Análise IEDI
O varejo sob o peso da inflação
Em jun/21, depois de dois meses de razoável crescimento, as vendas reais do comércio varejista ficaram no vermelho. O varejo continua sendo o setor com melhor recuperação do choque provocado pela Covid-19, mas a aceleração inflacionária pode estar começando a pesar sobre a expansão de suas vendas, já que retira poder de compra da população.
O recuo na passagem de mai/21 para jun/21, já descontados os efeitos sazonais, foi de -1,7% no varejo restrito e de -2,3% em seu conceito ampliado, que incluem as vendas de veículos, autopeças e material de construção. A despeito desta variação negativa e diferentemente da indústria, o comércio permaneceu em um patamar superior ao pré-crise: 2,6% acima de fev/20 no conceito restrito e 1,5% acima desta marca no conceito ampliado.
A evolução desfavorável neste último mês da primeira metade do ano decorreu de perdas na maioria dos ramos do varejo, atingindo 6 dos 10 ramos acompanhados pelo IBGE. Ainda que não estejam entre os piores casos, dois ramos tiveram grande contribuição na queda de jun/21 por responderem por quase 40% do setor ampliado: combustíveis e lubrificantes (-1,2%) e supermercados, alimentos e bebidas (-0,5%), como mostram a seguir as variações ante o mês anterior com ajuste sazonal.
• Varejo restrito: +2,5% em abr/21; +2,7% em mai/21 e -1,7% em jun/21;
• Varejo ampliado: +4,0%; +3,2% e -2,3%, respectivamente;
• Veículos e autopeças: +20,3%; +1,2% e -0,2%;
• Supermercados, alimentos, bebidas e fumo: -1,6%; +1,0% e -0,5%;
• Combustíveis e lubrificantes: +2,8%; +6,8% e -1,2%;
• Equip. de escritório, informática e comunicação: +10,5%; +3,1% e -3,5%;
• Tecidos, vestuário e calçados: +16,3%; +10,2% e -3,6%;
• Material de construção: +7,7%; +4,9% e +1,9%, respectivamente.
Tanto combustíveis como alimentos vêm se mostrando vetores importantes na aceleração recente da inflação, o que afeta negativamente não apenas as suas vendas, mas também a de outros produtos, já que por sua essencialidade existe um limite para a redução de seu consumo. Outro vetor que vem ganhando força com a crise hídrica é o preço da energia elétrica.
Em jan-jun/21, enquanto o IPCA como um todo acumulou alta de +3,77%, no grupo de combustíveis o salto foi de +26,7%. No caso de alimentos e bebidas, o aumento de preços de +2,72% em 2021 se dá sobre um avanço muito maior na segunda metade de 2020, o que leva o IPCA deste grupo acumulado nos últimos doze meses findos em jun/21 a um patamar de +12,6%, puxado por carnes (+38,2%), cereais e leguminosas (+31,8%), mas também aves e ovos (+16,4%) e leite e seus derivados (+13,4%). Ou seja, itens básicos de alimentação.
Entre as quedas mais intensas do varejo em jun/21 estão tecidos, vestuário e calçados (-3,6% ante mai/21 com ajuste) e equipamentos de escritório, informática e comunicação (-3,5%). Estes dois ramos, juntamente com combustíveis e lubrificantes e veículos e autopeças, cujas vendas também ficaram no vermelho (-0,2%), têm funcionado como obstáculos à superação do choque da Covid-19 no início de 2020. Nenhum deles conseguiu retomar níveis de venda pré-pandemia.
Se desconsiderarmos o varejo de livros, jornais e revistas, que além da crise conjuntural, vem passando por profundas transformações em seus mercados devido à digitalização, os ramos de tecidos, vestuário e calçados e de equipamentos de escritório, informática e comunicação são os que mais distantes estão de fev/20: -8,4% e -9,2%, respectivamente, sem sinais claros de redução desta defasagem.
Outro ramo no vermelho em jun/21 foi o de outros artigos de uso pessoal e doméstico, com -2,6% na série com ajuste sazonal. Neste caso, porém, havia ampliado vendas nos meses anteriores e já se encontra 12,7% acima do pré-pandemia. É o segundo melhor desempenho ante fev/20, só perdendo para material de construção (+23,5%), que tem apresentado uma trajetória de reação mais consistente em 2021.
Segundo os dados de junho de 2021 da Pesquisa Mensal do Comércio divulgados hoje pelo IBGE, o índice de volume de vendas do comércio varejista nacional registrou retração de 1,7% frente ao mês imediatamente anterior (maio/2021) na série com ajuste sazonal. Frente ao mês de junho de 2020, houve expansão de 6,3%. Para o acumulado dos últimos doze meses e para o acumulado no ano (jan-jun) aferiu-se expansão de 5,9% e 6,7%, respectivamente.
No que se refere ao volume de vendas do comércio varejista ampliado, que inclui vendas de veículos, motos, partes e peças e de materiais de construção, registrou-se variação negativa de 2,3% em relação a maio de 2021, a partir de dados livres de influências sazonais. Frente ao mês de junho de 2020, houve variação positiva de 11,5%. Para o acumulado nos últimos 12 meses e para o acumulado no ano (jan-jun) verificou-se aumento de 7,9% e 12,3%, respectivamente.
A partir de dados dessazonalizados, na comparação com o mês imediatamente anterior (maio/2021), três dos oito setores analisados apresentaram expansões: livros, jornais, revistas e papelaria (5,0%), móveis e eletrodomésticos (1,6%) e artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (0,4%). Por outro lado, 5 dos 8 setores analisados registraram variações negativas em comparação ao mês imediatamente anterior: tecidos, vestuário e calçados (-3,6%), equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (-3,5%), outros artigos de uso pessoal e doméstico (-2,6%), combustíveis e lubrificantes (-1,2%) e hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-0,5%). Para o comércio varejista ampliado registrou-se retração de 2,3%, de maneira que o setor de veículos, motos, partes e peças registrou variação negativa de 0,2%, enquanto material de construção apresentou acréscimo de 1,9%.
Em relação ao mesmo mês do ano anterior (junho de 2020), registraram-se expansões em seis das oito atividades analisadas: tecidos, vestuário e calçados (61,8%), outros artigos de uso pessoal e doméstico (22,6%), livros, jornais, revista e papelaria (17,1%), artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (13,1%) combustíveis e lubrificantes (11,4%) e equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (3,3%). Em sentido oposto, houve queda nos setores de móveis e eletrodomésticos (-5,3%) e hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-3,0%). Para o comércio varejista ampliado, registrou-se variação positiva de 11,5%, de modo que o setor de veículos e motos, partes e peças apresentou expansão de 33,1% e o setor de material de construção obteve incremento de 5,3%.
Na análise do acumulado do ano (janeiro-junho de 2021), aferiu-se expansão de 6,7% no comércio varejista, e registraram-se crescimentos em 6 dos 8 segmentos analisados: tecidos, vestuário e calçados (32,6%), outros artigos de uso pessoal e doméstico (31,6%), artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (16,2%), móveis e eletrodomésticos (11,0%), equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (5,9%) e combustíveis e lubrificantes (3,9%). Em sentido oposto, os dois outros segmentos analisados apresentaram decréscimos: livros, jornais, revista e papelaria (-22,8%) e hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-2,7%). Para o comércio varejista ampliado houve variação positiva de 12,3% no período, sendo que veículos e motos, motocicletas, partes e peças apresentou acréscimo de 27,5% e material de construção uma expansão de 21,5%.
Por fim, comparando junho de 2021 com o mesmo mês do ano anterior, 23 das 27 unidades federativas apresentaram crescimentos no volume de vendas do comércio varejista, sendo as maiores: Amapá (29,1%), Piauí (21,4%), Rondônia (19,0%), Acre (19,0%), Bahia (16,4%), Paraíba (11,9%), Rio Grande do Norte (10,9%) e Pernambuco (10,7%). Por sua vez, apresentaram decréscimos no volume de vendas do comércio varejista, na mesma base de comparação, as seguintes unidades federativas: Tocantins (-19,1%) Amazonas (-4,5%), Maranhão (-1,8%) e Mato Grosso (1,5%).