promover mudanças estruturais que permitam a migração de fatores de produção para setores e empresas de maior produtividade. 

                          Segundo a Cepal, contudo, até o momento os governos da região têm feito esforços marginais quando comparados com os de outros países. A entidade argumenta, ainda, que tais esforços são realizados de forma desarticulada, descontínua e gerenciados de forma muito centralizada, com pouco envolvimento dos territórios e partes interessadas locais. 

                          Com relação ao desenho das políticas, a CEPAL chama atenção para a falta de mecanismos de monitoramento e avaliação e para o seu baixo impacto nos indicadores de produtividade e crescimento. Diante disso, o relatório apresenta um conjunto de recomendações para aumentar a eficácia das políticas de desenvolvimento produtivo da região:

                               •  Adotar abordagem que considere esforços horizontais e verticais para impulsionar a produtividade;

                               •  Contemplar todos os setores da economia, não apenas a indústria;

                               •  Definir prioridades – a CEPAL sugere, como referência, uma lista de “setores impulsionadores”: indústria farmacêutica e de ciências biológicas, de dispositivos médicos, manufatura avançada, exportação de serviços modernos ou habilitados por tecnologia da informação e comunicação, a sociedade de cuidados, serviços intensivos em mão de obra, governo digital, transição energética (energia renovável, hidrogênio verde e lítio), eletromobilidade, economia circular, bioeconomia (agricultura sustentável, recursos genéticos e bioindustrialização), agricultura para segurança alimentar, gestão sustentável da água e turismo sustentável, juntamente com uma área transversal de realocação geográfica de cadeias de produção e valor em todo o mundo.

                               •  Promover a coordenação entre múltiplos atores dos setores público, privado, acadêmico e da sociedade civil para o trabalho em múltiplas frentes, como ciência, tecnologia e inovação, extensão tecnológica, empreendedorismo, transformação digital, redução de lacunas de talentos humanos, financiamento, investimento, infraestrutura e outros bens públicos específicos, agendas normativas e regulatórias e internacionalização;

                               •  Reforçar a governança das políticas para viabilizar a coordenação de múltiplos atores, recursos e esforços em torno de agendas estratégicas de desenvolvimento produtivo; 

                               •  Assegurar que uma parcela significativa das ações ocorra no nível subnacional, nos territórios e com atores locais, mas de forma alinhada com os esforços nacionais;

                               •  Estimular iniciativas de cluster como uma forma de organizar esforços de desenvolvimento produtivo que combinem governança multissetorial, priorização setorial, abordagem territorial e governança experimental;

                               •  Adotar uma abordagem de internacionalização visando: ampliar os mercados internacionais; competir efetivamente com as importações; atrair e maximizar o impacto do investimento estrangeiro direto; conectar setores produtivos com fontes globais de tecnologia e conhecimento (incluindo universidades, centros de tecnologia, redes de empreendedorismo e a diáspora); elaborar e implementar agendas regionais de desenvolvimento produtivo; e conectar-se com as políticas de desenvolvimento produtivo de outras regiões.

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