Carta IEDI
Sem progressos na virada do ano
A indústria começou 2023 com o pé esquerdo. Mais uma vez o setor registrou declínio de sua produção, ainda que, em seu agregado, a queda não tenha sido das mais intensas: -0,3% na passagem de dez/22 para jan/23, já descontados os efeitos sazonais. Os sinais negativos, contudo, foram relativamente difundidos entre seus diferentes ramos e parques regionais.
Dos 25 ramos identificados pelo IBGE, houve perda de produção em 11 agora em jan/23. Ou seja, uma parcela de 44% do total. Regionalmente, 8 dos 15 parques regionais ficaram no vermelho, uma proporção de ou 53% do total.
Cabem ainda duas observações. Setorialmente, foi mais expressivo o número de ramos que perderam dinamismo, isto é, que apresentaram um resultado mais fraco em jan/23 do que em dez/22, mesmo seguindo no positivo: 14 dos 25 ramos ou 56% do total. Além disso, importantes centros industriais do centro-sul do país tiveram perdas bem mais intensas do que a média nacional, como São Paulo, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro.
Agrupada em macrossetores, muito do mau resultado industrial de jan/23 coube à parcela produtora de bens de capital: -4,8% frente a dez/22, com ajuste. Bens intermediários (-0,8%) e bens de consumo duráveis (-1,3%) caíram mais do que o total da indústria e o macrossetor de bens de consumo semi e não duráveis ficou virtualmente estagnado (+0,1%).
Em todos os macrossetores, jan/23 trouxe deterioração em relação ao final do ano passado, mesmo no caso de bens semi e não duráveis. Com isso, a grande maioria dos ramos industriais (76% deles) ficaram em níveis de produção inferiores aos do pré-pandemia (fev/20) e entre estes mais da metade (58%) registrou defasagem de dois dígitos.
Entre os parques regionais da indústria este gap também se verificou de forma difundida. Em 10 localidades, ou 67% do total, o nível de produção em jan/23 ficou aquém do pré-pandemia, sendo que em 6 destas, ou seja, em 60% delas, a defasagem foi de dois dígitos.
Ou seja, passada a recuperação conjuntural do choque da pandemia, turbinada por medidas anticíclicas, como a criação do Auxílio Brasil, a indústria retomou uma trajetória descendente que em muitos casos levou a ramos e parques regionais a uma situação mais difícil do que o momento que antecedeu a chegada do Covid-19 no Brasil.
Na comparação com o mesmo mês do ano anterior, o desempenho industrial neste início de 2023 não chegou a declinar, mas foi bastante modesto, de +0,3%. E isso com ajuda de um efeito calendário positivo, já que jan/23 teve um dia útil a mais do que jan/22. Tal resultado também não foi suficiente para compensar o recuo de dez/22 (-0,4%). Ou seja, não houve progressos na virada do ano.
O pior resultado sob este prisma ficou igualmente a cargo de bens de capital (-6,6% ante jan/22), que está no vermelho desde set/22. Muito disso coube à produção de bens de capital para a própria indústria, com queda de -13,8%, e de bens de capital de uso misto, com -22,2%.
A produção de bens intermediários, por sua vez, encolheu -1,7% em relação a jan/22, com influência importante de siderurgia (-9,1%), insumos para construção civil (-2,9%) e produtos derivados de petróleo (-3,1%).
Já os bens de consumo cresceram, com ajuda de bases baixas de comparação. Bens de consumo duráveis registraram +13,9% em jan/22, puxados por automóveis (+14,7%) e outros equipamentos de transporte (+48,4%). Bens de consumo semi e não duráveis ampliaram produção em +4,6%, sob influência de álcool e gasolina (+3,0%), laticínios (+3,8%), carnes suínas e de aves (+9,3%) e farmacêuticos (+34,1%).
Resultados da Indústria
Depois de ter encerrado o ano de 2022 estagnada, a indústria entrou em 2023 novamente no negativo. Os dados divulgados pelo IBGE assinalam que a indústria variou -0,3% na passagem de dez/22 para jan/23, já corrigidos os efeitos sazonais. Este resultado ocorreu após registrar apontar variação nula (0,0%) em dez/22, quando interrompeu dois meses consecutivos de crescimento. Com o resultado do primeiro mês de 2023, a indústria brasileira encontra-se 2,3% abaixo do patamar pré-pandemia da Covid-19 (fev/20).
Frente a janeiro de 2022, na série sem ajuste sazonal, o desempenho industrial neste início de ano não chegou a declinar, mas foi de apenas +0,3%, contando com ajuda de um efeito calendário positivo – jan/23 teve um dia útil a mais do que jan/22. Tal resultado também não anulou o declínio de dez/22 (-0,4%).
No indicador acumulado nos últimos 12 meses, o setor registrou queda de -0,2% em jan/23. A variação, apesar de negativa, foi a menos intensa desse abr/22, quando deixou a região positiva.
Em relação às grandes categorias industriais, na comparação entre jan/23 e dez/22, na série com ajuste sazonal, houve variação negativa em quase todos os macrossetores industriais. Bens de capital (-4,2%) assinalaram a taxa negativa mais acentuada em jan/23, intensificando a perda de -1,6% registrada em dez/22.
Os setores produtores de bens de consumo duráveis (-1,3%) e de bens intermediários (-0,8%) também apontaram redução na produção, com o primeiro eliminando parte do crescimento de +5,3% acumulado no período de nov-dez/22; e o último marcando o segundo mês seguido de queda e acumulando perda de -1,5% nesse período.
Por outro lado, o setor produtor de bens de consumo semi e não duráveis (+0,1%) apontou o único avanço no mês nessa base de comparação, permanecendo com o desempenho predominantemente positivo iniciado em out/22, acumulando nesse período ganho de +2,3%.
Na comparação com jan/22, a alta de +0,3% da indústria geral foi puxada por metade dos quatro macrossetores. Bens de consumo duráveis (+13,9%) e bens de consumo não duráveis (+4,6%) assinalaram os resultados positivos entre as grandes categorias econômicas, enquanto os setores produtores de bens intermediários (-1,7%) e de bens de capital (-6,6%) registraram os recuos nesse mês.
O setor produtor de bens de capital caiu -6,6% frente a igual período do ano anterior, quinta taxa negativa consecutiva e a mais intensa desde agosto de 2020 (-14,5%). O segmento foi influenciado, principalmente, pelo recuo observado no grupamento de bens de capital para fins industriais (-13,8%), pressionado pela menor produção de bens de capital não-seriados (-58,2%) e dos seriados (-3,1%). Por outro lado, os impactos positivos foram assinalados pelos subsetores de bens de capital agrícolas (+17,2%) e para construção (+0,6%).
O segmento de bens intermediários recuou -1,7% em jan/23 frente a jan/22, intensificando a variação negativa de -0,2% de dez/22. O resultado foi explicado pelos recuos de minerais não metálicos (-10,6%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-3,8%), produtos químicos (-5,3%), metalurgia (-3,4%), e máquinas e equipamentos (-8,5%). As pressões positivas foram vieram de produtos de borracha e de material plástico (+4,3%), produtos alimentícios (+1,2%) e de veículos automotores, reboques e carrocerias (+1,1%).
Bens de consumo duráveis (+13,9%) tiveram a maior alta, após recuar -4,3% no mês anterior, quando interrompeu quatro meses consecutivos de taxas positivas nesse tipo de comparação. O resultado desse mês foi o mais intenso desde junho de 2021 (+31,7%). O setor foi impulsionado pela expansão na fabricação de automóveis (+14,7%) e de eletrodomésticos da “linha marrom” (+26,1%).
A produção de bens de consumo semi e não duráveis cresceu +4,6%, devido, principalmente a expansões em: alimentos e bebidas elaborados para consumo doméstico (+5,0%) carburantes (+3,0%), influenciado pela expansão na produção de álcool etílico. Por outro lado, os grupamentos de semiduráveis (-5,7%) e de alimentos e bebidas básicos para consumo doméstico (-5,1%) tiveram reduções.
Por dentro da Indústria de Transformação
A variação negativa (-0,3%) da produção da indústria geral em jan/23 frente a dez/22, na série livre dos efeitos sazonais, foi acompanhada de variação de -0,8% na indústria de transformação e alta de +1,8% no ramo extrativo. Com o resultado de jan/23, a indústria de transformação e o ramo extrativo se encontram 2,9% abaixo do nível de produção pré-pandemia de fev/20.
Na comparação com jan/22, enquanto a indústria geral avançou +0,3%, o desempenho da indústria de transformação foi de -0,1%. O ramo extrativo, por sua vez, após apresentar quedas consecutivas em nov/22 (-3,7%) e dez/22 (-4,5%), voltou a ficar no azul em jan/23 (+2,0%).
Na variação negativa de -0,3% da atividade industrial na passagem de dez/22 para jan/23, 11 dos 25 ramos pesquisados mostraram recuo na produção. Entre as influências negativas mais importantes ficaram: produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-13,0%), veículos automotores, reboques e carrocerias (-6,0%), produtos alimentícios (-2,1%) e coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-1,5%).
Por outro lado, entre as 14 atividades em crescimento, vale destacar os avanços registrados por produtos diversos (+9,2%), produtos de borracha e de material plástico (+1,6%) e produtos de minerais não metálicos (+2,1%).
Já na comparação com jan/22, o setor industrial assinalou avanço de +0,3% agora em jan/23, com resultados positivos em 9 dos 25 ramos, 38 dos 80 grupos e 47,1% dos 789 produtos pesquisados. Vale citar que janeiro de 2023 (22 dias) teve um dia útil a mais do que igual mês do ano anterior (21).
As maiores influências positivas nesta comparação vieram de: produtos alimentícios (+4,6%), farmoquímicos e farmacêuticos (+34,1%), outros equipamentos de transporte (+27,0%), veículos automotores, reboques e carrocerias (+2,2%) e móveis (+9,2%), além das indústrias extrativas (+2,0%).
Em direção oposta, entre as 16 atividades que tiveram redução de produção, produtos de minerais não metálicos (-10,6%), produtos de madeira (-21,5%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-2,1%) e equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-12,6%) exerceram as maiores influências.
Utilização de Capacidade
A utilização da capacidade instalada da indústria de transformação, de acordo com a série da FGV com ajustes sazonais, recuou pelo sexto mês consecutivo (-0,8 ponto percentual) na passagem de dez/22 (79,6%) para jan/23, quando registrou valor de 78,8%, o menor patamar desde mai/21. A capacidade utilizada na indústria ficou 2,6 pontos percentuais acima do indicador pré-pandemia (fev/20:76,2%), porém ainda abaixo da média histórica (79,6%).
De acordo com os dados da CNI, a utilização da capacidade instalada da indústria de transformação caiu ficou estável em 79,7% em jan/23, após recuar 0,4 p.p. de nov/22 para dez/22, na série de dados sem ajuste sazonal. A capacidade utilizada na indústria ficou 3,0 pontos percentuais acima do indicador pré-pandemia (fev/20:76,7%), porém ainda abaixo da média histórica (80,6%).
Estoques
De acordo com os dados da Sondagem Industrial da CNI, o indicador da evolução dos estoques de produtos finais da indústria total ficou em 49,8 pontos, crescendo 0,3 pontos frente a dez/22, porém ainda não superando a queda do mês anterior (-0,8 pontos). Como ficou em patamar inferior à marca de 50 pontos, sinalizava redução de estoques. Já em fev/23, o indicador voltou a superar os 50 pontos, indicando, assim, expansão dos estoques (50,6 pontos).
No caso do segmento da indústria de transformação, o indicador da CNI avançou de 49,5 pontos em dez/22 para 49,8 pontos em jan/23. A indústria extrativa, assinalou mesma dinâmica, visto que foi de 47,7 pontos em dez/22 para 48,2 pontos em jan/23.
Para a indústria geral, o indicador de satisfação dos estoques ficou em 51,6 pontos em jan/23, sinalizando que há excesso de estoques frente ao planejado. Vale lembrar que a marca de equilíbrio é dada pelo valor de 50 pontos, acima do qual há excesso de estoques e abaixo dele, estoques menores do que o desejado. No caso do setor extrativo e no caso da indústria de transformação, o indicador de satisfação registrou 51,6 pontos e 51,7 pontos, respectivamente.
Em jan/23, 36% dos ramos industriais apresentarem estoques menores do que o planejado (abaixo de 50 pontos). Entre os ramos iguais ou acima de 50 pontos destacam-se: bebidas (55,1 pontos), minerais não metálicos (54,7 pontos), têxteis (54,5 pontos) e calçados (54,3 pontos), entre outros. Ficaram abaixo e mais distantes do equilíbrio os seguintes ramos: máquinas e materiais elétricos (43,1 pontos), borracha (43,4 pontos), farmacêuticos (43,8 pontos), impressão e reprodução (46,4 pontos) e veículos automotores (46,9 pontos).
Confiança e Expectativas
O Índice de Confiança do Empresário da Indústria de Transformação da CNI registrou 50,6 pontos em fev/23, ganhando 2,0 pontos em relação a jan/23 (48,6 pontos). Ao ficar acima da marca de 50 pontos, sinalizava um quadro de otimismo. Em mar/23, por sua vez, esse indicador voltou a ficar na área de pessimismo, isto é, abaixo da marca de 50 pontos (49,9 pontos).
Na passagem de jan/23 para fev/23, o componente referente às expectativas em relação ao futuro foi de 48,8 para 52,9 pontos, recuando 0,2 p,p em mar/23. Já o componente que capta a percepção dos empresários quanto à evolução presente dos negócios recuou -2,4 p.p., também ficando na região pessimista (45,9 pontos), recuando novamente em mar/23 (44,2 pontos).
O Índice de Confiança da Indústria de Transformação (ICI) da FGV, também apresentou piora da confiança na passagem de jan/23 (93,1 pontos) para fev/23, que registrou 92,0 pontos, ainda ficando na região de pessimismo, ou seja, abaixo de 100 pontos.
O resultado de fev/23 foi influenciado por seu componente referente às avaliações da situação futura, que passou de 93,2 pontos em jan/23 para 91,4 pontos em fev/23 e pelo índice de situação atual, saindo de 93,1 pontos para 92,8 pontos, respectivamente.
Outro indicador frequentemente utilizado para se avaliar a perspectiva do dinamismo da indústria é o Purchasing Managers’ Index – PMI Manufacturing, calculado pela consultoria Markit Financial Information Services. Em jan/23 ficou em 47,5 pontos, subindo para 49,2 pontos em fev/23. Já que o indicador permaneceu abaixo da marca de 50 pontos, indicava piora do quadro de negócios do setor. Em mar/23 houve nova deterioração.
Anexo Estatístico
Mais Informações
Tabela: Produção Física - Subsetores Industriais
Variação % em Relação ao Mesmo Mês do Ano Anterior (clique aqui)