Carta IEDI
Sinalizações para a segunda metade do ano
Em ago/23, o nível de atividade econômica do país se contraiu, puxado pela queda das vendas do comércio varejista e dos serviços. Desta vez, a indústria evitou o terreno negativo, mas como tem sido a regra, sua expansão foi fraca e não compensou os resultados dos demais setores.
Enquanto a produção industrial variou +0,4%, frente a jul/23, já descontados os efeitos sazonais, o varejo em seu conceito ampliado encolheu -1,3% e os serviços, -0,9% na mesma base de comparação. Com isso, o indicador IBC-Br do Banco Central, que funciona como uma proxy do PIB, recuou -0,77%, anulando as altas de jun/23 (+0,22%) e jul/23 (+0,42%).
Assim, a contar pelo acumulado em jul-ago/23, o terceiro trimestre do ano parece ser de desaceleração. O indicador do Banco Central, depois de ter registrado +4,4% no 1º trim/23 e +3,1% no 2º trim/23, sempre em relação ao mesmo período do ano passado, aponta resultado de +1,1% no bimestre jul-ago/23. Tal trajetória é acompanhada por quase todos os grandes setores econômicos.
No caso da indústria, o desempenho deste último bimestre coberto por dados do IBGE sinaliza para mais um trimestre no vermelho. Sua produção total encolheu, respectivamente, -0,4% e -0,2% nos dois primeiros trimestres de 2023 e em jul-ago/23 acumula retração de -0,3%, sempre frente a igual período do ano anterior.
Esta sinalização de menor dinamismo atinge três dos quatro macrossetores industriais, notadamente aqueles cujos mercados dependem mais do crédito e, por isso, são mais afetados pelos elevados níveis das taxas de juros praticados no país. É o caso da produção de bens de capital, cujo ritmo de declínio é intenso: -12,5% no 2º trim/23 e -16,1% em jul-ago/23, e dos bens de consumo duráveis, cuja expansão de +2,6% no 2º trim/23 foi sucedida por uma variação de -0,1% em jul-ago/23.
Em relação aos parques regionais da indústria, cabe notar que 61% perderam produção em jul-ago/23, mas os indícios de piora parecem menos disseminados geograficamente: em 39% deles o resultado deste último bimestre foi inferior ao do 2º trim/23. Para uma mesma parcela de 39% a sinalização é de melhora e para 22% das industriais regionais o desempenho de jul-ago/23 está muito próximo ao do trimestre anterior.
No caso dos serviços, a desaceleração é influenciada pela robustez das bases de comparação, mas também por outros fatores, como a inflação de serviços seguir acima do IPCA geral e a capacidade de compra da população continuar restringida por seu nível de endividamento e as altas taxas de juros, o que afeta em primeiro lugar os mercados de bens, mas que, cedo ou tarde, também impacta os serviços.
Seu resultado em jul-ago/23, de +2,2% frente ao mesmo período do ano anterior, é bem inferior às altas de +4,0% no 2º trim/23 e de +5,5% no 1º trim/23. Entre os ramos com maior perda de dinamismo estão os serviços prestados às famílias (de +8,1% em jan-mar/23 para +1,9% em jul-ago), transportes (de +6,4% para +0,6%) e outros serviços (de +0,5% para -1,3%). A exceção coube a serviços profissionais, administrativos e complementares, cujo crescimento vem se mantendo em torno de +4,5%.
O varejo foge à regra dos demais setores. Suas vendas reais, se considerado o conceito ampliado do comércio varejista, que inclui veículos, autopeças, material de construção e atacarejo, avançou +5,1% em jul-ago/23, indicando um nível de atividade no início da segunda metade do ano superior à do final da primeira metade. No 2º trim/23, o resultado foi de +4,6%.
Dois ramos apenas estão funcionando como alicerces para o varejo nos meses mais recentes, evitando um desempenho mais fraco: supermercados, alimentos, bebidas e fumo e veículos e autopeças, que juntos representam cerca de 50% do setor na pesquisa mensal do IBGE.
No caso do ramo de supermercados, alimentos, bebidas e fumo, que além de incluir itens essenciais da cesta de consumo das famílias, também conta com redução da inflação de produtos de peso, como em alimentos de consumo doméstico (-1,82% em jan-ago/23), as vendas aumentaram +4,3% em jul-ago/23 ante +2,6% nos dois primeiros trimestres do ano.
Já no caso das vendas de veículos e autopeças, cabe lembrar o programa de redução de impostos do governo federal, com objetivo de dinamizar as vendas do setor. Embora tal estímulo ainda não tenha chegado à produção da indústria automobilística, suas vendas no varejo saltaram +10,3% em jul-ago/23 na comparação interanual, vis-à-vis +5,8% no 2º trim/23.
Indústria
Na passagem de jul/23 para ago/23, já descontados os efeitos sazonais, a produção industrial do país conseguiu crescer, ainda que muito pouco. O resultado foi de +0,4%, insuficiente para fazer frente à retração de -0,6% registrada no mês anterior.
Os principais responsáveis por este desempenho foram os macrossetores que vinham acumulando perdas e, por isso, contavam com bases mais deprimidas de comparação. Foram os casos de bens de capital, que cuja produção aumentou +4,3%, e de bens de consumo duráveis, com alta de +8,0%, sempre com ajuste sazonal.
Dos 25 ramos industriais acompanhados pelo IBGE, uma parcela majoritária de 72% apresentou expansão. Destacaram-se pela intensidade do avanço: farmacêuticos e farmoquímicos, com alta de +18,6%, isto é, o dobro do resultado de jul/23 (+9,3%) e informática, e eletrônicos e ópticos (+16,6%), assim como veículos e autopeças (+5,2%). Nestes dois últimos casos, porém, os meses anteriores foram de queda.
Do ponto de vista regional, 9 dos 15 locais investigados pelo IBGE registraram taxas positivas na série com ajuste sazonal, isto é, uma parcela de 60% do total. Os maiores avanços vieram de Amazonas (+11,5% ante jul/23), Espírito Santo (+5,2%) e Rio Grande do Sul (+4,3%), cujas produções industriais também haviam recuado no mês anterior.
Em 2023, devido à fraqueza dos meses positivos, a sequência de resultados trimestrais é desfavorável e é muito provável que o terceiro trimestre de 2023 venha a ficar novamente no vermelho. A produção da indústria geral caiu -0,4% no 1º trim/23 e -0,2% no 2º trim/23 e agora em jul-ago/23 registra -0,3% ante o mesmo período do ano anterior.
A sinalização do bimestre jul-ago/23 é de menor dinamismo em três os quatro macrossetores industriais, notadamente na produção de bens de capital, cujo ritmo de declínio é intenso: -12,5% no 2º trim/23 e -16,1% em jul-ago/23 frente ao mesmo período do ano anterior.
Em relação aos parques regionais, 61% perderam produção no bimestre jul-ago/23 ante jul-ago/22. Além disso, para 39% deles este bimestre sinalizou uma piora quando comparado ao resultado registrado no 2º trim/23. Cabe observar que para uma mesma parcela de 39% a sinalização é de melhora e para 22% das industriais regionais o desempenho de jul-ago/23 está muito próximo do trimestre anterior.
São Paulo, que responde por cerca de 1/3 da produção industrial do país, está entre aqueles que perderam produção em jul-ago/23 frente ao mesmo período do ano anterior. Apesar disso, este período mais recente não aponta para uma deterioração adicional: -1,2% em abr-jun/23 e -1,3% em jul-ago/23.
O Nordeste como um todo também se encontra nesta situação, mas neste caso a intensidade do recuo é bem maior: -4,8% em abr-jun/23 e -4,4% em jul-ago/23, em grande medida devido à indústria do Ceará (-9,5% ante jul-ago/22) e à da Bahia (-5,4%).
Os parques regionais com indícios mais de fortes de deterioração no terceiro trimestre do ano foram os do Norte do país: Amazonas registrou -4,1% em jul-ago/23 depois de crescer +5,1% no 2º trim/23, e Pará caiu -5,8% após alta de +13,1% nos mesmos períodos. Bahia, Minas Gerais, Paraná, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso também obtiveram resultados inferiores.
Entre os que podem ter um trimestre melhor, destacam-se Rio Grande do Sul e Santa Catarina, cujos ritmos de queda perderam força em jul-ago/23, assim como o Espírito Santo, Goiás e alguns estados do Nordeste, como Maranhão, Rio Grande do Norte e Pernambuco.
Comércio
O comércio varejista, tal como os serviços, como veremos a seguir, ficou no vermelho no mês de ago/23. Considerado em seu conceito ampliado, que inclui as vendas de veículos, material de construção e atacarejo, o recuo foi de -1,3% frente a jul/23, já descontados os efeitos sazonais. Com isso, ainda estamos por ver uma variação positiva nesta segunda metade do ano.
No conceito restrito, as vendas reais também não conseguiram crescer, mas o resultado foi mais próximo da estabilidade: de -0,2%, com ajuste sazonal, devolvendo, assim, parte da expansão de +0,7% registrada no mês anterior.
Dos dez ramos acompanhados pelo IBGE, metade ficou no vermelho na série com ajuste, compreendendo mercados cujo funcionamento demanda, em maior ou menor grau, algum tipo de crédito e que, por isso, estão enfraquecidos pelos níveis elevados de taxas de juros atualmente praticados e pelo alto endividamento das famílias.
Destacam-se, do lado negativo, as vendas de móveis e eletrodomésticos (-2,2%), bem como tecidos, vestuário e calçados (-0,4%), além de livros, jornais, revistas e papelaria (-3,2%), para quem a digitalização de conteúdos vem trazendo alterações importantes na comercialização de muitos de seus itens.
Para os ramos anteriormente mencionados, o sinal negativo não é uma novidade e marcam a maioria dos meses de 2023 na série com ajuste sazonal. E isso vale também para a comparação com igual período do ano anterior na maioria dos casos.
Frente a ago/22, móveis e eletrodomésticos registraram queda de -1,5%, tecidos, vestuário e calçados, de -7,0% e livros, jornais, revistas e papelaria, de -15,7%, enquanto as vendas totais do varejo ampliado expandiram +3,6%.
Outro caso a ser mencionado é o de outros artigos de uso pessoal e doméstico, ramo que inclui as lojas de departamento, com declínio de -4,8% ante jul/23. Foi o pior resultado na série com ajuste sazonal. Frente a ago/22, caiu -7,9%, não tendo apresentado, por ora, nenhuma variação positiva em 2023.
Além deste, há também o ramo de material de construção (-0,1% ante jul/23 com ajuste), artigos farmacêuticos, ortopédicos e de perfumaria e cosméticos (+0,1%) e equipamentos de escritório, informática e comunicação (+0,2%), todos virtualmente estagnados. No caso de material de construção, a queda de -0,5% em ago/23 foi sua sétima variação negativa consecutiva na comparação interanual.
Dois ramos apenas estão funcionando como alicerces para o varejo nos últimos meses, evitando um desempenho ainda mais fraco: supermercados, alimentos, bebidas e fumo e veículos e autopeças, que juntos representam cerca de 50% do setor na pesquisa mensal do IBGE.
No caso de supermercados, alimentos, bebidas e fumo, cujas vendas aumentaram +0,9% na passagem de jul/23 para ago/23, já corrigidos os efeitos sazonais, e +5,6% em comparação com ago/22, além de incluírem itens essenciais da cesta de consumo das famílias, também contam com redução da inflação de produtos de peso.
No acumulado dos oito primeiros meses do ano, enquanto o IPCA total acumulou aumento de +3,23%, a inflação ao consumidor da alimentação em domicílio registrou variação de -1,82%, um quadro radicalmente distinto daquele verificado em jan-ago/22: +4,39% ante +11,85%, respectivamente.
Já no caso das vendas de veículos e autopeças, cabe lembrar o programa de redução de impostos do governo federal, com objetivo de dinamizar as vendas do setor. Embora tal estímulo ainda não tenha chegado à produção da indústria automobilística, suas vendas no varejo saltaram +17,8% em jun/23, +9,8% em jul/23 e +10,8% em ago/23 na comparação interanual. Na série com ajuste sazonal, registrou expansão de +3,3% em agosto último.
Serviços
Depois de dois meses de virtual estagnação, o setor de serviços perdeu faturamento real na passagem de jul/23 para ago/23, reforçando os sinais de que entra em um estágio de dinamismo mais moderado. O resultado foi de -0,9%, descontados os efeitos sazonais. Já na comparação com mesmo período do ano anterior (+0,9%), teve o pior desempenho desde fev/21.
Esta evolução recente está associada à robustez das bases de comparação, dado que o faturamento do setor está 11,6% acima do nível pré-pandemia (fev/20). Além disso, a inflação de serviços segue sendo superior ao IPCA geral e a capacidade de compra da população continua restringida por seu nível de endividamento e as altas taxas de juros, o que afeta em primeiro lugar os mercados de bens, mas que, cedo ou tarde, também impacta os serviços.
Em ago/23, a maior parte dos ramos identificados pelo IBGE não se saiu bem. Na série com ajuste sazonal, apenas os serviços profissionais, administrativos e complementares (+1,7%) conseguiram crescer. Todos os demais quatro ramos ficaram no vermelho. Em comparação com ago/22, por sua vez, 3/5 deles perderam faturamento real.
O recuo mais intenso foi verificado no ramo de serviços prestados às famílias: -3,8% frente a jul/23, descontados os efeitos sazonais e -1,5% na comparação com ago/22. Assim, seu faturamento que se expandia ao ritmo de +8% na entrada do ano desacelerou para +1,9% no bimestre jul-ago/23, que prenuncia o desempenho do terceiro trimestre do ano.
Em seguida, temos transporte, armazenagem e correios, com perda de -2,1% na série com ajuste sazonal e de -1,2% frente a ago/22. Além das atividades de armazenagem, os transportes terrestres de passageiros estão por trás desta evolução, o que também indica um enfraquecimento advindo do consumo das famílias. No bimestre jul-ago/23 o ramo ficou próximo da estabilidade (+0,6%).
O segmento de outros serviços, que reúne um conjunto diversificado de atividades, também vem se mostrando como um obstáculo para o setor como um todo. Seu faturamento caiu -1,4% frente a jul/23 e -6,2% ante ago/22. Isso principalmente devido a serviços financeiros e às atividades de esgoto, gestão de resíduos, recuperação de materiais e descontaminação.
Por fim, como dito anteriormente, o destaque positivo foi o ramo de serviços profissionais, administrativos e complementares, que cresceu +1,7% na série com ajuste e +5,6% na comparação com o mesmo mês do ano passado. É o único ramo para o qual o bimestre jul-ago/23 não dá sinal de desaceleração: +4,5% ante +4,0% no 2º trim/23, algo que marca todos os seus componentes.