Carta IEDI
Contexto promissor
A indústria brasileira, por ora, ainda não conseguiu ampliar sua produção em 2024. Os últimos dados do IBGE mostram que, embora bem menos intensa do que no mês anterior, houve nova queda na passagem de jan/24 a fev/24, já descontados os efeitos sazonais.
O resultado foi de -0,3%, mas em grande medida devido ao ramo extrativo, que depois de um ano majoritariamente positivo em 2023 vem devolvendo parte do que ganhou, em uma trajetória de acomodação. A indústria de transformação, por sua vez, não se expandiu, mas também não encolheu, como ocorreu na entrada do ano passado.
A produção do agregado da indústria de transformação registrou 0% na comparação com ajuste sazonal tanto em jan/24 como em fev/24, enquanto o ramo extrativo caiu -6,9% e -0,9%, respectivamente, o que influenciou o desempenho do macrossetor de bens intermediários por este congregar atividades extrativas.
Entre os macrossetoes industriais, apenas bens intermediários recuaram tanto em jan/24 como em fev/24. Bens de consumo semi e não duráveis voltaram a se expandir (+0,4%), anulando a queda anterior (-0,4%), e bens de capital (+1,8%) e de consumo duráveis (+3,6%) parecem ter deixado para trás a sequência de meses adversos do 2º sem/23.
Outra observação importante a respeito da evolução mais de curto prazo, indicada pelos resultados com ajuste sazonal, é que, embora 12 dos 25 ramos industriais identificados pelo IBGE não tenham conseguido aumentar produção em fev/24 (ante 7 ramos em jan/24), a maioria deles (58%) ficou virtualmente estagnada, com variações entre 0% e -0,3%.
Em contraste com o quadro de um ano atrás, porém, os sinais negativos se dispersam, cabendo a ressalva de que existe um efeito calendário favorável, já que fev/24 possui um dia útil a mais do que fev/23.
A indústria geral registrou +5,0% em fev/24, consistindo na alta interanual mais forte desde jun/21 (+12,1%), quando bases de comparação deprimidas pelo choque da Covid-19 em 2020 ajudavam na obtenção de variações positivas expressivas.
Além disso, todos os macrossetores também ampliaram produção em fev/24 ante fev/23, com destaque para bens de consumo duráveis (+9,3%), puxados por equipamentos de informática, eletrônicos e ópticos (+18,1%), mas também pela indústria automobilística (+9,8%). Os demais macrossetores cresceram em ritmo bastante parecido, próximo de +5%.
Deste modo, a entrada de 2024 se mostra bem diferente do início de 2023. No primeiro bimestre do presente ano, a produção industrial avança +4,3%, mas recuava -1,1% no mesmo período do ano passado, e agora, todos os seus macrossetores estão no positivo.
Bens de capital é quem apresenta a maior mudança de quadro: -9,4% no 1º bim/23 e +3,6% no 1º bim/24. Neste caso a base de comparação é baixa, já que sua produção caiu sistematicamente ao longo de 2023. Outro a também inverter sinal foi o macrossetor de bens intermediários, de -2,4% para +4,8%, respectivamente.
Quanto aos bens de consumo, já estavam no azul em jan-fev/23 e assim permaneceram em jan-fev/24. Para os semi e não duráveis houve inclusive reforço no desempenho: de +2,7% para +4,1%, respectivamente, graças à desaceleração da inflação e aos avanços no emprego e no rendimento das famílias.
Os bens de consumo duráveis, por sua vez, cresceram +7,6% no 1º bim/23 e +5,2% no 1º bim/24, mantendo-se na liderança entre os macrossetores, devido principalmente à produção de eletrodomésticos. Para dinamizar esta parcela da indústria, seriam benéficos maiores progressos na área do crédito às famílias, ainda muito endividadas em certas faixas de renda e sujeitas a elevadas taxas de juros em seus empréstimos.
Apesar de um contexto geral promissor, ainda mais se o Banco Central seguir reduzindo a taxa básica de juros por mais um tempo, ajudando os mercados de bens de investimento e de consumo duráveis, a trajetória de dinamização industrial ainda permanece incerta e frágil.
Exemplo disso é que em mar/24 todos os indicadores de confiança dos empresários do setor apontaram declínio, o que atingiu inclusive as avaliações da evolução corrente dos negócios, sinalizando mais um mês de resultado fraco. Um dado positivo, porém, é que os níveis de estoques em fev/24 ficaram abaixo do planejado para a indústria, notadamente a indústria de transformação, que nos últimos dois meses não cresceu e que pode se ativar para recompor estoques.
Resultados da Indústria
A indústria entrou em 2024 no campo negativo. Na série com ajuste sazonal, a indústria brasileira recuou -0,3% na passagem de janeiro para fevereiro de 2024. Esse é o segundo recuo consecutivo, com perda acumulada de -1,8% frente a dez/23. Com esse resultado, produção industrial mantém-se abaixo do patamar pré-pandemia de fev/20 (-1,1%) e -17,7% abaixo do nível recorde alcançado em mai/11.
Frente a fev/23 (série sem ajuste sazonal), entretanto, o desempenho industrial foi positivo, crescendo +5,0%, sétimo resultado positivo consecutivo nesse tipo de comparação e alta interanual mais forte desde jun/21 (+12,1%), quando bases de comparação deprimidas pelo choque da Covid-19 em 2020 ajudavam na obtenção de variações positivas expressivas.
Cabe destacar que o crescimento observado no índice mensal foi influenciado, não só pelo efeito-calendário, já que fev/24 teve um dia útil a mais do que igual mês do ano anterior, mas também pela baixa base de comparação, uma vez que em fev/23, a atividade industrial recuou -2,5%
Ainda na comparação com o mesmo período de 2023, o setor industrial apontou expansão de +4,3% no acumulado dos dois primeiros meses de 2024. A taxa anualizada, indicador acumulado nos últimos 12 meses, avançou +1,0% em fev/24, intensificando o ritmo de crescimento frente aos resultados de jan/24 (+0,4%) e de dez/23 (+0,1%).
Em relação às grandes categorias industriais, na comparação entre fev/24 e jan/24, na série com ajuste sazonal, bens intermediários (-1,2%) assinalaram a única taxa negativa e marcaram o segundo mês seguido de queda na produção (-3,9% ante dez/23).
Por outro lado, o segmento de bens de consumo duráveis (+3,6%) apontou o crescimento mais acentuado neste mês, após também avançar nos meses anteriores (+1,5% em jan/24 e +6,6% em dez/23).
Os setores produtores de bens de capital (+1,8%) e de bens de consumo semi e não duráveis (+0,4%) ficaram igualmente no positivo, com o primeiro registrando expansão de +11,3% em dois meses consecutivos de avanço na produção; e o segundo interrompendo dois meses seguidos de queda, período em que acumulou recuo de -0,6%.
Na comparação com fev/23, a alta de +5,0% da indústria geral foi puxada por todos os quatro macrossetores. Bens de consumo duráveis (+9,3%) assinalaram a expansão mais acentuada entre as grandes categorias econômicas. Os setores produtores de bens de capital (+5,3%), bens intermediários (+5,1%) e bens de consumo semi e não duráveis (+4,8%) registraram as demais taxas positivas nesse mês.
Bens de consumo duráveis, com alta de +9,3% em fev/24, apresentaram sua segunda taxa positiva consecutiva nesse tipo de comparação e a mais intensa desde maio de 2023 (+11,1%). Nesse mês, o setor foi impulsionado pela expansão na fabricação de automóveis (+8,0%), eletrodomésticos da “linha branca” (+12,9%), outros eletrodomésticos (+30,9%) e motocicletas (+16,3%).
O setor produtor de bens de capital, que cresceu +5,3% frente a igual mês do ano anterior, intensificou seu dinamismo em relação a jan/24 (+1,7%), quando interrompeu nove meses de taxas negativas consecutivas nesse tipo de comparação. Na formação do índice de fev/24, o segmento foi influenciado pelos avanços nos grupamentos de bens de capital de uso misto (+30,6%), para equipamentos de transporte (+7,6%) e, em menor medida, daqueles para fins industriais (+1,3%). Por outro lado, os principais impactos negativos vieram de bens de capital agrícolas (-9,1%) e para construção (-13,1%).
O segmento de bens intermediários, com alta de +5,1% em fev/24 ante fev/23, obteve sua sétima taxa positiva consecutiva nesse tipo de comparação, sendo a mais intensa desde jun/21 (+10,9%). O resultado foi explicado principalmente pelos avanços nos setores produtores de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (+10,1%), produtos alimentícios (+4,4%), celulose, papel e produtos de papel (+10,3%), veículos automotores, reboques e carrocerias (+6,2%), produtos de minerais não metálicos (+5,8%), produtos de borracha e de material plástico (+5,4%), entre outros, enquanto as pressões negativas foram registradas por máquinas e equipamentos (-3,8%) e produtos químicos (-2,3%).
A produção de bens de consumo semi e não duráveis, que cresceu +4,8% frente fev/23, apresentou sua segunda taxa positiva consecutiva e a mais intensa desde maio de 2021 (+14,4%). O desempenho positivo nesse mês foi explicado principalmente pelo avanço observado na produção de alimentos e bebidas elaborados para consumo doméstico (+9,7%), semiduráveis (+4,4%), alimentos e bebidas básicos para consumo doméstico (+21,3%) e de carburantes (+0,3%). Por outro lado, o grupamento de não duráveis (-3,9%) assinalou o único impacto negativo nesse mês, pressionado, em grande medida, pela menor produção de medicamentos.
No índice acumulado para jan-fev/24, frente a igual período do ano anterior, o setor industrial assinalou avanço de +4,3%, com resultados positivos em todos os macrossetores. Os resultados para os dois primeiros meses de 2024 indicaram maior dinamismo para bens de consumo duráveis (+5,2%) e bens intermediários (+4,8%), impulsionados, em grande medida, pela maior produção dos itens eletrodomésticos (+21,8%) e motocicletas (+15,2%), no primeiro; e óleo diesel, óleos brutos de petróleo e minérios de ferro, na segunda.
Os setores produtores de bens de consumo semi e não duráveis (+4,1%) e de bens de capital (+3,6%) também apontaram resultados positivos no índice acumulado no ano, mas com avanços menos intensos do que o verificado na média da indústria (+4,3%).
O avanço de +4,3% no primeiro bimestre de 2024 mostra ganho de ritmo frente ao registrado no 4° trim/23 (+1,1%), ambas as comparações contra igual período do ano anterior. Esse movimento de maior dinamismo foi verificado em todas as categorias econômicas, com destaque para bens de capital (de -13,6% no 4° trim/23 para +3,6% em jan-fev/24), bens de consumo duráveis (de -4,4% para +5,2%), bens intermediários (de +2,4% para +4,8%) e bens de consumo semi e não duráveis (de +2,6% para +4,1%).
Por dentro da Indústria de Transformação
A variação negativa (-0,3%) da produção da indústria geral em fev/24 frente a jan/24, na série livre dos efeitos sazonais, foi a segunda queda consecutiva nesse tipo de comparação. Muito disso, contudo, tem se restringido ao desempenho do ramo extrativo, que depois de um ano majoritariamente positivo em 2023 vem devolvendo parte do que ganhou, em uma trajetória de acomodação. A indústria de transformação, por sua vez, ficou estagnada.
Na comparação com ajuste sazonal, a produção do agregado da indústria de transformação registrou 0% tanto em jan/24 como em fev/24, enquanto o ramo extrativo caiu -6,9% e -0,9%, respectivamente.
Na comparação com fev/23, enquanto a indústria geral avançou +5,0%, o desempenho da indústria de transformação foi de +4,9% e o ramo extrativo, de +5,3%.
Na variação negativa de -0,3% da atividade industrial na passagem de janeiro para fevereiro de 2024, 10 dos 25 ramos industriais pesquisados mostraram redução na produção. Entre as atividades, as influências negativas mais importantes na indústria de transformação foram assinaladas por produtos químicos (-3,5%) e produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-6,0%).
Por outro lado, entre as treze atividades que apontaram avanço na produção, veículos automotores, reboques e carrocerias (+6,5%), celulose, papel e produtos de papel (+5,8%), produtos de minerais não metálicos (+4,5%), produtos de borracha e de material plástico (+3,0%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (+4,2%) e máquinas, aparelhos e materiais elétricos (+2,4%).
Na comparação com fev/23, o setor industrial assinalou avanço de +5,0% em fev/24, com resultados positivos em 20 dos 25 ramos, 55 dos 80 grupos e 57,7% dos 789 produtos pesquisados. Vale citar que fev/24 (19 dias) teve 1 dia útil a mais do que igual mês do ano anterior (18). Entre as atividades, as principais influências positivas foram registradas por produtos alimentícios (+8,3%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (+7,5%) e veículos automotores, reboques e carrocerias (+9,8%).
Por outro lado, ainda na comparação com fev/23, entre as cinco atividades que apontaram redução na produção, produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-17,5%) exerceu a maior influência na formação da média da indústria, pressionada, em grande medida, pela menor produção de medicamentos, seguida pelo setor de manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos (-8,3%).
No índice acumulado do primeiro bimestre de 2024 frente a igual período do ano anterior, o setor industrial assinalou avanço de +4,3%, com resultados positivos em 20 dos 25 ramos, 48 dos 80 grupos e 55,9% dos 789 produtos pesquisados. Entre as atividades, as principais influências positivas foram registradas por coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (+8,1%), produtos alimentícios (+6,0%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (+16,7%), veículos automotores, reboques e carrocerias (+5,1%), bebidas (+8,7%) e produtos químicos (+2,8%).
Por outro lado, ainda na comparação com jan-fev/23, entre as cinco atividades que apontaram redução na produção, produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-16,4%) e manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos (-8,4%) exerceram as maiores influências na formação da média da indústria.
Utilização de Capacidade
A utilização da capacidade instalada da indústria de transformação, de acordo com a série da FGV com ajustes sazonais, recuou -0,2 ponto percentual na passagem de jan/24 (81,0%) para fev/24, quando registrou valor de 80,8%. Dessa forma, em fev/24, a capacidade utilizada na indústria ficou 4,6 pontos percentuais acima do indicador pré-pandemia (fev/20: 76,2%) e 1,2 pontos acima da média histórica (79,6%). Em mar/24, entretanto, a utilização da capacidade instalada voltou a crescer, atingindo 81,3%.
De acordo com os dados da CNI, a utilização da capacidade instalada da indústria de transformação também aumentou de 78,5% para 78,7% na passagem entre jan/24 e fev/24 na série com ajuste sazonal. Na comparação com fev/23, a variação foi de -0,2 pontos percentuais. Com isso, a capacidade utilizada na indústria ficou 2,2 pontos percentuais acima do indicador pré-pandemia (fev/20: 76,5%), e 1,7 p.p. abaixo da média histórica (80,4%).
Estoques
De acordo com os dados da Sondagem Industrial da CNI, o indicador da evolução dos estoques de produtos finais da indústria total ficou em 49,7 pontos em fev/24, crescendo 1,1 pontos frente a jan/24.
No caso do segmento da indústria de transformação, o indicador da CNI avançou de 48,4 pontos em jan/24 para 49,7 pontos em fev/24. A indústria extrativa assinalou movimento inverso, visto que foi de 54,3 pontos em jan/24 para 51,1 pontos em fev/24.
Para a indústria geral, o indicador de satisfação dos estoques ficou em 49,7 pontos em fev/24, sinalizando que os estoques estão abaixo do planejado. Vale lembrar que a marca de equilíbrio é dada pelo valor de 50 pontos, acima do qual há excesso de estoques e abaixo dele, estoques menores do que o desejado. No caso do setor extrativo e no caso da indústria de transformação, o indicador de satisfação registrou 53,9 pontos e 49,6 pontos, respectivamente.
Em fev/24, 36% dos ramos industriais apresentarem estoques maiores do que o planejado (acima de 50 pontos), em comparação aos 32% do mês passado. Entre os ramos iguais ou acima de 50 pontos em fev/24 destacam-se: calçados (55,7 pontos), couros (54,4 pontos), móveis e informática e eletrônicos e ópticos (ambos com 53,2 pontos), entre outros. Ficaram abaixo e mais distantes do equilíbrio os seguintes ramos: borracha (42,6 pontos), impressão e reprodução (44,4 pontos), metalurgia (44,5 pontos), veículos automotores (45,3 pontos) e bebidas (46,2 pontos).
Confiança e Expectativas
O Índice de Confiança do Empresário da Indústria de Transformação da CNI registrou 52,9 pontos em mar/24, recuando 0,1 ponto em relação a fev/24 (53,0 pontos). Na passagem de fev/24 para mar/24, o componente referente às expectativas em relação ao futuro foi de 55,9 para 55,8 pontos, mantendo-se na zona de otimismo. Já o componente que capta a percepção dos empresários quanto a evolução presente dos negócios recuou -0,2 p.p., ficando na região pessimista (47,1 pontos).
O Índice de Confiança da Indústria de Transformação (ICI) da FGV, recuou 0,9 p.p na passagem de fev/24 para mar/24, registrando 96,5 pontos, ainda ficando na região de pessimismo, ou seja, abaixo de 100 pontos.
O resultado de mar/24 foi influenciado pela queda tanto do seu componente referente às avaliações da situação futura, que passou de 96,8 pontos em fev/24 para 96,4 pontos em mar/24, quanto do índice de situação atual, que foi de 98,0 pontos em fev/24 para 96,6 pontos.
Outro indicador utilizado para avaliar a perspectiva do dinamismo da indústria é o Purchasing Managers’ Index – PMI Manufacturing, calculado pela consultoria Markit Financial Information Services. Em fev/24 ficou em 54,1 pontos, recuando para 53,6 pontos em mar/24. Dessa forma, esse indicador permanece acima da marca de 50 pontos, indicando melhora do quadro de negócios do setor.
Anexo Estatístico
Mais Informações
Tabela: Produção Física - Subsetores Industriais
Variação % em Relação ao Mesmo Mês do Ano Anterior (clique aqui)