IEDI na Imprensa - PIB cresce 2,9% em 2023, três vezes o resultado previsto no início do ano
O Globo
Agropecuária, que teve desempenho recorde, puxa resultado, que somou R$ 10,9 trilhões. Consumo desacelera e investimento cai. No segundo semestre, atividade econômica ficou estagnada
Carolina Nalin e Vinicius Neder
A economia brasileira cresceu três vezes o resultado previsto no início do ano passado e fechou 2023 em R$ 10,9 trilhões. No primeiro ano do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Produto Interno Bruto (PIB, valor de todos os bens e serviços produzidos) cresceu 2,9%, informou nesta sexta-feira o IBGE. A economia foi puxada principalmente pelo desempenho do agronegócio, que teve expansão recorde.
Na primeira semana de janeiro do ano passado, o Boletim Focus – relatório do Banco Central (BC) que compila projeções de analistas – apontava para um crescimento de apenas 0,78% em 2023. O número foi subindo à medida que dados mais positivos foram sendo divulgados ao longo do ano.
No último trimestre, o PIB ficou estável na comparação com o terceiro trimestre, ante a ligeira alta de 0,1% apontada pelas projeções de economistas compiladas em pesquisa do jornal Valor.
Veja o desempenho de 2023 por indicador:
- Agropecuária: + 15,1%
- Serviços: 2,4%
- Indústria: + 1,6%
- Consumo das famílias: 3,1%
- Consumo do governo: + 1,7%
- Investimento: -3%
- Importações: -1,2%
Exportações: + 9,1%
Crescimento recorde do agro
O crescimento concentrado na primeira metade do ano está relacionado com um dos responsáveis pela surpresa positiva com o PIB de 2023: a agropecuária. A supersafra de grãos foi um dos motores da economia, ao lado da indústria extrativa, que inclui os setores de mineração e petróleo e gás, e dos serviços, que respondem por quase 70% da economia e foram impulsionados pelo consumo das famílias e pela exportações agrícolas.
A agropecuária cresceu 15,1% no ano, impulsionando as exportações, que avançaram 9,1%. De acordo com coordenadora de contas nacionais do IBE, Rebeca Palis, "esse comportamento foi puxado muito pelo crescimento de soja e milho, duas das mais importantes lavouras do Brasil, que tiveram produções recorde".
Outra influência positiva no resultado do PIB de 2023 foi o desempenho das indústrias extrativas. A atividade teve alta de 8,7% devido ao aumento da extração de petróleo e gás natural e de minério de ferro.
Inflação menor dá empurrão a consumo
Isso ajudou o desempenho da indústria, que avançou 1,6%. O crescimento de serviços desacelerou, com a abertura econômica já consolidada no pós-pandemia, mas o setor teve expansão de 2,4%.
O consumo das famílias veio forte, com expansão de 3,1%, resultado do avanço no emprego e na renda, da elevação dos pagamentos dos programas de transferência, como o Bolsa Família, e de uma inflação menor.
Os investimentos, por sua vez, recuaram 3%, após dois anos de alta. Isso aconteceu principalmente pela menor aplicação de recursos para compra de máquinas e equipamentos, o que acabou derrubando as importações. As compras externas caíram 1,2%.
Taxa de investimento menor
Com a queda, a taxa de investimento em 2023 foi de 16,5% do PIB, menor que em 2022 (17,8%). A taxa de poupança, por sua vez, ficou em 15,4% em 2023 (ante 15,8% no ano anterior).
No quarto trimestre, o PIB não avançou em relação ao trimestre anterior. Com importantes safras concentradas no primeiro semestre, a agropecuária recuou 5,3% nos últimos três meses do ano.
Isso acontece porque a produção de soja, principal cultura de grãos do país, se concentra no primeiro semestre.
Na freada do segundo semestre de 2023, os serviços, pela ótica da oferta, e o consumo das famílias, pelo lado da demanda, garantiram algum fôlego. E mesmo a estagnação no quarto trimestre aponta para uma retomada neste ano, ainda que o crescimento anual fique abaixo do que de 2023.
Veja resultado no quarto trimestre (ante o terceiro)
- Agropecuária: - 5,3%
- Serviços: + 0,3%
- Indústria: + 1,3%
- Consumo das famílias: -0,2%
- Consumo do governo: +0,97%
- Investimento: + 0,9%
- Importações: + 0,9%
- Exportações: + 0,1%
Emprego e precatórios deverão ajudar em 2024
Com o clima atrapalhando a safra 2023/2024, a agropecuária puxará a economia para baixo, ainda que pouco. Na análise de economistas, a demanda doméstica, com destaque para o consumo das famílias, deverá ser o motor. Desde o início do ano, as projeções já têm sido revisadas para cima.
Segundo economistas do banco Santander, a retomada virá por causa do mercado de trabalho, “ainda resiliente”, e da retomada dos pagamentos de precatórios – como são chamadas as dívidas dos governos com pessoas e empresas cujo pagamento já foi reconhecido em decisões judiciais.
“Embora o reforço na criação de vagas na virada do ano tenha recebido contribuição importante de tipos de ocupação tipicamente informais (conta própria, trabalho doméstico e emprego sem carteira), os postos com carteira assinada, assim como as contratações do setor público, continuaram crescendo à frente da ocupação total”, diz um relatório divulgado pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI).
Ganho de tração em dezembro
O banco J.P.Morgan, em relatório da semana passada, chamou a atenção para alguns pontos. Primeiro, já houve ganho de tração em dezembro, conforme indicadores mensais de atividade. Segundo, os índices de confiança melhoraram em janeiro. Em terceiro lugar, a elevação da inflação neste primeiro trimestre deverá ser temporária.
“Ainda que o setor agropecuário, que foi o destaque do crescimento econômico maior do que o esperado no ano passado, seja mais fraco este ano, há boas notícias do lado da oferta. Particularmente, acreditamos que o setor de petróleo pode ser um destaque”, escreveram os analistas do J.P.Morgan, liderados pela economista Cassiana Fernandez.
Também em relatório, a corretora Genial Investimentos ressaltou que os “resultados mais positivos da economia em dezembro” e a “perspectiva de continuidade” do ciclo de queda na taxa básica de juros (a Selic, hoje em 11,25% ao ano) dão “um viés altista” para a projeção de crescimento econômico este ano. Antes da divulgação dos dados nesta sexta-feira, a Genial espera avanço de 1,4% no PIB este ano.