Observações Iniciais.
Analisar o preço relativo
do investimento é importante, pois
sendo o mesmo crescente indica condição
adversa para investir. Isto pode ser apreendido
do seguinte modo: caso um potencial empreendedor
no país pretender imobilizar sua renda
ou riqueza em máquinas, equipamentos
e instalações, é necessária
a perspectiva de retornos que ampliem seu
poder aquisitivo no futuro ante ao que pode
consumir de imediato.
Se, pela ótica de um empreendedor de
dada localidade, o que lhe move é a
perspectiva de retornos que lhe proporcionarão
maior consumo adiante, sob o prisma das firmas
transnacionais, tem assumido relevo cada vez
maior confrontar os custos de investir em
um país com os de fazê-lo em
outro. Ademais, há estudos, que apontam
para uma relação negativa entre
o nível de preço do investimento
e a adição de valor na indústria
de transformação (ver, por exemplo,
a pesquisa de Ilyas et al., intitulada “The
determinants of value added in Pakistan”,
publicada na Pakistan Economic and Social
Review, v. 48, nº 2, inverno de
2010).
Logo, ambos os enfoques – o do preço
relativo do investimento e o preço
do investimento por si só – são
primaciais para um diagnóstico acerca
das perspectivas da economia brasileira. Em
especial, se considerarmos o papel propulsor
da formação bruta de capital
fixo (FBCF) na expansão interrompida
pela eclosão da crise internacional
em setembro de 2008.
Para um contraponto entre níveis de
preços de investimento de diferentes
países, a base de dados conhecida por
Penn World Tables é um reconhecido
ponto de partida. A mesma chegou a sua versão
7 (PWT7), lançada em maio de 2011.
Nesta atualização, passou a
abarcar números até o ano de
2009. As PWT7 trazem, dentre outros indicadores,
justamente o preço da inversão
– investimento fixo mais variação
de estoques – para um conjunto amplo
de países desde 1950. Tal índice
de preço toma como parâmetro
o preço do produto interno bruto dos
Estados Unidos (o PIB dos EUA é igual
a 100 para todos os anos). Ilustrando, no
Brasil em 1985, o nível do preço
da formação de capital foi de
35,4 (com relação ao nível
de preço do PIB dos EUA), significando
um patamar no preço da inversão
brasileira 64,6% menor do que o do preço
do produto estadunidense.
Em dezembro de 2011, também foram atualizados
os dados constantes de outro banco de dados,
do National Accounts Main Aggregates Database,
a cargo do Departamento de Estatística
da ONU (UNSD, na sigla em inglês). Esta
passou a contar com números inclusive
para 2010, sendo, portanto, utilizado para
a evolução do preço relativo
do formação bruta de capital
fixo (FBCF). O cálculo foi feito a
partir dos dados em moeda doméstica,
sendo apresentado na forma de número-índice,
tendo como ano-base 1985 (1985 = 1).
Um Pouco Sobre o Deflator do Investimento
Brasileiro. Uma primeira abordagem
que pode ser feita a partir das PWT7 ao expor
o indicador de preço da inversão
para o Brasil. Apenas neste caso específico,
adotou-se o período de 1970 a 2009.
De início, observa-se acréscimo
do preço do investimento no transcorrer
dos anos 1970, atingindo seu maior patamar
de 51,0 em 1978, para 100 de preço
do PIB dos EUA. Dito de outra forma, ficou
49% abaixo do preço do produto dos
Estados Unidos. No começo da década
seguinte, de 1983 a 1986, o preço da
inversão chegou a seus menores níveis
para o período abarcado: 32,6 em 1983;
30,6 no ano seguinte; 35,4, em 1985 e 33,6
em 1986. No entanto, a segunda metade do decênio
o deflator do investimento voltou a aumentar,
alcançando o patamar de 77,2 em 1989,
o maior até então tomando-se
1970 como ano inicial. Os difíceis
anos que se seguiram, com a recessão
de 1991-1992, registraram recuo no preço
do investimento, até 43,1 em 1992.
Este voltaria a se recuperar, subindo até
1995: 65,4.
O período caracterizado como de miniciclo
de investimento na economia brasileira, de
1995 a 1998, é justamente aquele de
retração no preço da
formação bruta de capital. Em
1999, continuou a declinar, ficando em 45,2.
Apesar da alta em 2000, os anos de 2001 e
de 2002 voltaram a observar queda, com o preço
do investimento caindo para baixo da casa
dos 40 (para o preço do PIB dos EUA
igual a 100). A partir de então o preço
do investimento no Brasil, tendo como parâmetro
o preço do produto norte-americano,
cresceu quase que ininterruptamente até
2009, quando foi registrado o maior patamar
da série começada em 1970, 85,5,
sobrepujando o preço da inversão
de 1989.

O Nível do Preço
do Investimento: Uma Primeira Comparação
Internacional. Os gráficos
seguintes expõem a posição
do Brasil em meio a uma seleção
de países no tocante a quão
alto se encontra o preço do investimento
brasileiro em termos comparativos. Os anos
selecionados foram 1990, 2000 e 2008 e 2009.
Devido ao fato do ano de 2009 ter sido de
crise internacional, optou-se por expor também
um equivalente para 2008.
O primeiro deles traz o ano de 1990, pelo
qual se observa o Brasil experimentando um
patamar de preço do investimento abaixo
daquele das economias avançadas e mesmo
do que países da América do
Sul – Argentina e Chile. Também
ficou abaixo de Taiwan e Hong Kong. Cumpre
frisar que outros dois dos Tigres Asiáticos,
Coréia do Sul e Cingapura, experimentavam
patamares menores que o brasileiro, concorrendo
para seus investimentos. Índia, China
e Rússia também registravam
preços do investimento mais baixo que
o brasileiro, assim como México e países
da Europa Central e Oriental (Hungria, Polônia,
Romênia).
O ano de 2000 ilustra a queda no preço
do investimento frente a outros países,
em especial se tal comparação
for feita tendo em mente 1990: o indicador
para o Brasil se situou em 48,1 em 2000. Cumpre
lembrar que tal indicador teve ligeiro acréscimo
frente a 1999. Cingapura e Coréia do
Sul, por exemplo, passaram a apresentar preço
do investimento superior ao brasileiro. No
hemisfério ocidental, vale notar que
Costa Rica e Uruguai registraram preço
do investimento superior ao brasileiro, além
de Argentina, Chile e Venezuela.


Os dois últimos anos disponíveis
pelas Penn World Tables salientam um aumento
no preço do investimento do Brasil.
Em 2008, alcançou 64,8, mas atingiu
o ápice em 2009: 85,5. Nesse atípico
ano, o preço da formação
bruta de capital do Brasil superou o preço
da inversão dos Estados Unidos, 83,9.
Atendo-se ao gráfico para 2009, é
interessante notar que, com preço do
investimento maior do que o Brasil, estão
praticamente apenas países europeus,
além do Japão, Canadá,
Austrália e Venezuela. Como o ano em
questão foi de crise internacional,
a elevação do preço do
investimento no Brasil é associável
ao desaquecimento de outras economias, como
o caso dos EUA, cujo preço do PIB consiste
no parâmetro de medida.
No entanto esta pode ser uma leitura simplista.
Embora o preço da inversão também
tenha subido em outros países, muitos
deles registravam nível inferior ao
brasileiro. China, em suas duas versões,
Índia e Vietnã continuaram a
registrar nível bem inferior ao brasileiro.
A Coréia do Sul e Cingapura presenciaram
indicadores com patamares também inferiores
ao do Brasil. Rússia e África
do Sul foram dois outros países que
servem de ilustração: Rússia
em 2008 registrou um nível de preço
da inversão superior ao do Brasil;
enquanto a África do Sul, em 2000.
Ademais, excetuando-se a Venezuela, os países
latino-americanos selecionados presenciaram
um indicador abaixo do experimentado pelo
Brasil.
Deste modo, se o preço do investimento
brasileiro cresceu frente ao de outros países
como resultado do sucesso de suas medidas
de combate aos efeitos da crise, isto tornou
“mais barato” o investimento em
outros países. Dentre tais países,
como é bem sabido, há aqueles
que ainda cambaleiam por conta dos desdobramentos
da crise, principalmente na Europa, como Portugal.
Todavia há notáveis concorrentes
por capital novo, a exemplo dos países
asiáticos citados no parágrafo
anterior, da Rússia e da África
do Sul. Logo, se o preço do investimento
mais alto em 2009 foi uma decorrência
do êxito relativo das políticas
em face da crise, a tarefa a ser perseguida
no momento seguinte consiste em atuar fortemente
para reduzi-lo.


O Preço Relativo do Investimento Fixo
em Termos do PIB. Os dados das
PWT7 servem de baliza para as próximas
comparações internacionais que
trazem a evolução do preço
relativo da inversão fixa em termos
do PIB dos respectivos países. Na sequência
também são expostos gráficos
comparativos para o preço relativo
do investimento fixo em termos de consumo
final. Este segundo grupo de comparação
possui caráter complementar, pois o
preço da formação bruta
de capital fixo é contrastado com o
preço do que é gasto pelas famílias
e pelo governo, sem a influência que
preço das exportações
pode exercer no deflator do PIB.
Em face do período abarcado, fica nítido
o incremento superlativo da razão entre
o preço da FBCF e o preço do
PIB do Brasil no fim dos anos 1980, saindo
de 1,00 em 1980 (ano-base) para 1,45 em 1989.
Deste ano até 1991 houve forte recuo,
com aumento subsequente do preço relativo
em 1992 e 1993, quando chegou a 1,17. Mas,
em linha com o denominado mini-ciclo de investimento
dos anos 1990, o preço relativo da
inversão fixa declinou até 1998,
quando o indicador voltou ao patamar de 1985.
Nos anos seguintes, o preço relativo
da FBCF brasileira cresceu quase que sem interrupções
até 2004, chegando 1,14. Daí
em diante a relação entre preços
da FBCF e do PIB declinou de modo praticamente
contínuo até 2010, ficando em
1,05. Um preço relativo menor do investimento
fixo é relevante, pois quem imobiliza
sua riqueza em uma unidade produtora faz este
esforço na perspectiva de ampliar sua
cesta de consumo em futuro próximo.
Se investir passa ficar cada vez mais caro,
a chance do empreendimento gerar o retorno
esperado cai, passando a ser mais interessante
recorrer a aplicações, até
por conta da elevada taxa de juros em vigor
no País.
Um detalhe a frisar: contrastando o declínio
do preço relativo da FBCF de 2004 a
2010 com aquele de 1995 a 1998, o período
mais recente apresentou tal queda com incremento
do preço do investimento segundo os
dados das Penn World Tables. No período
anterior, de 1996 a 1998, o preço do
investimento recuou, o que persistiu até
2002.
Frente ao conjunto de países selecionados,
o Brasil não foi o único cujo
preço relativo da FBCF caiu ao longo
de 1985-2010. Dentre os países do G-7,
Japão, França e Itália
não tem apresentado uma tendência
de recuo da razão preço da FBCF/
preço do PIB. Aliás, no G-7,
desde 1992 nenhum país voltou a equiparar
o preço relativo da inversão
fixa de 1985. No contraponto com África
do Sul, Austrália e Israel, os três
países têm observado também
comportamento cadente do preço relativo
da FBCF, em que pese Israel ter percebido
alta de 2002 a 2005.
Passando para os países asiáticos,
dentre os Tigres, Cingapura tem sido a economia
a experimentar um movimento mais contínuo
de baixa do preço relativo do investimento
fixo. Coréia do Sul e Hong Kong não
apresentam tal movimento de modo claro como
os países do G-7 e Cingapura. Índia
e Malásia tem apresentado padrão
mais similar ao de Cingapura, com uma razão
cadente entre preços da FBCF e do PIB.
China, Indonésia e Tailândia,
por outro lado, registraram ao final, em 2010,
um preço relativo inclusive superior
ao brasileiro, considerando 1985 como ano-base.
Todavia tais países se caracterizam
pelo patamar bastante baixo do preço
do investimento, segundo as PWT.
Por fim, Argentina, Chile, Colômbia
e México chegaram em 2010 com um preço
relativo da FBCF bem abaixo do brasileiro.
O México tem apresentado um consistente
indicador em queda. A Argentina voltou a experimentar
recuo no preço relativo, mas após
perceber um incremento no mesmo nos anos 2000.
Tais resultados asseveram que a inserção
produtiva brasileira requer esforços
redobrados, ainda que haja otimismo por conta
do êxito relativo no lidar com a crise
e com o dinamismo do mercado doméstico.
Mas, mesmo que em ambiente adverso, é
justamente por conta de tais janelas de oportunidade
que engendrar condições para
investir e baratear os fatores de produção
para o investimento se tornam prementes. E
tornar mais barato o investimento não
quer dizer taxa de câmbio apreciada
para tanto, significa ter condições
de promovê-lo mesmo quando o câmbio
não for favorável.






O Preço Relativo do Investimento
Fixo em Termos do Consumo Final.
Obtendo-se o preço relativo da FBCF
em termos do consumo final (consumo das famílias
mais consumo do governo), consegue-se ver
que tal indicador para o Brasil pouco difere
da razão entre deflator da FBCF e deflator
do PIB.
Sendo igual a 1 em 1985, o preço relativo
da FBCF em termos do consumo final do Brasil,
cresceu quase que continuamente de 1999 a
2004, quando chegou a 1,13. A partir de 2005,
passou a declinar com certa consistência,
ficando em 2010 em 1,04, o menor preço
relativo desde 2000 (1,03).
Nas comparações internacionais,
o que mais chama atenção é
a comparação com países
asiáticos em desenvolvimento. Se, no
comparativo a partir do preço relativo
do investimento fixo em termos do PIB, em
2010, China, Indonésia e Tailândia
perceberam um preço relativo acima
do brasileiro, em termos do consumo final,
apenas os dois últimos presenciaram
preços relativos mais altos que o do
Brasil. Evidencia-se assim que o preço
das exportações chinesas concorreu
para um deflator do PIB maior.






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