30 de Novembro de 2012 - nº 548

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Indústria: Produtividade, Custos e Investimento – 2007-2010
 

Sumário

A indústria brasileira passou por mudanças relevantes entre o ano anterior à grande crise financeira de 2008 (2007) e o ano de recuperação aos efeitos desta crise, ou seja, 2010. Com efeito, no período 2007-2010, aumentou o peso das Indústrias Extrativas (de 6,4% em 2007 para 9,0% em 2010) e caiu o das Indústrias de Transformação (de 93,6% em 2007 para 91,0% em 2010). Mesmo com a tendência à concentração dos setores industriais no grupo ligado à produção de commodities, observa-se que setores tradicionalmente importantes, como os de Metalurgia e Fabricação de coque, de produtos derivados do petróleo e biocombustíveis, perderam peso (de 9,2% em 2007 para 6,1% em 2010 e de 13,7% em 2007 para 11,5% em 2010, respectivamente), em grande medida pela flutuação dos preços das commodities no mercado internacional.

Setores cujo desempenho não está diretamente ligado ao mercado de commodities tiveram sua trajetória afetada, dentre outros fatores, pela manutenção da taxa real de câmbio apreciada na maior parte do período, que afetou negativamente a competitividade das exportações de manufaturas e aumentou a oferta interna de produtos manufaturados importados.

A evidência de aumento de importados na oferta interna de bens manufaturados, aliada à tendência a concentração do valor agregado da Indústria na produção de commodities e bens de baixo conteúdo tecnológico, implicou perda de dinamismo da produtividade. Estes fatores exercem impacto negativo sobre a produtividade, pois enfraquecem as interações entre setores, reduzindo o potencial de exploração de economias de escala.

A forte oscilação do crescimento da produção industrial no período, que abrange o impacto da crise internacional em 2008-2009 e a recuperação em 2010, também afetou o comportamento da produtividade, que é altamente correlacionada com o crescimento da indústria. Em termos reais, o aumento acumulado de 2007 a 2010 da produtividade da Indústria Geral (23,7%) ficou abaixo da variação dos preços da economia medido pelo deflator do PIB (25,7%) no mesmo período.

A baixa taxa de desemprego geral na economia brasileira no período, que reflete fatores demográficos além de outros determinantes, exerceu pressão sobre os gastos com pessoal: o aumento do gasto com pessoal por trabalhador na Indústria Geral de 2007 a 2010 foi de 26,7%, maior que o aumento em termos correntes da produtividade (23,7%), o que representou um aumento de 2,4% no custo do trabalho. Esta elevação foi maior nas Indústrias de Transformação (4,2%) do que nas Extrativas (2,2%).

A maior pressão com os gastos com pessoal foi mais que compensada pela perda de peso no valor bruto da produção industrial dos custos em operações industriais – de 57,5% em 2007 para 54,4% em 2010, uma queda de 3,2 pontos percentuais, determinada pela diminuição relativa com as despesas com consumo de matérias primas, materiais auxiliares e componentes. Para efeito de comparação, os gastos com pessoal como proporção do valor bruto da produção industrial da indústria geral aumentou de 13,7% para15,2%, um aumento de 1,5 pontos de percentagem. Dos 29 setores da Indústria Geral, em 22 houve queda na participação dos custos de operações industriais no valor bruto da produção industrial, e em apenas 5 queda relativa dos gastos com pessoal de 2007 a 2010.

Em suma, mudanças na composição dos custos diretos de produção explicam como as empresas industriais puderam manter sua rentabilidade no período, apesar do fraco desempenho em termos de produtividade frente o aumento nos custos do trabalho. Em grande medida a perda de peso dos custos operacionais esteve ligada à queda no custo das matérias primas importadas, favorecida pela taxa de câmbio apreciada.

O fraco desempenho agregado da produtividade industrial tem como explicação também o desempenho do investimento. O investimento industrial se concentrou em termos relativos no setor Fabricação de coque, de produtos derivados do petróleo e biocombustíveis e essa concentração aumentou em termos relativos, passando de 28,4% em 2007 para 37,7% em 2010, considerando o total da Indústria. Portanto quase 40% do investimento industrial esteve concentrado em um único setor capitaneado por uma empresa estatal.

A taxa de crescimento da produtividade no período foi altamente correlacionada com o crescimento do valor agregado da Indústria, porém não foi correlacionado com a taxa de investimento. Este resultado pode ser explicado pelo fato do período analisado ser relativamente curto e de crescimento instável. 
 

 
 

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Introdução. A lenta resposta da indústria brasileira aos incentivos à sua recuperação ao longo do primeiro semestre de 2012 chamou a atenção para dificuldades de caráter estrutural, ou seja, além da conjuntura de recessão mundial, que possam estar comprometendo a sua competitividade. A divulgação da Pesquisa Industrial Anual de 2010, com classificação setorial compatível a partir de 2007, possibilita uma análise detalhada sobre custos e produtividade, que ajudam a entender como o setor reagiu ao choque da crise financeira internacional que atingiu a economia brasileira no final de  2008.

Vale a pena recuperar que desde meado de 2003 o valor adicionado da Indústria de Transformação começou a apresentar um fôlego de crescimento maior - a indústria Extrativa Mineral retomou seu crescimento mais cedo, no início da década - que é interrompido com a crise financeira internacional no último trimestre de 2008. Assim, o período 2007-2010 abrange o impacto da crise internacional na economia brasileira e a recuperação da mesma no período 2009-2010, permitindo que se entenda melhor o porquê do início da trajetória descendente do setor industrial que se observa a partir de 2011.

 

 
Nesse período houve mudanças na estrutura industrial, em termos do valor agregado, sendo a mais importante a diminuição de peso da Indústria de Transformação. Considerando as informações a preços constantes das Contas Nacionais, a Indústria de Transformação vem perdendo peso desde meado dos anos 1990, sendo que esta perda se acelera a partir de 2007. Enquanto de 1996 a 2003 a Indústria de Transformação passou de 18,3% do total do valor adicionado para 17,0% em 2003 (-1,3pp), em 2007 este percentual foi de 16,7%, caindo para 15,1% (- 1,6pp) em 2011.

 

 
Considerando as informações da Pesquisa Industrial Anual, o peso da Indústria de Transformação em termos de valor agregado passou de 93,6% da Indústria Geral (Indústrias de Transformação mais Indústrias Extrativas, segundo a Pesquisa Industrial Anual) em 2007 para 91,0% em 2010. A perda de 2,6 pontos percentuais (pp) corresponde ao ganho que tiveram as Indústria Extrativas, que passaram de 6,4% para 9,0% do total da Indústria. Neste setor, o ganho se concentrou na Extração de minerais metálicos, que passou de 5,4% para 7,4%. 

Na Indústria de Transformação as perdas mais expressivas foram as da Metalurgia – de 9,2% para 6,1% (-3,1 pp), Fabricação de coque, de produtos derivados do petróleo e biocombustíveis – de 13,7% para 11,5% (-2,2 pp), e Produtos químicos – de 7,7% para 6,2% (-1,5 pp). O único setor com ganho expressivo foi o de Fabricação de produtos alimentícios – de 9,2% para 12,2% (+3,0 pp).

Uma avaliação geral do movimento da estrutura produtiva no período indica uma tendência à concentração da Indústria em alguns setores produtores de commodities: os tres setores que mais ganharam peso no valor agregado – Fabricação de produtos alimentícios, Extração de minerais metálicos e Fabricação de produtos de minerais não metálicos – totalizavam 17,7% do valor adicionado total em 2007 e passaram a responder por 23,5% em 2010.

Dentre o grupo de setores ligados à produção de commodities observa-se que houve tanto ganhos - Extração de minerais metálicos e Fabricação de produtos alimentícios – quanto perdas – Metalurgia e Fabricação de coque, de produtos derivados do petróleo e biocombustíveis. Grande parte desse movimento é explicada pelo preço das commodities que oscilaram muito no período, como os preços dos minerais, por exemplo, que tiveram grande crescimento depois da crise.

Considerando que o grupo de setores produtores de commodities apresenta participação relativamente elevada na estrutura das Indústrias de Transformação, e que as Indústrias Extrativas vêm ganhando peso, pode-se identificar dois grupos de setores dentre os produtores de commodities: um que sofreu mais com a oscilação de preços no mercado internacional como o metalúrgico, podendo incluir também setores ligados à indústria química e de papel e celulose, e outro grupo de setores que também tem ligação com o mercado externo - como o de Fabricação de produtos alimentícios, e que também atende ao mercado doméstico, que se apresentou mais dinâmico no período relativamente ao mercado externo. De fato, a contribuição do Consumo das Famílias, assim como a Formação Bruta de Capital Fixo no PIB aumentou no período 2007-2010.

 

 
Setores cujo desempenho não está ligado diretamente ao mercado de commodities tiveram sua trajetória afetada, dentre outros fatores, pelo comportamento da taxa real de câmbio, que impactou tanto a competitividade das exportações de manufaturas como a oferta interna de produtos manufaturados.

A taxa real de câmbio manteve no período a tendência que se manifesta desde meado dos anos 2000 de forte apreciação, reduzindo a competitividade da exportação de manufaturas. A evolução da competitividade das exportações de manufaturas pode ser medida pelo quociente entre a taxa de câmbio nominal (em R$/unidade de moeda estrangeira) e a relação entre o Indice de Preço por Atacado (IPA) do respectivo país e o Indice de Preços por Atacado da Indústria de Tranformação (IPA-IT/FGV) do Brasil, ponderado pelas participações de cada parceiro no total das exportações brasileiras de manufaturados em 2001. Este indicador mostra que mesmo com a súbita desvalorização da moeda doméstica no último trimestre de 2008, por força da crise financeira americana, a moeda brasileira encontrou-se na maior parte do tempo muito apreciada, afetando negativamente a competititividade das exportações de manufaturas.

 

 
Do ponto de vista da concorrência interna com produtos importados, observa-se um aumento persistente da participação de bens importados na oferta interna da Indústria de Transformação. O coeficiente de penetração de importações de manufaturados passou de 15,3% em 2007 para 19,0% em 2010, atingindo a 20,4% em 2011. Em 2009 registrou-se retração neste percentual para 15,4%, devido ao mau desempenho do setor de manufatura (-7,3%) neste ano. No entanto, este percentual ainda foi ligeiramente superior ao registrado em 2007 (15,3%), ano em que a Indústria de Transformação cresceu 6,0%.

 

 
A evidência de aumento de importados na oferta interna de bens manufaturados, aliada à tendência a concentração do valor agregado da Indústria na produção de commodities, implica perda de dinamismo da produtividade. Isto se dá tanto porque o enfraquecimento de elos dentre os setores industriais como a maior concentração na produção de bens finais com menor conteúdo tecnológico (mesmo que o processo de produção destes bens incorpore muita tecnologia) leva a uma menor interação entre setores produtivos, o que é menos favorável à exploração de economias de escala dinâmicas.

 

 
A evolução da produtividade depende da dinâmica de crescimento do valor agregado e do emprego. Observa-se no período 2007-2010 que o emprego industrial cresceu, tanto nas Indústrias Extrativas como de Transformação. Segundo a Pesquisa Industrial Anual (Empresa) o percentual de expansão acumulado da Indústria Geral foi de 5,8% com a participação do emprego das Indústrias de Transformação se mantendo constante em torno de 98% do total. Do ponto de vista do valor agregado, o que se observou é que o movimento da produtividade no período foi fortemente pró-cíclico, com o coeficiente de correlação entre variação da produtividade e variação do valor agregado da Indústria Geral de 0,85 (para efeito do gráfico excluiu-se o setor de Extração de petróleo e gás que teve comportamento atípico, registrando que a Petrobras, pela classificação do IBGE, não é classificada neste setor e sim no de refino de petróleo).

 

 
Em termos reais, o aumento acumulado de 2007 a 2010 da produtividade da Indústria Geral (23,7%) ficou abaixo da variação dos preços da economia medido pelo deflator do PIB (25,7%) no mesmo período, mas o crescimento nominal da produtividade nas Indústrias Extrativas, de 66,0%, ficou bem acima da evolução dos preços, e muito superior ao das Indústrias de Transformação, que registrou no agregado expansão nominal de 20,4%.

Nas Indústrias Extrativas os destaques foram Extração de petróleo e gás natural com (879,9%), Extração de minerais não-metálicos (79,4%) e Atividades de apoio à extração de minerais (79,0%). O resultado do primeiro setor é extremamente atípico e fruto da grande elevação da produtividade em 2010, quando quatro novas empresas ingressaram nesse segmento, que em 2009 tinha apenas 13 empresas. Resultados discrepantes são sempre mais comuns em setores com poucas empresas.

Nas Indústrias de Transformação os destaques positivos foram os incrementos em Fabricação de produtos alimentícios (54,7%), Fabricação de móveis (46,0%) e Fabricação de produtos minerais não metálicos (45,7%) e Preparação de couros e fabricação de artefatos de couro, artigos para viagem e calçados (41,1%). Os piores desempenhos foram os de Metalúrgica (-14,8%), Produtos químicos (3,1%), Fabricação de outros equipamentos de transporte, exceto veículos automotores (14,4%) e Fabricação de celulose, papel e produtos de papel (15,7%). Novamente não há um padrão favorável aos produtores de commodities, pois nessa categoria há tanto aumentos expressivos, como em Extração de minerais não-metálicos, como quedas (Metalúrgica) ou fraco desempenho (Fabricação de celulose, papel e produtos de papel).

O mesmo se pode dizer dos setores intensivos em tecnologia, que por fragilidades tecnológicas inerentes à indústria doméstica, sofrem maior concorrência com produtos importados. Neste grupamento há segmentos tanto com evolução acima da média nominal da indústria - Fabricação de máquinas e equipamentos (30,0%) e Fabricação de máquinas, aparelhos e materiais elétricos (25,5%) – quanto abaixo - Fabricação de outros equipamentos de transporte, exceto veículos automotores (14,4%) e Fabricação de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (20,0%).

 

 
A capacidade das empresas em acumular recursos internos está associada ao desempenho da produtividade ser superior ao aumento no custo do trabalho. O que se observou no período 2007-2010 é que o recuo da produtividade da Indústria Geral em termos reais no período veio acompanhado de um aumento relativo na participação dos custos com pessoal em relação aos demais custos diretos de produção. A proporção dos gastos com pessoal na Indústria Geral, que inclui salário, retiradas, encargos e benefícios, aumentou tanto em relação ao valor agregado – de 45,2% em 2007 para 46,3% em 2010- como em relação ao valor bruto da produção industrial – de 13,7% para 15,2%. Os resultados foram diferenciados setorialmente, sendo o aumento relativo do gasto maior nas Indústrias de Transformação – de 46,9% em 2007 a 48,9% 2010 no caso valor agregado e de 13,7% para 15,4% no valor bruto da produção industrial – do que nas Indústrias Extrativas - de 19,6% em 2007 a 20,0% 2010 no caso valor agregado e de 12,8% para 12,5%, registrando ligeira queda, no valor bruto da produção industrial. Vale mencionar que parte da pressão de custo com pessoal está associada à baixa taxa de desemprego que reflete fatores demográficos, com o crescimento mais lento da população economicamente ativa.

 

 
O maior peso dos gastos com pessoal no valor adicionado com crescimento no emprego indica que o aumento do salário médio na Indústria no período (medido pelo gasto com pessoal) foi superior ao da produtividade. De fato, o aumento do gasto com pessoal por trabalhador na Indústria Geral de 2007 a 2010 foi de 26,7%, maior que o aumento em termos correntes da produtividade (23,7%), o que representou um aumento de 2,4% no custo do trabalho. A elevação do custo de trabalho foi maior nas Indústrias de Transformação (4,2%) do que nas Extrativas (2,2%). Nesta última, todos os setores registraram queda no custo de trabalho, exceto Extração de Minerais metálicos (14,7%), que é segmento de maior peso.

Nas Indústrias de Transformação os maiores acréscimos no custo do trabalho foram nos setores de Metalurgia (41,2%), devido à queda na produtividade em termos nominais (-14,8%), Produtos químicos (15,5%) em função fraco desempenho da produtividade (3,1%), Fabricação de coque, de produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (13,9%), em consequência do grande aumento do gasto médio em pessoal (51,4% contra 26,7% da indústria geral), e Fabricação de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (10,5%).

 

 
A maior pressão com os gastos com pessoal foi mais que compensada pela perda de peso no valor bruto da produção industrial dos custos em operações industriais (COI) – de 57,5% em 2007 para 54,4% em 2010, determinado pela diminuição relativa do principal componente do COI – as despesas com consumo de matérias primas, materiais auxiliares e componentes. A contração relativa do COI foi novamente maior nas Indústrias Extrativas – de 41,8% em 2007 para 24,3% em 2010 – do que nas Indústrias de Transformação – de 58,0% para 55,9%.

 

 
Comparando a evolução da participação dos custos com operação industrial e do gasto com pessoal no valor bruto da produção industrial, observa-se que dos 29 setores da Indústria Geral, em 22 houve queda na participação do COI no valor bruto da produção industrial, e em apenas 5 queda relativa dos gastos com pessoal de 2007 a 2010.

Nas Indústrias Extrativas o destaque para a queda no custo de operações industriais foi Extração de minerais metálicos com perda de 21,4 pp de 2007 a 2010. Nas Indústrias de Transformação as quedas de participação mais expressivas de 2007 para 2010 foram as de Preparação de couros e fabricação de artefatos de couro, artigos para viagem e calçados (-8,8 pp), Confecção  de artigos do vestuário e acessórios (-7,0 pp) , Manutenção, reparação e instalação de máquinas  e equipamentos ( -6,5 pp) e Fabricação de móveis (-4,3 pp). Todos esses setores, intensivos em mão de obra,  tiveram aumento relativo de gastos com pessoal no período. Dos quatro setores relacionados, três são tradicionais e sofrem forte concorrência como produto importado. Esse resultado sugere que o aumento do gasto com pessoal foi compensado com menor gasto com COI, via importação de matérias-primas mais baratas, favorecido pela taxa real de câmbio apreciada.

 

 
Em suma o aumento no custo com pessoal no valor bruto da produção industrial compensado por queda no custo com operações industriais explica como as empresas industriais puderam manter sua rentabilidade no período, apesar do fraco desempenho em termos de produtividade. Em grande medida a perda de peso dos custos operacionais esteve ligado à queda no custo das matérias primas importadas, favorecido pela taxa de câmbio apreciada.

O fraco desempenho agregado da produtividade industrial tem como explicação também o desempenho do investimento. Segundo as Contas Nacionais, a taxa de investimento da economia havia começado a se recuperar a partir de 2004, porém, a crise financeira internacional em 2007 interrrompeu este movimento. A recuperação em 2010 perde fôlego a partir de 2011.

 

 
O investimento industrial se concentra em termos relativos no setor Fabricação de coque, de produtos derivados do petróleo e biocombustíveis e essa concentração aumentou em termos relativos, passando de 28,4% em 2007 para 37,7% em 2010, considerando o total da Indústria. Portanto quase 40% do investimento industrial se concentra num setor dominado por uma empresa estatal – a Petrobras. O segundo setor que mais investiu foi o de Fabricação de produtos alimentícios, cuja participação caiu de 13,0% em 2007 para 12,2% em 2010. Em terceiro lugar está a Metalurgia passando de 12,8% em 2007 para 7,2%. Considerando os setores das Indústrias Extrativas, o que mais investe é o de de Extração de minerais metálicos, cuja participação em 2010 foi de 4,6%.

Em termos de taxa de investimento, os setores com maior taxa na Indústria de Transformação em 2007 - Fabricação de coque, de produtos derivados do petróleo e biocombustíveis, Fabricação de produtos alimentícios, Fabricação de celulose, papel e produtos de papel e Metalúrgica – estão ligados à produção de commodities. O setor de Fabricação de coque, de produtos derivados do petróleo e biocombustíveis foi o único, dentre os quatro com maior taxa de investimento em 2007, cujo ritmo de investimento aumentou em 2010. O setor de Fabricação de outros equipamentos de transporte, exceto veículos automotores, cuja taxa de investimento em 2007 foi de 10,9%, passou a 25,3% em 2010, representando o segundo maior aumento neste indicador em 2010.

Nas Indústrias Extrativas, em parte por terem um número bem menor de empresas - tanto no total, quando no subconjunto que realiza investimentos - frente as Indústrias de Transformação, as taxas de investimento são muito oscilantes, chegando a ser negativas – com aquisições + melhorias com valor inferior ao das baixas no ativo- no caso da Extração de Petróleo e gás natural.

 

 
Por fim, vale observar que não existe correlação estatística entre variação da produtividade e taxa média de investimento (Gráfico 10, não inclui o setor de Extração de petróleo e gás) para o conjunto da indústria de 2007 a 2010. O setor Fabricação de coque, de produtos derivados do petróleo e biocombustíveis apresentou a maior taxa de investimento e teve uma variação de produtividade acima da média. No entanto, o setor com a terceira maior taxa de investimento - Fabricação de celulose, papel e produtos de papel teve uma variação de produtividade abaixo da média. O setor com um excepcional aumento de produtividade – Extração de petróleo e gás natural teve uma taxa de investimento inferior aos dois primeiros setores citados. Esse resultado deve considerar que o período analisado é relativamente curto, e de muita instabilidade, por abarcar o impacto e posterior recuperação da crise internacional na economia brasileira. Nestas circunstâncias, a variação da produtividade tende a ser fortemente influenciada pelo ciclo econômico de curto prazo e não pelos efeitos a médio e longo prazos do investimento.

Portanto, para o investimento ter impacto forte sobre a produtividade no curto prazo, o aumento da produção de bens de investimento (setores produtores de máquinas e equipamentos incluindo máquinas elétricas e eletrônicas e equipamentos de informática) deve crescer acima da média, pois este conjunto de setores, pelos elos com demais, tem a capacidade de alavancar mais fortemente o crescimento do valor agregado da indústria que é fortemente correlacionado com a evolução da produtividade. Na medida em que este impacto é reduzido, a correlação entre aumento de produtividade e taxa de investimento é baixa. No longo prazo, os benefícios do aumento da taxa de investimento sobre a produtividade industrial devem ser observados na medida em que aumentem a eficiência do setor e promovam a mudança estrutural na direção de setores produtores de bens de maior conteúdo tecnológico.

 

 

 
Em conclusão, como a produtividade é pró-cíclica, o maior efeito positivo de encadeamento do aumento da produção levando ao aumento de produtividade depende da composição setorial da indústria, ou seja, se mais dinâmica na produção de bens com maior conteúdo tecnológico. Quanto mais importantes forem estes setores na estrutura industrial, maiores os ganhos advindos da exploração de economias de escala dinâmicas. Não parece ser esta a direção para a qual caminha a indústria brasileira na medida em que tem ganho peso setores produtores de commodities e de bens de baixo conteúdo tecnológico, o que pode explicar porque, a despeito das medidas recentes de estímulo ao setor, que este tenha apresentado lenta recuperação, apesar da rentabilidade ter sido mantida pela queda nos custos operacionais.