Carta IEDI
Empresas Mais Robustas Para Crescer
O desempenho das grandes empresas industriais brasileiras em 2004, segundo mostra um recente estudo do IEDI envolvendo 112 grandes empresas (o estudo, “Endividamento e Resultado das Empresas Industriais em 2004”, estará disponível brevemente no site do IEDI), traz boas perspectivas. O progresso financeiro das empresas, refletido na melhor rentabilidade e no menor endividamento empresarial que os dados da pesquisa revelam, embora não seja condição suficiente, é condição necessária para o aumento nos investimentos na economia.
É relevante preservar esta maior capacitação financeira das empresas. Mas, além disso, para que o aumento dos investimentos realmente venha a acontecer, será necessário afastar as dúvidas sobre a segurança do investimento de longo prazo na economia brasileira e se de fato há uma boa perspectiva de aumento de demanda. Em particular, as incertezas ainda presentes na economia brasileira dizem respeito à segurança que se pode atribuir a um investimento de longo prazo como em infra-estrutura e, sobre a demanda, persiste a indagação se esta será contida em nome do controle inflacionário ou se terá prosseguimento a sua evolução. A política econômica em curso poderia dedicar maiores esforços para, no que depender de sua ação, deixar ambas as questões esclarecidas.
O estudo acusou uma significativa queda no endividamento das grandes empresas industriais. O endividamento geral, que pode ser avaliado através da relação entre o Capital de Terceiros e o Capital Próprio, acusou um recuo significativo: de 1,70 em 2003 para 1,34 em 2004, considerando o total da amostra, e de 1,72 para 1,37, levando-se em conta o total das empresas industriais exceto a Petrobrás.
Paralelamente, o endividamento empresarial de curto prazo encolheu como proporção da dívida total, o que também pode ser interpretado como uma melhora no perfil do endividamento. Considerando o conjunto das empresas pesquisadas, respectivamente, com e sem Petrobrás, a participação dos empréstimos de curto prazo nas dívidas totais das empresas passa de 33% para 28% e de 39% para 34%, entre 2003 e 2004. Ou seja, não somente o endividamento empresarial caiu, como melhorou sua qualidade no período em tela.
Outros resultados importantes foram:
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Houve uma a expressiva melhora no desempenho operacional das empresas industriais. O Lucro da Atividade sobre a Receita Líquida para o total das empresas sem a Petrobrás subiu de 15,5%, em 2003, para 21,1%, em 2004.
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Em termos de rentabilidade (relação entre o Lucro Líquido e o Patrimônio Líquido), esta aumentou expressivamente para o conjunto das empresas. Excluindo a Petrobrás, a evolução foi de 20,8% em 2003 para 25,5% em 2004; incluindo a Petrobrás, o aumento foi menor, mas ainda assim a rentabilidade manteve um nível excepcional: 26,3% em 2003 e de 26,6% em 2004.
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Por fim, destaque para o aumento de 33,1% no valor do Lucro Líquido acumulado, um percentual significativamente mais elevado do que o crescimento da Receita Líquida, de 23,8%. Notar que a variação do IGP-M no período foi de 12,4%.
Em grande parte, estes importantes avanços no desempenho e na estrutura de capitais das empresas brasileiras em 2004 podem ser atribuídos à recuperação da demanda doméstica e à expressiva ampliação das exportações do país. Esses fatores levaram ao aumento da utilização da capacidade instalada das empresas que tanto assusta (mas não deveria fazê-lo) as autoridades econômicas brasileiras, pois, ao contrário do que muitos imaginam, a maior utilização de capacidade é um fator que, além de incentivar o investimento, amortece tensões de preços. Também contribui para ampliar a rentabilidade, à medida que abre oportunidade para que as empresas diluam seus custos fixos de produção.
A maior produtividade do setor industrial, que, segundo dados dos estudos do IEDI, aumentou 6% em 2004, foi certamente outro fator de sumo relevo que contribuiu para que o setor melhorasse significativamente seu desempenho e rentabilidade.
Boa lucratividade e redução (além da melhora do perfil) das dívidas significam que as companhias ganharam capacidade de investir, seja porque passaram a dispor de mais expressivas fontes internas de recursos, seja porque se habilitaram novamente a se endividar como meio alternativo de financiamento para os eventuais novos investimentos. Ou seja, no presente momento a restrição financeira das empresas brasileiras é menor, pelo menos no que se refere à grande empresa.
Leia mais sobre o tema no texto abaixo ou consulte a íntegra do estudo no site do IEDI.
Estrutura de capitais e endividamento. O presente levantamento abrange 112 companhias abertas do setor industrial, cujas demonstrações financeiras são auditadas conforme as regras da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Trata-se, portanto, de um conjunto de empresas que podem ser consideradas de grande porte. As empresas foram classificadas por atividade econômica e os grupos econômicos tratados pela empresa consolidadora das informações; portanto as controladas foram eliminadas da amostra para evitar a dupla contagem. Um exemplo é a eliminação da Petroquisa, controlada da Petrobrás.
Em 2004 não ocorreram grandes transformações nas condições de financiamento à indústria em relação ao ano anterior. O estoque de crédito concedido ao setor industrial pelo sistema financeiro nacional, ao final de 2003, estava em R$ 117,9 bilhões e, no término de 2004, em R$ 124,9 bilhões, um crescimento de 6,9%.
A taxa de câmbio, um fator que certamente influencia a situação patrimonial das empresas – principalmente daquelas que possuem endividamento atrelado à variação cambial -, registrou queda de 7,7% se considerarmos a cotação da moeda norte americana entre dezembro de 2003 (R$ 2,87) e dezembro de 2004 (R$ 2,65). Porém, em 2003, a queda na mesma cotação foi de 19,4%, quando comparado com o fechamento de dezembro de 2002 (R$ 3,56).
Para efeito de comparação entre os dois períodos, os resultados de 2003 foram beneficiados pela maior intensidade na redução do estoque das dívidas com variação cambial do que em 2004.
O endividamento geral, que pode ser observado através dos indicadores da Relação entre o Capital de Terceiros e o Capital Próprio e da Relação entre Endividamento Oneroso Líquido e o Capital Próprio, acusou uma queda significativa entre os finais de 2003 e 2004.
A Relação entre Capital de Terceiros e Capital Próprio caiu de 1,70 para 1,34, entre 2003 e 2004, considerando o total da amostra, e de 1,72 para 1,37, considerando o total sem a Petrobrás.
Os segmentos que apresentaram maior redução nesse indicador entre os dois períodos são: Alimentos, de 3,18 para 2,18; Bebidas e Fumo, de 1,97 para 0,93; Químico, de 2,13 para 1,59; Siderurgia, de 1,70 para 1,45; e Petróleo e Gás, de 1,72 para 1,30. Outras atividades industriais apresentaram aumento: Equipamentos Elétricos, de 0,98 para 2,23; Material de Construção, de 1,14 para 1,21; e Utilidades Domésticas, de 1,35 para 2,0.
No segundo indicador (Relação entre Endividamento Oneroso Líquido e Capital Próprio), o total da amostra apresentou uma queda de 0,63, em 2003, para 0,41, em 2004, e o total da amostra sem Petrobrás registrou queda de 0,80 para 0,48 entre os mesmos períodos.
Neste caso, entre os segmentos que registraram queda no indicador, podemos citar: Alimentos, de 1,89 para 0,65; Siderurgia, de 0,92 para 0,57; Editora, de 0,32 para 0,08; Bebidas e Fumo, de 0,82 para 0,37; Material de Transporte, de 0,65 para 0,57; Mineração, de 0,73 para 0,40; e Químico, de 1,07 para 0,47. Alguns expetimentaram elevação: Metalurgia, de 0,24 para 0,38; Material de Construção, de 0,34 para 0,45; Utilidades Domésticas, de 0,27 para 0,38; e Equipamentos Elétricos, de 0,18 para 1,12.
Cabe destacar que os segmentos Brinquedos/Lazer, devido à situação financeira da companhia Bicicletas Caloi, e Produtos de Limpeza e Cosméticos, devido à situação financeira da Bombril, possuem Patrimônio Líquido negativo.
A Estrutura de Capitais também refletiu a redução do endividamento da indústria considerada na amostra. Os Recursos Próprios foram responsáveis por 42,8% das fontes de recursos em 2004 (37% em 2003), a participação dos Recursos Onerosos de Terceiros caiu para 28% em 2004 (35,4% em 2003), enquanto a participação das Outras Fontes subiu de 27,6%, em 2003, para 29,2%, em 2004.
Entre as atividades que conseguiram ampliar a participação dos Recursos Próprios, destacam-se : Petróleo e Gás, de 36,8% para 43,4%; Siderurgia, de 37,0% para 40,8%; Alimentos, de 23,9% para 31,5%; Bebidas e Fumo, de 33,6% para 51,7%; Químico, de 31,9% para 38,6%; e Papel e Celulose, de 40,4% para 45,2%.
Por outro lado, alguns segmentos apresentaram queda da participação dos Recursos Próprios, tais como: Equipamentos Elétricos, de 50,6% para 30,9%; Madeira, de 45,1% para 42,4%; Embalagens, de 65,6% para 60% e; Utilidades Domésticas, de 42,6% para 33,4%.
O percentual de recursos classificados como Outras Fontes aparece como importante fonte de recursos para alguns segmentos em 2004, como: Editora, de 44% (48,7% em 2003), Material Aeronáutico, de 43,4% (47,1% em 2003); Metalurgia, de 42,5% (39,7% em 2003); Produtos de Limpeza e Cosméticos, de 104,5% (77,4% em 2003); e Utilidades Domésticas, de 46,5% (37,4% em 2003).
Os setores que demonstraram maior nível de endividamento oneroso (Recursos de Terceiros Onerosos), em 2004, são: Alimentos, 41,9% (53,5% em 2003); Papel e Celulose, de 40,9 (44,5% em 2003); e Equipamentos Elétricos, de 37,6% (16,7% em 2003).
<< 20050415-01.gif|* Segmento com patrimônio líquido negativo.
Liquidez Corrente: razão entre o Ativo Circulante e o Passivo Circulante.|>>
<< 20050415-02.gif|Os segmentos Produtos de Limpeza e Cosméticos e Brinquedos/ Lazer não estão inclusos por apresentarem Patrimônio Líquido negativo.
A relação indica quanto de recursos de terceiro há para cada unidade de recursos próprios.|>>
<< 20050415-03.gif|Os segmentos Produtos de Limpeza e Cosméticos e Brinquedos/ Lazer não estão inclusos por apresentarem Patrimônio Líquido negativo.
A relação indica quanto de endividamento líquido há para cada unidade de recursos próprios.
Obs.: Sinal negativo indica que o segmento tem recursos disponíveis superiores ao endividamento.|>>




Desempenho Econômico. As empresas da amostra registraram certa estabilidade no desempenho econômico em 2004 em relação ao ano anterior. A taxa de retorno sobre o Patrimônio Líquido (PL) foi de 26,6% (26,3% em 2003); o Retorno sobre a Receita Líquida (RL) atingiu 14,5% (13,5% em 2003); e o Lucro da Atividade sobre a Receita Líquida aumentou para 23,4% (20,9% em 2003).
Considerando o total da amostra sem a Petrobrás destaca-se o crescimento do Lucro da Atividade, que subiu para 21,1% da Receita Líquida (15,5% em 2003) e a Rentabilidade sobre o Patrimônio Líquido, que subiu de 20,8%, em 2003, para 25,5%, em 2004.
Nota-se claramente que alguns segmentos apresentaram queda significativa na rentabilidade, como:
- Petróleo e Gás, cujo resultado sobre o PL foi de 28,9 (36,2% em 2003), 16,1% sobre a RL (18% em 2003) e o indicador do Lucro da Atividade/ Receita Líquida de 27,7% (29,9% em 2003);
- Bebidas e Fumo, com queda do retorno sobre o PL para 10,2% (37,3% em 2003) e sobre a RL para 12,2% (18,3% em 2003), por outro lado o Lucro da Atividade em relação à RL subiu para 24,4% (23% em 2003). Cabe destacar que a queda do retorno sobre o PL do segmento se deve ao aumento do PL da Ambev de R$ 4,3 bilhões para R$ 16,9 bilhões, possivelmente por conta da fusão com a Interbrew, companhia belga do segmento de bebidas;
- Calçados, cujo retorno sobre o PL caiu para 10,6% (18,5% em 2003) e sobre a RL caiu para 5,1% (9,4% em 2003), enquanto o Lucro da Atividade em relação à RL ficou em 10,5% (14% em 2003);
- Embalagens, com queda do retorno sobre o PL para 18,4% (29,6 em 2003) e sobre a RL para 10,8%(14,9% em 2003), sendo que o Lucro da Atividade em percentual da RL subiu de 9%, em 2003, para 10%, em 2004;
- Papel e Celulose, com retorno sobre o PL de 22,2% (29,8% em 2003), 21,1% sobre a RL (25,9% em 2003) e a relação Lucro da Atividade/ RL em 27,4% (33,4% em 2003).
Por outro lado, outras atividades industriais conseguiram melhorar o desempenho em 2004 em relação ao ano anterior:
- Editora, com retorno sobre o PL de 17,5% (15,7% em 2003), sobre a RL de 4,2% (3,7% em 2003) e o Lucro da Atividade ficando em 6,2% da RL (4,6% da RL em 2003);
- Material Aeronáutico, cujo retorno sobre o PL subiu para 28,4% (15,7% em 2003) e sobre a RL para 12,3% (8,9% em 2003), sendo que o desempenho do Lucro da Atividade em relação à RL saiu de 5%, em 2003, para 8,5%, em 2004;
- Siderurgia, com elevação do retorno sobre o PL para 35,9% (21,1% em 2003) e sobre a RL para 19,6% (13,5% em 2003). O Lucro da Atividade alcançou 31,7% sobre a RL (18,5% em 2003);
- Metalurgia, com retorno sobre o PL de 12,9% (8,9% em 2003) e sobre a RL de 4,2% (2,9% em 2003), enquanto o Lucro da Atividade sobre a RL cresceu de 5,3%, em 2003, para 10%, em 2004.
Desempenho Operacional. A comparação sugere um desempenho operacional da indústria em 2004 do que em 2003, pois a manutenção da rentabilidade sobre a receita líquida no total da amostra ocorreu junto com o crescimento no total sem Petrobrás. No mesmo período, o Lucro da Atividade sobre a RL no total da amostra sem a Petrobrás também subiu, conforme exposto anteriormente.
Esta afirmação torna-se ainda mais contundente se considerarmos que, em 2004, a variação cambial não interferiu na mesma intensidade no resultado e endividamento das companhias por conta de apreciação cambial, como aconteceu no ano anterior.
Um aspecto relevante é que a taxa de câmbio média ficou em R$ 2,92 durante 2004, enquanto que em 2003 foi de R$ 3,07. Isto deve ser levado em conta pela importância da exportação na formação do resultado da indústria, uma vez que segmentos relevantes na amostra têm parte significativa das suas receitas oriundas do exterior, como Mineração, Calçados, Papel e Celulose, Alimentos, Material Aeronáutico e Siderurgia.
Outro dado importante consiste na evolução absoluta do Lucro Líquido e da Receita Líquida entre 2003 e 2004.
Alguns segmentos apresentaram performance impressionante como: Madeira, cujo crescimento do Lucro Líquido alcançou 1.948,7%; Material Aeronáutico, com expansão de 113,7%; Siderurgia, de 108,2%; e Químico, de 103,8%.
Por outro lado, determinadas atividades sofreram queda no LL, sobressaindo o declínio da indústria de equipamentos elétricos, com recuo de 140,2%, do segmento de Utilidades Domésticas, cujo LL caiu 99,7%, e o setor de Produtos de Limpeza e Cosméticos, que enfrentou declínio de 89,7% no Lucro Líquido. Deve-se observar que tais segmentos perceberam redução no LL a despeito de incremento na Receita Líquida. Além dessas, vale assinalar outras atividades que experimentaram retração no Lucro Líquido: as indústrias de Bebidas e Fumo, com declínio de 13,2%; de Calçados, com retração de 37,4%; e Papel e Celulose, queda de 12,7%.


<< 20050415-10.gif|* Segmento com patrimônio líquido negativo.
Lucro da Atividade é o Lucro Operacional adicionado das despesas financeiras líquidas.|>>
