Análise IEDI
Evolução restringida
O comércio varejista, ao menos em seu conceito restrito, cresceu +0,8% na entrada de 2022, mas não em intensidade suficiente para fazer frente ao retrocesso do final do ano passado. Se consideradas também as vendas de veículos, autopeças e material de construção, seu resultado não se mantém e passa a ficar no negativo: -0,3%, já descontados os efeitos sazonais.
Assim, dada a evolução na virada do ano, pode-se dizer que o varejo vem andando de lado, isto é, oscilando em torno da mera estabilidade. É o que mostram as médias móveis trimestrais com ajuste sazonal desde novembro do ano passado.
Na passagem de dez/21 para jan/22, ficaram no vermelho 7 do 10 ramos acompanhados pelo IBGE e em 5 deles não foi a primeira vez que deixaram de expandir vendas nos meses recentes. Entre os fatores a restringir a evolução do setor estão um novo surto de Covid-19, alta da inflação e dos juros e desemprego ainda muito elevado.
Como mostram as variações com ajuste a seguir, perdeu mais aqueles ramos cujas vendas tendem a demandar presença física, como vestuário, calçados e veículos. Com o repique de contágio pela variante ômicron no início deste ano, estas parcelas do varejo foram mais afetadas.
• Varejo restrito: +0,4% em nov/21; -1,9% em dez/21; +0,8% em jan/22;
• Varejo ampliado: +0,6%; +0,3% e -0,3%, respectivamente;
• Supermercados, alimentos, bebidas e fumo: +0,8%; -0,5% e -0,1%;
• Tecidos, vestuário e calçados: -2,0%; -0,4% e -3,9%;
• Móveis e eletrodomésticos: -1,8%; -0,1% e -0,6%;
• Equip. de escritório, informática e comunicação: -0,1%; -1,8% e +0,3%;
• Veículos e autopeças: +0,7%; +1,1% e -1,9%;
• Material de construção: +0,4%; -1,4% e -0,3%, respectivamente.
Além da queda de veículos, variações negativas reincidentes em móveis e eletrodomésticos e o baixo dinamismo em informática e comunicação não trazem bons sinais para a indústria de bens de consumo duráveis, que, como visto ontem, lideraram a perda de produção na entrada de 2022. Menos vendas no varejo significam menos comandas para reposição de estoques.
Ramos de bens de consumo duráveis também estão entre os que pior se encontram em comparação com início do ano passado. Móveis e eletrodomésticos, por exemplo, apresentaram queda de -11,4% ante jan/21 e informática e comunicação de -7,1%, isto é, muito além das perdas do varejo total (-1,9% em seu conceito restrito e -1,5% em seu conceito ampliado).
Supermercado, alimentos, bebidas e fumo assim como combustíveis e lubrificantes são outros dois ramos com evolução restringida pela elevação de preços de muitos de seus produtos, sem mudanças na passagem de dez/21 para jan/22, quando registraram -0,1% e -0,4%, respectivamente, já descontados os efeitos sazonais.
Entre os poucos ramos que conseguiram crescer, está o de outros artigos de uso pessoal e doméstico, que passou por forte oscilação na virada do ano (-9,9% em dez/21 e +9,4% em jan/22), e artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria, que após uma fase de virtual estabilidade na segunda metade do ano passado, registraram na série com ajuste sazonal três meses seguidos de aumento mais expressivo das vendas (+2,9%; +3,2% e +3,8% de nov/21 a jan/22).
A partir dos dados de janeiro de 2022 da Pesquisa Mensal do Comércio divulgados hoje pelo IBGE, o índice de volume de vendas do comércio varejista nacional aumentou 0,8% frente ao mês imediatamente anterior (dezembro/2021) na série com ajuste sazonal. Frente ao mês de janeiro de 2021, houve retração de 1,9%. Para o acumulado dos últimos doze meses aferiu-se expansão de 1,3%.
No que se refere ao volume de vendas do comércio varejista ampliado, que inclui vendas de veículos, motos, partes e peças e de materiais de construção, registrou-se variação negativa de 0,3% em relação a dezembro de 2021, a partir de dados livres de influências sazonais. Com relação ao desempenho comparado ao do mês de janeiro de 2021 houve retração de 1,4%. Para o acumulado nos últimos 12 meses verificou-se aumento de 4,6%.
A partir de dados dessazonalizados, na comparação com o mês imediatamente anterior (dezembro/2021), três dos oito setores analisados apresentaram expansão: outros artigos de uso pessoal e doméstico (9,4%), artigos farmacêuticos (3,8%) e equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (0,3%). Por outro lado, os cinco setores analisados restantes apresentaram variação negativa: tecidos, vestuário e calçados (-3,9%), livros, jornais, revistas e papelaria (-2,0%), móveis e eletrodomésticos (-0,6%), combustíveis e lubrificantes (-0,4%) e hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-0,1%). Para o comércio varejista ampliado registrou-se queda de 0,3% no período, de maneira que o setor de veículos, motos, partes e peças registrou variação negativa de 1,9% e material de construção decréscimo de 0,3%.
Em relação ao mesmo mês do ano anterior (janeiro de 2021), três dos oitos setores registraram expansão: livros, jornais, revistas e papelaria (23,0%), artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (10,1%) e tecidos, vestuário e calçados (2,6%). Houve queda nos cinco setores analisados restantes: móveis e eletrodomésticos (-11,4%), equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (-7,0%), combustíveis e lubrificantes (-6,7%), outros artigos de uso pessoal e doméstico (-6,0%) e hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-10,0%). Para o comércio varejista ampliado, registrou-se retração de 1,4% nessa base de comparação, de modo que o setor de veículos e motos, partes e peças apresentou expansão de 2,8% e o setor de material de construção registrou declínio de 7,8%.
Por fim, comparando janeiro de 2022 com o mesmo mês do ano anterior (janeiro/2021), 11 das 27 unidades federativas apresentaram crescimento no volume de vendas do comércio varejista, sendo os mais expressivos: Amazonas (35,3%), Roraima (7,5%) e Espírito Santo (7,2%), Mato Grosso (6,8%) e Rio Grande do Sul (5,0%). Em sentido oposto, houve decréscimo no volume de vendas do comércio varejista nas 16 unidades federativas restantes, sendo as maiores observadas em: Amapá (-10,8%), Sergipe (-8,8%), Distrito Federal (-7,8%), Bahia (-7,7%), Pernambuco (-7,6%), Rio Grande do Norte (-7,6%), Minas Gerais (-7,0%), Paraíba (-6,9%), Acre (-5,9%) e Ceará (-5,5%).