Carta IEDI
Fôlego curto
A tendência recente da indústria, ao se prolongar para os próximos meses, poderá indicar que a recuperação do setor, iniciada em 2017, foi nada mais do que um processo de fôlego curto. Com praticamente metade do ano já coberto por dados oficiais do IBGE, 2019 é por ora um ano perdido, já que são taxas negativas quem prepondera em seu desempenho.
Maio não foi diferente, ao registrar -0,2% frente ao mês anterior, já descontados os efeitos sazonais, o que praticamente anulou a variação positiva verificada em abril (+0,3%). O padrão dos últimos meses na série com ajuste tem sido de oscilações muito próximas de zero, com quedas geralmente mais intensas do que os avanços. Com isso, o nível de produção industrial em mai/19 encontra-se 1,4% abaixo daquele de dez/18.
Isso significa que a indústria não tem mostrado forças para reverter a deterioração sofrida na virada de 2018 para 2019. Hoje, o setor continua pior do que um ano atrás. Entre janeiro e maio deste ano, acumula perda de -0,7% em relação a jan-mai/18. Este resultado só não é pior porque dois efeitos asseguraram uma alta extraordinária de +7,1% em mai/19 ante mai/18, que não deve se repetir em junho.
O primeiro destes efeitos foi a baixa base de comparação, dado que as últimas semanas de mai/18 foram marcadas pela greve dos caminhoneiros, que bloqueou o fluxo de mercadorias e perturbou a linha de produção de muitas empresas. O segundo diz respeito a um efeito calendário, já que maio do presente ano teve um dia útil a mais do que igual mês do ano passado.
Deste modo, qualquer amenização da atual fase recessiva da indústria pode vir a ser meramente transitória. O setor continua sentindo os impactos negativos do desastre de Brumadinho, que prejudicou o ramo extrativo, da crise da argentina e das tensões do comércio internacional, que vêm reduzindo as exportações de manufaturados (-1,6% em quantum ante jan-mai/18), e do baixo dinamismo do mercado doméstico, diante das incertezas em relação à política econômica, do elevado desemprego e do crescimento insuficiente da massa real de rendimentos da população.
A evolução industrial no acumulado em doze meses permite melhor identificar a tendência recente do setor, porque atenua os dois efeitos (calendário e base de comparação) que inflaram o resultado interanual de mai/19 e amortece os impactos negativos do desastre de Brumadinho. Segundo esta comparação, depois de atingir o pico de +3,9% em abril de 2018, o crescimento da indústria foi se reduzindo até se esgotar nos primeiros meses de 2019, registrando apenas 0% em jun/18-mai/19 frente ao mesmo período do ano anterior. Este é um dado que mostra claramente que a indústria parou.
A tendência dada pelo acumulado em doze meses para os macrossetores da indústria também é declinante, sem exceção, se compararmos a melhor marca atingida na fase recente de recuperação, verificada em abril de 2018, e o mês de maio de 2019, último dado oficial disponível.
Nesta comparação, os dois casos mais graves cabem a bens intermediários e a bens de consumo semi e não duráveis. No primeiro caso, a tendência já voltou a ser negativa (-0,9% no acumulado até mai/19 contra +2,6% até abr/18), em boa medida refletindo os problemas do ramo extrativo, mas mesmo antes apresentava um crescimento muito pequeno. No segundo caso, a quem cabe a mesma observação de registrar há muito tempo um baixo dinamismo, a tendência aponta para um quadro de estagnação: apenas +0,2% no acumulado jun/18-mai/19 contra +2,1% no acumulado mai/17-abr/18
Já os macrossetores de bens de capital e bens de consumo duráveis, que vinham liderando a recuperação industrial, permanecem neste posto com as maiores taxas de crescimento no acumulado doze meses até o mês de mai/19, mas sofreram uma profunda deterioração nos últimos meses. Para bens de capital, o dinamismo acumulado até abr/18 encolheu 60% em mai/19, ao passar de +10,1% para +4,2%. Para bens de consumo durável, por sua vez, o corte foi ainda maior: a tendência de crescimento em mai/19 é de apenas cerca de 20% do que era em abr/18: +3,7% versus +17,4%.
Em junho de 2019, estas tendências declinantes devem continuar, podendo ainda ser agravadas, dado que o resultado neste mês estará sob efeito calendário negativo (dois dias úteis a menos do que jun/18) e contará com uma base de comparação mais robusta, porque a produção industrial compensou em junho do ano passado aquilo que havia perdido com a greve em maio. A estes fatores somam-se o aumento progressivo de estoques, frequentemente julgados excessivos segundo pesquisa da CNI, e a deterioração da avaliação dos empresários do setor sobre as condições correntes de seus negócios no mês de junho.
Resultados da Indústria
Em maio de 2019, a produção industrial variou -0,2% na comparação com o mês anterior, já descontados os efeitos sazonais, praticamente anulando a variação de +0,3% registrada em abril. Com isso, atingiu-se no quinto mês do ano um nível de produção 1,4% inferior ao de dez/18. Depois de um desempenho negativo no final do ano passado, a indústria permanece no vermelho neste início de 2019.
O resultado da indústria em comparação com o mesmo período do ano anterior, por sua vez, foi positivo em maio: +7,1%, devido a um efeito calendário, já que mai/19 teve um dia útil a mais do que mai/18, e devido à existência de uma base de comparação muito baixa. Cabe lembrar que maio de 2018 foi marcado pela paralisação dos caminhoneiros, que bloqueou o fluxo de mercadorias e perturbou a linha de produção de muitas empresas. Apesar disso, o saldo geral no acumulado de janeiro a maio de 2019 permaneceu negativo: -0,7% frente ao mesmo período do ano anterior. Este tem sido o padrão desde o início do presente ano.
Em relação aos macrossetores, na comparação com abril de 2019, descontados os efeitos sazonais, os resultados foram positivos na metade dos casos. Bens de capital cresceram +0,5% e bens de intermediários, +1,3%. Já bens de consumo duráveis caíram -1,4% e bens de consumo semi e não duráveis registraram o pior desempenho: -1,6%.
Na comparação de maio de 2019 com maio de 2018, houve resultados positivos em todos os macrossetores, ajudados pelo efeito calendário e pela baixa base de comparação. Bens de consumo duráveis cresceram +28%, enquanto bens de capital avançaram +22,2%. Bens de consumo semi e não duráveis cresceram menos, mas ainda assim em um ritmo forte: +11,4%. O resultado mais baixo ficou por conta de bens intermediários, que variaram +2,3%.
Em maio de 2019, a expansão interanual de +28% dos bens de consumo duráveis foi influenciada pelo crescimento fabricação de automóveis (+39,9%), de eletrodomésticos da “linha branca” (+37,5%) e da “linha marrom” (+3,3%), outros eletrodomésticos (+43,9%), móveis (+11,8%) e motocicletas (+2,8%).
Bens de capital, que cresceram +22,2% ante mai/18, sofreram influência dos avanços do grupamento de bens de capital para equipamentos de transporte (+32,1%), bens de capital para fins industriais (+9,3%), para construção (+32,5%), de uso misto (+11,5%), agrícolas (+10,1%) e para energia elétrica (+8,2%).
Já o resultado de +11,4% do macrossetor de bens de consumo semi e não-duráveis foi condicionado principalmente pela expansão no grupamento de alimentos e bebidas elaborados para consumo doméstico (+21,0%), seguido pelos grupamentos de não-duráveis (+7,1%) e de semiduráveis (+9,3%). O subsetor de carburantes (-3,7%) teve a única taxa negativa da categoria, pressionado pela menor produção de gasolina automotiva.
Por sua vez, o macrossetor de bens intermediários, cuja produção progrediu +2,3% ante mai/18, foi influenciado pelas altas de: produtos associados às atividades de veículos automotores, reboques e carrocerias (+21,6%), de produtos alimentícios (+12,7%), de produtos de minerais não-metálicos (+16,6%), de celulose, papel e produtos de papel (+14,3%), de produtos de metal (+11,8%), de outros produtos químicos (+6,1%) etc.
No acumulado de janeiro a maio de 2019, em que a indústria geral caiu -0,7% em relação ao mesmo período do ano anterior, apenas o macrossetor de bens intermediários ficou no vermelho (-2,0). Bens de capital e bens de consumo duráveis cresceram +1,9% e +3,3%, respectivamente. Bens consumo semi e não duráveis, por sua vez, registraram +1,2%.
Por dentro da Indústria de Transformação
A variação de -0,2% da produção industrial geral em maio de 2019 ante abril, já realizado o ajuste sazonal, foi acompanhada de retração de -0,5% na indústria de transformação e de expansão de +9,2% no ramo extrativista. No primeiro caso, a trajetória tem sido de oscilação em 2019, depois de um período de continuado declínio de jul/18 a dez/18: estagnação em janeiro (0%), crescimento em fevereiro (+0,9%), queda em março (-0,2%), crescimento em abril (+1,2%) e nova queda em maio. No segundo caso, os quatro meses de 2019 só registraram declínio, que foi bastante intenso em fevereiro (-15,7%) e abril (-9,5%), devido aos efeitos do desastre de Brumadinho. Maio foi a primeira vez que a indústria extrativa cresceu em 2019.
Em relação a maio de 2018, o resultado da indústria de transformação acompanhou a indústria geral (+7,1%) e aumentou sua produção em +11,3%. Vale lembrar que maio de 2019 contou com a ajuda de dois efeitos: um efeito calendário, já que teve um dia útil a mais do que mai/18 e um efeito base de comparação muito baixa devido à greve de caminhoneiros nas últimas semanas de maio do ano passado. No caso do setor extrativista, houve queda de -18,3%, o quarto mês consecutivo de forte retração nesta comparação.
Frente a abril de 2019, na série com ajuste sazonal, o decréscimo de -0,2% da indústria geral foi acompanhado por 18 dos 26 ramos pesquisados, entre os quais: veículos automotores, reboques e carrocerias (-2,4%), bebidas (-3,5%), couro, artigos para viagem e calçados (-7,1%), outros produtos químicos (-2,0%), produtos de metal (-2,3%), produtos de minerais não-metálicos (-2,1%) e produtos diversos (-5,8%). Por outro lado, entre os oito ramos com altas, destaca-se coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (3,2%), além das indústrias extrativas (+9,2%).
Na comparação com igual mês do ano anterior, em que a indústria geral apresentou alta de +7,1% na produção, variações positivas marcaram o desempenho de 21 dos 26 ramos, 66 dos 79 grupos e 68,0% dos 805 produtos pesquisados. Os destaques favoráveis ficaram a cargo de: veículos automotores, reboques e carrocerias (+37,1%), produtos alimentícios (+16,2%), bebidas (+23,9%), máquinas e equipamentos (+14,5%), produtos de minerais não-metálicos (+16,3%) etc. Em contraste, entre os cinco setores que apontaram redução na produção, estão coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-3,3%), outros equipamentos de transporte (-11,7%) e manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos (-8,5%), entre outros, além do setor de indústrias extrativas (-18,2%).
Exportação
Segundo os dados da Funcex, divulgados pelo IBGE conjuntamente com os resultados da produção industrial, o quantum das exportações de manufaturados no mês de maio de 2019 cresceu +34,5%, frente ao mesmo período do ano anterior. Apesar disso, o desempenho acumulado nos primeiros cinco meses do ano permanece negativo: -1,6% ante o mesmo período do ano passado, isto é, uma realidade bastante diferente do acumulado jan-mai/18, quando as exportações de manufaturados avançavam +6,2%.
Por sua vez, as importações em quantum de matérias-primas para a indústria também cresceram, +17,3% na comparação com maio de 2018, mês em que a greve dos caminhoneiros também prejudicou os embarques e desembarques de mercadorias. Com isso, o resultado acumulado nos primeiros cinco meses de 2019 foi positivo em +6,4%, apresentando patamar superior ao acumulado jan-mai/18 (+2,9%).
Utilização de Capacidade
O nível de utilização da capacidade instalada da indústria de transformação, de acordo com a série da FGV com ajustes sazonais, foi de 75,3% em maio de 2019, o melhor patamar desde nov/18. Apesar disso, o indicador ficou longe de sua média histórica, que é de 80,1%.
Já o indicador da CNI, progrediu marginalmente na passagem de abril para maio de 2019, descontados os efeitos sazonais, ao variar +0,3 p.p. e chegar a 78,1%. Este patamar é o mesmo de abr/18, isto é, o mês que antecedeu a greve dos caminhoneiros e prejudicou a produção industrial. Tal como ocorre no caso do indicador da FGV, a utilização aferida pela CNI permanece razoavelmente abaixo da média histórica do indicador, iniciado em jan/03, e que é de 80,9%.
A permanência da utilização da capacidade em níveis historicamente baixos e sem uma trajetória inconteste de acentuada melhora não é um indício favorável para a evolução futura do investimento, isso porque máquinas e equipamentos atualmente ociosos deverão ser postos em funcionamento antes de os empresários pensarem em ampliar sua capacidade de produção. Em contrapartida, a existência de capacidade ociosa significa que existem plenas condições de oferta para garantir uma recuperação da atividade econômica sem pressões inflacionárias.
Estoques
De acordo com os dados da Sondagem Industrial da CNI, os estoques de produtos finais da indústria em maio de 2019 assinalaram índice de 50,8 pontos, o maior patamar desde ago/18 (50,9 pontos), o que indica aumento de estoques. Valores inferiores a 50 pontos, por sua vez, indicam redução de estoques. No caso do segmento da indústria de transformação, o indicador registrou 50,9 pontos (+0,2 frente a abr/19, sendo a quarta alta consecutiva nesta comparação) e na indústria extrativa ficou em 43,6 pontos (-4,7% frente a abr/19).
Na avaliação dos empresários, os estoques efetivos da indústria geral continuaram acima do nível planejado (isto é acima de 50 pontos), atingindo o patamar de 51,6 pontos em maio de 2019. Este tem sido o padrão desde março de 2018, à exceção de dez/18, quando ficou em 48,9 pontos. No caso do setor extrativo e no caso da indústria de transformação, o indicador de satisfação dos estoques ficou em 47,7 pontos e em 51,8 pontos, respectivamente.
No grupo industrial da indústria de transformação, 15 dos 27 ramos acompanhados pela CNI tiveram estoques iguais ou menores do que o planejado (50 pontos) em maio de 2019, a mesma proporção de março e abril. Dentre estes, estão os ramos de outros equipamentos de transporte (43,8 pontos), madeira (45,1 pontos) e bebidas (46,1 pontos), entre outros. Em contraste, ficaram com estoques efetivos acima do planejado em abril os setores de couros (61,2 pontos), derivados de petróleo (57,1 pontos) e calçados (56,6 pontos), entre outros.
Confiança e Expectativas
Diante da patente desaceleração do crescimento industrial, que se transformou em nova retração no final de 2018 e início de 2019, a confiança do empresariado industrial, segundo o Índice de Confiança do Empresário da Indústria de Transformação da CNI (ICEI), começou a ser corrigido no mês de março de 2019 em um movimento que ganhou intensidade no meses de abril e maio. Em junho, teve pequena melhora e registrou 57,1 pontos. Por se encontrar acima da marca de 50 pontos, este indicador continua registrando otimismo dos empresários, embora menor do que no final do ano passado. Esta não é uma trajetória que corrobora expectativas de retomada mais consistente do investimento industrial.
O desempenho da confiança em junho do presente ano não resultou de seu componente de avaliação das condições atuais dos negócios, que voltou a indicar pessimismo ao registrar na marca de 47,9 pontos neste mês, um recuo de 0,6 ponto em relação a maio. Este resultado não traz boas perspectivas para a evolução da produção no sexto mês do ano. O componente do ICEI-CNI de expectativas em relação ao futuro progrediu um pouco, passando 60,8 pontos em mai/19 para 61,6 pontos (+0,8 pontos). Neste caso, o quadro é de otimismo, dados os níveis acima de 50 pontos.
Já o Índice de Confiança da Indústria de Transformação (ICI) da FGV, que já vinha desde junho do ano passado na região que indica pessimismo dos empresários (abaixo dos 100 pontos) viu uma nova redução em junho, ao passar de 97,2 pontos em maio para 95,7 pontos.
Neste caso, o movimento do ICI-FGV em junho foi condicionado tanto por seu componente de expectativas em relação ao futuro, que recuou de 95,9 pontos em maio para 94,8 pontos em junho, como por seu componente Índice da Situação Atual, que passou de 98,5 pontos em maio para 96,6 pontos em junho.
Outro indicador frequentemente utilizado para se avaliar a perspectiva do dinamismo da indústria é o Purchasing Managers’ Index – PMI Manufacturing, calculado pela consultoria Markit Financial Information Services. Seu nível continua acima de 50 pontos sugere melhora das condições de negócio e abaixo desta marca, piora. Em junho de 2019, registrou 51 pontos, o que significou aumento de +0,8 pontos em relação a maio, mas ainda assim manteve abaixo da média verificada no primeiro trimestre do ano (53 pontos).
Os indicadores de confiança acima mencionados, notadamente seu componente referente às avaliações dos negócios correntes, sugerem que o desempenho industrial em junho não deve reverter a tendência de baixo dinamismo industrial dos últimos meses.
Anexo Estatístico
Mais Informações
Tabela: Produção Física - Subsetores Industriais
Variação % em Relação ao Mesmo Mês do Ano Anterior (clique aqui)