Análise IEDI
Melhora com fragilidades
Segundo a última PNAD contínua do IBGE, no 3º trim/21 a taxa de desemprego recuou em relação ao trimestre anterior, bem como frente ao mesmo trimestre de 2020. Ficou em 12,6% ante níveis superiores a 14% nestes períodos de comparação, implicando uma redução de mais de 1 milhão de desocupados.
Esta evolução favorável guarda relação com o avanço da vacinação contra a Covid-19 e a normalização das atividades econômicas, especialmente a dos serviços que foram mais diretamente afetadas pelas medidas restritivas e, como se sabe, são bastante empregadoras.
Ainda assim, cabe destacar que a taxa de desemprego permanece em dois dígitos, como tem sido a regra desde o início de 2016, e segue acima do patamar de 2019 (11,9%), isto é, antes da pandemia. Deste modo, o contingente de cidadãos sem emprego ainda está em patamares elevados: 13,5 milhões de pessoas. A reação recente é positiva, mas tem fragilidades.
Há ainda outro aspecto a ser considerado que é o número de pessoas com jornada de trabalho insatisfatória, isto é, que poderiam e gostariam de trabalhar mais, mas não conseguem. Este contingente, que o IBGE denomina subocupados por insuficiência de horas trabalhadas, não para de bater recordes. Agora no 3º trim/21 chegou a 7,8 milhões de pessoas ou +23,9% frente ao 3º trim/20.
Muito disso deve-se ao tipo de ocupação que está sendo criada, baseada sobretudo no mercado informal de trabalho. Como mostram as variações interanuais a seguir, ocupações sem carteira assinada e por conta própria, que compreende os chamados “bicos”, crescem a um ritmo pelo menos duas vezes mais intenso que o emprego com carteira, embora já tenham superado seus níveis pré-pandemia.
• Ocupação total: -6,5% no 1º trim/21; +6,3% no 2º trim/21 e +11,4% no 3º trim/21;
• Com carteira assinada: -8,4%; +2,0% e +8,6%, respectivamente;
• Sem carteira assinada: -10,4%; +17,3% e +23,1%;
• Trabalho por conta própria: -1,3%; +15,4% e +18,4%, respectivamente.
As fragilidades atuais poderiam ser menores se setores com melhores empregos apresentassem maior dinamismo. É o caso da indústria, cuja produção acumula sinais de enfraquecimento. Ainda assim, o emprego industrial progrediu muito no último trimestre, passando de +3,2% no 2º trim/21 para +10,7% no 3º trim/21, sempre em relação ao mesmo período do ano anterior.
Outros setores com emprego majoritariamente informal, contudo, cresceram a taxas bem mais robustas no 3º trim/21: +20,1% na construção; +21,3% no serviço doméstico e +26,5% em alojamento e alimentação, por exemplo. Ou seja, a um ritmo cerca de duas vezes maior do que a ocupação total (+11,4%).
Desemprego ainda alto, subocupação e aumento da ocupação puxada por postos informais, cuja remuneração tende a ser menor e mais irregular, dificultam a expansão do consumo das famílias e, consequentemente, a recuperação do PIB do país. Outro obstáculo tem sido a inflação, que corrói o poder de compra da população.
Ainda segundo os dados do IBGE, o rendimento médio real habitualmente recebido recuou -11,1% no 3º trim/21 frente a igual período do ano passado, isso após já ter caído -6,4% no 2º trim/21. Com esta evolução, a massa de rendimentos, que é a base do consumo, não tem evitado a região negativa, a despeito a reação da ocupação, registrando -0,7% no 3º trim/21 ante o 3º trim/20.
Conforme dados da PNAD Contínua Mensal divulgados hoje pelo IBGE, a taxa de desocupação foi de 12,6% no trimestre compreendido entre julho e setembro de 2021. Em relação ao trimestre imediatamente anterior, abril a junho de 2021, houve retração de 1,6 p.p., e para o mesmo trimestre do ano anterior houve variação negativa de 2,2 p.p., quando registrou 14,9%.
O rendimento real médio de todos os trabalhos habitualmente recebidos registrou R$2.459,00, apresentando variação negativa de 4,0% em relação ao trimestre imediatamente anterior (abr-mai-jun). Já frente ao mesmo trimestre de referência do ano anterior, houve declínio de 11,1%.
A massa de rendimentos reais de todos os trabalhos habitualmente recebidos atingiu R$ 223,5 bilhões no trimestre que se encerrou em setembro, registrando retração de 0,1% frente ao trimestre imediatamente anterior (abr-mar-jun) e variação negativa de 0,7% frente ao mesmo trimestre do ano anterior (R$ 225,3 bilhões).
Para o trimestre de referência, a população ocupada registrou 93,0 milhões de pessoas, variação positiva de 4,0% em relação ao trimestre imediatamente anterior (abr-mai-jun) e incremento de 11,4% frente ao mesmo trimestre do ano passado (83,4 milhões de pessoas ocupadas).
Em comparação ao trimestre imediatamente anterior, o número de desocupados aferiu retração de 9,3%, com 13,4 milhões de pessoas. Já na comparação com o mesmo trimestre do ano passado, observou-se variação negativa de 7,8%. Em relação a força de trabalho, computou-se neste trimestre 106,4 milhões de pessoas, representando crescimento de 2,1% frente ao trimestre imediatamente anterior e variação positiva de 8,6% em relação ao mesmo trimestre do ano passado (98,0 milhões de pessoas).
Com análise referente ao mesmo trimestre do ano anterior, os dez dos agrupamentos analisados apresentaram variações positivas: Alojamento e alimentação (26,5%), Serviços domésticos (21,3%), Construção (20,1%), Comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas (13,4%), Transporte, armazenagem e correios (12,6%), Indústria geral (10,7%), Informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas (10,4%), Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (9,7%), Outros serviços (8,7%) e Administração pública, defesa, seguridade, educação, saúde humana e serviços sociais (1,8%).
Por fim, analisando a população ocupada por posição na ocupação, cinco categorias registraram acréscimo frente ao mesmo trimestre do ano anterior: trabalho privado sem carteira (23,1%), trabalho doméstico (21,3%), trabalhador por conta própria (18,4%), trabalho privado com carteira (8,6%), trabalho familiar auxiliar (1,8%) e empregador (0,1%). Em sentido oposto, a categoria do setor público apresentou retração de 2,7%.