Carta IEDI
Progressos recentes
Na passagem de mar/24 para abr/24, a produção física da indústria brasileira encolheu -0,5%, já descontados os efeitos sazonais, em muito devido à retração do ramo extrativo, que chegou a -3,4% na mesma comparação, sob influência da extração de ferro e de petróleo, segundo o IBGE. O recente sinal negativo, porém, não reverte os progressos obtidos nos primeiros meses do ano.
A indústria de transformação, que reúne todos os demais ramos que não o extrativo, vem apresentando expansão da produção desde dez/23 e agora em abr/24 registrou +0,3% na série com ajuste sazonal. Seu valor adicionado, como os últimos dados do PIB mostraram, também cresceu: +0,7% no 1º trim/24, descontados os efeitos sazonais.
Além da sequência de alta no agregado, houve boa amplitude na expansão de abr/24. O crescimento do total da indústria de transformação foi acompanhado por 18 dos seus 24 ramos identificados pelo IBGE, o que representa uma parcela largamente majoritária de 75%. Avanços expressivos marcaram a produção de veículos (+13,2%, com ajuste), produtos farmacêuticos e farmoquímicos (+10,8%) e máquinas e aparelhos elétricos (+9,0%), entre outros.
Há ainda outros aspectos favoráveis. A utilização da capacidade instalada da indústria de transformação avançou entre mar/24 e abr/24, nos indicadores da FGV e da CNI e mesmo com algum recuo em mai/24 manteve-se em patamar superior ao do final do 1º trim/24. Ademais, os estoques estão equilibrados no conjunto do setor e a parcela de ramos em que as empresas ainda os consideravam acima do planejado reduziu de 32% em mar/24 para 24% em abr/24.
Deste modo, as avaliações da evolução corrente dos negócios para o mês de mai/24 apresentaram melhoras nas sondagens da CNI e da FGV. Outro indicador utilizado para avaliar a evolução futura da indústria, o Purchasing Managers’ Index – Manufacturing, regrediu, mas se manteve na região positiva em mai/24.
Embora saibamos que o desastre ambiental no Rio Grande do Sul virá prejudicar o resultado da indústria no curto prazo, os indicadores mencionados anteriormente denotam a existência de um quadro industrial mais dinâmico na virada do trimestre, para o qual as reduções das taxas de juros básica têm sido de grande ajuda, destravando ramos de bens duráveis (para consumo e investimento), que até pouco tempo atrás restringiam o crescimento industrial como um todo.
Bens de capital (+3,5% com ajuste) e bens de consumo duráveis (+5,6%), cujos mercados demandam financiamento, foram os que mais cresceram em abr/24. No acumulado de jan-abr/24, estes dois macrossetores também lideram a expansão industrial. Bens de capital reverteram a queda de -13,9% no 2º sem/23 em alta de +4,7% em jan-abr/24 e bens de consumo duráveis, de -2,6% para +6,7%, sempre em relação ao mesmo período do ano anterior.
Vale mencionar ainda que, no acumulado do ano até abr/24, o macrossetor de bens de consumo semi e não duráveis (+4,1%) também registra resultado superior ao total da indústria (+3,5%) e que bens intermediários (+3,2%) não ficam muito atrás, indicando uma composição relativamente equilibrada do dinamismo industrial neste início de 2024.
Resultados da Indústria
De acordo com os dados da Pesquisa Industrial Mensal divulgados pelo IBGE, a produção da indústria nacional registrou uma retração de -0,5% na comparação entre abr/24 e mar/24 na série com ajuste sazonal, interrompendo dois meses consecutivos de alta, período em que acumulou expansão de +1,0%. Com esse resultado, a indústria encontra-se -0,1% abaixo do nível pré-pandemia (fev/20) e -16,8% aquém do ponto mais alto da série histórica (mai/11).
No confronto com abr/23, o total da indústria cresceu +8,4% em abr/24, após recuo de -2,8% em mar/24, quando interrompeu sete meses de resultados positivos consecutivos nessa comparação. Esse resultado também marcou o acréscimo mais elevado desde jun/21 (+12,1%). Destaca-se que essa expansão foi influenciada não só pelo efeito calendário, já que abr/24 teve quatro dias úteis a mais do que igual mês do ano anterior, mas também pela baixa base de comparação, uma vez que em abr/23, a atividade industrial recuou -2,7%.
Dessa forma, o setor industrial expandiu +3,5% no acumulado do primeiro quadrimestre de 2024 frente ao mesmo período de 2023. No acumulado nos últimos doze meses, avançou +1,5% em abr/24, intensificando o ritmo frente aos resultados dos meses anteriores.
Na análise dos macrossetores, na passagem entre mar/24 e abr/24 (com ajuste sazonal), apesar de recuo de -0,5% da indústria total, somente uma das quatro grandes categorias econômicas mostraram redução na produção. Bens intermediários, ao recuar -1,2%, apontou o único resultado negativo em abr/24, eliminando o avanço de +1,1% no mês anterior.
Por outro lado, os segmentos de bens de consumo duráveis (+5,6%) e de bens de capital (+3,5%) assinalaram as taxas positivas mais elevadas nesse mês, ambas eliminando as quedas registradas em mar/24 na comparação com o mês anterior (-3,4% e -0,4%, respectivamente). A produção de bens de consumo semi e não duráveis (+0,1%) também mostrou resultado positivo, sendo o terceiro mês seguido de crescimento.
Na comparação com abr/23, o avanço de +8,4% da indústria geral foi puxada por todos os quatro macrossetores. Bens de consumo duráveis (+25,8%) e bens de capital (+25,5%) assinalaram as expansões mais elevadas em abr/24. Os setores produtores de bens de consumo semi e não duráveis (+11,5%) e de bens intermediários (+4,6%) registraram as demais taxas positivas nesse mês.
Bens de consumo duráveis avançaram +25,8% em abr/24, assinalando a taxa positiva mais elevada desde jun/21 (+31,7%). O setor foi impulsionado pela expansão na fabricação de automóveis (+25,1%), eletrodomésticos da “linha branca” (+30,7%), outros eletrodomésticos (+75,8%), motocicletas (+41,0%), móveis (+19,3%) e eletrodomésticos da “linha marrom” (+0,2%).
A produção de bens de capital teve expansão de +25,5% em abr/24 frente a igual mês do ano anterior e marcou o avanço mais intenso desde ago/21 (+31,1%). Na formação do índice desse mês, o segmento foi influenciado pelos setores produtores de bens de capital para equipamentos de transporte (+40,6%) e para fins industriais (+20,1%). Por outro lado, a produção de bens de capital agrícolas (-3,0%) registrou o único resultado negativo do mês de abr/24.
Ainda no confronto com igual mês do ano anterior, o segmento de bens de consumo semi e não duráveis avançou +11,5% em abr/24 frente a igual período do ano anterior. O desempenho positivo nesse mês foi explicado pelo crescimento registrado em todos os grupamentos, com destaque para alimentos e bebidas elaborados para consumo doméstico (+14,2%), semiduráveis (+15,1%), carburantes (+11,1%), não duráveis (+3,3%) e alimentos e bebidas básicos para consumo doméstico (+20,7%).
O setor produtor de bens intermediários teve crescimento de +4,6% em abr/24 frente abr/23, após recuar -1,4% no mês anterior quando interrompeu seis meses consecutivos de crescimento nesse tipo de comparação. O resultado desse mês foi explicado pelos avanços nas atividades de veículos automotores, reboques e carrocerias (+24,2%), produtos alimentícios (+11,5%), produtos de metal (+13,8%), minerais não metálicos (+9,9%), borracha e de material plástico (+7,4%), químicos (+3,7%), máquinas e equipamentos (+11,4%), entre outros; enquanto as pressões negativas foram registradas por coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-3,9%) e metalurgia (-0,4%).
No índice acumulado do primeiro quadrimestre de 2024, frente a igual período do ano anterior, o setor industrial assinalou avanço de +3,5%, com resultados positivos em todos os quatro macrossetores.
Os resultados para o período jan-abr/24 indicaram maior dinamismo para a categoria de bens de consumo duráveis (+6,7%), impulsionada pela maior produção de eletrodomésticos da “linha branca” (+11,3%), outros eletrodomésticos (+38,6%), automóveis (+1,4%) e motocicletas (+17,2%). Os setores produtores de bens de capital (+4,7%), bens de consumo semi e não duráveis (+4,1%) e bens intermediários (+3,2%) também apontaram resultados positivos no índice acumulado no ano.
Com esses resultados, o total da indústria avança +3,5% nos quatro primeiros meses de 2024 e mostra ganho de ritmo frente ao registrado no último quadrimestre de 2023 (+1,0%), ambas as comparações contra igual período do ano anterior. Esse movimento de maior dinamismo também foi verificado nas quatro grandes categorias econômicas, com destaque para bens de capital (de -13,8% para +4,7%) e bens de consumo duráveis (de -3,9% para +6,7%). Os setores produtores de bens de consumo semi e não duráveis (de +2,9% para +4,1%) e de bens intermediários (de +2,0% para +3,2%) também assinalaram ganho de ritmo entre esses dois períodos.
Por dentro da Indústria de Transformação
A produção da indústria geral assinalou variação negativa (-0,5%) em abr/24 frente a mar/24, na série livre dos efeitos sazonais. Esse resultado deveu-se ao recuo da produção da indústria extrativa (-3,4%), já que a indústria de transformação registrou alta de +0,3%.
Na comparação com abr/23, a expansão de +8,4% da indústria geral foi impulsionada pela indústria de transformação, que cresceu +10,3% no mesmo período. Por outro lado, o ramo extrativo recuou -1,6% na mesma comparação, pressionado pela menor produção de minérios de manganês, de ferro e de cobre e seus concentrados.
Na variação negativa de -0,5% do setor industrial na passagem de março para abril de 2024, apenas 7 dos 25 ramos industriais pesquisados mostraram redução na produção. Entre as atividades, as influências negativas mais importantes vieram de produtos alimentícios (-0,6%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-0,6%) e equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-2,6%).
Por outro lado, entre as dezoito atividades que apontaram expansão na produção, a de veículos automotores, reboques e carrocerias (+13,2%) exerceu o principal impacto em abr/24, segundo o IBGE, anulando a queda de -4,6% no mês anterior. Outros avanços vieram dos ramos de produtos diversos (+25,1%), farmoquímicos e farmacêuticos (+10,8%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (+9,0%), máquinas e equipamentos (+5,1%), produtos químicos (+2,2%) e manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos (+8,7%).
Na comparação com abr/23, o setor industrial assinalou avanço de +8,4% em abr/24, com resultados positivos em 22 dos 25 ramos, 68 dos 80 grupos e 70,3% dos 789 produtos pesquisados. Vale citar que abr/24 (22 dias) teve 4 dias úteis a mais do que igual mês do ano anterior. Entre as atividades, as principais influências positivas foram: produtos alimentícios (+14,4%), veículos automotores, reboques e carrocerias (+31,6%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (+31,3%) e máquinas e equipamentos (+15,8%).
Por outro lado, ainda na comparação com abr/23, entre as atividades que apontaram redução na produção, produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-5,1%) exerceram a maior influência na formação da média da indústria de transformação, segundo o IBGE, pressionados pela menor produção de medicamentos. Destacou-se também o recuo da metalurgia (-0,4%).
No índice acumulado para jan-abr/24, frente a igual período do ano anterior, o setor industrial assinalou avanço de +3,5%, com resultados positivos 20 dos 25 ramos, 52 dos 80 grupos e 57,3% dos 789 produtos pesquisados. As altas mais intensas couberam aos seguintes ramos: umo (+13,6%), outros equipamentos de transporte (+12,7%), máquinas e aparelhos elétricos (+10,7%) e produtos de madeira (+10,2%).
Ainda na comparação com jan-abr/23, entre os ramos que mais perderam produção, estão: produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-13,8%), manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos (-5,3%), produtos diversos (-3,2%) e máquinas e equipamentos (-1,1%).
Utilização de Capacidade
A utilização da capacidade instalada da indústria de transformação, de acordo com a série da FGV com ajustes sazonais, avançou +1,1 ponto percentual na passagem de mar/24 (81,3%) para abr/24, quando registrou valor de 82,4%. Dessa forma, em abr/24, a capacidade utilizada na indústria ficou 6,2 pontos percentuais acima do indicador pré-pandemia (fev/20:76,2%) e 2,8 pontos acima da média histórica (79,6%). Em mai/24, a utilização da capacidade instalada voltou a cair, atingindo 81,8%.
De acordo com os dados da CNI, a utilização da capacidade instalada da indústria de transformação também cresceu, indo de 78,7% para 79,2% na passagem entre mar/24 e abr/24 na série com ajuste sazonal. Com isso, a capacidade utilizada na indústria ficou 2,5 pontos percentuais acima do indicador pré-pandemia (fev/20: 76,7%), mas 1,3 p.p. abaixo da média histórica (80,5%).
Estoques
De acordo com os dados da Sondagem Industrial da CNI, o indicador da evolução dos estoques de produtos finais da indústria total ficou em 50,0 pontos em abr/24, recuando 0,4 pontos frente a mar/24.
No caso do segmento da indústria de transformação, o indicador da CNI recuou de 50,3 pontos em mar/24 para 49,9 pontos em abr/24. A indústria extrativa também assinalou queda nos níveis dos estoques, visto que foi de 53,2 pontos em mar/24 para 51,3 pontos em abr/24.
Para a indústria geral, o indicador de satisfação dos estoques ficou em 50,0 pontos em abr/24, sinalizando que os estoques estão equilibrados. Vale lembrar que a marca de equilíbrio é dada pelo valor de 50 pontos, acima do qual há excesso de estoques e abaixo dele, estoques menores do que o desejado. No caso do setor extrativo e no caso da indústria de transformação, o indicador de satisfação registrou 53,9 pontos e 49,9 pontos, respectivamente.
Em abr/24, 24% dos ramos industriais apresentaram estoques maiores do que o planejado (acima de 50 pontos), em comparação aos 32% do mês passado. Entre os ramos iguais ou acima de 50 pontos em abr/24 destacam-se: couros (53,9 pontos), celulose e papel (53,8 pontos), têxteis (52,1 pontos) e máquinas e equipamentos (51,3 pontos), entre outros. Ficaram abaixo e mais distantes do equilíbrio os seguintes ramos: impressão e reprodução (43,1 pontos), móveis (44,2 pontos), madeira (44,8 pontos) e produtos diversos (46,2 pontos).
Confiança e Expectativas
O Índice de Confiança do Empresário da Indústria de Transformação da CNI registrou 51,8 pontos em mai/24, mantendo o mesmo nível de abr/24. Na passagem de abr/24 para mai/24, o componente referente às expectativas em relação ao futuro foi de 55,0 para 54,4 pontos, mantendo-se na zona de otimismo. Já o componente que capta a percepção dos empresários quanto a evolução presente dos negócios cresceu +1,1 p.p., porém ainda ficando na região pessimista (46,5 pontos).
O Índice de Confiança da Indústria de Transformação (ICI) da FGV, avançou por mais um mês, crescendo 1,2 p.p. na passagem de abr/24 para mai/24, registrando 98,0 pontos, ainda ficando na região de pessimismo, ou seja, abaixo de 100 pontos.
O resultado de mai/24 foi influenciado pelo avanço tanto do seu componente referente às avaliações da situação futura, que passou de 97,8 pontos em abr/24 para 98,0 pontos em mai/24, quanto pelo índice de situação atual, indo de 96,0 pontos em abr/24 para 98,2 pontos.
Outro indicador utilizado para avaliar a perspectiva do dinamismo da indústria é o Purchasing Managers’ Index – PMI Manufacturing, calculado pela consultoria Markit Financial Information Services. Em abr/24 ficou em 55,9 pontos, recuando para 52,1 pontos em mai/24. Dessa forma, esse indicador permanece acima da marca de 50 pontos, indicando melhora do quadro de negócios do setor.
Anexo Estatístico
Mais Informações
Tabela: Produção Física - Subsetores Industriais
Variação % em Relação ao Mesmo Mês do Ano Anterior (clique aqui)