Análise IEDI
Crescimento, a despeito da inflação
Os dados divulgados hoje pelo IBGE dão a entender que, a despeito da inflação em alta, o comércio varejista vem deixando para trás a fase de oscilação e baixo dinamismo que apresentou na segunda metade do ano passado. As vendas reais do setor, já descontados os efeitos sazonais, cresceram seguidamente nos três primeiros meses de 2022, mesmo tendo perdido um pouco de força ao longo desde período.
Na passagem de fev/22 para mar/22, o resultado foi de +1,0%, com ajuste sazonal, e de +0,7% no conceito ampliado do varejo, que inclui as vendas de veículos, autopeças e material de construção. Diferentemente da indústria, o setor encontra-se em um nível de vendas superior ao de fev/20, isto é, antes do choque inicial da pandemia de Covid-19: 2,6% e 1,7% acima deste patamar, no conceito restrito e no ampliado, respectivamente.
Em decorrência desta evolução recente, o varejo voltou a sinalizar expansão em comparação com o quadro de um ano atrás. Depois de seis meses consecutivos de variações negativas, tanto fev/22 como mar/22 registraram alta em comparação com o mesmo período de 2021.
Em parte, isso foi ajudado por bases baixas de comparação, dadas as medidas restritivas em algumas regiões no início do ano passado, a exemplo de São Paulo, que passou boa parte de março na chamada “fase vermelha”. Mas também é importante lembrar que, embora a inflação não venha dando trégua, o quadro do emprego tem evoluído favoravelmente, o que estimula as vendas.
Assim, como mostram as variações interanuais a seguir, o 1º trim/22 foi positivo para o comércio varejista. A dúvida é se haverá continuidade, dada a pressão da inflação sobre o orçamento das famílias e os efeitos do aumento da taxa básica de juros pelo Banco Central sobre o crédito e o consumo.
• Varejo restrito: -1,2% no 3º trim/21; -4,6% no 4º trim/21 e +1,3% no 1º trim/22;
• Varejo ampliado: +1,0%; -4,2% e +1,1%, respectivamente;
• Supermercados, alimentos, bebidas e fumo: -3,2%; -2,0% e -0,9%;
• Tecidos, vestuário e calçados: +12,7%; -2,2% e +24,1%;
• Móveis e eletrodomésticos: -18,2%; -20,5% e -6,5%;
• Veículos e autopeças: +12,2%; -0,6% e +3,5%;
• Material de construção: -7,2%; -8,9% e -4,8%, respectivamente.
Dos dez ramos acompanhados pelo IBGE, seis apresentaram expansão das vendas no 1º trim/22 e quatro continuaram encolhendo, embora estes últimos tenham registrado declínios menos acentuados do que nos trimestres anteriores. Não deixa de ser uma boa notícia e há uma chance desta tendência ter continuidade nos próximos meses, com base no saque extraordinário de recursos do FGTS a partir de abril.
Entre aqueles no negativo, destaca-se o ramo de supermercados, alimentos, bebidas e fumo, que representa nada menos do que 1/3 do varejo ampliado como um todo. Mais atingido pela alta da inflação, cujo um dos principais vetores têm sido os preços dos alimentos, este ramo perde vendas já há cinco trimestres seguidos. Agora em jan-mar/22 ante jan-mar/21 caiu -0,9%, ou seja, de modo menos intenso do que antes.
Outro ramo muito impactado pela alta de preços, o de combustíveis e lubrificantes, também ficou no vermelho no 1º trim/22: -0,4%, depois de ter recuado -6,9% no 4º trim/21. Material de construção, que até meados de 2021 vinha apresentando crescimento expressivo, teve em jan-mar/22 seu terceiro trimestre consecutivo de recuo: -4,8%, sempre em comparação com o mesmo período do ano anterior.
Entre os que ampliaram vendas, o melhor resultado veio de livros, jornais, revistas e papelaria (+24,7%), cujas de comparação ainda são muito baixas, já que segue 32,1% aquém do pré-pandemia. O resultado recente deve muito à volta às aulas. Tecidos, vestuário e calçados, que também estão muito longe do pré-pandemia (-13,9%), não ficaram muito atrás e cresceram +24,1% no 1º trim/22 ante o 1º trim/21.
Nos segmentos de bens de consumo duráveis, com exceção de veículos, cujas vendas cresceram +3,5%, o desempenho foi bastante restringido neste começo de ano. Em parte porque a inflação de bens essenciais como energia, combustíveis e alimentos drena recursos que poderiam ser canalizados para bens duráveis, cujo consumo pode mais facilmente ser adiado. Nestes setores também tem havido aumento de preços e restrição de oferta, em função de uma taxa de câmbio mais desvalorizada e dificuldades na obtenção de partes e componentes.
No 1º trim/21, as vendas reais de móveis e eletrodomésticos caíram -6,5%, depois de fortes perdas tanto no 3º trim/21 (-18,2%) como no 4º trim/21 (-20,5%). Equipamentos de escritório, informática e comunicação, a seu turno, ficaram virtualmente estagnado (+0,1% ante jan-mar/21), também após duas quedas sucessivas (-9,6% e -7,6%, respectivamente).
Segundo os dados de março de 2022 da Pesquisa Mensal do Comércio divulgados hoje pelo IBGE, o índice de volume de vendas do comércio varejista nacional registrou aumento de 1,0% frente ao mês imediatamente anterior na série com ajuste sazonal. Frente ao mês de março de 2021, houve expansão de 4,0%. Para o acumulado nos últimos doze meses aferiu-se aumento de 1,9%.
O volume de vendas do comércio varejista ampliado, que inclui vendas de veículos, motos, partes e peças e de materiais de construção, registrou variação positiva de 0,7% frente a fevereiro de 2022, a partir de dados livres de influências sazonais. Com relação ao mês de março de 2021 houve aumento de 4,5%. Para o acumulado nos últimos 12 meses verificou-se aumento de 4,4%.
A partir de dados dessazonalizados, na comparação com o mês imediatamente anterior (fevereiro/2022), seis dos oito setores analisados apresentaram expansão: Equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (13,9%), Livros, jornais, revistas e papelaria (4,7%), Outros artigos de uso pessoal e doméstico (3,4%), Combustíveis e lubrificantes (0,4%), Móveis e eletrodomésticos (0,2%) e Tecidos, vestuário e calçados (0,1%). Os setores com variação negativa nessa base de comparação foram os de Hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-0,2%) e Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (-5,9%). Para o comércio varejista ampliado registrou-se aumento de 0,7% no período, de forma que o setor de material de construção cresceu 2,2% e o de veículos, motos, partes e peças registrou variação negativa de 0,1%.
Em relação ao mesmo mês do ano anterior (março de 2021), sete dos oito segmentos analisados apresentaram expansão: Tecidos, vestuário e calçados (81,3%), Livros, jornais, revistas e papelaria (36,0%), Equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (16,3%), Outros artigos de uso pessoal e doméstico (8,9%), Combustíveis e lubrificantes (6,1%), Móveis e eletrodomésticos (4,8%) e Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (1,6%) registraram expansões. Em sentido oposto, houve queda no setor de Hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-3,4%). Para o comércio varejista ampliado, registrou-se aumento de 4,5% no período, de modo que o setor de veículos e motos, partes e peças apresentou expansão de 7,3% e o setor de material de construção registrou aumento de 1,2%.
Na análise do acumulado no ano (fevereiro-março), houve crescimento em cinco dos oito setores do varejo restrito: Livros, jornais, revistas e papelaria (24,6%), Tecidos, vestuário e calçados (24,1%), Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (8,3%) e Outros artigos de uso pessoal e doméstico (0,9%) Equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (0,2%). Nos três setores restantes houve queda: Combustíveis e lubrificantes (-0,3%), Hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-0,9%) e Móveis e eletrodomésticos (-6,4%). No varejo ampliado, o setor veículos, motos, partes e peças cresceu 3,5% e a categoria material de construção caiu 4,8%.
Por fim, comparando março de 2022 com o mesmo mês do ano anterior (março/2021), 24 das 27 unidades federativas apresentaram crescimento no volume de vendas do comércio varejista, sendo os maiores: Ceará (20,4%), Distrito Federal (19,6%), Amapá (17,9%), Pará (16,1%) e Goiás (13,3%). Em sentido oposto, as 3 unidades federativas restantes apresentaram decréscimo no volume de vendas do comércio varejista: Rio de Janeiro (-3,5%), Sergipe (-4,4%) e Amazonas (-6,8%).