IEDI na Imprensa - Produção industrial avança 2,6% em setembro e elimina perdas da pandemia
O Globo
Desempenho foi puxado pelo setor de bens duráveis, com destaque para automóveis. No ano, indústria ainda acumula queda de 7,2%, diz IBGE
A produção industrial brasileira cresceu 2,6% em setembro, na comparação com agosto, e eliminou perdas da pandemia, segundo o IBGE. É a quinta alta mensal seguida, consolidando os sinais de retomada. O desempenho do setor foi puxado pelos bens de consumo duráveis, especialmente o da indústria automotiva.
Segundo o IBGE, o resultado zerou as perdas de 27,1% acumuladas entre março e abril, quando a indústria atingiu o patamar mais baixo já rgistrado devido ao distanciamento social adotado para controle da pandemia.
— O crescimento do setor por cinco meses seguidos é o maior patamar desde o período de abril a agosto de 2018, e faz com que o setor não só elimine as perdas da pandemia, mas recupere um patamar perdido dentro da série histórica — explica o gerente da pesquisa, André Macedo.
O resultado de setembro foi acima do esperado. O mercado projetava alta de 2,2% na variação mensal, segundo pesquisa da Reuters com economistas.
“Passados os meses de março e abril e com a flexibilização das medidas de distanciamento social, o setor industrial foi recuperando, mês a mês, aquele patamar”, informou Macedo.
No acumulado do ano, porém, a indústria registra queda de 7,2%. E, em 12 meses, a perda acumulada é de 5,5%. Na comparação com setembro de 2019, o setor cresceu 3,4%, interrompendo dez meses de resultados negativos seguidos nessa comparação.
Roupas e calçados
Na passagem de agosto para setembro, o avanço no setor foi generalizado em todas as quatro grandes categorias econômicas e em 22 dos 26 ramos pesquisados. A influência positiva mais relevante veio do segmento de veículos automotores, reboques e carrocerias, que apresentou crescimento de 14,1%.
— Vale destacar que essa atividade acumulou expansão de 1.042,6% em cinco meses consecutivos de crescimento na produção, mas ainda assim se encontra 12,8% abaixo do patamar de fevereiro — explica Macedo.
Para o economista da Guide Investimentos, Victor Beyruti, a demanda interna impulsionada pelo auxílio emergencial influenciou o avanço do segmento automotivo. A projeção da companhia é que o segmento feche o ano com uma queda de 3%.
— A produção de bens duráveis deve continuar se beneficiando do auxílio apesar da redução da parcela a partir do próximo mês. A manutenção do crescimento deve ser um pouco mais lenta, assim como de toda a indústria. Prevemos alta de 2,3% para o mês de outubro, mas ainda é um cenário positivo — afirma Beyruti.
Assim como veículos automotores, outras atividades também cresceram pelo quinto mês seguido: máquinas e equipamentos (12,6%), confecção de artigos do vestuário e acessórios (16,5%) de couro, artigos para viagem e calçados (17,1%).
Produtos alimentícios (1,2%), metalurgia (3,5%) e produtos de minerais não-metálicos (4,2%) também contribuíram com o resultado de setembro.
Especialistas apontam que a indústria deverá manter o crescimento até dezembro, mas em um ritmo tímido por conta da redução no valor do auxílio emergencial a partir de outubro. No acumulado do ano, a expectativa do mercado, segundo o Boletim Focus, elaborado pelo Banco Central, é que o setor registre uma queda 5,74%.
Para Renata de Mello Franco, economista da FGV/Ibre, os números indicam recuperação, principalmente da indústria de transformação, após o tombo da pandemia. No entanto, uma retomada mais consistente depende de uma melhora no ambiente fiscal.
— O que preocupa sao os bens duráveis, porque dependem de maior poder aquisitivo para compra. A recuperação do nicho dos veículos automotores passa pelo consumo, mas há uma incerteza sobre a continuidade de um programa de renda básica após a redução do auxílio emergencial, além de uma indefinição sobre a manutenção ou não da desoneração da folha para alguns segmentos, que pode conter os investimentos — avalia.
Na avaliação de Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), o pior para a indústria este ano já passou. Ainda assim, o setor precisa recuperar a perda de 16% que acumula após a crise de 2015 e 2016 e lidar com novos desafios, como o endividamento das empresas pós Covid-19.
— Temos 42% dos ramos industriais com produção ainda abaixo do patamar de fevereiro, então devemos crescer a ritmo semelhante do que temos visto nos últimos dois meses pela base de comparação mais baixa. A preocupação é com a virada de ano e o ritmo lento de crescimento. Vamos retomar ao patamar de 2018 e 2019 (de crescimento baixo), ou vamos assumir um desenvolvimento robusto colocando a indústria em condições para disputar a onda de inovação tecnológica? — analisa.
Por outro lado, quatro atividades reduziram sua produção em setembro: a indústria extrativa (-3,7%) teve o principal impacto negativo no mês, interrompendo três resultados positivos consecutivos, que acumularam alta de 18,2%.
Falta de insumos e dólar alto
Os demais segmentos com desepenho negativo foram impressão e reprodução de gravações (-4,0%), produtos diversos (-1,3%) e outros produtos químicos (-0,3%).
O bom desempenho da indústria tem sido acompanhado por dificuldades enfrentadas pelo setor, que encontra gargalos para responder ao aumento da demanda. Faltam insumos para alguns segmentos, levando algumas fábricas a atrasarem as encomendas.
— A produção de insumos típicos da construção civil, cresceu 10,2% em setembro em relação ao mesmo mês do ano passado, mas há evidências de que o setor continua com dificuldade de acompanhar a alta demanda, o que reduz a retomada — explica Victor Beyruti, economista da Guide Investimentos.
Segundo pesquisa da Confederação Nacional da Indústria, 44% das empresas relataram ter deixado de atender clientes ou atrasado entregas em outubro.
O dólar alto também é um problema para o setor, pois pressiona o custo das matérias-primas, muitas delas importadas.
— Muitos insumos vem da China e a tendência é que a oferta de matérias-primas se normalize com o controle do surto do coronavírus na região. Há, inclusive, segmentos que tem como comprar um componente similar doméstico na medida em que a demanda cresce. Mas parte dos insumos não possuem similar doméstico, e aí não têm muito o que fazer. Será preciso reduzir a margem (de lucro) das empresas e também realizar o repasse de preços, a depender do mercado — pondera Cagnin.