Análise IEDI
Novos problemas, mesma dificuldade
A despeito do avanço da vacinação e do maior controle sobre a evolução da Covid-19, a pandemia continua exercendo efeitos negativos sobre o consumo das famílias brasileiras. O desemprego está finalmente refluindo e as vagas de melhor qualidade estão crescendo, mas em contrapartida os rendimentos auferidos não reagem à altura em função da grande informalidade e são corroídos pela inflação.
O resultado é que a massa de rendimentos reais, que é a base do consumo, continua abaixo do pré-pandemia (-8% aquém do 3º trim/19) e não dá sinal de reação (-0,2% em dez/21-fev/22), agora não mais pela queda do emprego, mas pelo mergulho do rendimento real. Ou seja, novos problemas, mas a mesma dificuldade para o aumento da demanda interna.
No trimestre móvel findo em fev/22, enquanto a ocupação total cresceu +9,1% e a taxa de desemprego ficou em 11,2% – por certo alta, mas a menor desde 2016 para igual período – , o rendimento médio real caiu -8,8% em comparação com o mesmo trimestre móvel do ano anterior.
Já são onze meses seguidos de declínio do rendimento médio real, em muito devido à aceleração da inflação, mas vale notar que também a persistente queda em termos nominais, relacionada à alta parcela de subocupados por insuficiência de horas trabalhadas (6,6 milhões de pessoas, o que equivale a mais da metade do número de desempregados) e à grande informalidade do emprego (40,2% da ocupação total), onde a renda costuma ser menor e mais irregular.
Em dez/21-fev/22, o rendimento médio nominal variou -0,4% ante o mesmo período do ano anterior, sinalizando para recuos menos intensos. Isso se deve à aceleração da criação de vagas com carteira assinada, geralmente melhor remuneradas, como mostram as variações interanuais a seguir.
• Ocupação total: +11,1% em jun-ago/21; +9,7% em set-nov/21 e +9,1% em dez/21-fev/22;
• Ocupação com carteira: +7,9%; +8,4% e +9,4%, respectivamente;
• Ocupação sem carteira: +22,9%; +18,7% e +18,5%;
• Trabalho por conta própria:+18,8%; +14,3% e +8,6%;
• Trabalho doméstico: +21,4%; +22,5% e +20,8%, respectivamente.
Apesar disso, o emprego com carteira assinada cresce abaixo das principais formas de ocupação informal e ainda não conseguiu retomar patamares pré-pandemia. No trimestre findo em fev/22, o número total de ocupados com carteira (34,6 milhões de pessoas) era 1% inferior ao do 3º trim/19.
O contingente de pessoas empregadas sem carteira assinada, por sua vez, cresce a taxas de dois dígitos desde o 2º trim/21, registrando +18,5% agora em dez/21-fev/22 (ou 12,3 milhões de pessoas), embora já tenha retornado ao seu patamar pré-pandemia (+0,2%)
Por sua vez, o trabalho por conta própria (25,3 milhões de pessoas), que reúne os chamados “bicos”, desacelerou, deixando de registrar taxas de crescimento interanual de dois dígitos pela primeira vez desde meados de 2021. Segue sendo o tipo de ocupação que está mais à frente do pré-pandemia (+4,2%). Com um crescimento mais robusto da criação de novas vagas em outros tipos de emprego, era de se esperar uma perda de dinamismo do conta própria.
Já o trabalho doméstico, que mais uma vez foi o que mais cresceu, registrando +20,8% no trimestre findo em fev/22, ainda tem um longo percurso para atingir seu patamar pré-pandemia. O contingente atual de 5,7 milhões de pessoas é 8,2% inferior ao do 4º trim/19.
Conforme dados da PNAD Contínua Mensal divulgados hoje pelo IBGE, a taxa de desocupação registrou 11,2% no trimestre compreendido entre novembro de 2021 e janeiro de 2022. Em relação ao trimestre imediatamente anterior (set-out-nov), houve retração de 0,4 p.p., e para o mesmo trimestre do ano anterior houve variação negativa de 3,4 p.p., quando registrou 14,6%.
O rendimento real médio de todos os trabalhos habitualmente recebidos registrou R$ 2.511, apresentando variação de 0,28% em relação ao trimestre imediatamente anterior (set-out-nov), já frente ao mesmo trimestre de referência do ano anterior verificou-se declínio de 8,76%.
A massa de rendimentos reais de todos os trabalhos habitualmente recebidos atingiu R$ 234,104 bilhões no trimestre que se encerrou em janeiro, registrando crescimento de 11,76% frente ao trimestre imediatamente anterior (set-out-nov) e variação positiva de 2,15% frente ao mesmo trimestre do ano anterior R$ 234,653 (bilhões).
Para o trimestre de referência, a população ocupada registrou 95,23 milhões de pessoas, apresentando variação positiva de 0,32% em relação ao trimestre imediatamente anterior e incremento de 9,11% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior (87,28 milhões de pessoas ocupadas).
Em comparação ao trimestre imediatamente anterior, o número de desocupados aferiu retração de 3,14%, com 12,02 milhões de pessoas. Já n a comparação com o mesmo trimestre do ano anterior, observou-se variação negativa de 19,53%. Em relação a força de trabalho, computou-se neste trimestre 107,25 milhões de pessoas, representando retração de 0,08% frente ao trimestre imediatamente anterior e variação negativa de 4,92% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior (102,22 milhões de pessoas).
Com análise referente ao mesmo trimestre do ano anterior, dos agrupamentos analisados, as variações foram: Alojamento e alimentação (25,55%), Serviços domésticos (20,96%), Outros serviços (15,19%), Construção (13,15%), Comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas (11,89%), Indústria (8,8%), Transporte, armazenagem e correios (7,97%), Informação, Comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas (5,74%), Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (3,17%) e Administração pública, defesa, seguridade, educação, saúde humana e serviços sociais (1,33%).
Por fim, analisando a população ocupada por posição na ocupação frente ao mesmo trimestre do ano anterior, registraram-se as seguintes variações percentuais nas categorias analisadas: Trabalho doméstico (20,77%), Trabalho privado sem carteira (18,53%), Trabalho privado com carteira (9,44%), Trabalhador por conta própria (8,6%), Empregador (7,56%), Trabalho familiar auxiliar (-0,72%) e Setor público (-1,81%).