IEDI na Imprensa - Indústria deve garantir expansão perto de 3% em 2024, mas alta da Selic é risco à frente, dizem economistas
Valor Econômico
Produção industrial brasileira cresceu 0,1% em agosto ante julho, variação considerada como estabilidade pelo IBGE
Marcelo Osakabe
A estabilidade da indústria em agosto, na comparação com julho, significa que o setor manteve o bom ritmo de atividade no terceiro trimestre e deve garantir um crescimento perto de 3% em 2024, avaliam economistas. Eles ponderam, no entanto, que fatores como o novo ciclo de altas de juros pelo Banco Central, pode prejudicar o segmento, em especial a manufatura.
Divulgada nesta quarta-feira (02), a produção da indústria brasileira cresceu 0,1% em agosto ante julho, variação considerada como estabilidade pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A leitura veio em linha com a mediana das 25 estimativas ouvidas pelo Valor Data, que variavam entre queda de 0,7% a alta de 1,4%. Na comparação com agosto de 2023, a produção industrial subiu 2,2% em agosto, ligeiramente abaixo da mediana de 2,3% do Valor Data.
“Nas aberturas, observamos uma expansão marginal da indústria extrativa, compensando parte do resultado fraco de julho, e mais uma contração da transformação. Qualitativamente, portanto, o resultado parece ser um pouco pior do que o número principal”, ressalta a BRCG Consultoria em nota a clientes. “Juntando todas as informações, não nos parece que o resultado de agosto muda o cenário. Depois de um repique no último trimestre, a indústria anda de lado no 3º trimestre. O resultado segue consistente com crescimento do PIB de aproximadamente 3,0% em 2024.”
Rodrigo Nishida, da LCA Consultores, nota que o carrego estatístico - o resultado que se espera caso o setor se mantenha estável - para o ano já está em 2,5%. Ele prevê, no entanto, algum crescimento adicional nos próximos meses, levando a uma alta de 3,0% no ano.
Fato importante, diz, é o espalhamento do entre os segmentos, especialmente no caso da manufatura, que tem decepcionado nos últimos anos, ressalta Nishida. Fatores como alta do imposto de importação em alguns segmentos e planos setoriais como o Nova Indústria Brasil (NIB), Mover (do setor automotivo) podem estar ajudando também, acrescenta.
Já Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), avalia que a estabilidade em agosto sinaliza dificuldade em encontrar elementos que deem impulso após o primeiro semestre positivo. “A trajetória incipiente no curto prazo mostra que o bom desempenho com que a indústria deve acabar o ano é mais devido à base de comparação fraca do que fatores atuais”, diz.
Ele ressalta que as maiores quedas em agosto entre segmentos atingiram justamente as estrelas de 2024. Bens duráveis (-1,3%) ainda cresce no acumulado dos últimos três meses, mas bens de capital (-4,0%) apagou os ganhos de junho e julho com a virada de agosto.
“Olhando adiante, alguns fatores podem mitigar esse crescimento baseado sobretudo no que já ocorreu, como os incêndios que prejudicaram a indústria de álcool e açúcar, a estiagem, que elevou o custo da energia elétrica, o que pode bater na demanda dos consumidores, e as altas da Selic, que devem interromper o ciclo positivo do setor de bens de capital - este último conseguiu o primeiro resultado positivo no 2º trimestre desde o fim de 2021”, diz Cagnin.
Após o dado, a Federação da Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) revisou a projeção da produção industrial de 2,2% para 2,9% em 2024. A entidade também chamou atenção para a novo ciclo de aumento da Selic, “que tende a pesar contra a continuidade do processo de recuperação em curso para a indústria de transformação . Devido aos efeitos defasados da política monetária, as decisões de aumentar a taxa de juros atualmente, sobretudo em um ambiente em que as condições financeiras já estavam restritivas, terão efeitos sobre o nível de atividade industrial em 2025.”
Já Nishida, da LCA Consultores, projeta uma desaceleração em linha com o restante da economia em 2025. “Sem mostrar a dificuldade dos últimos anos, sem decepcionar. Vejo uma expansão na casa dos 2%”, diz.