Carta IEDI
A indústria no 1º trimestre de 2022
Em mar/22, a produção industrial evitou o terreno negativo, mas pouco cresceu. A variação foi de apenas +0,3% frente ao mês anterior, já descontados os efeitos sazonais, isto é, menos da metade do que havia registrado em fev/22. É cedo para avaliar esta evolução recente como o início de uma fase mais favorável para o setor, notadamente, diante do prolongamento da guerra na Ucrânia e de novos lockdowns na China devido a surtos de Covid-19. Também seria necessária uma performance bem mais robusta do que a que temos visto.
Por ora, a indústria segue produzindo menos do que um ano atrás, apresentando seu terceiro trimestre consecutivo de queda. Depois de encolher -1,1% no 3º trim/21 e -5,8% no 4º trim/21, a produção industrial caiu -4,5% no 1º trim/22, sendo a primeira vez desde o início da pandemia que todos os macrossetores industriais ficaram no vermelho.
A partir dos dados do IBGE, o IEDI avaliou a evolução recente de 93 segmentos da indústria de transformação e identificou perda de produção em 66 deles neste primeiro trimestre de 2022 frente a igual período do ano anterior. Isso equivale a 71% dos segmentos analisados, sendo que para 20% do total as quedas foram bastante intensas, de pelo menos -20%, como nos casos de reprodução de material gravado (-65%), aparelhos eletrodomésticos não especificados (-33,6%), lâmpadas e equipamentos de iluminação (-31,2%) e fibras têxteis (-28,5%), entre outros.
Desde modo, a avaliação da situação corrente dos negócios pelos os empresários do setor, de acordo com os indicadores tanto da CNI como da FGV, vem oscilando na região de pessimismo e assim se manteve tanto em mar/22 como em abr/22, a despeito de alguma melhora. Para o ano de 2022, as projeções mais recentes do Boletim Focus para o PIB da indústria apontam para um declínio de -0,5%.
No 1º trim/22, até bens de capital, que vinham crescendo, resvalaram para terreno negativo, embora no mês de mar/22 (+4,4% ante mar/21) seu quadro tenha registrado algum progresso. Neste princípio de 2022, o maior freio coube à produção de bens de capital para a própria indústria, que após cair -9,5% em out-dez/21 recuou -13,8% em jan-mar/22. É mais um indicativo que a indústria não vai bem.
Bens intermediários amenizaram pouco seu ritmo de queda em comparação com o resultado do final do ano passado: -4,6% no 4º trim/21 e -3,4% no 1º trim/22. Muito disso se deveu aos intermediários de alimentos (+2,9%), cuja produção voltou ao azul, e de veículos (-8,0%), com um recuo menos intenso. Outros segmentos seguiram encolhendo tanto quanto antes: intermediários de têxteis (-21,6%), de metalurgia (-4,6%), embalagens (-15,7%) e insumos para construção (-9,6%).
Também pouco atenuaram seu retrocesso os bens de consumo duráveis, registrando -18,3% em jan-mar/22, devido a um aprofundamento da queda na produção de móveis (-36,1% ante jan-mar/21) e manutenção do ritmo de queda de eletrodomésticos (-25,3%). Quem perdeu um pouco menos foi a produção de veículos (-16,3%), mas não o suficiente para sugerir uma mudança de rota.
Por fim, bens de consumo semi e não duráveis foram o macrossetor em que o declínio se tornou menos agudo, devido ao crescimento do ramo de carnes (+14,2% ante jan-mar/21), favorecido pela retomada de exportações para o mercado chinês, e da produção de álcool e gasolina (+5,8%). Uma queda menor no ramo de bebidas (-2,1%) também contribuiu. Em oposição, no 1º trim/22 não houve melhora em calçados, têxteis, vestuário e farmacêutica e farmoquímica.
Resultados da Indústria
Em março de 2022, a produção industrial ficou virtualmente estagnada, assinalando variação de apenas +0,3% frente ao mês anterior, já descontados os efeitos sazonais. Frente ao nível de produção pré-pandemia, isto é, de fev/20, a indústria manteve defasagem de -2,1%. Se considerarmos, porém, a fase recente de adversidades como um todo, que teve início em 2014, o nível atual de produção da indústria apresenta uma defasagem muito maior: -15,2% em comparação com mar/14.
Em comparação com os dados do mesmo mês do ano anterior, as variações têm sido negativas desde jun/21 e, em mar/22, a indústria recuou -2,1% nesta base comparação, lembrando que teve um dia útil a menos que mar/21. Como consequência, a queda acumulada no primeiro trimestre do ano chegou a -4,5%.
Na análise trimestral frente ao mesmo período do ano passado, temos três trimestres consecutivos de declínio industrial: -1,1% no 3º trim/21; -5,8% no 4º trim/21 e -4,5% no 1º trim/22. E sem indício de tendência de redução destas perdas.
Em relação às grandes categorias industriais, na comparação de mar/22 ante fev/22, na série com ajuste sazonal, houve variação positiva em quase todos os macrossetores. Bens de consumo semi e não-duráveis (-3,3%) apontaram a única taxa negativa e interrompeu, desta forma, três meses consecutivos de avanço na produção, período em que acumulou expansão de +4,3%.
Os bens de capital intensificaram o avanço registrado no mês anterior (+2,5%) ao registrar variação de +8,0% ante fev/22, depois de ter tido, na entrada do ano, o pior resultado na comparação com ajuste sazonal dos últimos meses (-8,8% ante dez/21).
Bens de consumo duráveis (+2,5%) acompanharam a trajetória dos bens de capital e cresceram +2,5% em mar/22 frente a fev/22 na série com ajuste sazonal, após variação também positiva de +1,4% no mês anterior. No caso dos bens intermediários, por sua vez, a alta de produção foi bem mais tímida (+0,6%), especialmente comparada com o acréscimo de fev/22 (+1,8%).
Com esta evolução recente, metade dos quatro macrossetores industriais ficaram em patamares de produção inferiores ao pré-pandemia, isto é, abaixo de fev/20: -23,1% no caso de bens de consumo duráveis, -8,5% no caso de bens de consumo semi e não duráveis. Bens intermediários ficaram 1,9% acima deste patamar e bens de capital ficaram 16,1% acima de fev/20.
Já frente o mesmo mês do ano anterior (mar/21), quase todos os macrossetores ficaram no vermelho, com exceção dos bens de capital, cuja produção avançou +4,4%, após quedas de -8,5% em jan/22 e -4,7% em fev/22.
A maior queda interanual, por sua vez, ficou a cargo de bens de consumo duráveis: -12,8%. No caso dos bens de consumo semi e não duráveis o recuo foi de -1,2% e de -2,2% no caso dos bens intermediários.
A alta de +4,4% da produção de bens de capital frente a mar/21 foi explicado pela expansão observada na maior parte dos grupamentos, com destaque para bens de capital para equipamentos de transporte (+9,7%), mas também para bens de capital de uso misto (+18,5%), para construção (+27,6%), para energia elétrica (+6,8%) e agrícolas (+4,2%). Por outro lado, o impacto negativo foi assinalado pelo subsetor de bens de capital para fins industriais (-10,5%), pressionado, em grande medida, pelo recuo na fabricação de bens de capital seriados (-13,4%).
O macrossetor de bens de consumo duráveis, que registrou recuo de -12,8% ante mar/21, foi negativamente influenciado, sobretudo, pela redução na fabricação de eletrodomésticos da “linha branca” (-32,4%) e da “linha marrom” (-16,7%), além de automóveis (-0,4%) e pelos grupamentos de outros eletrodomésticos (-35,5%) e de móveis (-30,0%). Em sentido oposto, o principal impacto positivo veio da maior produção de motocicletas (+9,0%).
Ainda no confronto com igual mês do ano anterior, a queda de bens de consumo semi e não duráveis (-1,2%) foi pressionada, em grande parte, pela menor fabricação no grupamento de não-duráveis (-10,8%), de semiduráveis (-7,9%) e de carburantes (-0,7%). Em contrapartida, o grupamento de alimentos e bebidas elaborados para consumo doméstico (+6,4%) apontou resultado positivo.
Por fim, os bens intermediários, cuja produção encolheu -2,2% entre mar/21 e mar/22, foram negativamente impactados pela evolução de produtos de metal (-18,0%), produtos de borracha e de material plástico (-14,6%), produtos têxteis (-18,6%), produtos alimentícios (-3,3%), produtos de minerais não-metálicos (-3,8%), metalurgia (-2,4%) e celulose, papel e produtos de papel (-1,5%), enquanto as pressões positivas foram registradas por outros produtos químicos (+8,1%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (+1,8%), indústrias extrativas (+1,0%) e máquinas e equipamentos (+2,3%).
No acumulado do 1º trim/22, os resultados dos diferentes macrossetores industriais foram os seguintes: -18,3% em bens de consumo duráveis, -4,4% em bens de consumo semi e não duráveis, -3,4% em bens intermediários e -2,6% em bens de capital. Na análise trimestral frente ao mesmo período do ano passado, o 1º trim/22 foi o primeiro a registrar variações negativas em todos os macrossetores.
Já no acumulado nos doze últimos meses, ainda houve crescimento da produção total da indústria: +1,8%. Apesar disso, é um resultado bem inferior ao que este indicador registrava no final do terceiro trimestre do ano passado (+6,5% em set/21). Desacelerações importantes nesta comparação vieram de bens de consumo, que em mar/22 passaram a apresentar quedas de -2,9% no caso de bens duráveis e de -1,7% em semi e não duráveis. Bens intermediários e bens de capital também registraram desaceleração, porém ainda se mantiveram no terreno positivo, de +1,3% e +20,9%, respectivamente.
Por dentro da Indústria de Transformação
A variação de +0,3% da produção industrial geral em mar/22 ante fev/22, na série livre dos efeitos sazonais, foi acompanhada de variação de -0,6% na indústria de transformação e de +0,9% no ramo extrativo. Dessa forma, a indústria de transformação ainda se encontra 2,5% abaixo do nível de produção pré-pandemia, isto é, de fev/20. Entretanto, o ramo extrativo já aparece +1,1% acima deste patamar.
Em relação a mar/21, tal como a indústria geral (-2,1%), o desempenho da indústria de transformação foi negativo, em -2,5%. No caso do ramo extrativo, desta vez, houve crescimento de +1,0% ante mar/21.
Frente a fev/22, na série com ajuste sazonal, o resultado de +0,3% da indústria geral teve influência negativa de 14 dos 26 ramos pesquisados. Dentre as principais contribuições positivas, estiveram: veículos automotores, reboques e carrocerias (+6,9%), outros produtos químicos (+7,8%), bebidas (+6,4%) e máquinas e equipamentos (+4,9%), com as três primeiras intensificando o avanço observado no mês anterior e a última voltando a crescer após três meses consecutivos de queda na produção. Em sentido oposto, entre as maiores influências negativas nesta mesma comparação encontraram-se os ramos de produtos alimentícios (-1,7%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-2,1%) e produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-8,4%).
Na comparação com igual mês do ano anterior, em que a indústria geral apresentou queda de -2,1% na produção em mar/22, variações negativas marcaram o desempenho de 17 dos 26 ramos, 55 dos 79 grupos e 60,1% dos 805 produtos pesquisados. Vale citar que março de 2022 (22 dias) teve um dia útil a menos do que igual mês do ano anterior (23).
As maiores influências negativas nesta comparação interanual vieram das seguintes atividades da indústria de transformação: produtos de borracha e de material plástico (-14,5%), produtos de metal (-15,9%) e máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-20,8%), entre outros. Já entre as contribuições positivas, podem ser destacados: outros produtos químicos (+8,0%), bebidas (+12,0%), veículos automotores, reboques e carrocerias (+2,5%), produtos alimentícios (+1,5%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (+1,4%), entre outros.
Comércio Exterior
Segundo os dados da Funcex, o quantum das exportações de manufaturados no mês de mar/22 cresceu +10,3% ante mar/21. Por sua vez, as importações em quantum de matérias-primas para a indústria recuaram -8,3% na mesma comparação, sua terceira taxa negativa consecutiva desde out/20.
Assim, no acumulado do primeiro trimestre de 2022, enquanto as exportações de manufaturados mantiveram-se em alta, de +15,9% frente ao mesmo período do ano anterior, as importações de matérias-primas industriais registraram -5,7%.
Utilização de Capacidade
Em mar/22, a utilização da capacidade instalada da indústria de transformação, de acordo com a série da FGV com ajustes sazonais, cresceu de 79,9% no mês anterior para 80,2%, ficando acima da média histórica anterior à Covid-19 (79,5%). Entretanto, em abr/22 este indicador recuou novamente, chegando a 79,8%.
Estoques
De acordo com os dados da Sondagem Industrial da CNI, o indicador da evolução dos estoques de produtos finais da indústria total em mar/22 (49,4 pontos) voltou a ficar abaixo da linha de 50 pontos, depois de permanecer acima desta marca no mês anterior. Vale lembrar que valores acima da marca dos 50 pontos sinalizam aumento dos estoques e abaixo dela, queda.
No caso do segmento da indústria de transformação, o indicador da CNI registrou 49,3 pontos (-1,3 ponto frente a fev/22), apontando redução dos estoques, tal como a indústria extrativa, que ficou em 48,2 pontos (+1,2 ponto ante fev/22).
Para a indústria geral, o indicador de satisfação dos estoques ficou em 50,3 pontos, indicando relativo equilíbrio em mar/22. Tal equilíbrio é indicado pela marca de 50 pontos, acima da qual há excesso de estoques e abaixo dela, estoques menores do que o desejado. No caso do setor extrativo e no caso da indústria de transformação, o indicador de satisfação registrou 53,3 pontos e 50,1 pontos, respectivamente.
No grupo da indústria de transformação, a situação dos estoques se tornou mais confortável ao longo de 2021, mas o problema de estoques considerados abaixo do planejado continua difundido para um amplo conjunto de ramos. Estoques aquém do desejado pode levar a gargalos nas cadeias produtivas em caso de elevação inesperada da demanda.
Depois de praticamente todos os ramos industriais apresentarem estoques menores do que o planejado (abaixo de 50 pontos) em dez/20 (96% do total), em dez/21 a insatisfação quando ao nível dos estoques ocorreu em 58% dos setores, e em mar/22 manteve-se em 58% do total de ramos, o que equivale a 15 dos 26 ramos acompanhados pela CNI com índices abaixo dos 50 pontos.
Entre os ramos iguais ou acima de 50 pontos em mar/22 destacam-se: móveis (59,0 pontos), madeira (57,0 pontos) e manutenção e reparação (56,8 pontos). Ficaram abaixo e mais distantes do equilíbrio os seguintes ramos: limpeza e perfumaria (43,3 pontos), máquinas e materiais elétricos (45,2 pontos) e produtos diversos (45,7 pontos).
Confiança e Expectativas
O Índice de Confiança do Empresário da Indústria de Transformação da CNI, após ter atingido em nov/21 (56,1 pontos), o menor valor desde abr/21 (54,6 pontos), pouco variou até fev/22 (56,3 pontos) e atingiu 56,8 pontos em abr/22. Por ter ficado acima de 50 pontos neste período, o indicador aponta otimismo dos empresários do setor, mas bem menos do que indicava na virada de 2020 para 2021.
Na passagem de mar/22 para abr/22, o componente referente às expectativas em relação ao futuro registrou melhora significativa, passando de 58,6 pontos para 60,4 pontos, respectivamente. Já o componente que capta a percepção dos empresários quanto à evolução presente dos negócios também melhorou, porém permaneceu abaixo da marca de 50 pontos e denotando pessimismo dos empresários do setor. De 48,1 pontos em mar/22 foi a 49,5 pontos em abr/22. O indicativo recente é, então, de mais um mês de adversidades para a produção em abril próximo.
O Índice de Confiança da Indústria de Transformação (ICI) da FGV apontou deterioração da confiança nos primeiros meses de 2022, seguidos pela pequena melhora dos dados no mês de abr/22. Em abr/22 esse índice chegou a 97,4 pontos, comparados aos 95 pontos de mar/22. Por ter permanecido inferior à marca dos 100 pontos, ainda indica baixa confiança dos empresários.
O resultado um pouco melhor em abr/22 foi influenciado por seus dois componentes, mas principalmente pelas expectativas em relação ao futuro, que passou de 92,8 pontos em mar/22 para 96,0 pontos em abr/22, aproximando-se da região de otimismo (acima de 100 pontos). Já a avaliação da situação atual subiu de 97,4 pontos em mar/22 para 98,8 pontos em abr/22.
Outro indicador frequentemente utilizado para se avaliar a perspectiva do dinamismo da indústria é o Purchasing Managers’ Index – PMI Manufacturing, calculado pela consultoria Markit Financial Information Services. Após ter passado para área acima dos 50 pontos em mar/22 (52,3 pontos), em oposição aos demais indicadores analisados nesta seção, regrediu para 51,8 pontos, mantendo-se, mais uma vez, na região de expansão dos negócios.
Anexo Estatístico
Mais Informações
Tabela: Produção Física - Subsetores Industriais
Variação % em Relação ao Mesmo Mês do Ano Anterior (clique aqui)