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                          Análise IEDI

                          Indústria
                          Publicado em: 22/11/2016

                          Regressão industrial à maneira latino-americana

                          Em estudo recente (Desindustrialização prematura na América Latina), a Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL) procura mostrar que a Argentina, o Brasil, o Chile e, em menor grau, o México passaram por processos de desindustrialização prematura, aumentando a especialização em commodities, manufaturas baseadas em recursos naturais e serviços de baixa produtividade em detrimento da indústria de transformação.

                          A Argentina passou pelo pico da participação da indústria na economia antes mesmo da Segunda Guerra Mundial. Em termos de emprego, a parcela da indústria de transformação sobre o total caiu constantemente de 1950 a 2010, de 27% a 12%. Nos outros três países as parcelas da indústria tanto no valor adicionado como no emprego tiveram uma trajetória em U invertido ao longo do tempo, com pico ao final dos anos 1960 no Chile (20%), em meados dos anos 1980 no México (20%) e no Brasil (13,5%). Em 2010, a participação da indústria de transformação alcançou, respectivamente, 10%, 15% e 12% nesses países. 

                          A desindustrialização dessas economias latino-americanas pode ser considerada “prematura” por diferentes razões. Primeiramente, porque as rendas per capita permaneceram baixas em relação aos países desenvolvidos. Como o estudo demonstra, os países desenvolvidos começaram a dar sinais de desindustrialização só após terem atingido patamares elevados de renda per capita, entre US$ 10 mil e US$ 15 mil; já os países latino-americanos em questão sofrem esse processo com rendas per capitais muito abaixo desse patamar: US$ 4,4 mil no caso do Chile, US$ 5,2 mil no caso do Brasil, US$5,4 mil na Argentina e US$7,2 mil no México.

                          Em segundo lugar, a Cepal mostra que os países analisados se especializam em setores menos produtivos e menos intensos em tecnologia, baseados em recursos naturais – em detrimento dos setores industriais abundantes em trabalho ou engenharia. Como os setores intensivos em tecnologia são capazes de gerar conhecimentos para o conjunto da economia, seu fraco crescimento é um dos motivos para que a produtividade dos demais setores não se eleve substancialmente, impedindo um dos mecanismos essenciais do desenvolvimento.

                          Em terceiro lugar, é preciso discernir quais tipos de serviços estão substituindo a indústria. Seria positivo para o desenvolvimento econômico se tais serviços fossem aqueles de alta tecnologia, como os TIC (Tecnologia da Informação e Comunicação), associados às atividades que adicionam maior valor nas cadeias produtivas globais. Entretanto, diferentemente das experiências dos países desenvolvidos, não é isso que ocorre na América Latina, que testemunha uma diversificação produtiva em direção a serviços de baixa produtividade.

                          Assim, a desindustrialização prematura das últimas décadas, com mudança estrutural para serviços e para os setores produtores de recursos naturais, impactou negativamente o crescimento da produtividade dos países latino-americanos, especialmente na Argentina, Brasil e México. Por essa razão, pode-se atribuir a esse processo uma das causas principais da estagnação do desenvolvimento econômico latino-americano. 

                          Em recente estudo, Mario Castillo (chefe da Unidade de Inovação e Novas Tecnologias da Comissão Econômica para a América Latina – CEPAL/ ONU) e Antonio Martins Neto (consultor da CEPAL) afirmam que a Argentina, o Brasil e o Chile passaram por processos de desindustrialização prematura, com o aumento da especialização em commodities, manufaturas baseadas em recursos naturais e serviços de baixa produtividade. 

                          A mudança estrutural de atividades de baixa produtividade, como a agricultura de subsistência e serviços informais, para outras de maior produtividade permanece sendo um desafio nos países da América Latina. Entretanto, na maioria deles, a industrialização avançou no pós-guerra associada à urbanização, atingindo seu pico, mas desacelerando antes da hora. 

                          Em outros termos, o que tem ocorrido é que a parcela do setor de serviços no valor adicionado total e também no emprego da América Latina tem aumentado nas últimas décadas, em substituição à indústria. Há evidências de que esse movimento é mais forte no Brasil e na Argentina do que no México e no Chile. Hoje, nestas nações as taxas de emprego e de valor adicionado da transformação industrial em relação ao total são parecidas com as dos países desenvolvidos.

                          No caso da Argentina, os autores afirmam que o país passou pelo pico da participação da indústria na economia nos anos 30. Em termos de emprego, a parcela da indústria de transformação sobre o total caiu constantemente de 1950 a 2010, de 27% a 12%. Nos outros três países a parcela da indústria no valor adicionado e do emprego do país teve uma trajetória de U invertido ao longo do tempo, com pico ao final dos anos 1960 no Chile (20%) e em meados dos anos 1980 no México (20%) e no Brasil (13,5%). Em 2010, a participação da indústria de transformação alcançou, respectivamente, 10%, 15% e 12% nesses países. 

                          Durante o período de substituição de importações (1950-1975), o Brasil e o México assinalaram acelerado crescimento da produtividade do trabalho, como resultado da mudança estrutural – já que deixavam de ser economias agrícolas. Mas nas décadas seguintes, a mudança estrutural desacelerou, bem como o crescimento da produtividade. Castillo e Martins Neto, apontam, ademais, que de 2000 a 2011 a produtividade da indústria de extração mineral no Brasil foi cinco vezes maior do que a da indústria de transformação.

                          A Argentina, em contraste, já tinha uma parcela elevada da indústria no emprego e no valor adicionado nos anos 1950, mas se reduziu ao longo das décadas seguintes, apresentando queda da produtividade dos anos 1970 aos 1990. No Chile, em especial, a agricultura também perdeu importância relativa entre os anos 1950 e 1970; porém, é preciso levar em conta que a indústria extrativa absorveu parte de sua parcela no emprego e no valor adicionado, com uma produtividade bem mais elevada do que a dos outros setores da economia. 

                          Vista como uma tendência natural, pela qual já passaram diversos países desenvolvidos, a desindustrialização pode ser interpretada como a etapa seguinte à industrialização ao longo da trajetória de desenvolvimento econômico de um país. Isto é, em um primeiro momento, durante a industrialização, ocorre a transferência dos trabalhadores da agricultura para a indústria. Em seguida, durante a desindustrialização, essa transferência dos trabalhadores ocorre da indústria para os serviços. 

                          Contudo Castillo e Martins Neto argumentam que essa sequencialidade de etapas é uma simplificação extrema do processo de desenvolvimento, já que existem especificidades diversas em cada economia ou regiões que alteram suas trajetórias de desenvolvimento. Exemplo disso é que existem evidências que mostram que em alguns países a trajetória dos indicadores desindustrialização não se parece uma curva de U invertido, como se é esperado. Diante da realidade das cadeias globais de valor, que implicam a fragmentação das atividades produtivas em diversos países, mudou-se a dinâmica da industrialização dos países. 

                          A desindustrialização desse conjunto de países latino-americanos analisados pelos autores pode ser considerada “prematura” por diversas razões. 

                          1. Primeiramente, porque suas rendas per capita permaneceram abaixo daquelas dos países desenvolvidos quando também passaram por uma desindustrialização. Como o estudo demonstra, os países desenvolvidos começaram a dar sinais de desindustrialização só após terem atingido patamares elevados de renda per capita, entre US$ 10 mil e US$ 15 mil; já os países latino-americanos em questão sofrem esse processo com rendas per capitais muito abaixo desse patamar: US$ 4,4 mil no caso do Chile, US$ 5,2% no caso do Brasil, US$5,4 mil na Argentina e US$7,2mil no México.
                             
                          2. Em segundo lugar, estes países se especializam em setores menos produtivos e menos intensos em tecnologia, baseados em recursos naturais – em detrimento dos setores industriais abundantes em trabalho ou engenharia. Como os setores intensivos em tecnologia são capazes de gerar efeitos de transbordamento de conhecimento, seu fraco crescimento é um dos motivos para que a produtividade dos demais setores da economia não se eleve substancialmente, impedindo um dos mecanismos essenciais do desenvolvimento.
                             
                          3. Terceiro, é preciso discernir quais tipos de serviços estão substituindo a indústria. Seria positivo para o desenvolvimento econômico se tais serviços fossem aqueles de alta tecnologia, como os TIC (Tecnologia da Informação e Comunicação), associados a atividades que adicionam maior valor nas cadeias produtivas globais. Entretanto, diferentemente das experiências dos países desenvolvidos, não é isso que ocorre na América Latina, que testemunha uma diversificação produtiva em direção a serviços de baixa produtividade.
                             

                          De fato, as estimativas dos autores apontam para uma parcela média de 3,2% da indústria digital no PIB de Argentina, Brasil, Chile e México. Vale observar que nos países europeus essa parcela é de 5%, enquanto nos EUA é de 6,4% e no Japão, de 6,8% (em 2007). Mais além, os ativos das empresas de TIC, na média de 1995 a 2008, representaram 14% do crescimento do PIB do Brasil e 7% nos casos da Argentina, Chile e México. Já nos EUA, essa fração foi de 27% e na União Europeia de 18%. 

                          Assim, a desindustrialização das economias latino-americanas teve como contraparte, sobretudo, o crescimento da participação dos serviços de baixa produtividade tanto no valor adicionado como no emprego totais da economia. Exemplos desses serviços são as atividades do comércio de atacado e de varejo, restaurantes, etc., associados ao ciclo de crescimento do consumo interno nos anos 2000. Além de perder espaço no PIB e no emprego, a indústria da Argentina, Brasil e Chile também ficou menos diversificada, já que passou por um processo de especialização em setores intensivos em recursos naturais.

                          Esses dois movimentos guardaram estreita relação com o comportamento do setor externo no Brasil e no Chile. Diante do aumento da demanda e do preço das commodities, a participação dos bens primários nas exportações brasileiras aumentou de 28% para 50% entre 1990 e 2014, enquanto as parcelas dos bens de baixa e média tecnologia regrediram de 25% a 18% e de 14% a 5%, respectivamente. O Chile, por sua vez, ficou preso às exportações primárias durante todo o período, dado que tanto em 1990 como em 2014 os bens primários e os baseados em recursos naturais correspondiam por cerca de 90% de sua pauta. 

                          Todavia, não se pode dizer o mesmo da Argentina e do México, pois passaram por alterações em seus perfis de exportação, aumentando a parcela de bens manufaturados. No caso argentino, entre 1990 e 2014, a parcela de bens primários nas exportações se elevou de 44% para 48%, mas a de recursos naturais caiu de 31% para 18% e a das indústrias de média tecnologia cresceu de 10% para 22%. No caso mexicano, os produtos primários respondiam por 46% das exportações totais em 1990, caindo para 14% em 2014. Bens de média e alta tecnologia somaram 32% da pauta nos anos 1990 e passaram a representar 66% das exportações em 2014. Essa evolução favorável das exportações de bens mais intensivos tecnologicamente é explicada pelas indústrias maquiladoras.

                          Como conclusão geral, os autores afirmam que a desindustrialização prematura com mudança estrutural para serviços e para os setores produtores de recursos naturais nas últimas décadas impactou negativamente o crescimento da produtividade nos países latino-americanos, especialmente na Argentina, Brasil e México. Assim, pode-se atribuir a essa ineficiência alocativa uma das causas principais da estagnação do desenvolvimento econômico da América Latina nas últimas décadas. 


                           


                           

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