IEDI na Imprensa - Indústria extrativa sustenta setor com expansão de 2,3% no trimestre
Valor Econômico
Resultado do segmento de extração compensa desempenho fraco da transformação; construção também tem queda
Rafael Vazquez
A indústria e a construção repetiram o desempenho negativo do fim de 2022 e amargaram mais uma queda no primeiro trimestre deste ano. O setor como um todo caiu 0,1%, puxado justamente pela construção civil, que recuou 0,8%, e pela indústria de transformação, que diminuiu 0,6% entre um trimestre e outro. Na comparação com o mesmo período do ano passado, houve expansão de 1,9%.
O resultado setorial fez com que os economistas da indústria tenham visto o PIB do início do ano com menos entusiasmo, apesar de o crescimento de 1,9% da economia brasileira ter superado bastante as previsões.
“O todo foi positivo. A agropecuária crescer 21% foi um resultado muitíssimo forte, embora saibamos que tem uma sazonalidade importante no primeiro trimestre. Mas a indústria ainda está em uma situação muito complicada porque a taxa de juros ainda é muito alta”, disse Igor Rocha, economista-chefe da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
O resultado da indústria só não foi pior porque a indústria extrativa cresceu 2,3% e a indústria ligada a serviços públicos como gás, água, esgoto e gestão de resíduos expandiu 1,7%, contraponto as quedas da indústria de transformação e da construção.
A segunda queda consecutiva da construção, um setor intensivo em mão de obra, reforçou a preocupação da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) diante da dificuldade apresentada para renovar os negócios do setor. Na avaliação de Ieda Vasconcelos, economista da entidade, a taxa de juros em patamar alto, atualmente em 13,75%, é o maior obstáculo.
“É uma queda em relação ao fim do ano passado, que já tinha registrado declínio no setor. É preocupante”, disse Ieda. “Mostra a dificuldade da construção de renovar o seu ciclo de negócios em razão do alto patamar da taxa de juros. Temos manifestado essa preocupação desde o ano passado”.
A economista comentou que, no fim de 2022, já havia revisado a previsão de crescimento da construção para 2023 de 2,5% para 2% e adiantou que o resultado do primeiro trimestre vai incentivar uma nova revisão com viés de baixa.
“Os números positivos da construção na geração de empregos, por exemplo, se devem a vendas e lançamentos dos últimos dois anos. Mas os novos lançamentos caíram 30% nesse primeiro trimestre”, diz, reiterando que a taxa de juros no nível atual é um entrave para o financiamento imobiliário.
Para Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), o desempenho do setor e mais uma queda dos investimentos evidenciam que o resultado do PIB não foi tão bom quanto o número geral aparenta. “Foi muito concentrado [no agro] do ponto de vista do dinamismo. O mercado interno está pior do que estava no ano passado. O consumo das famílias ficou quase estagnado ao crescer 0,2% e o investimento [Formação Bruta de Capital Fixo] quase que triplicou a sua queda”, acrescentou.
Medida dos investimentos dentro do PIB, a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) recuou 3,4% no primeiro trimestre em relação ao último do ano passado, com ajuste sazonal, segundo os dados do IBGE. A leitura foi bem pior do que a mediana das projeções coletadas pelo Valor, que apontava para recuo de 1,5% dos investimentos na comparação ao trimestre imediatamente anterior. Em comparação com primeiro trimestre de 2022, aumentou 0,8%, conforme os dados do IBGE, mas também ficou bem abaixo da mediana das expectativas, que era de alta de 1,8% nesse caso.
“É uma queda em relação ao fim do ano passado que já tinha registrado declínio no setor. É preocupante”, disse Ieda. “O resultado mostra a dificuldade da construção de renovar o seu ciclo de negócios em função do alto patamar da taxa de juros. Temos manifestado essa preocupação desde o ano passado.”
A economista comenta que, no fim do ano passado, já havia revisado a previsão de crescimento da construção para 2023 de 2,5% para 2% e adianta que o resultado do primeiro trimestre vai incentivar uma nova revisão com viés de baixa.
“Os números positivos da construção na geração de empregos, por exemplo, se devem as vendas e lançamentos dos últimos dois anos. Mas os novos lançamentos caíram 30% nesse primeiro trimestre”, diz, acrescentando que a taxa de juros, no nível atual, é um entrave para o financiamento imobiliário.
Economistas do mercado financeiro também observaram que o resultado geral do PIB, embora seja obviamente positivo, não muda o panorama geral da economia brasileira como um todo, que é de um país ainda andando de lado economicamente.
“No meu cálculo, o PIB agrícola contribuiu com mais 80% do resultado [de crescimento de 1,9% no primeiro trimestre]. Já diz muito. Quando se olha o lado da demanda, que é consumo das famílias e do governo, investimento e exportação e importação, os desempenhos ficaram perto da estabilidade e o investimento caiu. Então, apesar de o número geral ter sido bastante acima da expectativa, não foi por conta de surpresa na demanda doméstica que segue o caminho de desaceleração iniciado em 2022”, analisou a economista-chefe da Galapagos Capital, Tatiana Pinheiro.