Carta IEDI
Indústria em marcha lenta
A indústria brasileira voltou a registrar variação positiva em mai/22. Foi o quarto mês seguido no azul, mas o problema da falta de robustez permaneceu, de modo que esta sequência mal foi capaz de compensar o recuo da entrada do ano. O setor permanece, assim, aquém do pré-pandemia e acumula perda de -2,6% em jan-mai/22.
Ou seja, o quadro atual ainda apresenta vulnerabilidades para o setor, que precisará enfrentar uma conjuntura de menor crescimento econômico no segundo semestre, como espera a maioria dos analistas, dados o repasse diferido das elevações da taxa básica de juros (Selic), promovidas pelo Banco Central, a resistência do processo inflacionário, as tensões do período eleitoral etc.
Na passagem de abr/22 para mai/22, já descontados os efeitos sazonais, o resultado da indústria foi de apenas +0,3%. A maioria de seus ramos (73%) e de seus parques regionais (73%) conseguiu evitar o terreno negativo, mas muitos deles pouco cresceu. Se somarmos os que ficaram próximos da estabilidade aos que perderam produção, chegamos a uma parcela não desprezível da indústria: 53% dos parques regionais e 42% dos seus ramos.
Deste modo, a evolução recente, se bem que favorável, já que não víamos meses seguidos de expansão desde 2020 (quando bases baixas de comparação ajudavam bastante) não poupou a indústria de um resultado negativo no primeiro semestre. É o que sugere o acumulado de jan-mai/22 ante jan-mai/21.
Nesta comparação, que nos dá uma prévia do resultado da primeira metade de 2022, a produção industrial acumulou recuo de -2,6%, como mencionado anteriormente. Vale observar que nos últimos doze meses, que é uma medida de tendência muito mais estável, também aponta declínio desde abril, chegando a -1,9% em mai/22.
Do ponto de vista setorial, o panorama segue a regra do agregado nacional da indústria. Perderam produção 73,1% dos ramos e 62,1% dos mais de oitocentos produtos acompanhados pelo IBGE. Além disso, todos os quatro macrossetores recuaram.
Entre estes últimos, a maior queda, como tem ocorrido há algum tempo, foi a de bens de consumo duráveis, com -14,1% ante jan-mai/21, com taxas negativas de dois dígitos na maioria de seus segmentos, como em eletrodomésticos, móveis e na indústria automobilística.
Esta parcela da indústria é muito afetada pelo aumento dos juros aos consumidores, que em geral precisam de financiamento para adquirir seus bens. Assim, mesmo que sigam com bases deprimidas de comparação, estes bens de consumo ainda devem enfrentar dificuldades no próximo semestre.
Os demais macrossetores acumulam quedas bem menos expressivas. Bens de consumo semi e não duráveis, por exemplo, registrou -1,5% em jan-mai/22, com crescimento em derivados de petróleo, bebidas e na produção de carnes, para quem o mercado externo é uma fonte importante de demanda.
Bens intermediários, por sua vez, caíram -2,1%, com mau desempenho de intermediários de alimentos, têxteis e metalurgia básica, além da produção de embalagens e de insumos para a construção civil.
Já bens de capital se mantiveram na melhor situação, mas mesmo assim não deixou de declinar -1,1% no acumulado dos cinco primeiros meses do ano. Como sua inflexão é mais recente, é o único macrossetor que ainda conserva crescimento no agregado dos últimos doze meses até mai/22 (+10,4%).
Em 2022, pelo menos até o mês de maio, o grande freio à produção de bens de capital vem da parcela do setor que produz para a própria indústria. Estamos indo para o terceiro trimestre seguido de queda na produção de bens de capital para a indústria: -9,5% no 4º trim/21; -13,4% no 1º trim/22 e -7,7% em abr-mai/22, sempre em relação ao mesmo período do ano anterior.
Ao lado deste movimento está a deterioração da confiança dos empresários industriais em relação a um ano atrás. A despeito de alguma recomposição recente, tanto pelo indicador da CNI como pelo indicador da FGV, no final da primeira metade de 2022 a confiança do setor estava aquém daquele de meados de 2021.
Juros em elevação, menos confiança e produção de bens de capital para a indústria no vermelho são sinais pouco promissores para a evolução do investimento no setor, justamente o oposto do que seria necessário para avançarmos mais rapidamente em direção à chamada indústria 4.0.
Resultados da Indústria
Em maio de 2022, a produção industrial assinalando variação de +0,3% frente ao mês anterior, já descontados os efeitos sazonais, o quarto resultado positivo consecutivo. Esse é um resultado positivo, visto que desde 2020 não se via uma sequência de crescimento como esta. Assim, o setor como um todo quase conseguiu eliminar o recuo de -1,9% registrado em jan/22, de modo que o nível de produção industrial em mai/22 permaneceu praticamente no mesmo nível (-0,1%) ao de dez/21. Frente ao nível pré-pandemia, isto é, de fev/20, a produção ainda está -1,1% inferior.
Em comparação com os dados do mesmo mês do ano anterior, em mai/22, pela primeira vez desde jul/21, a indústria registrou aumento de produção (+0,5%), valendo citar que mai/22 (22 dias) teve um dia útil a mais do que igual mês do ano anterior (21 dias).
No período entre jan-mai/22 a indústria acumula declínio de -2,6% e nos últimos 12 meses, intensificou a queda (-1,9%), sendo a segunda variação negativa consecutiva nesta base de comparação (-0,3% em abr/22).
Em relação às grandes categorias industriais, na comparação de mai/22 ante abr/22, na série com ajuste sazonal, houve variação positiva em 3 dos 4 macrossetores industriais. Bens de capital (+7,4%) foram os que mais cresceram, após recuarem em abr/22 (-6,8%). Os bens de consumo duráveis também reverteram queda do mês anterior (-5,3% em abr/22), mas apenas parcialmente, ao crescerem +3,0% na série com ajuste sazonal.
O macrossetor de bens de consumo semi e não duráveis (+0,8%) igualmente mostrou expansão no quinto mês do ano, mas com ritmo abaixo do verificado no mês anterior (+2,3%). Por outro lado, a produção de bens intermediários (-1,3%) apontou a única taxa negativa em mai/22, interrompendo, dessa forma, três meses consecutivos de avanço, período em que acumulou expansão de +3,8%.
Apesar desta evolução recente, metade dos quatro macrossetores industriais ficou em patamares de produção inferiores ao pré-pandemia, isto é, abaixo de fev/20: -25,0% no caso de bens de consumo duráveis e -5,8% no caso de bens de consumo semi e não duráveis. Bens intermediários ficaram +1,7% acima deste patamar e bens de capital ainda seguiram +16,0% acima de fev/20.
Frente ao mesmo mês do ano anterior (mai/21), dois macrossetores ficaram na zona negativa e dois na região positiva. Do lado positivo, bens de capital voltaram a ocupar o posto de melhor desempenho entre os macrossetores, registrando alta de +5,7% ante mai/21, puxada por bens de capital para equipamentos de transporte (+6,9%), para energia (+23,4%) e para a construção (+37,9%).
Bens de consumo semi e não duráveis também ampliaram produção, em +2,2% na mesma base de comparação, dando sequência à alta do mês imediatamente anterior (+3,1%). Ao que tudo indica, a fase negativa que marcou este macrossetor entre jul/21 e mar/22 parece ter chegado ao fim. Em maio último, contribuíram para isso os segmentos de calçados, carnes e combustíveis.
Entre aqueles no vermelho, destacam-se os bens de consumo duráveis, com queda de -2,1%, sob influência da produção de eletrodomésticos (-8,0% ante mai/21), de móveis (-7,9%) e da indústria automobilística (-1,8%). Por sua vez, os bens intermediários não assinalam uma única variação positiva na comparação interanual desde julho do ano passado. Em maio/22 essa tendência se manteve: -0,9%, devido aos setores de metalurgia (-5,5%), insumos para a construção civil (-4,5%) e intermediários para o setor alimentício (-4,6%).
No acumulado de jan-mai/22, frente ao mesmo período do ano anterior, o perfil dos resultados mostrou menor dinamismo para bens de consumo duráveis (-14,1%), pressionados, em grande parte, pelas reduções verificadas na fabricação de automóveis (-11,7%) e de eletrodomésticos da “linha branca” (-23,4%) e da “linha marrom” (-13,2%). Bens intermediários (-2,1%), bens de consumo semi e não duráveis (-1,5%) e bens de capital (-1,1%) também assinalaram resultados negativos nos cinco primeiros meses do ano, mas todos com recuos menos intensos do que o observado na média da indústria (-2,6%).
Já no acumulado nos doze últimos meses, com a segunda variação no vermelho desde meados de 2021, apenas bens de capital se manteve em crescimento, com +10,4%. Bens de consumo duráveis teve a maior queda, com -14,8%, seguidos por bens de consumo semi e não duráveis (-3,3%) e bens intermediários (-1,7%).
Por dentro da Indústria de Transformação
A variação de +0,3% da produção industrial geral em mai/22 frente a abr/22, na série livre dos efeitos sazonais, foi acompanhada de variação de +0,8% na indústria de transformação e de -5,6% no ramo extrativo.
Dessa forma, apesar do crescimento recente, a indústria de transformação ainda se encontra 0,5% abaixo do nível de produção pré-pandemia, isto é, de fev/20, enquanto o ramo extrativo está 4,9% abaixo deste patamar.
Em relação a mai/21, tal como a indústria geral (+0,5%), o desempenho da indústria de transformação foi positivo, mas bem mais intenso: +1,6%. O ramo extrativo, por sua vez, não escapou de um revés, apresentando variação de -8,2% frente ao mesmo mês do ano passado.
Frente a abr/22, na série com ajuste sazonal, o resultado de +0,3% da indústria geral teve influência positiva de 19 dos 26 ramos pesquisados pelo IBGE. Dentre as principais contribuições positivas, estiveram: máquinas e equipamentos (+7,5%) e veículos automotores, reboques e carrocerias (+3,7%), com ambas voltando a crescer após recuarem no mês anterior. Outras contribuições positivas relevantes para o total da indústria vieram de produtos alimentícios (+1,3%), couro, artigos para viagem e calçados (+9,4%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (+5,5%) e outros equipamentos de transporte (+10,3%).
Em sentido oposto, entre as sete atividades que apontaram redução na produção, outros produtos químicos (-8,0%) exerceram o principal impacto em mai/22, eliminando parte do ganho acumulado no período fev-abr/22 (+12,0%).
Na comparação com igual mês do ano anterior, em que a indústria geral apresentou avanço de +0,5% na produção em mai/22, variações positivas marcaram o desempenho de 12 dos 26 ramos, 34 dos 79 grupos e 47,2% dos 805 produtos pesquisados. Vale citar que maio de 2022 (22 dias) teve um dia útil a mais do que igual mês do ano anterior (21).
As maiores influências positivas nesta comparação interanual vieram das seguintes atividades da indústria de transformação: coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (+15,3%), máquinas e equipamentos (+5,5%), couro, artigos para viagem e calçados (+24,8%), bebidas (+6,3%), e manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos (+15,4%). Já entre as contribuições negativas, destacaram-se: metalurgia (-5,5%), produtos alimentícios (-1,6%), produtos de metal (-5,8%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-6,2%), produtos de minerais não metálicos (-3,7%), confecção de artigos do vestuário e acessórios (-6,5%) e outros produtos químicos (-1,7%).
Utilização de Capacidade
Em mai/22, a utilização da capacidade instalada da indústria de transformação, de acordo com a série da FGV com ajustes sazonais, progrediu de 79,8% em abr/22 para 80,8%, ficando acima da média histórica anterior à Covid-19 (79,5%). Em jun/22 este indicador cresceu novamente, chegando a 81,4%.
O indicador da CNI, também com ajuste sazonal, vem se mantendo em patamar muito semelhante desde jan/22, apontando para a relativa estagnação do setor. Em mai/22, ficou em 80,9%, pouco abaixo de abr/22 (81,0%).
Estoques
De acordo com os dados da Sondagem Industrial da CNI, o indicador da evolução dos estoques de produtos finais da indústria total, após ter ficado no nível de equilíbrio em abr/22 (50 pontos), voltou a cair, ficando em 49,7 pontos, em mai/22.
No caso do segmento da indústria de transformação, o indicador da CNI registrou 49,7 pontos (-0,2 ponto frente a abr/22), apontando mais uma vez redução dos estoques, embora muito próximo da linha de estabilidade (50 pontos). O mesmo ocorreu com a indústria extrativa, que ficou em 49,8 pontos (+0,1 ponto ante abr/22).
Para a indústria geral, o indicador de satisfação dos estoques ficou em 49,1 pontos, indicando estoques abaixo do planejado, em mai/22, após três meses consecutivos na região de excesso de estoques. Vale lembrar que a marca de equilíbrio é dada pelo valor de 50 pontos, acima da qual há excesso de estoques e abaixo dela, estoques menores do que o desejado.
No caso do setor extrativo e no caso da indústria de transformação, o indicador de satisfação registrou 50,9 pontos e 49,1 pontos, respectivamente. No caso da indústria de transformação, tal qual da indústria geral, o indicador apontou estoques abaixo do desejado após três meses de excesso de estoques.
Depois de praticamente todos os ramos industriais apresentarem estoques menores do que o planejado (abaixo de 50 pontos) em dez/20 (96% do total), em dez/21 a insatisfação quando ao nível dos estoques ocorreu em 58% dos setores e, em mai/22, ficou em 72% do total de ramos, o que equivale a 18 dos 25 ramos acompanhados pela CNI com índices abaixo dos 50 pontos.
Entre os ramos iguais ou acima de 50 pontos em mai/22 destacam-se: manutenção e reparação (61,1 pontos), borracha (57,3 pontos) e móveis (56,1 pontos). Ficaram abaixo e mais distantes do equilíbrio os seguintes ramos: limpeza e perfumaria (40 pontos), impressão e reprodução (40 pontos) e bebidas (41,9 pontos).
Confiança e Expectativas
O Índice de Confiança do Empresário da Indústria de Transformação da CNI registrou 58,3 pontos em jun/22, isto é, acima do patamar de 56,6 pontos de mai/22. Por ter ficado acima de 50 pontos neste período, o indicador aponta otimismo dos empresários do setor, mas bem menos do que indicava a entrada do segundo semestre de 2021, quando superou a marca de 60 pontos por seguidos meses.
Na passagem de mai/22 para jun/22, o componente referente às expectativas em relação ao futuro subiu para 61,6 pontos frente aos 60,4 pontos do mês anterior, sugerindo otimismo. Já o componente que capta a percepção dos empresários quanto à evolução presente dos negócios saiu da região de pessimismo, ao passar de 49,1 pontos para 51,7 pontos. O indicativo recente é de melhoras para a produção em junho próximo.
O Índice de Confiança da Indústria de Transformação (ICI) da FGV apontou melhora da confiança em jun/22, dando continuidade ao movimento iniciado em abr/22. Em junho último, este índice chegou a 101,2 pontos, um avanço de +1,5 pontos em relação ao mês anterior, já descontados os efeitos sazonais, superando a marca dos 100 pela primeira vez desde dez/21. Deste modo, por ter ficado acima dos 100 pontos em jun/22, indica melhora da confiança dos empresários.
O resultado de jun/22 foi influenciado por seus dois componentes, mas principalmente pela avaliação da situação atual, que passou de 100,4 pontos em mai/22 para 102,3 pontos em jun/22, superando a região de otimismo (acima de 100 pontos). Já o indicador em relação às expectativas em relação ao futuro subiu de 99,0 pontos em mai/22 para 100,2 pontos em jun/22, voltando à região de otimismo.
Outro indicador frequentemente utilizado para se avaliar a perspectiva do dinamismo da indústria é o Purchasing Managers’ Index – PMI Manufacturing, calculado pela consultoria Markit Financial Information Services. Em jun/22 permaneceu virtualmente estável com 54,1 pontos ante os 54,2 pontos de mai/22, mas ainda ficando acima da marca dos 50 pontos.
Anexo Estatístico
Mais Informações
Tabela: Produção Física - Subsetores Industriais
Variação % em Relação ao Mesmo Mês do Ano Anterior (clique aqui)