IEDI na Imprensa - Estudo do Iedi indica ações para cortar custo de energia
Valor Econômico
Proposta sugere que ações coordenadas também poderiam gerar demanda extra para o setor industrial
Alessandra Saraiva
A combinação de sete linhas de ação simultâneas poderia reduzir em até 32% os custos anuais de energia da indústria; gerar demanda adicional para as indústrias equivalente a cerca de 15% do PIB do setor; e diminuir emissões de gás carbônico em até 10,5% do total líquido do segmento fabril nacional por ano. Os cálculos constam do levantamento “Carta IEDI - Alavancas para a Infraestrutura e Indústria”, do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), antecipado ao Valor.
Rafael Cagnin, diretor-executivo do instituto, explica que, diferente de ações anteriores do governo e da iniciativa privada para a indústria e a infraestrutura do país, as recomendações do IEDI sugerem abordagem integrada e contínua, com todas as iniciativas implementadas ao mesmo tempo.
No estudo, Cagnin chama as linhas de ação de “alavancas”. Do total de alavancas, três são da área de energia; duas envolvem infraestrutura de transporte; e duas são consideradas “transversais” pelo pesquisador, pois atuariam para potencializar as cinco primeiras.
Na área de energia, ele defende ampliação do acesso ao gás natural a preços competitivos; redução do custo da energia elétrica e potencialização da matriz renovável. As duas alavancas de infraestrutura são a diversificação dos modais de transporte e a melhoria da malha rodoviária existente.
A primeira alavanca transversal é o fortalecimento de mecanismos de financiamento e incentivo ao investimento privado, que englobariam ampliação de concessões, Parcerias Público-Privadas (PPPs), garantias e instrumentos de mitigação de risco regulatório. A segunda seria o aprimoramento na seleção, priorização e execução de projetos de infraestrutura, com base em impacto industrial, previsibilidade regulatória e capacidade institucional.
No caso do acesso a gás natural, o IEDI destaca que a infraestrutura atual é menor que a demanda. Isso encarece o insumo para a indústria em relação a outros países.
O IEDI mapeou valores médios anuais de gás praticados em 2023 no mundo. O instituto concluiu que, enquanto o preço do gás à indústria na China foi de US$ 9 por milhão de BTUs (unidade de medida térmica do valor energético); e, nos Estados Unidos, foi de US$ 6 por milhão de BTUs; no Brasil o preço para a indústria ficou em US$ 21 por milhão de BTUs.
A concentração da produção em poucas empresas, principalmente em campos do pré-sal, cuja extração é mais cara, e infraestrutura insuficiente para escoamento são algumas das razões para o preço mais alto, segundo o instituto. Para resolver o problema, algumas sugestões foram fortalecer o mercado livre de gás, com retirada de possíveis barreiras regulatórias e operacionais, e ampliar a diversificação de importação.
O estudo mostra que a ampliação do acesso ao gás com preços mais competitivos poderia gerar redução de custo de R$ 15 bilhões a R$ 35 bilhões por ano, o que representaria entre 10% e 25% do gasto do setor com energia.
No caso do custo de energia, foi defendida reformulação na estrutura tarifária. Cagnin afirma que a redução de encargos e subsídios embutidos na tarifa poderia gerar economia anual entre R$ 5 bilhões e R$ 10 bilhões, algo como 5% a 7% do custo do insumo na indústria.
No caso da potencialização de renováveis, o IEDI sugere combinar diferentes ações simultâneas. Uma delas é ampliar o espaço à produção e o uso de hidrogênio verde.
O IEDI detalha que o custo estimado para a produção de hidrogênio verde conectado à rede elétrica nacional em 2030 é de US$ 4 por quilo. Segundo o instituto, há potencial para reduzir o preço para US$ 2,20 a longo prazo.
Na área de infraestrutura, o instituto foi taxativo em classificar como insuficiente a qualidade da malha rodoviária. Esse quadro resulta em maior consumo de combustível, o que eleva custos de transporte, além gerar atrasos.
Cálculos do IEDI indicam que a melhora de qualidade de trechos relevantes da malha poderia reduzir custos logísticos para a indústria de R$ 15 bilhões a R$ 50 bilhões por ano. Além disso, o estudo mostra que maior eficiência do transporte rodoviário pode contribuir para a redução de emissões, originadas da indústria, entre 15 e 50 milhões de toneladas de CO2 equivalente por ano.
Por último, o IEDI destaca que é preciso aumentar volumes transportados por ferrovias e cabotagem. Isso representaria redução de custos, aumento de eficiência e mitigação de impactos ambientais no modal de transportes.
“Investimento em infraestrutura é crucial. Porque é um grande vetor de redução de custo sistêmico e de ampliação de competitividade e produtividade”, diz Cagnin.
Roberto Ardenghy, presidente do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), ressalta que a infraestrutura de transporte de gás no Brasil é insuficiente. “O Brasil hoje é um país absolutamente subdesenvolvido na questão da rede de transporte de gás. Temos hoje 12 mil quilômetros de [rede de] transporte, enquanto os Estados Unidos têm 600 mil quilômetros”, afirmou. Ele explicou que esse é um dos motivos pelo qual o gás, para a indústria brasileira, é tão mais caro do que em solo americano.
Para Ardenghy, entraves regulatórios impedem avanço mais ágil de infraestrutura para o gás no Brasil. Outras limitações, diz, são prazo alongado para concessão de licenças ambientais, carga tributária elevada e ausência de regulamentação dos critérios de cálculo de tarifas de transporte de gás.
Investir em infraestrutura não é importante somente para setor de petróleo e gás e deve ser considerado como prioridade para a competitividade e o longo prazo da economia, acrescenta o gerente de Estudos Econômicos da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), Jonathas Goulart. “A infraestrutura, tanto em portos, ferrovias, infraestrutura de tecnologia, de fato tem um papel muito importante e isso precisa ser entendido como uma prioridade não de governo, mas de país”, disse.
Ele pondera que, no caso de investimento público para infraestrutura, é preciso atenção à questão fiscal. Quanto mais o governo gasta, ponderou, isso pode funcionar como mecanismo de estímulo de aquecimento à atividade econômica. E, quando a economia se encontra aquecida, notou, é mais provável que se renove a política monetária mais restritiva, com aumento dos juros. “O primeiro passo é a gente ter um equilíbrio fiscal de médio e longo prazos, que abra espaço para investimento público, mas que também abra espaço para redução da taxa de juros a médio e longo prazos”, afirmou.
