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                          Carta IEDI

                          Edição 1327
                          Publicado em: 09/09/2025

                          As exportações brasileiras e o protecionismo dos EUA

                          Sumário

                          No contexto da profunda alteração da governança do comércio mundial provocada pelo protecionismo comercial dos Estados Unidos (EUA), em particular contra o Brasil, cuja motivação se mostra pouco ou nada aderente à realidade de nossas relações comerciais bilaterais, esta Carta IEDI examina o comércio de bens manufaturados na primeira metade de 2025 e explora caminhos que poderiam compor uma estratégia de ampliação de mercados alternativos ao americano. 

                          No 1º semestre de 2025, o saldo de comércio de bens da economia brasileira foi superavitário e somou US$ 30 bilhões, representando um declínio de -27,6% frente ao mesmo período de 2024. Este resultado decorreu da queda de -0,7% das exportações e do aumento de +8,3% das importações. Diferentes fatores contribuíram para esses resultados. 

                          Externamente, impactando nossos embarques, podemos citar a desaceleração da economia global e do próprio comércio mundial, na esteira do protecionismo crescente, levando a uma relativa estabilidade dos preços de todas as categorias de commodities, com exceção das energéticas. Internamente, embora comércio e indústria tenham perdido dinamismo, os serviços mostraram resiliência e o mercado de trabalho seguiu aquecido, evitando desaceleração mais pronunciada da demanda interna e, consequentemente, das importações. 

                          Já o comércio exterior brasileiro de bens manufaturados ampliou seu déficit para US$ 71 bilhões: +14,3% frente ao mesmo período do ano anterior e o maior desde a pandemia do COVID-19. Na origem disso está a alta de +11% das importações, compensando os efeitos positivos do crescimento das nossas exportações (+6,4%).

                          Quanto aos EUA, além de acumularmos em jan-jun/25 um déficit de US$ 1,7 bilhão no total de bens e de US$ 8,9 bilhões em manufaturados, a dinâmica recente segue favorável aos americanos. Nossas importações dos EUA avançaram +11,5% tanto no agregado como em manufaturados, enquanto nossas exportações cresceram +4,4% e +6,6%, respectivamente.

                          Vale enfatizar aqui que o protecionismo dos EUA é uma pedra no caminho da integração internacional da nossa indústria de transformação, mais do que para outros setores. Isso porque o mercado americano é proporcionalmente mais importante para bens industriais do que para bens primários.

                          Na primeira metade do ano, nossas exportações para o mercado americano representaram 12,3% de tudo o que o Brasil exportou de bens, mas esta parcela sobe para 17,7% se considerarmos bens da indústria de transformação, que inclui produtos industrialmente processados em início de cadeia, e para 22,2% de bens manufaturados. Já para bens agropecuários, os EUA representam tão somente 3,2% do total dos nossos embarques destes produtos.

                          Ao deixarem de ser um parceiro confiável, os conflitos comerciais recentes com os EUA reforçam a importância de diversificar nossas relações comerciais e os riscos de dependermos de poucos destinos e poucos produtos. O alerta, cabe observar, vale também para a China, cuja participação em nossas exportações e importações se ampliou muito nos últimos anos. 

                          Tomando os bens manufaturados, quatro parceiros concentram a maior parte (cerca de 70%) dos nossos fluxos comerciais. No caso das exportações, nossos principais mercados são Mercosul, EUA, Aladi (exceto Mercosul) e União Europeia (UE), em ordem decrescente. No caso das importações, os destaques são China, UE e EUA, na mesma ordem. Somos superavitários apenas com Mercosul e Aladi.

                          A China, como discutido nas Cartas IEDI n. 1294 e 1297, por exemplo, nutre relações extremamente desbalanceadas com o Brasil quando se trata de manufaturados. Representa somente 2% das nossas exportações destes bens e 30% das importações, se considerarmos em conjunto China, Hong Kong e Macau, ocupando o posto de parceiro comercial com o qual temos o maior déficit de manufaturados.

                          Assim, ao menos para manufaturados, compensar o potencial declínio de exportações para os EUA com a China parece uma tarefa difícil. Dada a elevada competitividade do produto chinês, que está na raiz destas relações comerciais assimétricas, a China pode ser um caminho apenas pontual para manufaturados. De todo modo, é uma chance de o Brasil tentar reduzir um pouco a disparidade, incluindo um pouco mais de manufaturado aos embarques das commodities direcionadas ao mercado chinês.

                          Atrás da China, vêm a UE e então os EUA como os parceiros com os quais temos os maiores déficits de manufaturados. Ao anunciar, em 09/07/25, a imposição de uma tarifa alfandegária ad valorem adicional de 40% sobre produtos brasileiros, que se somou aos 10% anunciados em abr/25, o governo Trump elevou o percentual total a 50% sobre nossos embarques, o que tende a aprofundar nosso déficit de manufaturados com os EUA. 

                          Fruto de pressões privadas de empresas americanas e brasileiras, bem como de negociações governamentais, a Ordem Executiva de 30/07/25, que efetivou o anúncio do início do mês, trouxe importante mitigador dos efeitos do chamado “tarifaço”: 694 itens ficaram isentos da tarifa adicional, incluindo cadeias de peso, como a avião, celulose, suco de laranja, petróleo e minério de ferro. 

                          As exceções ao “tarifaço” correspondem por cerca de 44% do total das exportações brasileiras para os EUA, o que não é pouca coisa. Foi uma “vitória” importante para evitar uma profunda disrupção das relações comerciais Brasil-EUA. Entretanto, efeitos adversos permanecem, diretamente no caso dos bens não isentos e indiretamente para os produtores de bens isentos que fornecem, domesticamente, insumos a outros setores exportadores que permaneceram taxados.

                          O pacote de medidas anunciado pelo governo brasileiro, nomeado “Brasil Soberano”, também contribui para amenizar os impactos do tarifaço, mas, em geral, de forma imediata, sobre aquelas empresas e setores que já tinham assumido compromissos para produção e embarque de produtos que passaram a ser tarifados. A recomposição do Reintegra também é positiva, já que, enquanto a reforma dos impostos de bens e serviços não está implementada, distorções tributárias seguem onerando nossas exportações.

                          De todo modo, além de seguir negociando para reverter as alíquotas americanas, é preciso frente à nova realidade do comércio mundial, ampliando o número de parceiros comerciais, diversificando nossa pauta exportadora e criando condições para que mais empresas se tornem exportadoras. 

                          Como todos os parceiros dos EUA estão buscando mercados alternativos, a tarefa não é trivial. Por isso, avançar na redução do “Custo Brasil” e no aumento da competitividade do produto nacional é fundamental. E ao lado disso, criar ou reforçar laços comerciais com mais países, notadamente aqueles mais comprometidos com uma governança multilareal do comércio mundial.

                          Nesta Carta IEDI fizemos dois exercícios, sob critérios distintos, de mercados que, se melhor explorados pelo Brasil, poderiam potencialmente atenuar os efeitos do tarifaço dos EUA. Em ambos os casos, os indicativos são convergentes para as mesmas regiões.

                          Em primeiro lugar, comparamos a composição das exportações por destino entre 2010, que corresponde ao pós-crise financeira global de 2008-2009, e a situação atual, identificando quais mercados perderam posição. Ou seja, mercados que já representaram mais para os nossos embarques e que poderiam voltar a ganhar participação. 

                          Nestes quase 15 anos, Mercosul e UE foram os mercados que mais perderam espaço: -13 pontos percentuais. Muito disso foi ocupado pelos EUA, cuja participação em nossa pauta avançou +9 p.p. Como consequência, nos doze meses findos em jun/25, a participação dos EUA se igualou à do Mercosul (22%) e a UE recuou para 12%, assumindo a segunda posição no ranking dos principais destinos para nossos manufaturados. 

                          Assim, uma estratégia de política comercial compensatória para as exportações de bens manufaturados em resposta à ofensiva tarifária dos EUA contra o Brasil poderia ter como objetivo recuperar as participações de Mercosul e UE. Três caminhos poderiam ser tentados: 

                               (1)  nos produtos que mais perderam participação, isto é, revertendo a tendência dos últimos anos; 

                               (2)  nos produtos que já eram relevantes e aumentaram seu peso no total, ou seja, se apoiando na competitividade elevada destes bens; 

                               (3)  nos produtos com mercados não consolidados, mas com vendas em forte expansão, ou seja, apostando naqueles de crescimento acelerado.

                          O 1º e 3º caminhos buscam uma maior diversificação da pauta para estes destinos, enquanto o 2º insiste em nossa relativa especialização. Embora talvez possa ser mais difícil, dado o aumento da incerteza nas relações de comércio internacional no contexto atual, diversificar pode ser mais interessante ao assegurar um potencial de resiliência maior. 

                          Identificamos alguns desses produtos. Para o 1º caminho, encontramos “aparelhos transmissores ou receptores e componentes”, “partes e peças para veículos automóveis e tratores”, “óleos combustíveis” no caso do Mercosul e “aviões”, “automóveis de passageiros”, “calçados” e “veículos e materiais para vias férreas” no caso da UE.

                          Para o 2º caminho, destacam-se “automóveis de passageiros”, “tratores” e “veículos de carga” no caso do Mercosul e “suco de laranja não congelado”, “suco de laranja congelado”, “óleos essenciais e seus produtos” e “óleos combustíveis”, no caso da UE.

                          Para o 3º caminho, no caso do Mercosul 34 produtos tiveram taxas de crescimento acima de 100%. Entre os produtos com os maiores avanços ou então que não eram exportados em 2010 e passaram a figurar na nossa pauta exportadora, temos: “partes de motores e turbinas de aviação”, “motores para propulsão de embarcações”, “motores e turbinas para aviação e suas partes” e “painéis de fibra de madeira”, entre outros.

                          Já no caso da UE, 53 produtos registraram taxas de crescimento acima de 100% e 14 produtos passamos a exportar. Estão entre esses produtos: “ônibus e outros veículos com capacidade para até 10 pessoas”, “óleos lubrificantes”, “adubos ou fertilizantes”, “papel para a fabricação de papel higiênico, lenço e toalha”, “ureia, mesmo em solução aquosa”, “cigarros” e “helicópteros”, por exemplo.

                          Se no primeiro exercício partimos de mercados para produtos, no segundo exercício fizemos o oposto, partindo de produtos para mercados. Neste caso, identificamos os produtos mais expostos ao mercado americano, isto é, para aqueles em que as importações dos EUA representam a maior parte de tudo o que o Brasil exporta destes bens, e, em seguida, dentre estes selecionamos aqueles com os maiores valores exportados aos EUA.

                          Assim, exemplo como o do “café torrado, não descafeinado”, que ocupa a 3ª posição entre os principais produtos que exportamos para os EUA, mas para quem o mercado americano responde por apenas 16% das exportações totais do Brasil destes produtos, não consta da nossa lista, pois está relativamente pouco exposto à demanda dos EUA. 

                          Este é um dos casos de produtos que, mesmo sofrendo o impacto negativo do tarifaço dos EUA, podem mais facilmente redirecionar vendas para outros mercados que o Brasil já atende, dado que os EUA não representam muito de suas exportações.

                          O caso é diferente, por exemplo, para “transformadores de dielétrico líquido, de potência superior a 10.000 kVA” e “sebo de bovinos, ovinos ou caprinos” para quem os EUA representam 78% e 97% do total que exportamos destes produtos.

                          Se tomarmos uma exposição de 50% ou mais, encontramos 579 produtos ou 506 desconsiderando aqueles isentos do tarifaço pelo governo americano. Em média, 74% do que exportamos destes produtos teve como destino os EUA nos últimos doze meses. Isso representa 44% de tudo o que vendemos para os EUA ou 26% consideradas as isenções. Não é pouco.

                          São produtos que tendem a sofrer mais com o tarifaço e podem encontrar dificuldades para abrir novos mercados que absorvam integralmente as vendas até então direcionadas para o mercado americano. Buscamos, então, identificar para os 20 principais dentre estes produtos os destinos de exportação que ocupam o 2º e o 3º lugar, atrás dos EUA.

                          Estes mercados têm participações muito pequenas, claro, mas o fato de já estarmos presentes neles pode ser lido como um caminho promissor. Países da América Latina ocupam pelo menos uma dessas duas posições em 9 produtos e são seguidos de perto por países da UE que aparecem em 8 produtos. Em seguida, destacam-se Canadá e África do Sul.

                          A predominância de países europeus e latino-americanos nesta lista de “maiores exposições” coincide com os dois blocos econômicos que mais perderam participação em nossa pauta exportadora nos últimos 15 anos.

                          Sob estes critérios, UE e Mercosul aparecem como mercados-chave a serem trabalhados pelo Brasil para encontrarmos destinos alternativos aos EUA. Seja para recompormos a participação destes mercados em nossa pauta de manufaturados, seja porque os produtos mais relevantes em valor exportado e mais expostos ao mercado americano encontram na Europa e na América Latina seus destinos alternativos mais importantes. O Acordo Mercosul-UE é um destacado instrumento para isso.

                          Introdução

                          No contexto da profunda alteração da governança do comércio mundial provocada pelo protecionismo comercial dos EUA, em particular contra o Brasil, esta Carta IEDI examina o comércio de bens manufaturados na primeira metade de 2025 e explora caminhos que poderiam compor uma estratégia de ampliação de mercados alternativos ao americano. 

                          A primeira seção apresenta os resultados gerais da balança comercial brasileira no 1º semestre de 2025. A segunda seção analisa o comércio exterior de bens manufaturados, detalhando a composição da pauta exportadora e importadora em termos de principais países/blocos de destino e origem das nossas vendas e compras externas desses bens. 

                          A terceira seção adota uma perspectiva de médio prazo, partindo dos mercados que mais perderam espaço como destino das nossas exportações de manufaturados nos últimos anos, com o intuito de identificar mercados onde poderíamos concentrar nosso esforço exportador neste contexto.

                          Na quarta e última seção, com este mesmo intuito, analisamos nossa pauta de exportação para os EUA por produto, identificando aqueles mais expostos à demanda americana. Para estes produtos, buscamos mercados alternativos já atendidos pelo Brasil e que poderiam ser trabalhados para que possam absorver, ao menos parcialmente, a potencial queda das vendas aos EUA. 

                          Resultados gerais

                          O saldo de comércio de bens da economia brasileira somou US$ 30 bilhões no 1º semestre de 2025, cifra 27,6% inferior à registrada no mesmo período de 2024. Este resultado decorreu da queda de 0,7% das exportações e do aumento de 8,3% das importações, que somaram, respectivamente, US$ 166 bilhões e US$ 136 bilhões. Como consequência, a corrente de comércio aumentou 3,2% no período analisado, atingindo US$ 302 bilhões.

                           

                           

                          Considerando a defasagem entre as decisões de exportação e importação e os embarques efetivos (6 meses em média), é possível identificar fatores externos e internos que contribuíram para esses resultados.

                          Do lado externo, tanto o crescimento da demanda internacional pelos nossos bens – que afeta as quantidades exportadas – como das cotações das commodities não foram favoráveis às exportações. A economia mundial cresceu 3,3% em 2024, mesmo ritmo que em 2023, com sinais evidentes de desaceleração no último trimestre do ano (ver Carta IEDI 1315). Já os preços de todas as categorias de commodities “andaram de lado”, se mantendo praticamente estáveis no segundo semestre do ano passado, com exceção das energéticas. 

                           

                          Do lado interno, a moeda brasileira em termos reais efetivos continuou mostrando-se mais depreciada na primeira metade de 2025 do que no 1º semestre de 2004, a despeito de alguma apreciação desde o final de 2024. Esta, contudo, não foi suficiente para compensar os fatores externos desfavoráveis no caso das exportações e, no caso das importações, o dinamismo da demanda interna, puxada pela alta do investimento (+7,3% ante -3,0% em 2023) e aceleração do consumo das famílias (Análise IEDI de 7/03/2025). Contudo, a perda de fôlego no último trimestre do ano surtiu efeito no ritmo de crescimento das compras externas, que cresceram 11,3% no acumulado de 12 meses contra 8,3% no 1º semestre de 2025.

                           

                          O comércio exterior de bens manufaturados no 1º semestre de 2025

                          Ao contrário do total do comércio de bens, tradicionalmente superavitário, o comércio exterior brasileiro de bens manufaturados tornou-se deficitário em 2006. No 1º semestre de 2025, o déficit foi de US$ 71 bilhões, 14,3% superior ao registrado no mesmo período de 2024 e o maior desde a pandemia do COVID-19. Este resultado reflete o maior crescimento das importações (+11%) relativamente às exportações (+6,4%) na mesma base de comparação, que atingiram US$ 119 bilhões e US$ 48 bilhões, respectivamente. 

                           

                          As exportações e importações de bens manufaturados são concentradas em termos de destino e origem. No caso das exportações, os 4 principais países/blocos de destino - em ordem decrescente,   Mercosul (24%), EUA (22%), Aladi (exclusive Mercosul) (17%) e  UE (12%) - representaram 71% do total no 1º semestre de 2025, percentual ligeiramente inferior ao observado no mesmo período de 2024 (75%).  

                          Entre os dois períodos, os mesmos países/blocos ocuparam as 4 primeiras posições. Todavia, houve uma “dança das cadeiras” no período analisado entre os EUA, que desceram da 1ª para a 2ª posição, e o Mercosul, que assumiu a 1ª posição. Esta mudança decorreu do avanço de 36% das compras externas do Mercosul contra somente 6,6% dos EUA e é positiva diante do acirramento da guerra comercial dos EUA contra o Brasil.

                           

                          No caso das importações, o grau de concentração das importações em termos de mercados de origem foi praticamente o mesmo observado no caso das exportações no primeiro semestre de 2025: os 4 principais países/blocos de origem – China, Hong Kong e Macau (30%), UE (21%), EUA (16%) e Mercosul (6%) - representaram 73% do total de bens manufaturados importados, contra 72% no primeiro semestre de 2024. 

                           

                          Quando consideramos o saldo da balança comercial de bens manufaturados no 1º semestre de 2025 para os 4 principais países/blocos de destino das nossas exportações e de origem das nossas importações, tivemos superávit somente com o Mercosul (US$ 4.638 bilhões) - que aumentou 2,4 vezes frente ao 10 semestre de 2024  devido ao avanço de 36% das exportações contra somente 4% das importações - e Aladi (US$ 4.148 milhões)  – que, em contrapartida, recuou 0,7% na mesma base de comparação devido à queda de 0,7% das exportações contra um aumento de 7% das importações. 

                          Nosso maior déficit comercial foi com a China (incluindo Hong Kong e Macau), que somou (US$ 34.474 milhões), 22,4% superior ao observado no mesmo período de 2024 como reflexo de um avanço de 21,3% das importações contra uma queda de 4,1% das exportações. A UE ocupou o 2º lugar. Nosso déficit com esse bloco econômico atingiu US$ 19.177 milhões no período analisado, 7,8% acima do registrado no primeiro semestre de 2024 devido ao aumento de 6,7% das importações frente a 3,2% das exportações. 

                          Os EUA despontam como o parceiro comercial com o qual temos o 3º maior déficit, que somou US$ 8.934 milhões no primeiro semestre de 2025. Vale lembrar que, ao anunciar a imposição de uma tarifa alfandegária ad valorem adicional de 40% sobre produtos brasileiros – que, somada aos 10% anunciados em abril, elevou o percentual total a 50% – em 9 julho mediante carta enviada ao presidente Lula, o presidente Trump afirmou que os EUA tinham déficit comercial com o Brasil. Na realidade, nosso déficit comercial com os EUA aumentou 17,8% no primeiro semestre de 2025 frente ao mesmo período de 2024 em função da alta de 11,5% das importações contra 6,6% das exportações. 

                           

                          O decreto presidencial que efetivou o anúncio - assinado no dia 30 de julho e em vigor a partir de 6 de agosto – deixa evidente que as razões subjacentes são políticas e não econômicas ao afirmar que a medida foi adotada em resposta a ações do governo brasileiro que representariam uma “ameaça incomum e extraordinária à segurança nacional, à política externa e à economia dos EUA”. 

                          Todavia,  dentre os produtos que o Brasil exporta para os EUA, quase 694 artigos essenciais para o mercado americano (a 8 dígitos da Tabela Tarifária Harmonizada dos EUA – HTSUS) ficaram isentos da tarifa adicional, incluindo bens manufaturados como aviões da Embraer, peças aeronáuticas (como turbinas, pneus e motores) e equipamentos elétricos. As exceções correspondem a 44,6% do total das exportações brasileiras para os EUA.

                          Para contribuir para a elaboração de uma estratégia comercial em reação a esse decreto, a próxima seção adota uma perspectiva de médio prazo para identificar em que mercados deveríamos concentrar nosso esforço exportador de bens manufaturados.  

                          Recomposição do peso do Mercosul e UE nas exportações de manufaturados

                          Embora os principais destinos das nossas exportações de bens manufaturados não tenham se alterado nos últimos 15 anos, significativas mudanças ocorreram na participação do Mercosul, UE e EUA como compradores dos produtos brasileiros. 

                          Na comparação entre 2010 (pós-crise financeira global) e no acumulado de 12 meses até junho de 2025, os mercados que mais perderam participação no total de bens manufaturados exportado pelo Brasil foram Mercosul (de 29% para 22%) e UE (de 18% para 12%), e os EUA ganharam mais participação (de 13% para 22%). 

                          Ou seja, enquanto os dois blocos econômicos perderam conjuntamente 13 pontos percentuais (p.p), os EUA ganharam 9 p.p.. Com isso, no período jul/24-jun/25, a participação dos EUA e do Mercosul no total das exportações brasileiras de bens manufaturados se igualou e a UE passou para a 2ª posição no ranking dos principais destinos. 

                           

                          Assim, uma estratégia de política comercial para as exportações de bens manufaturados em resposta à ofensiva tarifária dos EUA contra o Brasil poderia concentrar seus esforços na recuperação da participação nas nossas vendas externas para o Mercosul e UE. 

                          Três caminhos poderiam ser tentados nesta direção: 

                               (1)  nos produtos que mais perderam participação na pauta para esses dois blocos econômicos; 

                               (2)  nos produtos que já tinham uma participação relativamente relevante e aumentaram seu peso no total, já que são mercados consolidados onde pode haver possibilidade de avanços adicionais; 

                               (3)  nos produtos com mercados não consolidados cujas vendas externas registraram as maiores taxas de crescimento entre 2010 e o acumulado de 12 meses até junho de 2025, ou que não eram exportados em 2010.  

                          O 1º e 3º caminhos buscam uma maior diversificação da pauta para estes destinos, enquanto o 2º insiste em nossa relativa especialização. Embora talvez possa ser mais difícil, dada a elevação da incerteza nas relações de comércio internacional no contexto atual, diversificar pode ser mais interessante ao assegurar um potencial de resiliência maior. 

                          No caso do Mercosul, 7 produtos registraram perda de participação acima de 1 ponto percentual (p.p.) na 1ª categoria no período considerado, sendo que as maiores perdas foram observadas em “aparelhos transmissores ou receptores e componentes” (-3,6 p.p.), “partes e peças para veículos automóveis e tratores”(-2,9 p.p.), “óleos combustíveis” (-2,5 p.p.) e “motores para veículos automóveis e suas partes” (-1,5 p.p). Na 2ª  categoria, 3 produtos registraram aumento de participação de no mínimo 1 p.p., quais sejam: automóveis de passageiros (+4 p.p.), tratores (+2,1 p.p.) e veículos de carga (1,3 p.p.). 

                          Considerando as 2 categorias, predominaram produtos da indústria automobilística. Mesmo que as mudanças observadas estejam associadas às estratégias das empresas multinacionais no âmbito da cadeia regional de valor, políticas que contribuam para o aumento da competitividade tanto dos bens finais (que ganharam participação) como de partes, peças e motores (que perderam participação) desta indústria podem contribuir para o aumento das exportações para o Mercosul. Adicionalmente, pode-se procurar recuperar a participação de “aparelhos transmissores ou receptores e componentes” (indústria eletroeletrônica) e de “óleos combustíveis”. 

                           

                           

                          Na 3ª  categoria, 34 produtos registraram taxas de crescimento acima de 100%. Os 10 produtos com as maiores taxas de crescimento, assim como os 6 produtos que não eram exportados em 2010 e passaram a figurar na nossa pauta exportadora para o Mercosul em Jul/24-Jun.25 estão listados na tabela abaixo.

                           

                          No caso da UE, um maior número de produtos registrou redução de participação de no mínimo 1 p.p. ou aumento de participação acima de 1 p.p. (9 e 10 produtos, respectivamente). Na 1ª categoria, as maiores perdas ocorreram em “aviões”, “automóveis de passageiros”, “calçados” e “veículos e materiais para vias férreas”. Já na 2ª categoria, os produtos líderes em termos de aumento da participação foram “suco de laranja não congelado”, “suco de laranja congelado”, “óleos essenciais e seus produtos” e “óleos combustíveis”. 

                          Essas mudanças tornaram nossa pauta exportadora para este bloco menos complexa tecnologicamente, pois os destaques em termos de ganho de participação foram produtos derivados de commodities, enquanto em termos de perda de participação foram bens de média e alta intensidade tecnológica (com exceção de calçados). Neste caso, a melhor estratégia seria concentrar nossos esforços no aumento de participação desses bens, sobretudo “aviões” e  “automóveis de passageiros”.

                            

                           

                          Notar que o produto manufaturado que mais ganhou participação na nossa pauta exportadora para os EUA no mesmo período foi “aviões” (em 7,3 p.p contra uma perda de 4,3 p.p. nas exportações para a UE), que foi isento da tarifa adicional de 40%. Contudo, novas rodadas de ofensiva comercial do governo Trump contra o Brasil não devem ser descartadas, o que reforça a importância de iniciativas para recuperar o espaço perdido por esse bem de alta intensidade tecnológica no mercado da UE.

                           

                           

                          No caso da UE, a 3ª categoria inclui um número maior de produtos na comparação com o Mercosul, indicando um maior potencial de diversificação: 53 produtos registraram taxas de crescimento acima de 100% no período analisado e 14 produtos que não eram exportados em 2010 passaram a figurar na nossa pauta exportadora para esse bloco econômico em Jul/24-Jun.25 . Esses 14 produtos, bem como os 10 produtos com as maiores taxas de crescimento no período em análise estão listados na Tabela abaixo.

                           

                          As maiores exposições ao mercado americano

                          Como vimos anteriormente, cerca de 44% de nossa pauta de exportação para os EUA ficou isenta do chamado “tarifaço”, mas ainda assim restam 56% dela sujeitos à tarifa adicional de 40% ou às elevadas alíquotas da Seção 232. Neste caso, há grande assimetria entre os produtos.  A presente seção se concentrará neste aspecto com o objetivo de identificar os produtos mais expostos e apontar caminhos, isto é, mercados alternativos prioritários. 

                          A partir de dados da Funcex, identificamos 3.474 produtos (SH de 6 dígitos) exportados para os EUA nos últimos 12 meses findos em jun/25. A pauta, embora extensa, está bastante concentrada em alguns poucos produtos: os 10 principais concentram 45% de tudo o que exportamos para os EUA.

                          Alguns produtos, embora se destaquem por sua participação na nossa pauta de exportação para os EUA, também são exportados para outros mercados externos, fazendo com que não estejam tão expostos às compras americanas.

                          É o caso por exemplo do “Café não torrado, não descafeinado” (código 090111), que é o 3º produto que mais exportamos para os EUA nos últimos doze meses. Apesar disso, os EUA respondem por apenas 16% de tudo o que o Brasil exporta deste produto para o mundo. Ou seja, sua dependência das vendas aos EUA não é grande.

                          Outro exemplo é o caso de “Carnes de bovino desossadas, congeladas” (código 020230) que ocupa a 7ª posição entre os produtos que mais exportamos para os EUA entre jul/24 e jun/25. Neste caso, o mercado americano representa apenas 12% de tudo o que o Brasil exporta deste produto para o mundo.

                          Estes são exemplos de produtos que, mesmo sofrendo o impacto negativo do tarifaço dos EUA, podem mais facilmente redirecionar vendas para outros mercados, já que os EUA não representam muito de suas exportações.

                          O caso é diferente, por exemplo, para “Transformadores de dielétrico líquido, de potência superior a 10.000 kVA” (código 850423), que foi o 16º produto que mais exportamos para os EUA nos últimos doze meses, mas para quem o mercado americano representa 78% de tudo o que o Brasil exporta.

                          Outro exemplo é o caso de “Sebo de bovinos, ovinos ou caprinos” (código 150210), que foi o 19º produto mais exportado nos últimos 12 meses para os EUA, mas para quem o mercado americano representou 97% de tudo o que o Brasil exportou deste produto.

                          O que buscamos identificar é o grau de exposição de nossas exportações ao mercado americano. Isto é, para quais produtos a um nível desagregado a relação exportação EUA/exportação total do Brasil é mais elevada.

                          Em um primeiro corte, para quem as exportações para os EUA representam pelo menos 99% de tudo o que vendemos para o mundo, encontramos 82 produtos ou 77, se excluirmos a isenção concedida da Ordem Executiva que aumentou a nossa alíquota para 50%. Estes produtos não isentos representaram nos últimos 12 meses apenas 0,4% da nossa pauta de exportações para os EUA.

                          Em um segundo corte, usamos uma relação de 50% ou mais de peso dos EUA no total do que o Brasil exporta. Neste caso, temos 579 produtos ou 506 desconsiderando aqueles isentos do tarifaço pelo governo americano. Isso representa 44% de tudo o que vendemos para os EUA ou 26% consideradas as isenções.

                          Em seu agregado, o conjunto de produtos derivados deste segundo corte possui uma exposição ao mercado americano de 74%, ou seja, 74% do que exportamos destes 579 produtos tiveram como destino os EUA nos últimos doze meses. 

                          São produtos que tendem a sofrer mais com o tarifaço e podem encontrar dificuldades para abrir novos mercados que absorvam integralmente as vendas anteriores para o mercado americano. 

                          Abaixo, apresentamos uma tabela com os 20 produtos não isentos do tarifaço que mais exportamos para os EUA que apresentam as maiores exposições ao mercado americano. Ou seja, são os casos mais graves, pois são produtos para os quais pode ser mais difícil de encontrar mercados alternativos, inclusive porque nem sempre os valores exportados são pequenos. Estes produtos representaram 20% de tudo o que vendemos para os EUA. E o mercado americano é o destino de 78% do que exportamos destes 20 produtos.

                           

                          Adicionalmente, identificamos também para cada um destes produtos, os 2º e 3º maiores destinos para nossas exportações. Ou seja, mercados que já são atendidos pelo Brasil e que poderiam receber ênfase em uma estratégia de diversificação de nossos embarques. Países da América Latina ocupam pelo menos uma dessas posições em 9 produtos e são seguidos de perto por países da UE que aparecem em 8 produtos. Em seguida, destacam-se Canadá e África do Sul.

                          A predominância de países europeus e latino-americanos nesta lista de “maiores exposições” coincide com os dois blocos econômicos que mais perderam participação em nossa pauta exportadora nos últimos anos, como vimos anteriormente.

                          Sob estes critérios, UE e Mercosul aparecem como mercados-chave a serem trabalhados pelo Brasil para encontrarmos destinos alternativos aos EUA. Seja para recompormos a participação destes mercados em nossa pauta de manufaturados, seja porque os produtos mais relevantes em valor exportado e mais expostos ao mercado americano encontram na Europa e na América Latina seus destinos alternativos mais importantes. O Acordo Mercosul-UE é um destacado instrumento para isso.

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