Análise IEDI
O crédito cresce, mas não para a indústria
Em agosto, segundo os dados divulgados hoje pelo Banco Central, o crédito fluiu na economia, tanto para as famílias como para as empresas. As concessões totais cresceram 15,1% em relação a agosto de 2017, já corrigidas pela inflação de acordo com o IPCA. Com isso, a alta acumulada nos oito primeiros meses já chega a 11,3%, fazendo de 2018 um ano de reação do quadro do crédito, muito embora ainda haja assimetrias importantes, como veremos nesta Análise.
Como tem sido a regra desde o começo 2018, os empréstimos às empresas, que demoraram mais a voltar ao positivo, cresceram a um ritmo superior àquele do crédito às famílias em agosto: +16,6% contra +13,8%, respectivamente, em termos reais. Mas o dado novo a ser enfatizado no caso do financiamento corporativo é que as concessões de crédito direcionado aumentaram 13,2% na comparação com agosto de 2017.
Este é um aspecto da maior importância porque sinaliza para o fato de que pode ter chegado ao fim o encolhimento sistemático do crédito direcionado às empresas, que vinha desde novembro de 2014. A variação positiva em agosto reflete, porém, mais o fundo do poço das atividades do BNDES, não tendo muito mais para onde cair, do que uma efetiva reação do investimento. Dado que o Brasil conta com poucas fontes adequadas de financiamento das inversões produtivas, a recomposição das operações do BNDES continua sendo um dos elementos centrais para uma recuperação mais vigorosa da economia.
De todo modo, mesmo que as fontes oficiais conservem um dinamismo favorável em suas operações daqui para frente, as concessões com recursos direcionados devem encerrar 2018 mais uma vez no negativo. É o que indica a queda real de 11,3% no acumulado de janeiro a agosto deste tipo de crédito. Não fosse isso, o fluxo total de empréstimos às empresas estaria avançando a um ritmo superior a 13,2% verificado no mesmo período, graças às operações com recursos livres.
Com o retorno ao positivo das concessões, isto é, das contratações de novos empréstimos livres e direcionados, o estoque total do crédito vai restaurando pouco a pouco seus patamares anteriores à crise. Por ora, no caso das empresas, continua 16% abaixo do estoque de dezembro de 2015, em termos nominais. Em 2018, ainda mantém a rota descendente, mas por muito pouco: o declínio foi de apenas 0,5% se compararmos o nível de agosto de 2018 com aquele de dezembro do ano passado.
Há, contudo, situações díspares quando analisamos a evolução do estoque de crédito corporativo em 2018, seja em função do tamanho das empresas, seja segundo os setores econômicos a que pertencem. As variações interanuais abaixo do saldo das operações em termos nominais ilustram essas assimetrias:
• Estoque de crédito total às empresas: -6,7% em 2017 e -0,5% em jan-ago/18
• Estoque de crédito às grandes empresas: +5,5% e +1,5%, respectivamente;
• Estoque de crédito às micro, pequenas e médias empresas: -22,4% e -4,0%;
• Estoque de crédito às empresas industriais: -9,4% e -3,7%;
• Estoque de crédito às empresas do setor de serviços: -2,6% e +1,0%;
• Estoque de crédito às empresas do setor agropecuário: -9,0%; +8,4%
A melhora gradual do quadro do crédito corporativo tem se dado principalmente no financiamento às grandes empresas, cujo estoque registra variações positivas tanto para a integralidade do ano de 2017 como no acumulado de janeiro a agosto de 2018. No caso das micro, pequenas e médias empresas, o máximo que se obteve foi uma contração menos intensa no presente ano.
Do ponto de vista setorial, por sua vez, os avanços pouco têm favorecido a situação das empresas industriais, cujo saldo de crédito continua encolhendo. Os dados do Banco Central permitem identificar alguns ramos para quem o crédito está ainda mais escasso, em 2018, do que para o setor como um todo (-3,7%), tais como construção (-11,9%), mineração (-15,7%) e química e farmacêutica (-18,2%).
São, então, as empresas de outros setores, como o agropecuário e o de serviços, que têm logrado restaurar suas condições de financiamento, sobretudo nestes oito meses de 2018. A indústria, por sua vez, permanece com um estoque de crédito 21% inferior ao de dezembro de 2015.
Os dados de crédito apresentados hoje pelo Banco Central registraram que o saldo das operações alcançou R$ 3,1 trilhões em agosto, expansão de 1,0% no mês influenciado pelo aumento das concessões de pessoas físicas e jurídicas e o efeito da depreciação cambial no saldo, sobretudo com empresas. O crédito a pessoas físicas cresceu 1,1%, para R$1,7 trilhão, enquanto a carteira de pessoas jurídicas expandiu 0,9%, alcançando R$1,4 trilhão. Na comparação com o mesmo mês do ano anterior, o saldo total de crédito manteve trajetória ascendente, com expansão de 3,4% relativamente a agosto de 2017 (2,3% em julho, na mesma base de comparação).A relação crédito/PIB ficou em 46,7%.
A carteira de crédito com recursos livres registrou valor de R$ 1,663 bilhões, acréscimo de 1,5% em relação ao mês anterior e acréscimo de 8,9% quando comparado com agosto de 2017. A parcela destas operações realizada junto a pessoas físicas foi de R$ 903,4 bilhões, expansão de 1,3% quando em relação ao mês imediatamente anterior e aumento de 9,1% quando comparado com o mês de agosto de 2017. Para as operações junto a pessoas jurídicas, aferiu-se R$ 759,9 bilhões, acréscimo de 1,6% em relação ao mês anterior e expansão de 8,7% na comparação com o mesmo período de 2017.
O estoque de crédito com recursos direcionados apresentou valor de R$ 1,491 bilhões para agosto, em termos nominais, indicando uma retração de 2,2% frente ao mesmo mês de ano anterior e decréscimo de 0,5% quando comparado a julho de 2018. O saldo referente a pessoas físicas registrado foi de R$ 817,1 bilhões, quando comparado ao mês de agosto de 2017, crescimento de 4,3% enquanto, influência destacada pelo crédito rural. O saldo relativo a pessoas jurídicas foi de R$ 674,5 bilhões, queda de 9,0%.
Para o mês de agosto de 2018, foram concedidos R$ 326,7 bilhões em novas operações de crédito, expansão de 14,8% frente ao montante de R$ 284,7 bilhões observado em agosto de 2017. Deste volume, R$ 293,3 bilhões foram originados de recursos livres e R$ 33,4 bilhões de recursos direcionados, o que representou, quando comparados aos mesmos meses do ano anterior, acréscimos de 15,1% para recursos livres e expansão de 11,7% para recursos direcionados.
Para as concessões de crédito às pessoas físicas a partir de recursos livres, destacaram-se as operações de crédito rotativo (R$ 121,8 bilhões), cartão de crédito (R$ 95,3 bilhões), crédito não rotativo (R$ 43,0 bilhões), cheque especial (R$ 30,6 bilhões) e crédito pessoal (R$ 26,6 bilhões). Quanto as pessoas jurídicas, as principais modalidades ficaram para desconto de duplicatas (R$ 27,2 bilhões), cheque especial (R$ 17,1 bilhões), conta garantida (R$ 16,7 bilhões) e capital de giro (R$ 14,7 bilhões).
Nas novas concessões de crédito realizadas com recursos direcionados destacaram-se, para pessoas físicas, as modalidades de crédito rural (R$ 9,7 bilhões), financiamento imobiliário (R$ 8,1 bilhões), microcrédito (R$ 942 milhão) e BNDES (R$ 667 milhões). De outra forma, para as empresas, as principais modalidades ficaram com o crédito rural (R$ 7,8 bilhões), o BNDES (R$ 4,6 bilhões) e financiamentos imobiliários (R$ 784 milhões).
Setores. Considerando o saldo total de crédito do sistema financeiro nacional, por atividade econômica, a carteira de operações para o setor de serviços registrou R$ 722,0 bilhões, o que significa um crescimento nominal de 5,7% frente a agosto de 2017, e as seguintes expansões: administração pública (10,3%), transporte (9,2%) e comércio geral (4,5%). Para o setor da indústria aferiu-se o valor de R$ 660,9 bilhões, retração de 7,4% frente ao mesmo mês do ano anterior. Por fim, o setor agropecuário apresentou crédito de R$ 23,4 bilhões, crescimento de 5,3% em termos nominais, quando comparado ao registrado no mesmo mês de agosto de 2017.
Analisando a distribuição de crédito do sistema financeiro nacional, por controle de capital, temos que as instituições financeiras públicas emprestaram R$ 1,6 trilhões, representando 52,6% do volume de crédito, as instituições financeiras privadas nacionais contribuíram com R$ 1,0 trilhão, representando 32,9% e as instituições financeiras estrangeiras contribuíram com R$ 456,9 bilhões, representando por sua vez 14,5% do volume total de crédito no sistema financeiro.
Juros e Inadimplência. A taxa média de juros das operações contratadas em agosto alcançou 24,5% a.a., permanecendo estável na variação mensal e apresentando redução de 3,8 p.p. nos últimos doze meses. Na carteira livre, a taxa atingiu 38,0% (-0,1 p.p. e -7,4 p.p., nos mesmos períodos), com redução de 0,2 p.p. tanto no segmento de empresas (para 20,4% a.a.) quanto no das famílias (para 51,8% a.a.). Nas contratações com empresas, ocorreram reduções de taxas de juros em diversas modalidades, destacando-se capital de giro (-0,3 p.p.) e antecipação de faturas (-0,7 p.p.). No segmento de pessoas físicas, as principais contrações ocorreram no consignado (-0,4 p.p.) e cartão rotativo regular (-1,8 p.p.). A taxa de juros do crédito livre excluindo-se as operações rotativas situou-se em 29,3% a.a. (+0,1 p.p. no mês e -2,9 p.p. na comparação interanual).