Carta IEDI
Estabilidade industrial em abr/25
Nos quatro primeiros meses de 2025 sobre os quais já temos dados disponibilizados pelo IBGE, tem sido difícil a indústria em seu agregado ampliar produção. Exceto mar/25, quando cresceu +1,2%, já descontados os efeitos sazonais, as variações ficaram muito perto da estabilidade. O Último resultado divulgado foi de apenas +0,1%, em abr/25.
A isso se soma o fato de que nos três últimos meses de 2024, ainda na série com ajuste sazonal, os sinais foram negativos, em uma indicação de acomodação do ritmo de crescimento que o setor vinha apresentando.
Este movimento tem sido influenciado pela elevação das taxas de juros no país desde set/24, mas também por incertezas provenientes da nossa gestão fiscal e medidas de política econômica dos EUA e de seus parceiros comerciais. A sucessão de conflitos armados no mundo tende a agravar os obstáculos aos fluxos internacionais de mercadorias.
Ademais, a contar pela deterioração, em mai/25, dos indicadores de confiança dos empresários industriais para a evolução corrente dos negócios, o quadro industrial deve se manter pouco dinâmico nos próximos meses.
Em comparação com a situação do ano passado houve queda de -0,3% na produção industrial, a primeira depois de 10 meses seguidos de expansão, cabendo observar a existência de um efeito calendário adverso, já que abr/25 teve dois dias úteis a menos do que abr/24. Considerada apenas a indústria de transformação, a evolução de abr/25 foi ainda mais fraca: -0,5% frente a mar/25, com ajuste sazonal, e -2,0% no contraste com abr/24.
Do total de ramos industriais acompanhados pelo IBGE, metade não conseguiu crescer na série com ajuste, chegando a 2/3 na comparação interanual, indicando um perfil disseminado de perdas na entrada do segundo trimestre do ano.
Regionalmente, uma parcela majoritária de 60% dos parques industriais não conseguiu ampliar produção. Os estados da região Sudeste, cuja estrutura industrial é mais diversificada, foi quem liderou as perdas, seguida pela indústria do Norte do país. Os parques industriais do Sul acompanharam o agregado nacional e ficaram virtualmente estagnados.
Em grande medida, o freio do dinamismo industrial vem se dando na produção de bens de consumo, o que sugere uma acomodação da demanda das famílias, ainda que fatores climáticos também tenham tido influência, a exemplo da produção de açúcar e álcool.
O total da produção de bens de consumo caiu -1,6% entre mar/25 e abr/25 e -4,2% frente a abril do ano passado. No acumulado do ano desacelerou de +4,2% em jan-abr/24 para +0,5% em jan-abr/25. A produção de bens de consumo semi e não duráveis é a que pior se sai, mas também há perda importante de dinamismo em bens de consumo duráveis.
Frente a mar/25, o macrossetor de bens de consumo semi e não duráveis foi o único a registrar retração (-1,9%) em abril último, já descontada a sazonalidade, e apresentou o pior resultado em relação a abr/24 (-5,4%). Alimentos e bebidas elaborados para consumo doméstico (-3,2%) e combustíveis (-9,2%) exerceram as maiores influências negativas, segundo o IBGE.
Já bens de consumo duráveis continuaram crescendo, mas em um ritmo bem mais modesto. Na margem, sua produção ficou próxima da estabilidade (+0,4%) e em relação ao quadro de um ano atrás, as taxas de crescimento de dois dígitos deram lugar a um resultado de +2,0% em abr/25. Vale lembrar aqui a importância do crédito e do nível de taxas de juros para a dinamização dos mercados destes bens.
O mesmo vale para bens de capital, cuja produção também vem perdendo fôlego. Sua reação a partir do 2º trim/24, com resultados acima de +10%, deu lugar a uma expansão de +4,9% em jan-mar/25 e então a um declínio de -3,3% em abr/25. A intensidade desta queda reflete em parte o efeito calendário adverso mencionado anteriormente, tal como para os demais casos, mas não altera a tendência de acomodação.
Bens de capital para a própria indústria, bem como aqueles de uso misto, seguiram com aumento de produção em abr/25, ainda que em menor intensidade. Este é um dado positivo, pois pode indicar investimentos no setor, tão necessários para a modernização de nossa indústria.
Por fim, bens intermediários, que representam o núcleo duro do sistema industrial, vêm logrando certa resiliência, com base na produção de têxteis (+10,1% em abr/25 ante abr/24) e defensivos agrícolas (+19,4%), mas também na siderurgia (+7,3%).
Resultados da Indústria
De acordo com os últimos dados divulgados pelo IBGE, a produção industrial do Brasil variou apenas +0,1% na série com ajuste sazonal na passagem entre mar/25 e abr/25, após assinalar crescimento de +1,2% no mês anterior.
Na série sem ajuste sazonal, no confronto com igual mês do ano anterior, o total da indústria recuou -0,3% em abr/25, interrompendo dez meses consecutivos de taxas positivas. Cabe destacar que esta evolução foi influenciada por um efeito-calendário negativo, já que abr/25 teve dois dias úteis a menos do que igual mês do ano anterior.
Dessa forma, no acumulado dos quatro primeiros meses de 2025, o setor industrial avançou +1,4%. A taxa anualizada, isto é, no acumulado dos últimos doze meses, registrou +2,4%, permanecendo em terreno positivo, porém indicando arrefecimento do ritmo de crescimento frente ao resultado de mar/25 (+3,1%).
A variação de +0,1% da atividade industrial na passagem de mar/25 para abr/25 na série com ajuste sazonal teve perfil generalizado, com três dos quatro macrossetores assinalando maior produção.
Bens de capital (+1,4%) apresentou o resultado positivo mais acentuado nesta comparação, eliminando a perda de -0,5% verificada no mês anterior. Os macrossetores produtores de bens intermediários (+0,7%) e bens de consumo duráveis (+0,4%) também registraram crescimento. Por outro lado, os bens de consumo semi e não duráveis, ao recuar -1,9%, registrou a única taxa negativa e eliminou parte do avanço de +2,8% registrado em mar/25.
Na comparação mês/mesmo mês do ano anterior, o decréscimo de -0,3% da indústria total em abr/25 foi puxado por dois dos quatro macrossetores. Bens de consumo semi e não duráveis (-5,4%) e bens de capital (-3,3%) assinalaram as taxas negativas entre as categorias econômicas, enquanto os setores produtores de bens intermediários (+1,9%) e de bens de consumo duráveis (+2,0%) apontaram os resultados positivos.
O macrossetor de bens de consumo semi e não duráveis assinalou recuo de -5,4% na comparação interanual, após avançar +2,4% em mar/25, quando interrompeu quatro meses consecutivos de taxas negativas. O desempenho negativo foi explicado pelos recuos observados em todos os seus grupamentos, com destaque para alimentos e bebidas elaborados para consumo doméstico (-3,2%), carburantes (-9,2%) e não duráveis (-6,7%).
A produção dos bens de capital ao recuar -3,3% frente a abr/24, marcou a segunda taxa negativa consecutiva e intensificou o ritmo de perda frente ao resultado do mês anterior (-0,8%). O segmento foi influenciado pelo recuo observado no grupamento de bens de capital para equipamentos de transporte (-12,0%), bens de capital para construção (-12,7%), para energia elétrica (-5,1%) e agrícolas (-1,0%). Por outro lado, os subsetores de bens de capital para fins industriais (+2,7%) e de uso misto (+7,1%) assinalaram as influências positivas nesta comparação em abr/25.
Ainda no confronto com igual mês do ano anterior, a produção de bens intermediários cresceu +1,9% em abr/25, sendo essa a segunda taxa positiva consecutiva. Esse resultado deveu-se pelos avanços nos produtos associados às atividades de indústrias extrativas (+10,2%), metalurgia (+4,4%), produtos químicos (+3,2%), produtos têxteis (+10,1%) e coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (+0,4%), enquanto as pressões negativas foram registradas por produtos alimentícios (-5,5%), celulose, papel e produtos de papel (-4,4%), produtos de minerais não metálicos (-1,7%), máquinas e equipamentos (-3,5%), produtos de metal (-1,5%), produtos de borracha e de material plástico (-1,1%) e veículos automotores, reboques e carrocerias (-0,4%).
Os bens de consumo duráveis assinalaram expansão de +2,0%, a décima primeira taxa positiva consecutiva. O macrossetor foi impulsionado pela maior fabricação de automóveis (+3,9%), eletrodomésticos da “linha marrom” (+8,7%), motocicletas (+5,4%) e outros eletrodomésticos (+3,1%). Por outro lado, os principais impactos negativos foram assinalados pelos eletrodomésticos da “linha branca” (-17,7%) e móveis (-2,0%).
Dessa forma, a indústria avança +1,4% no 1º quadrimestre de 2025, porém com perda de ritmo frente ao registrado no último quadrimestre de 2024 (+3,2%), ambas as comparações contra igual período do ano anterior. Esse movimento de menor dinamismo foi verificado nas quatro grandes categorias econômicas, com destaque para bens de capital (de +13,9% para +2,6%) e bens de consumo duráveis (de +15,3% para +8,8%), seguidos pelos bens de consumo semi e não duráveis (de +0,5% para -0,9%) e bens intermediários (de +2,7% para +1,5%).
Por dentro da Indústria de Transformação
A produção do total da indústria brasileira assinalou pequena variação positiva (+0,1%) em abr/25 frente a mar/25, na série livre dos efeitos sazonais. Pode-se destacar que em abr/25 a indústria extrativa puxou o resultado para cima, avançando +1,0% nesta comparação, enquanto a produção da indústria de transformação caiu -0,5%.
Na comparação com abr/24, entretanto, o recuo de -0,3% da indústria geral foi impactada pela indústria de transformação, que decresceu -2,0% no mesmo período, enquanto o ramo extrativo que apontou crescimento de +10,2%.
No acumulado de 2025 até abril, o resultado de +1,4% na indústria geral deveu-se tanto pelo desempenho da indústria de transformação (+1,3%), quanto pelo ramo extrativo (+1,8%).
No resultado frente a mar/25, com ajuste sazonal, taxas positivas marcaram a evolução de 13 dos 25 ramos industriais pesquisados, a exemplo de bebidas (+3,6%), veículos automotores, reboques e carrocerias (+1,0%) e impressão e reprodução de gravações (+11,0%).
Por outro lado, entre as atividades que mostraram queda na produção, coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-2,5%) e produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-8,5%) exerceram os principais impactos na média da indústria, segundo o IBGE, com ambas eliminando parte dos avanços verificados em março.
Já na comparação com abr/24, quando o setor industrial geral assinalou decréscimo de -0,3% em abr/25, os resultados negativos marcaram 16 dos seus 25 ramos, 48 dos 80 grupos e 53,7% dos 789 produtos pesquisados pelo IBGE.
Entre as atividades, as principais influências negativas na indústria de transformação foram registradas por produtos alimentícios (-4,9%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-2,9%), veículos automotores, reboques e carrocerias (-3,7%) e produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-9,0%). Outras contribuições negativas importantes foram assinaladas pelos ramos de máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-6,7%), de celulose, papel e produtos de papel (-3,8%), de impressão e reprodução de gravações (-17,5%), de artefatos de couro, artigos para viagem e calçados (-5,3%), de confecção de artigos do vestuário e acessórios (-3,8%), de produtos.
Por outro lado, entre as atividades que apontaram expansão na produção, metalurgia (+4,4%), manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos (+10,4%), máquinas e equipamentos (+2,5%), produtos têxteis (+6,6%), bebidas (+2,5%) e produtos químicos (+0,9%) exerceram as maiores influências na formação da média da indústria de transformação.
No acumulado de jan-abr/25, frente a igual período do ano anterior, em que o setor industrial assinalou avanço de +1,4%, 16 dos 25 ramos, 50 dos 80 grupos e 53,9% dos 789 produtos pesquisados.
Entre as atividades, as principais influências positivas foram registradas por máquinas e equipamentos (+9,3%), veículos automotores, reboques e carrocerias (+4,8%), produtos químicos (+4,2%), e metalurgia (+4,7%).
Outras contribuições positivas importantes foram assinaladas pelos ramos de produtos têxteis (+11,8%), manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos (+8,8%), produtos de metal (+2,7%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (+3,5%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (+3,1%) e móveis (+5,0%).
Por outro lado, ainda na comparação com janeiro-abril de 2024, o setor de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-2,6%) exerceu a maior influência na formação da média da indústria de transformação, seguido por pelos setores de produtos alimentícios (-0,7%), celulose, papel e produtos de papel (-2,5%), bebidas (-2,3%) e impressão e reprodução de gravações (-11,3%).
Utilização de Capacidade
A utilização da capacidade instalada da indústria de transformação, de acordo com a série da FGV com ajustes sazonais, variou positivamente +1,5 ponto percentual na passagem de mar/25 (81,5%) para abr/25, quando registrou valor de 83,0%. Em mai/25, a capacidade instalada cresceu mais uma vez, para 83,7%.
De acordo com os dados da CNI, a utilização da capacidade instalada recuou entre março e abril de 2025 (77,9%), considerando os dados livres de efeitos sazonais. Na comparação entre abr/24 e abr/25, essa variável registrou queda de -2,7 pontos percentuais.
Estoques
De acordo com os dados da Sondagem Industrial da CNI, o indicador da evolução dos estoques de produtos finais da indústria total ficou em 49,5 pontos em abr/25, avançando +0,8 ponto frente a mar/25. Por se encontrar abaixo da marca dos 50 pontos, o movimento foi de redução de estoques.
No caso do segmento da indústria de transformação, o indicador da CNI foi de 48,5 pontos em mar/25 para 49,3 pontos em abr/25. A indústria extrativa assinalou alta nos níveis dos estoques, visto que foi de 51,5 pontos em mar/25 para 53,2 pontos em abr/25.
Já o indicador de satisfação dos estoques para a indústria geral subiu de 48,9 pontos em mar/25 para 49,3 pontos em abr/25, mas ainda sinalizando que os estoques estão menores que o desejado. O nível de equilíbrio é de 50,0 pontos, acima do qual o indicativo é de excesso de estoques e abaixo dele, estoques menores do que o desejado.
No caso do setor extrativo e no caso da indústria de transformação, o indicador de satisfação registrou 55,4 pontos e 49,1 pontos, respectivamente. Ou seja, no primeiro caso haveria excesso de estoques e no segundo caso, estoques insuficientes.
Em abr/25, 24% dos ramos industriais apresentaram estoques maiores do que o planejado (acima de 50 pontos), enquanto no mês anterior foi de 20%. Entre os ramos iguais ou acima de 50 pontos destacaram-se: têxteis (55,6 pontos), couros (52,8 pontos), farmacêuticos (52,1 pontos), químicos (51,0 pontos), vestuário (50,4 pontos) e material plástico (50,3 pontos). Ficaram abaixo e mais distantes do equilíbrio os seguintes ramos: biocombustíveis (40,6pontos), borracha, madeira e impressão e reprodução (todos com 43,8 pontos).
Confiança e Expectativas
O Índice de Confiança do Empresário da Indústria de Transformação da CNI registrou 48,9 pontos em mai/25, avançando 0,9 p.p. frente a abr/25. Na passagem de abr/25 para mai/25, o componente referente às expectativas em relação ao futuro foi de 50,7 para 51,3 pontos, e dessa forma, manteve-se na zona de otimismo.
O componente que capta a percepção dos empresários quanto a evolução presente dos negócios, por sua vez, decresceu -1,3 p.p. e mantendo-se na região pessimista (44,0 pontos), o que não traz uma sinalização favorável para o resultado da indústria no mês de mai/25, ainda a ser divulgado pelo IBGE.
O Índice de Confiança da Indústria de Transformação (ICI) da FGV subiu +0,9 p.p na passagem de abr/25 para mai/25, registrando 98,9 pontos. O valor de equilíbrio deste indicador é 100, apontando pessimismo ao ficar abaixo dele e otimismo ao superá-lo.
O resultado de mai/25 foi influenciado pela alta do seu componente referente às avaliações do futuro, que passou de 96,0 pontos em abr/25 para 98,7 pontos em mai/25, enquanto índice da situação atual teve queda de 100,1 pontos em abr/25 para 99,1 pontos, indicando, por tanto, uma evolução mais adversa.
Outro indicador utilizado para avaliar a perspectiva do dinamismo da indústria é o Purchasing Managers’ Index – PMI Manufacturing, calculado pela consultoria Markit Financial Information Services. Em abr/25 ficou em 50,3 pontos, recuando para 49,4 pontos em mai/25. Dessa forma, pela primeira vez desde dez/23 (48,4 pontos), esse indicador ficou abaixo da marca de 50 pontos, indicando piora do quadro de negócios do setor.