Carta IEDI
A Recuperação do IDE para a América Latina: A Relevância dos Investimentos em Recursos Naturais
A Carta IEDI de hoje traz um resumo de um relatório recente – La inversión extranjera directa en América Latina y el Caribe 2010, disponível em http://www.eclac.org – da Comissão Econômica da América Latina (Cepal) sobre o investimento direto estrangeiro na América Latina em 2010. Os fluxos mundiais de investimento direto estrangeiro (IDE) começaram a se recuperar dos efeitos de crise financeira e econômica internacional de 2008 a partir no último trimestre de 2009. Após contração de 37% em 2009, os fluxos globais de IDE mantiveram uma tendência de expansão ao longo de 2010, registrando alta de 1%.
Em 2010, pela primeira vez, o grupo das economias em desenvolvimento e em transição atraiu um volume maior de IDE do que o grupo dos países desenvolvidos. Enquanto a participação das economias desenvolvidas se reduziu, pelo segundo ano consecutivo, para 47% (57% em 2008 e 51% em 2009), os países em desenvolvimento ampliaram para 53% sua participação nos fluxos globais.
De acordo com a Cepal, a América Latina foi a região do mundo em desenvolvimento que registrou o maior aumento nos fluxos líquidos de IDE, com incremento de 40% frente a 2009, alcançando US$ 112,6 bilhões. Ainda que o patamar alcançado em 2010 não tenha retornado ao nível recorde de 2008, o montante se manteve acima da média anual da década e apresenta tendência à elevação. O crescimento da demanda interna em países como Brasil, Chile, Colômbia, México e Peru, que estimulou a busca de mercados por parte de empresas transnacionais e de empresas translatinas, foi um fator que concorreu para o maior IDE.
A recuperação dos fluxos de IDE foi mais intensa na sub-região da América do Sul do que nas sub-regiões do Caribe e da América Central e México, as quais foram mais afetadas pela crise e pela débil recuperação da economia norte-americana. Os fluxos líquidos para os países da América do Sul registram crescimento da ordem de 56% em 2010 em comparação com 2009, alcançando o volume de US$ 85,1 bilhões. Nessa sub-região, quatro países registraram os aumentos mais importantes: Brasil (87%), Argentina (54%), Peru (31%) e Chile (17%).
Na América do Sul, os setores que mais receberam IDE em 2010 foram recursos naturais (43% dos fluxos totais) e serviços (30%). Em comparação com 2005-2009, verifica-se um aumento no peso dos setores primários no IDE dessa sub-região. Em contraste, nas demais sub-regiões, a indústria de transformação se manteve como destino principal dos fluxos de IDE (54%), seguido pelo setor de serviços (41%), enquanto o setor primário recebeu apenas 5% do total dos fluxos.
Em termos da origem dos fluxos de IDE destinados à América Latina, os Estados Unidos se mantiveram como o principal país investidor na região, respondendo por 17% do volume do IDE recebido em 2010, seguido pela Holanda (13%), China (9%), Canadá, Espanha e Reino Unido, todos os três com participação de 4%.
A presença da China como o terceiro maior investidor na região é salientada no relatório. Em 2009, os países latino-americanos receberam apenas US$ 225 milhões de IDE chinês, o que corresponde a 0,6% do total do investimento direto chinês no mundo e 0,3% dos fluxos de IDE na América Latina. Em 2010, os fluxos de IDE provenientes da China deram um salto, alcançando um montante estimado em mais de US$ 15 bilhões. Brasil, Argentina e Peru foram os principais receptores dos investimentos diretos das empresas chinesas, dos quais quase a totalidade (92%) foi destinada ao setor de recursos naturais, notadamente no setor de petróleo e gás.
O relatório destaca, ainda, que nos últimos anos observa-se uma crescente participação de países da própria América Latina como origem do IDE na região, seja sob a forma de fusão e aquisição, seja sob a forma de investimento em novas plantas, o que mostra a maior importância das empresas translatinas. O IDE proveniente de América Latina que, no período 2006-2009, representava 8% do total, subiu para 10% em 2010.
O Brasil foi o país que recebeu, em 2010, o maior volume de IDE, atingindo um novo recorde, com o montante superior a US$ 48,0 bilhões, o que corresponde a um incremento da ordem de 87% em relação ao ano anterior. Esse vigoroso aumento do IDE, notadamente sobre a forma de novos aportes de capital, foi impulsionado pelo crescimento da economia brasileira, que alcançou 7,5% em 2010. A forte apreciação do real (15% em 2010) e a ampliação do consumo interno têm favorecido, de acordo com a Cepal, o ingresso de IDE associado a uma estratégia de conquista de mercado.
Os fluxos de investimento destinados ao Brasil se concentraram nos setores de recursos naturais e indústria de transformação, respectivamente, com participação de 39% e de 37% do total, enquanto o setor de serviços recebeu 24% do total do IDE. Em recursos naturais, destacam-se petróleo e gás (22% do total de IDE) e extração de minerais metálicos (14%). Na indústria de transformação, os setores mais dinâmicos foram: alimentos (9%), metalurgia (9%), produtos químicos (7%) e derivados de petróleo (3%). O Brasil se consolidou, igualmente, como um pólo de atração regional para os investimentos com maior conteúdo tecnológico e produção associados à pesquisa e desenvolvimento. Cerca de 55% dos fluxos de IDE em setores de alta intensidade tecnológica recebidos pela América Latina foram destinados ao Brasil.
Evolução Recente dos Fluxos de IDE na Economia Mundial. De acordo com a Cepal, os fluxos de IDE começaram a se recuperar dos efeitos de crise financeira e econômica internacional no último trimestre de 2009. Durante 2010, os fluxos globais de IDE mantiveram uma tendência crescente, registrando expansão de 1%. Porém, ainda permanecem distantes dos patamares recordes do período 2006-08.
Entre as regiões e grupos de países, observa-se, todavia grande heterogeneidade de desempenho. Em queda pelo terceiro ano consecutivo, o volume de IDE dos países desenvolvidos retraiu 7,0% frente a 2009 (–16% em 2008 e –44% em 2009); para os países em desenvolvimento ele aumentou 10% (queda de 24% em 2009).
Em 2010, pela primeira vez, os fluxos de IDE destinados aos países em desenvolvimento e às economias em transição representaram mais de 50% dos fluxos globais. Em contraste, a participação dos países desenvolvidos se reduziu de 57% em 2008 para 47% em 2010 (51% em 2009). Não obstante esse contexto de maior relevância dos países em desenvolvimento, o comportamento das diferentes regiões em desenvolvimento está longe de ser homogênea. Enquanto os fluxos de IDE destinados a América Latina e Caribe cresceram 40%, alcançando 10% do IDE mundial, os fluxos destinados à Ásia e Oceania aumentaram 10% e os destinados à África caíram 15%.
Em 2010, no grupo dos países desenvolvidos, os principais receptores de IDE foram: Estados Unidos (onde o reinvestimento de lucros cresceu 43% frente a 2009), França, Bélgica e Reino Unido. Já entre os países em desenvolvimento, destacaram-se os países do grupo dos Bric (Brasil, Rússia, Índia e China), Hong Kong e Cingapura.
De acordo com o relatório, nos últimos anos, as fusões e aquisições transfronteiriças têm sido o mecanismo mais dinâmico do IDE, permitindo às empresas transnacionais incursionar em novos mercados de modo a aproveitar as capacidades e os conhecimentos das empresas locais. Em 2010, os montantes globais desse tipo de operação registraram aumento da ordem de 37% em relação a 2009, e os investimentos em novas plantas (greenfield investments) prosseguiram em trajetória de retração, tanto em número como em valor. Embora seja expressiva, essa taxa de expansão das operações de fusões e aquisições transfronteiriças não foi suficiente para reverter a forte contração verificada em 2008-2009, porém esse resultado sugere a existência de uma tendência positiva, que deve se fortalecer nos próximos anos.
No que se refere à origem dos fluxos de IDE, os países desenvolvidos respondem pela grande maioria dos investimentos diretos. Todavia, em consonância com a crescente importância dos países em desenvolvimento na economia mundial, tem igualmente aumentado a participação desses países. Tendo duplicado sua participação na última década, os fluxos de IDE provenientes de países em desenvolvimento mantiveram em trajetória de crescimento em 2010, atingindo 22% do volume global, segundo dados ainda preliminares.
Na avaliação da Cepal, esse avanço gradual, porém contínuo, dos países em desenvolvimento será uma das características centrais dos fluxos de IDE nos próximos anos. Chama atenção o desempenho recente dos investimentos diretos provenientes da China.
Até 2007, o IDE da China manteve-se em 1% do IDE mundial. Contudo, a partir da crise global de 2008, que afetou de forma muito mais intensa as economias desenvolvidas, inúmeras empresas chinesas aproveitaram de sua maior capacidade financeira para realizar projetos de investimento no exterior. Em consequência, a China alcançou em 2009 o quinto lugar no ranking mundial dos maiores países investidores, respondendo por 4% do IDE global. De acordo com o relatório, como várias das grandes operações de IDE anunciadas recentemente pela China ainda não foram capturadas pelas estatísticas oficiais de 2010 é bastante provável que a participação do gigante asiático nos fluxos globais de IDE registre um considerável aumento em 2011 e nos anos seguintes.
Segundo a Cepal, as tendências recentes de ampliação do IDE chinês respondem a uma série de fatores internos e externos, dentre os quais destaca a política do governo da China, claramente favorável à internacionalização de suas empresas. Desde 2004, o governo chinês vem adotando medidas de estímulo ao investimento no exterior, dentre as quais a concessão de diversos benefícios fiscais e o financiamento público a projetos de investimento direto no exterior. O governo chinês também concede assistência oficial para a construção de infraestrutura no exterior com participação de empresas chinesas.
Embora a maior parte dos investimentos chineses no exterior se concentre na busca de recursos minerais e energéticos, quase sempre por um grupo pequeno de empresas estatais, o IDE chinês é muito mais variado. Mais de 1.200 empresas chinesas tem investido no exterior, mediante o estabelecimento de filiais de distribuição, que geram US$ 50,5 bilhões de exportações em 2009, o que corresponde a um aumento de 59,8% frente a 2008.
Apesar desse crescimento expressivo no período recente, o investimento direto chinês acumulado no exterior ainda é pequeno. O estoque de IDE chinês, que, de acordo com o relatório, reflete a contribuição das empresas chinesas à atividade econômica nos países receptores, é menor que o da Rússia e de vários países desenvolvidos de economias de tamanho médio como Austrália, Suécia ou Suíça. A posição da China como fonte de investimento direto é igualmente muito mais modesta do que ocupa o país como fonte de investimento estrangeiro de portfólio.





Panorama do IDE na América Latina e Caribe. Em 2010, excluídos os principais centros financeiros, a região da América Latina e Caribe recebeu US$ 112,63 bilhões de investimento direto estrangeiro, montante 40% superior ao volume de US$ 80,37 bilhões alcançado em 2009. Ainda que os fluxos de IDE recebidos em 2010 não superem o volume recorde de 2008, o montante se manteve acima da média anual da década e apresenta tendência à elevação, refletindo o bom posicionamento da região para localização das atividades das empresas transnacionais e destino dos investimentos diretos estrangeiros, que se mostram durante a crise como os mais estáveis entre todas as modalidades dos fluxos internacionais de capitais.
De acordo com o relatório, a recuperação dos fluxos de IDE para América Latina a partir do último trimestre de 2009 teve vários determinantes: a recuperação das economias desenvolvidas; o dinamismo de algumas das economias emergentes, notadamente as asiáticas, cujo aumento da demanda impulsionou certos setores – isto é evidente, sobretudo, na área de recursos naturais e alimentos, mas também na indústria de transformação, como o setor automotivo e produção de circuito integrado, ou na área de serviços, como desenvolvimento de software e telecomunicações; o crescimento da demanda interna em países como Brasil, Chile, Colômbia, México e Peru, que estimulou a busca de mercados por parte de empresas transnacionais e de empresas translatinas; e, finalmente, una maior terceirização das empresas estrangeiras em resposta à crise, com reflexo em alguns serviços empresariais.
As sub-regiões – América do Sul, América Central e México, e o Caribe – apresentam, contudo, diferenças nos ritmos de crescimento do IDE, em razão dos seus distintos padrões de especialização. Segundo a Cepal, na América do Sul há uma tendência ao aumento do peso dos setores primários nas exportações e no IDE, e na América Central e no México as manufaturas intensivas em montagem e os serviços aprofundam a trajetória de especialização e vinculação com os Estados Unidos, tornando essa sub-região mais afetada pela crise e pela débil recuperação da economia norte-americana.
Assim, a recuperação dos fluxos de IDE foi mais intensa na América do Sul, com crescimento da ordem de 56% em 2010 em comparação com 2009, alcançando o volume de US$ 85,1 bilhões. Nessa sub-região, quatro países registraram os aumentos mais importantes: Brasil (87%), Argentina (54%), Peru (31%) e Chile (17%). Já os fluxos destinados à Colômbia caíram 5%, totalizando US$ 6,8 bilhões, e a Venezuela continuou a registrar fluxos negativos, em razão da nacionalização de empresas estrangeiras.
Nos países centro-americanos e no México, onde, além de mercados internos, o IED busca estabelecer plataformas de exportação para aproveitar as vantagens salariais e de localização, a lenta recuperação dos Estados Unidos resultou em menor crescimento dos fluxos de IDE. O volume de IDE destinado ao México subiu 17% comparativamente a 2009, enquanto os fluxos destinados aos países da América Central cresceram 16%.
O relatório sublinha que os destinos setoriais dos fluxos de IDE recebidos pela América Latina variaram de acordo com a sub-região receptora. Na América do Sul, os setores que mais receberam IDE em 2010 foram recursos naturais (43% dos fluxos totais) e serviços (30%). Em comparação com 2005-2009, verifica-se um aumento no peso dos setores primários no IDE dessa sub-região. Em contraste, nas demais sub-regiões, a indústria de transformação se manteve como destino principal dos fluxos de IDE (54%), seguido pelo setor de serviços (41%), e o setor primário recebeu apenas 5% do total dos fluxos.
Em termos da origem dos fluxos de IDE destinados à América Latina, os Estados Unidos se mantiveram como o principal país investidor na região, respondendo por 17% do volume do IDE recebido em 2010, seguido pela Holanda (13%), China (9%), Canadá, Espanha e Reino Unido, todos os três com participação de 4%.
A presença da China como o terceiro maior investidor na região é salientada no relatório. Embora, desde 2008, a China tenha se convertido em uma das principais fontes de IDE no mundo, a América Latina só começou a se tornar um destino significativo em 2010, não obstante o nível significativo das relações comerciais da região com a China.
Em 2009, os países latino-americanos receberam apenas US$ 225 milhões de IDE chinês, o que corresponde a 0,6% do total do investimento direto chinês no mundo e 0,3% dos fluxos de IDE na América Latina. Em 2010, os fluxos de IDE provenientes da China deram um salto, alcançando um montante estimado em mais de US$ 15 bilhões. De acordo com o relatório, a presença das empresas chinesas na região é ainda tão recente, que vários dos seus principais projetos ainda não foram inteiramente concretizados no início de 2011 ou havia se tornado operacional muito recentemente.
O IDE chinês se destina principalmente ao Brasil, Argentina e Peru, países que têm uma maior relação comercial com China. Mesmo para algumas economias pequenas, como Equador e Guiana, a China pode ser uma fonte significativa de investimento direto. Na sub-região da América Central e México, os investimentos chineses são praticamente irrelevantes, à exceção de Costa Rica.
Quase a totalidade (s92%) dos investimentos chineses confirmados foi realizada na extração de recursos naturais, notadamente no setor de petróleo e gás. Os 8% restante tiveram como foco o mercado interno do Brasil, principalmente na provisão de infraestruturas e, em menor medida, na indústria de transformação. Os investimentos destinados à criação de plataforma de exportação para outros países foram bastante modestos (0,3%). No que se refere aos investimentos anunciados, porém ainda não efetuados, destacam-se aqueles previstos para o setor metalúrgico no Brasil e na mineração no Peru.
O relatório destaca, ainda, que nos últimos anos observa-se uma crescente participação de países da própria América Latina como origem do IDE na região, seja sob a forma de fusão e aquisição, seja sob a forma de investimento em novas plantas, o que mostra a maior importância das empresas translatinas. O IDE proveniente de América Latina que, no período 2006-2009, representava 8% do total, subiu para 10% em 2010.
O Brasil foi o país que recebeu, em 2010, o maior volume de IDE, atingindo um novo recorde, com o montante superior a US$ 48,0 bilhões, o que corresponde a um incremento da ordem de 87% em relação ao ano anterior. Esse vigoroso aumento do IDE, notadamente sobre a forma de novos aportes de capital, foi impulsionado pelo crescimento da economia brasileira, que alcançou 7,5% em 2010.
A forte apreciação do real (15% em 2010) e a ampliação do consumo interno têm favorecido, de acordo com a Cepal, o ingresso de IDE associado a uma estratégia de conquista de mercado. Os fluxos de IDE têm auxiliado, de maneira significativa, o financiamento do crescente déficit em transações correntes do Brasil, que alcançou 45,0 bilhões em 2010.
Os fluxos de investimento destinados ao Brasil se concentraram nos setores de recursos naturais e indústria de transformação, respectivamente, com participação de 39% e de 37% do total, e o setor de serviços recebeu 24% do total do IDE. Em recursos naturais, destacam-se petróleo e gás (22% do total de IDE) e extração de minerais metálicos (14%). Na indústria de transformação, os setores mais dinâmicos foram: alimentos (9%), metalurgia (9%), produtos químicos (7%) e derivados de petróleo (3%). O Brasil se consolidou, igualmente, como um pólo de atração regional para os investimentos com maior conteúdo tecnológico e produção associados à pesquisa e desenvolvimento.
Em relação à origem do IDE recebido pelo Brasil, a China foi o principal investidor em 2010, respondendo por 15% do IDE total, com montante de US$ 7,5 bilhões. Na sequência, aparecem a Suíça e os Estados Unidos, com participação de 13% e 11% no total, respectivamente.
O México permanece como o segundo maior receptor de IDE na região latino-americana. Em 2010, o país absorveu investimentos estrangeiros da ordem de US$ 15,2 bilhões. Todavia, não obstante a significativa recuperação dos IDE em 2010, os montantes ainda não alcançaram a média anual da última década (US$ 21 bilhões).
Os fluxos de IDE destinados à economia mexicana são constituídos majoritariamente por novos investimentos (65% do total do IDE em 2010), seguidos pelos empréstimos entre filiais (20%). A indústria manufatureira e os serviços foram os setores que receberam os maiores volumes de investimento. Na indústria, que captou 60% do IDE, os principais beneficiários foram os produtos alimentícios, as bebidas e fumo, que absorveram 67% do IDE destinado ao setor industrial, e as indústrias do complexo metal-mecânico (24% dos fluxos destinados ao setor). No setor de serviço, que recebeu 37% do IDE total, destacam-se o comércio e os serviços financeiros (14% do total do IED em ambos os casos). Já o setor extrativo continuou com uma participação diminuta nos fluxos de IDE (3% em 2010).
De acordo com o relatório, em 2010, ocorreu uma alteração importante em termos da origem dos fluxos líquidos de IDE destinados ao México. Nesse ano, a maior participação foi a da Holanda (49%), seguida pelos Estados Unidos (28%), que até então ocupava o posto de maior investidor, e Espanha (7%).
No Chile, o IDE apresentou uma alta de 17% em 2010, alcançando US$ 15 bilhões, liderado por novos aportes de capital das empresas transnacionais. Segundo o relatório, nesse país, considerando um período de tempo mais amplo, o IDE não foi particularmente afetado durante a crise global. Em comparação com o primeiro quinquênio da década, os montantes de IDE apresentam uma tendência de elevação. No período 2000-2005, a média de ingresso de IDE foi de US$ 5 bilhões por ano, volume que superou US$ 12 bilhões anuais a partir de 2007.
Historicamente, os principais países investidores na economia chilena têm sido os Estados Unidos, o Canadá e a Espanha, os quais, em conjunto, responderam por quase 60% do IDE entre 2001e 2010. Em 2010, o principal investidor foi os Estados Unidos (19%), seguido do Reino Unido (12%), Canadá (11%) e Espanha (8%).
Em relação ao destino setorial do IDE no Chile, as estatísticas mostram que os mais importantes em 2010 foram os serviços (53%) e a mineração (41% do total), enquanto a indústria de transformação recebeu apenas 2% dos fluxos totais de IDE. De acordo com a Cepal, essa distribuição confirma o posicionamento histórico de fluxos de IDE no país, concentrados na mineração e no setor de serviços. Entre os anúncios importantes de fusões e aquisições se destaca o da LAN Chile e TAM Airlines (Brasil), que deverá criar o maior grupo aéreo da América Latina.
O Peru foi o quarto país latino-americano que mais recebeu IDE em 2010. Os fluxos destinados ao país cresceram 31% na comparação com 2009, totalizando um montante recorde de US$ 7,3 bilhões, o equivalente a 9% do total da América do Sul. De acordo com o relatório, este crescimento se explica fundamentalmente pelos níveis elevados de reinvestimentos de lucros realizados pelas empresas transnacionais, que alcançaram US$ 5,7 bilhões, enquanto os aportes de capital foram de US$ 1,5 bilhão e os empréstimos líquidos com as matrizes não ultrapassaram US$ 64 milhões.
As informações disponíveis sobre a distribuição setorial do IDE destinado ao Peru, que ainda são parciais, revelam que o IDE se dirige especialmente aos setores de serviços e de recursos naturais. Mesmo o escasso investimento no setor industrial manufatureiro se dirige às atividades estreitamente associadas aos recursos naturais, como a agroindústria ou o refino de petróleo. O setor peruano de mineração conta com ampla presença de grupos estrangeiros, entre os quais se destacam: Grupo México, BHP Billiton (Austrália), Freeport Mcmoran Copper & Golds (Estados Unidos), Xstrata (Suíça), Newmont (Estados Unidos) e Barrick (Canadá). Nos últimos dois anos, grandes grupos chineses adquiriram projetos ainda em desenvolvimento, quase todos na área de mineração do cobre, por essa razão espera-se que uma parte importante do IDE em mineração na próxima década seja proveniente da China.
Na Colômbia, os fluxos de IDE caíram em 5% em 2010, se reduzindo para US$ 6,8 bilhões, o que levou esse país a passar do quarto para o quinto lugar de destino do IED na região (quarta posição na sub-região). Não obstante essa perda de participação relativa, os montantes de IDE recebidos pela Colômbia na segunda metade da década os (superiores a US$ 6,5 bilhões em todos os anos) foram muito superiores aos recebidos na primeira metade, quando registraram média anual de US$ 3,6 bilhões.
Os setores econômicos colombianos que lideraram o ingresso de fluxos líquidos de IDE em 2010, dos quais 34% corresponderam a reivestimento de lucros, são os de recursos naturais, com cerca d 74% do total – 42% na área de extração de petróleo, 30% em mineração e 2% em agricultura, silvicultura, caça e pesca –, seguido pelo de serviços, com 18%, e indústria manufatureira, com 9% do IDE total. No setor de mineração, o relatório ressalta a aquisição da Frontino Gold Mines pela empresa canadense Medoro Resources por US$ 198 milhões. No setor de serviços, as atividades que mais atraíram fluxos de IDE foram o setor financeiro (14%) e o comércio (7%). Em términos de origem do IDE, as informações sobre novos investimentos indicam que o principal país investido em 2010 foi o Panamá (51% de total), seguido pelo Reino Unido (16%) e Canadá (14%).
Na Argentina, os fluxos de IDE cresceram 54% em 2010, alcançando US$ 6,2 bilhões. Não obstante esse expressivo aumento, tal volume se encontra ainda longe do pico da década atingindo em 2008, quando os fluxos superaram US$ 9,0 bilhões. Entre as aquisições recentes mais importantes, destacam-se, no setor de recursos naturais, a compra da empresa Bridas pela china CNOOC por US$ 3,1 bilhões e a compra de uma participação minoritária na YPF por um grupo norte-americano, por US$ 499 milhões. Na indústria de transformação, o destaque foi a compra do laboratório Phoenix pela empresa britânica GlaxoSmithKline por US$ 253 milhões.



Investimentos Diretos na América Latina por Intensidade Tecnológica. O relatório da Cepal também analisa os fluxos de IDE para a América Latina sob a perspectiva da intensidade tecnológica das atividades das empresas dos setores receptores do investimento estrangeiro. Com esse propósito, os projetos de IDE são classificados em quatro categorias: alta tecnologia, média-alta tecnologia, média-baixa tecnologia e baixa tecnologia.
Comparativamente aos países asiáticos, notadamente os Tigres – Cingapura, Coreia do Sul, Hong Kong e Taiwan – e a China, os países latino-americanos atraem muito mais projetos de IDE de média-baixa e baixa tecnologia. Embora, esse percentual tenha caído para 66% no período 2008-2010 ante 79% no período 2003-05, a participação da América Latina no IDE com maior potencial tecnológico ainda é bem menor do que é verificado nos Tigres Asiáticos (81% de IDE em setores de alta e média-alta tecnologia no período 2008-10) e na China (80% de IDE em setores de alta e média-alta tecnologia no período 2008-10).
Em relação aos principais destinos na América Latina, o Brasil se destaca como maior receptor absoluto nas quatro categorias tecnológicas. Em 2010, o Brasil recebeu 55% e 49%, respectivamente, do total do IDE direcionado aos setores de alta e média-alta tecnologia. Já o México, que, em 2009, havia sido o principal destino do IDE nos setores de alta tecnologia recebeu 31% dos investimentos tanto em alta como em média-alta tecnologia. Dos investimentos diretos destinados aos setores de alta tecnologia participaram também a Argentina (5%) e a Costa Rica (3%), e nos fluxos de IDE direcionado aos setores de média-alta tecnologia estão presentes Argentina (7%), Peru (4%), Venezuela (3%) e Colômbia (3%).
Nos setores de baixa e média-baixa tecnologia, a distribuição dos investimentos é muito mais fragmentada entre países. Em média-baixa tecnologia, o Brasil é maior receptor (43%). Porém, outros países detêm participação importante, casos do Peru (17%), Paraguai (16%) e Chile (12%). Nos setores de baixa tecnologia, o Brasil lidera (44%), seguido pelo México (19%), Argentina (12%), Peru (9%) e Colômbia (3%).
O relatório também apresenta informações sobre a composição dos projetos de IDE destinados a América Latina e Caribe e aos principais países receptores da região em 2010. O principal destino do investimento estrangeiro foram os setores de média-baixa tecnologia, que absorveram 55% do IDE total. Já os setores de média-alta tecnologia ampliaram sua participação para 28% (16% em 2009), e os setores de baixa e de alta tecnologia registraram participação, respectivamente, de 11% e 5%. Já a análise da distribuição por intensidade tecnológica dos projetos de IDE na Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, México e Peru, que em conjunto absorveram 90% do total do IED da região em 2010, revela alguns padrões bem distintos do investimento regional.
No Brasil, por exemplo, os fluxos líquidos de investimento direto estrangeiro se concentraram em 2010 nos setores de média-baixa tecnologia (52%). Os setores de média-alta tecnologia receberam por sua vez 30% do total, e os setores de baixa e de alta tecnologia foram os que registraram menor participação: 11% e 6%, respectivamente. O relatório ressalta que, embora represente apenas 6% do IDE total destinado ao Brasil, os investimentos diretos em alta tecnologia efetuados no país representam 55% do total desse tipo de investimento destinado a toda região.
Já no caso do México, observa-se uma marcada preponderância de projetos de IDE nos setores de média-alta tecnologia (56%), como indústria automotiva, máquinas e equipamentos e produtos químicos. Com menor participação, encontram-se os setores de média-baixa tecnologia (21%), baixa (14%) e alta (10%).
O Chile é o país que apresenta a maior concentração do IDE em uma única categoria de intensidade tecnológica: 95% dos projetos de IDE em 2010 se destinaram aos setores de média-baixa tecnologia. A quase totalidade dos projetos de investimento está associado às industrias metálicas e extração de produtos minerais não metálicos.
Na Colômbia, a distribuição dos novos investimentos é bastante similar a distribuição regional. Os setores de média-baixa tecnologia receberam 54% do IDE, e os setores de média-alta e baixa receberam, respectivamente, 30% e 13%. Com uma participação muito baixa, os setores de alta tecnologia receberam apenas 2% do IDE total destinado ao país.
Na Argentina, os setores de média-alta tecnologia ficaram com a maior parcela dos novos investimentos (45%), e os setores de baixa tecnologia, como os de alimentos, têxtil, madeira e papel, absorveram 31%. Os setores de média-baixa e de alta tecnologia registram a menor participação, com 18% e 6%, respectivamente.
Já no Peru, à semelhança do Chile, os setores de média-baixa tecnologia concentram a grande maioria dos novos projetos de IDE (81%), seguido por média-alta intensidade (10%) e baixa tecnologia (9%).



Investimento Direto no Exterior das Empresas Latino-americanas. Os fluxos de IED com origem em países da América Latina e Caribe alcançaram um novo recorde histórico de US$ 43,1 bilhões em 2010, quando praticamente se quadruplicaram na comparação com 2009. Este expressivo aumento permitiu a região manter uma relevância crescente como investidora no exterior, com elevação da participação dos investimentos latino-americanos e caribenhos diretos no exterior no total dos fluxos procedentes de países em desenvolvimento de 6% em 2000 a 17% em 2010.
De acordo com o relatório, esse forte aumento dos investimentos no exterior das empresas translatinas se deu em um marco da ampliação da importância das economias emergentes na economia mundial. Além da relevância crescente das empresas transnacionais de países em desenvolvimento nos fluxos mundiais de IDE, essa expansão se dá em um contexto de acirramento da concorrência e da consolidação em âmbito global. Esse processo está ocorrendo não só em indústrias orientadas ao consumo final, mas também em algumas indústrias provedoras
Na última década, as empresas que mais se internacionalizaram foram as do Brasil, Chile, México e, mais recentemente, as da Colômbia. Esse processo tem ocorrido, sobretudo, nas indústrias básicas (extração de petróleo e gás, mineração, cimento, celulose e papel, siderurgia), indústria produtoras de bens de consumo de massa (alimentos e bebidas) e alguns serviços (energia, telecomunicações, transporte aéreo, comércio varejista).
Esse aumento do IDE proveniente da América Latina em 2010 se explica pelos maiores investimentos realizados no exterior por empresas do México, Brasil, Chile e Colômbia, as quais, em conjunto, representam mais de 90% dos fluxos em 2010. Para o México, Chile e Colômbia, os montantes de investimento direto no exterior atingiram máximos históricos.
Uma das principais características do IDE originário da América Latina reside no fato de que a maior parte dos fluxos se destina aos países vizinhos. De acordo com a Cepal, 47% das fusões e aquisições realizadas por empresas latino-americanas em 2010 tiveram como destino a própria região. Os investimentos das empresas translatinas em novas plantas também foram direcionadas, de maneira importante, à região: 59% do total em 2010. Esses dados confirmam a importância das translatinas como agentes da integração regional e como meio de compartilhamento de práticas e conhecimentos associados aos seus processos produtivos.
O México foi o país cujas empresas realizaram os maiores investimento no exterior em 2010, aumentando 81% em relação ao ano anterior, com montante recorde de US$ 12,7 bilhões. Em 2010, o setor de serviço tornou-se um destino importante dos principais investimentos mexicanos no exterior, até então bastante concentrado na indústria manufatureira. Em 2010, em particular, o IDE mexicano foi liderado por grandes aquisições nos setores de mídias, telecomunicações e alimentos.
Os investimentos diretos no exterior procedente do Brasil atingiram US$ 11,5 bilhões em 2010, recuperando-se expressivamente da retração de 2009. Durante o ano de 2010, os novos investimentos se dirigiram a diversos setores. Na área de recursos naturais, a atividade mais relevante foi a extração de minerais metálicos (6%); no setor industrial destacaram-se os investimentos em alimentos (15%) e metalurgia (7%), e no de serviço, destacaram-se os serviços financeiro (47%).
O relatório salienta a importância do apoio governamental recebido pelas empresas brasileiras em seu processo de internacionalização. Embora a política pública de incentivo à expansão das empresas-líderes não seja recente, houve um considerável reforço desse tipo de iniciativa com a Política de Desenvolvimento Produtivo iniciada em 2008. O estudo destaca o suporte financeiro concedido pelo BNDES às empresas Magrif e JBS Friboi para aquisições de empresas americanas do setor de alimentos.
Entre as fusões e aquisições transfronteiriças realizadas por empresas brasileiras em 2010, destacam-se os investimentos da Vale na Guiné, mediante a compra de ações da britânica BSG Resources; da Metalúrgica Gerdau no Canadá; a participação da Camargo Corrêa na Cimpor Cimentos de Portugal e a aquisição de americana Keystone Foods pela Marfrig Alimentos. Todos estes investimentos envolveram montantes superiores a US$ 1,0 bilhão. Igualmente, países da própria América Latina, como Argentina, Chile, Colômbia e Peru estão atraindo importantes investimentos brasileiros. A empresa Vale, por exemplo, iniciou atividades de exploração de minas de cobre no Chile, fosfatos no Peru e de carvão na Colômbia. Também a Natura, empresa de cosméticos com atividades na Argentina, Chile e Peru, planeja iniciar em 2011 operações na Colômbia e no México.
No Chile, as empresas aumentaram em 8% seus investimentos diretos no exterior em 2010, alcançando o volume recorde de US$ 8,8 bilhões. O principal destino dos investimentos foram os países da região (58% do total), em particular Brasil (20%), seguido do Peru (13%), Argentina (11%) e Uruguai (6%). Os investimentos chilenos se concentraram em serviços financeiros, empresas e outros (45% do total) e comércio varejista (21%), e, em menor grau, na indústria de transformação (10%). Entre as empresas comerciais, o estudo destaca a rede de supermercados Cencosud, que anunciou investimentos na Argentina, Brasil, Colômbia e Peru, a loja de departamento Falabella, que também anunciou investimentos na Argentina e no Peru.
Entre outras operações importantes realizadas em 2010 por empresas chilenas, o relatório destaca a da empresa Cementos Bío Bío no Peru (em conjunto com a empresa brasileira Votorantim); os investimentos da empresa de serviços de software e de tecnologias de informação Sonda na Argentina, Brasil e México em montantes que, em conjunto, superam US$ 90 milhões de dólares, e a aquisição da empresa Eitzen Bulk Shipping da Dinamarca pela empresa de navegação Ultragas por US$ 93 milhões. A fusão da empresa LAN Airlines com a brasileira TAM Airlines ainda depende da aprovação dos órgãos chilenos de regulação.
No caso da Colômbia, os montantes de investimentos diretos no exterior praticamente dobraram entre 2009 e 2010, atingindo US$ 6,5 bilhões. Esse aumento foi liderado pelo setor de mineração, que respondeu por 70% dos fluxos de IDE. Os principais investimentos foram realizados pela ECOPETRO nos Estados Unidos, Brasil e Peru, que ainda devem continuar sendo executados ao longo de 2011. Também foram particularmente dinâmicas em 2010 algumas empresas de serviços, como o Grupo Aval Acciones y Valores, que comprou a BAC Credomatic na América Central por US$ 1,9 bilhão, a Empresas Públicas de Medellín, empresa estatal de distribuição de energia, que adquiriu a empresa Distribución Eléctrica Centroamericana II por US$ 605 milhões, e a empresa estatal Interconexión Eléctrica, que investiu US$ 499 milhões na Cintra Concesiones de Infraestructuras de Transporte de Chile. O relatório destaca ainda os investimentos da empresa Cementos Argos nos Estados Unidos, Haiti, Panamá e na República Dominicana.
Os fluxos líquidos de investimentos diretos no exterior originários da Venezuela totalizaram US$ 2,4 bilhões em 2010, o que corresponde a um aumento de 30% na comparação com o ano anterior. A maior parte dos investimentos foi realizada pela empresa estatal PDVSA e se destinaram ao setor petroleiro. Todavia, também ocorreram investimentos diretos no exterior do setor financeiro, com a compra pelo grupo Fondo de Desarrollo Nacional de participação acionária importante no Banco AKB Yevrofinans Mosnarbank da Rússia, e do setor de comércio e serviços, mediante os investimentos da empresa Becoblohm Valencia na Costa Rica e o da empresa de serviços informáticos Sidif no Chile, Nicarágua e Peru.




