Análise IEDI
Expansão desigual e potencial fragilidade
No primeiro bimestre de 2022, segundo os dados divulgados hoje pelo Banco Central, as concessões totais de crédito cresceram +31,2% frente ao mesmo período do ano anterior, descontados os efeitos da inflação medida pelo IPCA. É um desempenho bastante diferente em comparação com o início de 2021, quando o crédito novo concedido recuava -4,1%.
As operações contratadas tanto pelas empresas como pelas famílias se expandiram neste começo de ano: +43,6% e +21,9%, respectivamente, ante jan-fev/21, reforçando o estoque total de crédito no país que, ainda em relação a um ano atrás, registrou alta de +16,4% em fevereiro último.
Como mostram as variações interanuais a seguir, há diferenças importantes na evolução recente dos saldos de crédito ativo do ponto de vista setorial. O estoque de operações às famílias corre à frente do crédito corporativo e, neste último segmento, serviços e agropecuária estão à frente da indústria.
• Saldo de crédito total: +7,5% em fev/20; +15,2% em fev/21 e +16,4% em fev/22;
• Saldo de crédito às famílias: +12,2%; +10,5% e +21,3%, respectivamente;
• Saldo de crédito às empresas: +1,5%; +21,8% e +10,2%;
• Saldo de crédito às empresas industriais: -6,8%; +19,8% e +5,1%;
• Saldo de crédito às empresas agropecuárias: -2,1%; +26,6% e +15,3%;
• Saldo de crédito às empresas de serviços: +9,5%; +26,1% e +13,7%, respectivamente.
Às famílias, o estoque de crédito em fev/22 chegou a R$ 2,7 trilhões, representando avanço de +21,3%, já descontada a inflação, em relação ao mesmo período de um ano antes. Entre as modalidades em elevação no período destacam-se financiamento imobiliário, no crédito direcionado, e, no crédito livre, rotativo do cartão de crédito, cheque especial, crédito pessoal, sobretudo o não consignado, e aquisição de outros bens exceto automóveis.
Já para as empresas, o estoque de financiamento bancário, que chegou a R$ 1,9 trilhão em fev/22, cresceu a um ritmo equivalente à metade do segmento às famílias: +10,2% ante fev/21 em termos reais. Os destaques ficaram a cargo das seguintes modalidades: conta garantida, cheque especial, aquisição de bens, inclusive automóveis, e, no segmento direcionado, o crédito rural.
Empresas dos setores agropecuários e de serviços, por sua vez, viram seus saldos de empréstimos contratados aumentarem acima do total dos empréstimos corporativos: +15,3% e +13,7%, respectivamente, o que sinaliza para maiores valores nas concessões novas de crédito.
Já o saldo de operações para indústria aumentou metade do total do crédito às empresas: +5,1% ante fev/21, puxado pelos ramos da construção (+12,1%), metalurgia e siderurgia (+14,2%), embalagens (+16,5%) e alimentos (+24,7%), entre outros. O estoque de crédito concedido à indústria automobilística foi um dos que refrearam a evolução recente, registrando -9,5% ante fev/21.
Sobretudo no caso dos empréstimos às famílias, mas também em alguns casos do crédito corporativo, as modalidades com maior expansão estão entre aquelas com maiores níveis de taxas de juros. Como exemplo, no rotativo do cartão de crédito a pessoas físicas os juros chegam a 355% ao ano. Este quadro traz maior fragilidade aos agentes, notadamente em um contexto de elevação da taxa básica de juros pelo Banco Central, ainda não totalmente repassada aos juros dos empréstimos.
Os dados de crédito apresentados hoje pelo Banco Central do Brasil registraram que o saldo das operações alcançou R$4,7 trilhões em fevereiro, apresentando variação positiva de 0,8% em relação ao mês imediatamente anterior. Na mesma comparação, o saldo de crédito a pessoas físicas alcançou variação positiva de 0,7% (R$2,7 trilhões) e a carteira de pessoas jurídicas apresentou elevação de 1,0%, alcançando R$1,9 trilhão. Na comparação com o mesmo mês do ano anterior (fevereiro de 2021), o saldo total de crédito obteve incremento de 16,6%.
A carteira de crédito com recursos livres registrou R$2,8 trilhões, variação positiva de 1,1% em relação ao mês anterior e expansão de 20,8% quando comparado com fevereiro de 2021. A parcela destas operações realizadas junto a pessoas físicas ficou em R$1,5 trilhão, aferindo expansão de 0,5% em relação ao mês imediatamente anterior e crescimento de 23,7% quando comparado com o mês de fevereiro de 2021. Para as operações junto a pessoas jurídicas aferiu-se um montante da ordem de R$1,3 trilhão, apresentando expansão de 1,9% em relação ao mês anterior e variação positiva de 17,5% na comparação com o mesmo período de 2021.
O estoque de crédito com recursos direcionados registrou valor de R$1,9 trilhão em fevereiro de 2022, em termos nominais, indicando expansão de 10,8% frente ao mesmo mês do ano anterior e variação positiva de 0,4% em relação ao mês imediatamente anterior. O saldo referente as pessoas físicas registrado foi de R$1,2 trilhão, apresentando um incremento de 18,7% quando comparado ao mês de fevereiro de 2021. O saldo relativo a pessoas jurídicas foi de R$674,0 bilhões, havendo um decréscimo de 1,0% quando comparado com o mesmo mês do ano anterior.
Para o mês de janeiro de 2022, foram concedidos R$398,3 bilhões em novas operações de crédito, apresentando variação positiva de 27,5% frente ao montante de R$312,5 bilhões observado em fevereiro de 2021. Deste volume apresentado em fevereiro de 2022, R$364,5 bilhões foram originados de recursos livres e R$33,8 bilhões de recursos direcionados, o que representou, quando comparados aos mesmos meses do ano anterior, incremento de 28,3% e de 19,4%, respectivamente.
Para as concessões de crédito às pessoas físicas a partir de recursos livres, destacaram-se as operações de crédito rotativo (R$149,0 bilhões), cartão de crédito (R$149,0 bilhões), crédito não rotativo (R$38,4 bilhões), cheque especial (R$30,0 bilhões) e crédito pessoal (R$24,8 bilhões). Quanto as pessoas jurídicas, as principais modalidades ficaram para desconto de duplicatas (R$52,2 bilhões), cheque especial (R$20,1 bilhões), capital de giro (R$20,4 bilhões), conta garantida (R$10,9 bilhões) e cartão de crédito (R$7,5 bilhões).
Nas novas concessões de crédito realizadas com recursos direcionados destacaram-se, para pessoas físicas, as modalidades de financiamento imobiliário (R$12,7 bilhões), crédito rural (R$7,0 bilhões), microcrédito (R$1,2 bilhão) e BNDES (R$565,0 milhões). De outra forma, para as empresas, as principais modalidades ficaram com o crédito rural (R$5,1 bilhões), o BNDES (R$4,0 bilhões) e os financiamentos imobiliários (R$1,3 bilhão).
Setores. Considerando o saldo total de crédito do sistema financeiro nacional por atividade econômica, a carteira de operações para o setor de serviços registrou R$1,1 bilhão, o que significa um acréscimo nominal de 13,9% frente a fevereiro de 2021, e as maiores expansões foram em: serviços financeiros (36,7%), comércio geral – veículos automotores (28,2%), varejo – bens duráveis (25,4%), comércio geral – bens intermediários (26,0%), comércio (22,5%), comércio varejo – bens não duráveis (21,0%) e serviços de comunicação e informação (13,1%).
Para o setor da indústria aferiu-se o valor de R$769,1 bilhões, variação positiva de 5,2% frente ao mesmo mês do ano anterior. O setor agropecuário registrou crédito de R$39,6 bilhões, variação positiva de 15,5% em termos nominais, quando comparado ao registrado no mês de fevereiro de 2021.
Analisando a distribuição de crédito do sistema financeiro nacional por controle de capital, temos que as instituições financeiras públicas emprestaram R$2,007 trilhão, representando 42,6% do volume de crédito, as instituições financeiras privadas nacionais concederam R$1,994 trilhão, representando 42,3% e as instituições financeiras estrangeiras contribuíram com R$709,3 bilhões, representando por sua vez 15,1% do volume total de crédito no sistema financeiro.
Juros e Inadimplência. A taxa média de juros das operações contratadas em janeiro alcançou 25,7% a.a., apresentando aumento de 0,4 p.p. no mês e variação positiva de 5,9 p.p. em relação ao mesmo período do ano anterior. O spread geral das taxas das concessões situou-se em 16,8 p.p., aumentando no mês 0,6 p.p. e elevando-se em 1,2 p.p. em doze meses.