IEDI na Imprensa - Pressão de custos leva a queda de 1,3% na produção industrial
Valor Econômico
Retração em julho é maior que a prevista por analistas de mercado
Ana Conceição, Lucianne Carneiro e Marsílea Gombata
A produção industrial caiu mais que o esperado na abertura do terceiro trimestre, prejudicada pelo forte aumento de custos e pelo desarranjo das cadeias produtivas, que tem provocado escassez de insumos sem precedentes. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o setor registrou retração de 1,3% em julho, na comparação com junho, feito o ajuste sazonal. No confronto com o mesmo período do ano passado, houve alta de 1,2%. Com o resultado, a produção voltou a ficar abaixo do nível registrado antes da pandemia do novo coronavírus.
Depois da forte queda no início na pandemia e de registrar nove meses seguidos de alta, a indústria se retraiu em cinco dos sete meses de 2021 já divulgados. “O processo de retomada não é tão simples como se previa no ano passado. Não é só acabarem as medidas restritivas que tudo volta”, diz Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI). “Há uma desorganização produtiva muito ampla, alguns setores ficaram para trás.” Para ele, os desequilíbrios gerados por esse período excepcional exigem ações mais amplas.
A saída, diz, é o caminho seguido por grandes economias, como Estados Unidos, Europa e China, que conjuga questões conjunturais com um programa voltado para o médio e longo prazo. “É preciso uma retomada cíclica do crescimento, mas também uma estratégia voltada para a modernização da estrutura produtiva, de olho em digitalização e sustentabilidade.”
O gerente da pesquisa industrial no IBGE, André Macedo, diz que, além do aumento do custo de produção e da escassez de insumos, a indústria sente o efeito do empobrecimento da população. “Temos um contingente elevado de trabalhadores fora do mercado, uma massa salarial que não avança, precarização do emprego com salários menores, além de aumento da inflação, que diminui a renda das famílias.”
A indústria de alimentos (queda de 1,8% em julho) e de bebidas (-10,2%) tem sentido os efeitos da inflação em 2021, diz Macedo. Ambos estão em níveis inferiores ao pré-pandemia. Ele cita também o efeito negativo do clima adverso na produção de açúcar e não descarta impacto já da crise hídrica, com custos maiores da energia.
Claudia Perdigão, economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), afirma que o risco de racionamento e o ambiente político conturbado devem pesar na recuperação. “Isso acaba repercutindo em projetos de investimento e contratação”, diz.
No ano, a produção da indústria brasileira deve crescer, depois da queda de 4,5% em 2020, mas as muitas restrições à atividade indicam expansão menor que a esperada, afirma Rodrigo Nishida, economista da LCA Consultores. “O viés para 2021 e 2022 é de baixa”, afirma. A LCA estima alta de 6,5% em 2021, por enquanto.
Os próximos meses devem ser de desafios por causa dos gargalos. Há grande incerteza quanto à regularização da oferta de insumos, segundo Nishida, já que problemas causados pela disseminação da variante delta em outros países tendem a bagunçar as cadeias. A interrupção das cadeias tem afetado em especial a produção de veículos, que caiu 2,8% em julho ante junho, pelo terceiro mês.
A Tendências Consultoria revisou o desempenho da produção industrial deste ano, de crescimento de 6% para 5,4%. Já havia baixado antes de 6,5% para 6%. Em 12 meses até julho a indústria cresceu 7%. A economista Andressa Guerrero chama atenção para a queda generalizada no setor. O índice de difusão, que mede a proporção de produtos que tiveram aumento de produção, caiu para 54%, ante 66% em junho. Entre abril e maio foi de 76%.