Análise IEDI
Rendimento em alta e o freio dos juros
O IBGE divulgou hoje novos dados a respeito do emprego e do rendimento da população brasileira. A boa notícia é que a massa de rendimentos reais, que funciona como a base do consumo da população, continua se expandindo a taxas de dois dígitos frente à situação de um ano atrás.
Já são seis meses seguidos em que a expansão do emprego e a desaceleração da inflação vêm permitindo esta intensidade de crescimento. No 1º trim/23, a massa de rendimentos reais registrou +10,8% ante o 1º trim/22. Ou seja, sem muita desaceleração em relação ao 4º trim/22, como mostram as variações interanuais a seguir.
• Massa de rendimentos reais: +9,9% no 3º trim/22; +12,8% no 4º trim/22 e +10,8% no 1º trim/23;
• População Ocupada: +6,8%; +3,8% e +2,7%;
• Rendimento real médio habitualmente recebido: +2,5%; +8,3% e +7,4%, respectivamente.
Houve, contudo, uma troca de velocidade entre os dois fatores que a condicionam. Com a desaceleração da inflação nos últimos meses e a melhora do perfil do emprego gerado, é o rendimento real médio quem está liderando o crescimento da massa e não mais a alta da ocupação.
Cabe lembrar que a inflação, medida pelo IPCA, em jan-mar/23 foi 1/3 menor do que em igual período do ano passado (2,09% ante 3,2%, respectivamente). No acumulado em doze meses, a inflação de 11,3% em mar/22 recuou para 4,65% em mar/23.
Mas não foi apenas a desaceleração da inflação que contribuiu positivamente. O rendimento médio nominal, isto é, sem descontar a variação de preços, também está em forte expansão: +13,0% no 1º trim/23. Muito disso porque o emprego com carteira assinada, que tende a ter maior remuneração, vem crescendo bem acima da ocupação total.
Em seu agregado, o número de ocupados se mantém em alta, mas a um ritmo cada vez menor, já tendo recomposto as perdas da pandemia. Sua taxa de crescimento, que foi de +6,8% no 3º trim/22, recuou para +2,7% agora no 1º trim/23, frente ao mesmo período do ano anterior.
Todos os tipos de emprego desaceleraram no período, mas aqueles com carteira assinada preservaram mais seu dinamismo e registraram alta de +5,2% em jan-mar/23, isto é, quase o dobro do ritmo de expansão da ocupação total. Modalidades mais informais, como emprego sem carteira, trabalho doméstico e conta própria, que inclui os chamados bicos, cresceram menos.
Com isso, a massa de rendimentos reais encontra-se em um dos pontos mais altos da série histórica do IBGE, somando R$ 277,2 bilhões. O efeito disso sobre o consumo das famílias e, consequentemente, sobre o PIB brasileiro seria maior não fosse o elevado endividamento das famílias e o alto comprometimento com o pagamento desta dívida, dado que as taxas de juros seguem muito elevadas.
Segundo os dados mais recentes do Banco Central, divulgados esta semana, o endividamento total das famílias corresponde a 48,6% da sua renda disponível e o comprometimento com pagamentos de juros e amortização chegava a 27,4% em fev/23, um patamar recorde da série histórica. Os juros atuais colocam um freio nos efeitos da melhora da massa de rendimentos da população.
Conforme dados da PNAD Contínua Mensal divulgados hoje pelo IBGE, a taxa de desocupação registrou 8,8% no trimestre compreendido entre janeiro e março de 2023. Em relação ao trimestre imediatamente anterior (out-nov-dez/2022), houve crescimento de 0,9 p.p., e para o mesmo trimestre do ano anterior houve variação negativa de 2,3 p.p., quando registrou 11,1%.
O rendimento real médio de todos os trabalhos habitualmente recebidos registrou R$ 2.880, apresentando variação de 0,7% em relação ao trimestre imediatamente anterior (out-nov-dez/2023), já frente ao mesmo trimestre de referência do ano anterior houve aumento de 7,4%.
A massa de rendimentos reais de todos os trabalhos habitualmente recebidos atingiu R$ 302,2 bilhões no trimestre que se encerrou em março, registrando crescimento de 4,0% frente ao trimestre imediatamente anterior (out-nov-dez/2023) e variação positiva de 10,5% em comparação com o mesmo trimestre do ano passado (R$ 302,2 bilhões).
No trimestre de referência a população ocupada alcançou 97,8 milhões de pessoas, variação negativa de -1,6% em relação ao trimestre imediatamente anterior e incremento de 2,7% em relação ao mesmo trimestre do ano passado (95,3 milhões de pessoas ocupadas).
Em comparação com o trimestre imediatamente anterior, o número de desocupados aferiu elevação de 10,0%, com 9,4 milhões de pessoas. Já na comparação com o mesmo trimestre do ano anterior observou-se variação negativa de -21,1%. Em relação a força de trabalho, computou-se neste trimestre 107,3 milhões de pessoas, representando retração de 0,6% frente ao trimestre imediatamente anterior e estabilidade em relação ao mesmo trimestre do ano anterior (107,2 milhões de pessoas).
Frente ao mesmo trimestre do ano anterior, nove dos dez agrupamentos analisados apresentaram expansão da ocupação: transporte, armazenagem e correios (7,9%), informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas (5,9%), administração pública, defesa, seguridade, educação, saúde humana e serviços sociais (5,0%), outros serviços (4,3%), comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas (3,0%), indústria (2,1%), alojamento e alimentação (1,8%), serviços domésticos (1,2%), construção (-0,8%). Em sentido oposto, o agrupamento de agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura apresentou queda no período (-5,2%).
Por fim, analisando a população ocupada por posição na ocupação, comparados ao mesmo trimestre do ano anterior, houve aumento em cinco das sete categorias analisadas: trabalho privado com carteira (5,2%), trabalho privado sem carteira (4,8%), setor público (4,6%), trabalho doméstico (1,6%), empregador (1,5%). As duas categorias restantes apresentaram retração: trabalhador por conta própria (-0,4%) e trabalho familiar auxiliar (-22,6%).