Análise IEDI
De volta a 2015
Após um longo período de seis anos, a taxa de desemprego do país deixou de apresentar dois dígitos, segundo os últimos dados da Pnad contínua, divulgada pelo IBGE. É como se tivéssemos voltado a 2015, do ponto de vista da taxa de desemprego e do número de desocupados, mas agora com um nível maior de informalidade e menos renda.
No trimestre findo em ago/22, a taxa de desemprego chegou a 8,9%, bem aquém de onde estava em igual período do ano passado, quando era 13,1%, e exatamente no mesmo nível de ago/15. O número de desocupados, de 9,7 milhões de pessoas, só não foi menor do que o do trimestre findo em dez/15 (9,2 milhões de pessoas).
Do lado da criação de postos de trabalho, os sinais são positivos desde o segundo trimestre do ano passado. Agora em jun-ago/22, o número total de ocupados cresceu +7,9% frente a jun-ago/21, o equivalente a 7,3 milhões a mais de pessoas empregadas. A principal alavanca deste processo tem sido a normalização do setor de serviços, com o retorno de atividades presenciais e a mobilidade das pessoas, após termos atingido grande cobertura vacinal contra a Covid-19.
Como mostram as variações interanuais a seguir, os setores de alojamento e alimentação, outros serviços, serviços domésticos e comércio e reparação de veículos lideraram o crescimento da ocupação em jun-ago/22. A indústria e a construção também não se saíram mal, mas cresceram menos que o total geral e apresentam desaceleração na geração de postos.
• Total de ocupados: +9,1% em dez/21-fev/22; +10,6% em mar-mai/22; +7,9% em jun-ago/22;
• Ocup. em outros serviços: +15,2%; +20,7% e +22,6%, respectivamente;
• Ocup. em alojamento e alimentação: +25,5%; +26,9% e +14,2%;
• Ocup. no comércio e reparação: +11,9%; +15,3% e +10,4%;
• Ocup. em serviços domésticos: +21,0%; +20,4% e +10,3%;
• Ocup. na indústria: +8,8%; +11,0% e +6,5%;
• Ocup. na construção: +13,1%; +13,2% e +4,1%, respectivamente.
Este desempenho recente nos colocou de volta em um quadro semelhante ao de 2015, mas, como dito anteriormente, isso veio acompanhado de ampliação da informalidade. Em relação ao trimestre findo em ago/15, para evitar eventual sazonalidade, enquanto o número total de ocupados cresceu +7,4%, o emprego sem carteira assinada e o conta própria, que inclui os chamados “bicos”, saltaram +28,2% e +19,5%, respectivamente.
Muito disso, devido ao tipo de contratação predominante nos setores que melhor performaram nesta comparação. As maiores altas couberam aos serviços de alojamento e alimentação, com +23,1%, e transportes e armazenagem, com +20,1%, no qual a difusão de aplicativos de transporte contribuiu para este forte crescimento.
Outro aspecto distintivo entre a situação atual e a de 2015 diz respeito ao rendimento real médio, que registra declínio de -1,5% nesta comparação. Dada a ampliação mais intensa do número de ocupados, entretanto, a massa de rendimentos reais, que é a base do consumo das famílias, apresentou aumento de +6,7% entre os trimestres findos em ago/15 e ago/22.
Conforme dados da PNAD Contínua Mensal divulgados hoje pelo IBGE, a taxa de desocupação registrou 8,9% no trimestre compreendido entre junho e agosto de 2022. Em relação ao trimestre imediatamente anterior (mar-abr-mai/2022), houve retração de 0,9 p.p., e para o mesmo trimestre do ano anterior houve variação negativa de 4,2 p.p., quando registrou 13,1%.
O rendimento real médio de todos os trabalhos habitualmente recebidos registrou R$ 2.713, apresentando variação de 3,1% em relação ao trimestre imediatamente anterior (mar-abr-mai/2022). Já frente ao mesmo trimestre de referência do ano anterior houve declínio de 0,6%.
A massa de rendimentos reais de todos os trabalhos habitualmente recebidos atingiu R$ 263,5 bilhões no trimestre que se encerrou em agosto, registrando crescimento de 4,6% frente ao trimestre imediatamente anterior (mar-abr-mai/2022) e variação positiva de 8,1% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior (R$ 244,8 bilhões).
No trimestre de referência a população ocupada registrou 99,0 milhões de pessoas, variação positiva de 1,5% em relação ao trimestre imediatamente anterior e incremento de 7,9% frente ao mesmo trimestre do ano anterior (91,7 milhões de pessoas ocupadas).
Em comparação com o trimestre imediatamente anterior, o número de desocupados aferiu retração de 8,8%, com 9,7 milhões de pessoas. Já na comparação com o mesmo trimestre do ano anterior, observou-se variação negativa de 30,1%. Em relação a força de trabalho, computou-se neste trimestre 108,7 milhões de pessoas, representando crescimento de 0,5% frente ao trimestre imediatamente anterior e de 2,9% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior (105,6 milhões de pessoas).
Na análise referente ao mesmo trimestre do ano anterior, nove dos dez agrupamentos analisados apresentaram variação positiva: outros serviços (22,6%), alojamento e alimentação (14,2%), comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas (10,4%), serviços domésticos (10,3%), transporte, armazenagem e correios (9,6%), administração pública, defesa, seguridade, educação, saúde humana e serviços sociais (8,6%), indústria (6,5%), informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas (5,6%), construção (4,1%). Em sentido oposto, agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura apresentou retração de -2,1% no período.
Por fim, analisando a população ocupada por posição na ocupação frente ao mesmo trimestre do ano anterior, seis das sete categorias analisadas registram expansão: trabalho privado sem carteira (16,0%), empregador (15,1%), trabalho doméstico (10,5%), trabalho privado com carteira (9,4%), setor público (7,7%), trabalhador por conta própria (2,4%). A categoria de trabalho familiar auxiliar registrou retração de -10,8% nessa base de comparação.