IEDI na Imprensa - Setor externo deve manter contribuição positiva no PIB
O Globo
Possível crescimento das exportações agrícolas e alta menor de importações favorecem desempenho no restante do ano
Marta Watanabe
O setor externo ajudou na alta do PIB no primeiro trimestre e deve manter a contribuição positiva no ano, segundo economistas. O bom desempenho do setor agropecuário deve ajudar na expansão dos embarques, mesmo em meio a um cenário de acomodação do comércio global. Um crescimento menor das importações também deve fazer com que as exportações líquidas favoreçam o PIB do ano.
De janeiro a março deste ano tanto as exportações quanto as importações cresceram na comparação com igual período de 2022. A contribuição positiva do setor externo no PIB aconteceu porque a exportação avançou 7% e a importação subiu em ritmo menor, em 2,2%. Já na comparação com o trimestre anterior a queda das importações de janeiro a março, de 7,1%, mais do que compensou o modesto recuo das exportações, que caíram 0,4%, destaca Rodolfo Margato, economista da XP. Assim, aponta ele, dentro do crescimento de 1,9% do PIB total do primeiro trimestre contra os três meses anteriores, o setor externo ajudou com 1,3 ponto percentual.
A ajuda do setor externo deve se manter importante para o PIB do ano, avalia Livio Ribeiro, sócio da BRCG e pesquisador associado do Instituto de Economia Brasileira (Ibre FGV). A exportação, diz, deve crescer em 2023 fortemente impulsionada pela agropecuária, principalmente pelo embarque de soja e milho. No primeiro trimestre, destaca, sem o agro, o PIB total teria crescimento de 2,3% e não dos 4% observados na comparação com igual período de 2022. O desempenho do PIB, diz, levou a consultoria a ajustar a projeção de alta do PIB para 2023 de 1% para 1,4%.
No crescimento projetado para 2023 o setor externo terá contribuição positiva importante, de 0,8 ponto percentual, destaca Ribeiro. “Essa contribuição é um espelho da pancada em agro, cuja produção de grãos é voltada para exportação, principalmente.” Ele destaca que há descasamento entre a evolução de quantidade e preços, lembra, já que os volumes têm avançado e os preços, cedido.
É preciso, avalia, ter cautela com esse ajuste entre volume e preços, diz ele, lembrando que a contribuição chinesa como destino das exportações brasileiras não será tão forte como alguns esperavam. De qualquer forma, diz ele, a rentabilidade da exportação será grande porque o choque de volume deve ser maior que o de preços. A BRCG espera que a exportação dentro do PIB cresça 5,8% e a importação, 1,4%, em 2023.
Rafael, Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), lembra que, apesar de positiva, a contribuição do setor externo para o PIB dever ter como eixo atividades primárias, o que traz limitações para dinamizar o mercado doméstico. Um dinamismo maior da demanda interna, diz, passa mais pela indústria e pelos serviços, cujos efeitos se disseminam, respectivamente, pelos elos da cadeia de produção e pela criação de empregos.
A força dos embarques puxados pelo agro também está nos cálculos de Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados. Após os resultados do primeiro trimestre, Vale também ajustou a estimativa de crescimento de PIB em 2023 de 1,3% para 2,1%, com viés de alta. Na decomposição do indicador, o crescimento será puxado, diz, pelas exportações líquidas, que devem contribuir com 1,5 ponto percentual da alta esperada enquanto a demanda doméstica ajudará com 0,6 ponto percentual.
Nos 12 meses encerrados em março, os dados de Vale mostram demanda doméstica com contribuição maior na alta do PIB, com ajuda de 3,0 pontos percentuais, considerando estoques. As exportações líquidas ajudaram com 0,3 ponto percentual positivo. O quadro deve mudar no terceiro trimestre, quando, dentro de uma alta do PIB estimada de 2,3% no acumulado de quatro trimestres, 1,6 ponto percentual deve vir de exportações líquidas e 0,7 ponto percentual de demanda doméstica.
Além do avanço do agro, Vale ressalta que a indústria extrativa cresceu 7,7% na comparação com igual período de 2022, o que também favoreceu exportações. Dos 4% de crescimento do PIB total do trimestre, no mesmo critério, 1,7 ponto percentual veio das commodities, aponta. Dentre os componentes da demanda do PIB em 2023, a expectativa do economista é de que as exportações avancem 7,5% e as importações, 2,2%.