IEDI na Imprensa - Com alta de preço, exportações brasileiras têm valor recorde para abril
Valor Econômico
Importação também tem alta forte, mas tanto vendas externas quanto compras tiveram queda em volume no mês
Lu Aiko Otta e Marta Watanabe
Em abril o valor das exportações e importações avançou impulsionado por alta de preços enquanto os volumes comercializados caíram nas duas pontas. O mês intensificou a dinâmica já mostrada no primeiro trimestre, de balança comercial comandada principalmente por preços, num movimento que deve se estender até o fim do ano, segundo especialistas. Além dos efeitos de pressão de preços resultantes da guerra entre Rússia e Ucrânia essa dinâmica deve ser intensificada com o impacto dos lockdowns na China.
Segundo dados divulgados ontem pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex/ME), a balança comercial fechou abril com superávit de US$ 8,1 bilhões. O saldo resultou de US$ 28,9 bilhões em exportação, valor recorde para o mês, e de US$ 20,8 bilhões em importação, segundo maior valor da série histórica também para abril. O valor dos embarques cresceu 16,7%, e o das compras externas, 35,7%. A alta foi comandada por preços, com avanço de 19,9% na exportação e 34,4% na importação. Houve queda de volumes nas duas pontas, de 8% e de 6,9%, respectivamente, sempre com variações na média diária.
Segundo o subsecretário de Inteligência e Estatísticas de Comércio Exterior, Herlon Brandão, a queda de volume na exportação em abril não é uma tendência. Ele observou que houve muitos feriados no mês, o que afetou os volumes embarcados. Na importação, Brandão comentou o aumento em fertilizantes e adubos. Este item somou US$ 2,1 bilhões no mês, quase quatro vezes os US$ 528 milhões desembarcados em igual período de 2021. O item aumentou tanto em quantidade, com alta de 81,5%, como em preços, que avançaram 130,7%. Os produtores agrícolas, segundo ele, anteciparam aquisições desses insumos, provavelmente por receio de desabastecimento. O usual, explica, é a importação desses insumos aumentar no segundo semestre do ano.
José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) ressalta que a balança comercial reflete de forma geral o impacto da guerra Rússia-Ucrânia sobre preços que ainda estavam pressionados pelos descompasso entre oferta e demanda resultante da pandemia. A dinâmica de preços, diz, deve se intensificar ainda mais com o impacto dos lockdowns na China.
Com isso, diz Castro, o ajuste de preços gradativo que se esperava para o decorrer não deve mais acontecer. Ao fim do ano, a corrente de comércio brasileira, dada pela soma das exportações e importações, diz ele, deve ter avanço em relação ao ano passado, mas sem necessariamente significar dinamismo proporcional da economia doméstica, já que a alta deve ser comandada mais por preços.
Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), também diz que a normalização de cadeias de produção internacionais deve ser postergada. “Houve recolocação de fontes de incerteza.” Há também, afirma, adoção de estratégias de busca por resiliência e reorganização produtiva e esse processo deve acontecer de forma gradual, já que a procura de parceiros comerciais tende a gerar atritos e demanda negociações.
No acumulado de janeiro a abril, segundo dados da Secex, o superávit comercial foi de US$ 19,9 bilhões, resultado de US$ 101,2 bilhões em exportação e US$ 81,2 bilhões em importação. A corrente de comércio somou US$ 182,4 bilhões no primeiro quadrimestre, com avanço de 25,5% em relação a iguais meses do ano passado. Também no acumulado, os preços pesaram mais no avanço de embarques e desembarques.
O valor exportado nos primeiros quatro meses do ano avançou 23,8%, com alta de 5,1% em volumes e de 17,8% em preços. Nas importações o valor subiu 27,6%. Houve queda de 3,3% na quantidade desembarcada enquanto os preços aumentaram em 31%.
Nas exportações, entre os produtos mais importantes da pauta de exportação brasileira, o item que teve redução de preço foi o minério de ferro, destaca Welber Barral, sócio da BMJ Consultores e ex-secretário de Comércio Exterior. Os embarques da commodity caíram 23,5% em preço e 9,1% em quantidade no primeiro quadrimestre, com queda de 30,5% no valor exportado, sempre em relação a iguais meses do ano passado. Isso, diz ele, deve-se à base alta de comparação e também à redução de demanda da China, destino da maior parte do minério de ferro exportado pelo Brasil. Já outros produtos importantes da pauta exportadora, como petróleo e soja, compara, tiveram alta de preço e de valor exportado.