Carta IEDI
Investimentos em P&D na Nova Geografia do Crescimento
O relatório Science, Technology and Industry Scoreboard, em sua décima edição recém-divulgada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) enfatiza as fontes de crescimento de longo prazo, destacando a nova geografia do crescimento associada à emergência de novos players, notadamente Brasil, China, Índia, Indonésia, África do Sul e Rússia, países que compõem o grupo BRIICS. Igualmente, apresenta um amplo conjunto de indicadores sobre os investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D) e inovação tecnológica nos países membros da OCDE e em alguns países não-membros. A Carta IEDI de hoje, que traz a primeira parte da resenha desse relatório bienal.
O ponto de partida do relatório é a constatação de que a economia mundial enfrenta atualmente desafios extraordinários. Além de pressões ambientais que desafiam a sustentabilidade dos modelos de desenvolvimento e do aumento da esperança de vida da população está colocando uma pressão maior sobre a capacidade dos sistemas de saúde para atender às necessidades de uma população em envelhecimento, novas pressões têm surgido em decorrência da globalização, que avança em ritmo e escala sem precedente. Com o aumento do comércio internacional, o aprofundamento da integração econômica, especialmente nas economias emergentes, e uma maior fragmentação geográfica dos processos de produção, as cadeias globais de valor se tornaram cada vez mais complexas.
Nesta nova geografia do crescimento, a liderança das economias mais maduras está sendo erodida pela concorrência internacional de novos jogadores. Porém, a capacidade de ação dos governos das economias desenvolvidas está limitada em razão da persistência de alguns dos efeitos da recessão econômica recente, em particular os elevados níveis de desemprego e de dívida pública. Na avaliação da OCDE, cada vez mais, a inovação é vista como essencial para enfrentamento efetivo desses desafios. Além de auxiliar na retomada do crescimento, a inovação irá desempenhar um papel-chave para emergência de novas fontes sustentáveis de crescimento e de competitividade.
Para melhor compreensão dessas transformações associadas à globalização, o relatório traz alguns novos conjuntos de indicadores. Um deles, com base nos dados de comércio bilateral e tabelas de insumo produto, fornece estimativas discriminadas do comércio por categorias da indústria e por utilização final. Esses novos indicadores revelam o quanto das exportações de um país se destina ao consumo das famílias estrangeiras ou quanto das exportações é utilizado, como bem intermediário, em processos de produção em países estrangeiros.
Para a maioria das economias – área da OECD e grupo dos BRIICS –, a presença de importações incorporadas nas exportações aumentou na última década. Suas origens mudaram, em um sinal claro do aumento e da evolução das interdependências. Por exemplo, enquanto nos últimos anos, a China tem contado cada vez mais com as importações (principalmente da Europa, Japão e outras economias da OCDE) para a produção de bens finais para exportação, outras economias, como o Japão, registram a ampliação de conteúdo de origem chinesa incorporados em suas exportações de bens finais.
De modo similar ao que se observa para as exportações totais, entre 1995 e 2005, na maioria dos países pesquisados ocorreu uma elevação na participação do conteúdo importado no consumo das famílias, reduzindo a contribuição do valor adicionado interno. Na China, Índia e Brasil, a participação de conteúdo importado indireto é relativamente elevada devido à baixa penetração das importações de bens finais e serviços para o consumo das famílias em relação aos países da OCDE.
Nos últimos 20 anos, também houve intensa globalização das atividades de produção. Em 1990, os países do G7 respondiam por dois terços do valor agregado pela indústria de transformação em termos mundiais. Atualmente, a fatia do G7 no valor agregado mundial é inferior a 50%. Em 2009, a China já tinha praticamente alcançado os Estados Unidos na produção manufatureira, enquanto a participação do Brasil e da Índia entre os principais produtores mundiais é agora semelhante a da Coréia.
O relatório destaca que a emergência de novos atores promoveu igualmente mudanças significativas no cenário global de pesquisa e desenvolvimento (P&D). As economias emergentes não membros da OCDE respondem por uma parcela crescente da atividade mundial de pesquisa e desenvolvimento, medida tanto em termos de total de pesquisadores como dos gastos com P&D. Com gastos da ordem de USD 400 bilhões em 2008, os Estados Unidos se mantêm como líder nos investimentos em P&D. Mas a China já ultrapassou o Japão e ocupa a segunda posição, com gastos equivalentes a um terço do total americano em paridade do poder de compra.
O relatório também trouxe novidade no que se refere aos indicadores relacionados às atividades de P&D. Para melhor a comparabilidade internacional, alguns indicadores tradicionais foram reformulados. Caso, por exemplo, do indicador de intensidade do gasto privado com P&D (BERD) que foi ajustado à estrutura industrial média da OCDE. Esse novo indicador mostra que, em países como Finlândia, Alemanha e Coréia, cujas economias são relativamente especializadas em alta e média alta tecnologia, a intensidade do BERD ajustada estaria abaixo da média da OCDE de 2,5%. Em contrate, países como França, Islândia e Holanda teriam uma intensidade do BERD maior caso tivessem a estrutura industrial média da OCDE. Nos países da Europa meridional e oriental e no México, contudo, uma estrutura industrial mais próxima da média da OCDE não resultaria em maior intensidade do P&D. Isto indica que o gasto privado com P&D é inferior à média, independentemente da especialização setorial.
O relatório traz também alguns indicadores experimentais, como estimativas quantitativas de incentivos fiscais concedidos às atividades de P&D do setor privado, e indicadores das modalidades de financiamento público direto da pesquisa básica (financiamento institucional versus financiamento de projetos) ou ainda o indicador do orçamento governamental de P&D por setor nacional de execução.
As novas estimativas do custo dos incentivos fiscais ao P&D e os dados sobre o suporte financeiro público direto às atividades empresariais de P&D mostram que alguns países oferecem mais apoio indireto do que direto (por exemplo, Dinamarca e Portugal), enquanto outros, casos dos Estados Unidos e Reino Unido, fornecem relativamente maior apoio direto. Atualmente, 26 dos 34 países da OCDE e diversas economias não membros da OCDE concedem incentivos fiscais às atividades privadas de P&D.
O indicador sobre o financiamento da pesquisa básica realizada pelo setor de educação superior mostra que as diferenças significativas existentes entre os países da OCDE, refletem as distintas configurações dos sistemas nacionais de pesquisa. Na Dinamarca, Israel, Nova Zelândia, Áustria e Alemanha, o financiamento institucional é o modo principal do suporte financeiro governamental, enquanto a Bélgica e Coréia predominam o financiamento de projetos.
Os Países Emergentes e a Nova Geografia do Crescimento. Essa décima edição do relatório bienal sobre os indicadores da ciência tecnologia e indústria na área da OCDE enfatiza as fontes de crescimento de longo prazo, destacando a nova geografia do crescimento associada à emergência de novos players, notadamente Brasil, China, Índia, Indonésia, África do Sul e Rússia, países que compõem o grupo BRIICS.
O ponto de partida do relatório é a constatação de que a economia mundial enfrenta atualmente desafios extraordinários. Além de pressões ambientais que desafiam a sustentabilidade dos modelos de desenvolvimento e do aumento da esperança de vida da população está colocando uma pressão maior sobre a capacidade dos sistemas de saúde para atender às necessidades de uma população em envelhecimento, novas pressões têm surgido em decorrência da globalização, que avança em ritmo e escala sem precedente. Com o aumento do comércio internacional, o aprofundamento da integração econômica, especialmente nas economias emergentes, e uma maior fragmentação geográfica dos processos de produção, as cadeias globais de valor se tornaram cada vez mais complexas, resultando em uma nova geografia do crescimento.
Como o conhecimento flui cada vez mais através das fronteiras, nesta nova geografia do crescimento, a liderança das economias mais maduras está sendo erodida pela concorrência internacional de novos jogadores. Porém, a capacidade de ação dos governos das economias desenvolvidas está limitada em razão da persistência de alguns dos efeitos da recessão econômica recente, em particular os elevados níveis de desemprego e de dívida pública.
Na avaliação da OCDE, cada vez mais, a inovação é vista como essencial para enfrentamento efetivo desses desafios. Além de auxiliar na retomada do crescimento, a inovação irá desempenhar um papel-chave para emergência de novas fontes sustentáveis de crescimento e competitividade. Todavia, a taxa de atividade de patenteamento tem aumentado rapidamente em economias não membros da OCDE. Em média, mais de 40% das invenções OECD são protegidos também na China. Esses fluxos de tecnologia espelham o comportamento estratégico das empresas, a localização das filiais e dos concorrentes, e a atratividade dos mercados emergentes.
Nos países da OCDE, os efeitos da recessão econômica de 2009 ainda serão sentidos nos próximos anos. O indicador tradicionalmente usado para medir o bem-estar das nações é o Produto Interno Bruto (PIB) per capita. Em 2010, o crescimento generalizado sinalizou o início de uma recuperação global. Contudo, o ritmo de recuperação variou entre os países da OCDE e desemprego permaneceu elevado na maioria dos países do grupo das economias desenvolvidas. Essa condição cria um imperativo para países encontrar fontes de novas e sustentáveis de crescimento.
Durante os anos 1980 e no início dos anos 1990, a produtividade do trabalho cresceu mais rapidamente no Japão do que nos Estados Unidos, em razão do maior número de horas de trabalho por empregado. Na segunda metade da década de 1990, a produtividade do trabalho acelerou nos Estados Unidos, atingindo 2,5%, e um novo diferencial emergiu, notadamente com a Área do euro. Entre 2003 e 2007, ocorreu na Área do OCDE uma convergência para baixo da produtividade do trabalho, de modo que em 2007, todas as principais economias da OCDE registravam taxas de crescimento de produtividade semelhantes de cerca de 1% a 2%. Em 2008, um novo diferencial se abriu, com maior crescimento da produtividade nos Estados Unidos, enquanto no Japão e na Área do euro a produtividade desacelerou significativamente no rescaldo da crise.
Na comparação com a metade superior dos países da OCDE, após 20 anos de diferencial persistente tanto em relação ao PIB per capita como em relação à produtividade do trabalho, os países dos BRIICS e particularmente a China apresentaram uma tendência positiva em 2009. Porém, embora menor o diferencial dos BRIICS frente às economias desenvolvidas permanece significativo.
O investimento direto estrangeiro (IDE) fornece aos países beneficiários acesso às novas tecnologias e propicia o transbordamento do conhecimento para empresas nacionais e investimento adicional em pesquisa e desenvolvimento (P&D). Nos últimos 15 anos, os fluxos de IDE triplicaram. Embora o afluxo de IDE para a Europa ainda ultrapasse o volume destinado para o resto do mundo, os fluxos de IDE para a China e o resto do Sudeste Asiático saltaram de uma média de cerca de US$ 50 bilhões anuais no período 1995-99 para cerca de US$ 150 bilhões ao ano no período mais recente.
Durante o período 2003-09, os países da União Europeia investiram quatro vezes mais nos países do grupo dos BRIICS que os Estados Unidos ou o Japão. O IDE europeu na China foi, em média, de US$ 6,5 bilhões por ano, o que representa 75% a mais do que o IDE proveniente dos Estados Unidos. Já a média anual de US$ 9 bilhões destinados ao Brasil foi quatro vezes maior do que o IDE dos Estados Unidos destinado a economia brasileira no mesmo período.
Os Estados Unidos se mantêm como o maior destinatário e investidor, mas a China está próxima de se tornar o segundo maior destinatário de investimento direto estrangeiro. Ao mesmo tempo, o volume de investimento direto no exterior realizados pelos BRIICS aumentou substancialmente, refletindo a maior integração dessas economias na economia global. Entre o início e o final da década de 2000, por exemplo, os fluxos de IDE chineses no exterior aumentaram em média nove vezes, enquanto aqueles provenientes da Índia aumentaram mais de sete vezes.
A crise internacional de 2008-09 afetou negativamente o valor (e volume) do comércio industrial na área OECD. O exame das tendências de longo prazo do comércio por intensidade de tecnologia indica que entre a segunda metade da década de 1990 e meados da década de 2000, o valor da OCDE comércio de fabricação foi essencialmente impulsionado pelos produtos de alta tecnologia. A partir de 2005, no entanto, o comércio de OECD em manufatura de alta tecnologia começou a cair se aproximando do patamar do comércio de produtos de média-alta tecnologia; ao mesmo tempo, aumentou fortemente o comércio em indústrias de médio-baixa tecnologia. O pico no valor do comércio de produtos industriais de média-baixa tecnologia foi parcialmente devido ao aumento dos preços de petróleo, produtos petrolíferos e metais de base, nomeadamente aqueles que servem de insumo à fabricação dos produtos de tecnologia de informação e comunicação.
No grupo dos BRIICS, as exportações de bens industriais de alta tecnologia cresceram continuamente nos últimos 20 anos e representam atualmente cerca de 30% das suas exportações industriais totais. Em contraste, na área da OECD, as exportações de alta tecnologia representam apenas 25% das exportações totais da indústria de transformação.
De acordo com a OCDE, ficou para trás o tempo em que todas as fases da produção de bens finais tinham lugar dentro de uma mesma economia nacional, e apenas matérias-primas eram importadas como insumos intermediários. Hoje, as empresas exportam várias fases de produção de muitos bens finais e também de serviços por meio de muitas economias. Esta fragmentação internacional de produção cresceu tanto nas últimas duas décadas a ponto de tornar-se verdadeiramente global, e processos de produção de muitas economias se especializaram verticalmente para uma gama de produtos e serviços. Para compreensão deste desenvolvimento não é suficiente comparar as importações diretas às medidas da produção nacional. Por exemplo, um fabricante de computador que importa alguns componentes pode igualmente comprar componentes de fabricantes domésticos que também utilizaram insumos importados em seus processos de produção. Nesse caso, as importações do fabricante do computador podem conter elementos produzidos em sua economia.
O relatório traz um novo conjunto de informações sobre o comércio bilateral, que fornece estimativas discriminadas por categorias da indústria e por utilização final. Essa nova base de dados revela o quanto das exportações de um país se destina ao consumo das famílias estrangeiras ou quanto das exportações é utilizado, como bens intermediários ou como bens de capital (máquinas e equipamentos), em processos de produção em países estrangeiros.
Em 1995, por exemplo, o valor das exportações da China foi de US$ 148 bilhões, dos quais 60% se destinavam destinados ao consumo final. Em 2009, o valor das exportações da China alcançava US$ 1.529 bilhões e a estrutura de suas exportações tinham mudado substancialmente. Nesses últimos 15 anos, o valor das exportações chinesas aumentou mais de dez vezes e o país se tornou um importante exportador de bens intermediários e de capital sofisticados. Enquanto isso, a participação dos países da OCDE nas exportações mundiais diminuiu, passando de 75% para 60%.
O conteúdo importado das exportações, medida de especialização vertical, tenta capturar, por meio dos dados de insumo produto relacionados às estatísticas do comércio bilateral, as interdependências resultantes, determinando em que medida os insumos importados (diretos e indiretos) contribuem para as exportações de uma economia. Bens de capital importados, como máquinas e equipamentos, estão excluídos desta análise.
As economias menores tendem a ter elevada participação de conteúdo importado incorporado em suas exportações. A disponibilidade de uma ampla variedade de bens intermediários de origem nacional significa que os países maiores são menos dependentes de importações de bens intermediários, como produtos primários e peças e componentes, para a sua produção de exportação orientada bens. Países com importantes dotações de recursos naturais, tais como Austrália, Noruega, África do Sul e a Rússia também apresentam baixo conteúdo importado das exportações, uma vez que a atividade extrativa mineral requer poucos bens de consumo intermediários para a sua produção.
Para a maioria das economias, a presença de importações incorporadas nas exportações aumentou na última década. Suas origens mudaram, em um sinal claro do aumento e da evolução das interdependências. Por exemplo, enquanto nos últimos anos, a China tem contado cada vez mais com as importações (principalmente da Europa, Japão e outras economias da OCDE) para a produção de bens finais para exportação. Ao mesmo tempo, outras economias, como o Japão, registram a ampliação de conteúdo de origem chinesa incorporados em suas exportações de bens finais.
De modo similar ao que se observa para as exportações totais, entre 1995 e 2005, na maioria dos países pesquisados – área da OECD e grupo dos BRIICS – ocorreu uma elevação na participação do conteúdo importado no consumo das famílias, reduzindo a contribuição do valor adicionado interno. Na China, Índia e Brasil, a participação de conteúdo importado indireto é relativamente elevada devido à baixa penetração das importações de bens finais e serviços para o consumo das famílias em relação aos países da OCDE.
Por meio do índice de Hannah-Kay (HK), que mede as contribuições dos setores para o PIB de um país, é possível avaliar o grau de influência dos setores. A redução do HK corresponde ao aumento de especialização econômica. Segundo a OCDE, desde 1970, os países do G7 veem se tornando cada vez mais especializado. O Canadá seria a única exceção, dado que esse tem experimentados diversificações periódicas. Em contraste, o índice HK da Coréia do Sul reflete parcialmente o caminho de desenvolvimento anteriormente percorrido por países do G7, ou seja, mostra crescente diversificação precoce (na indústria e serviços), atingindo o pico no final de 1980, antes de embarcar na especialização gradual quando se evidenciaram novas vantagens comparativas.
Nos últimos 20 anos, houve intensa globalização das atividades de produção. Em 1990, os países do G7 respondiam por dois terços do valor agregado pela indústria de transformação em termos mundiais. Atualmente, a fatia do G7 no valor agregado mundial é inferior a 50%. Em 2009, a China já tinha praticamente alcançado os Estados Unidos na produção manufatureira, enquanto a participação do Brasil e da Índia entre os fabricantes do mundo agora é semelhante da Coréia.
Com o declínio da produção industrial em diversos países OCDE, o peso dos serviços no Produto Interno Bruto (PIB) aumentou. Atualmente, em média, o setor de serviço responde por cerca de 70% do PIB da OCDE. Além disso, em vários países, houve ampliação da participação das atividades dos serviços necessárias para a produção manufatureira. Em 2008, os serviços relacionados aos empregados respondiam, em média, por cerca de 35% dos trabalhadores na indústria de transformação na área da OECD. Considerando todos os países, esse percentual variou entre 17% e 52%.
Em contraste com as economias da OCDE, o peso do setor industrial nos BRIICS aumentou mais de 4% nos últimos 20 anos, em contrapartida à retração do setor agrícola (-7%). Esta tendência tem sido acompanhada pela importância crescente do setor dos serviços na Rússia, China e Índia, seguindo o crescimento da renda e a maior participação no comércio mundial.










Tendências dos Investimentos em Pesquisa & Desenvolvimento. O relatório destaca as mudanças no cenário global do P&D e da inovação. Além da emergência de novos atores nas atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D), ocorrem alterações significativas no financiamento das inovações, no mix de políticas de estímulo às atividades de pesquisa, desenvolvimento e invoção.
Os gastos com P&D representam um investimento destinado a novos conhecimentos, produtos ou processos. Tanto os governos como as empresas privadas financiam as atividades de P&D, porém o fazem com objetivos distintos. De acordo com a OCDE, o P&D financiado pelo governo tem como objetivo principal a produção de novo conhecimento científico fundamental e/ou a satisfação de necessidades sociais, tais como saúde e defesa, e, portanto, não se espera que afetem a produtividade corrente. Já o P&D financiado pelo setor empresarial privado é normalmente orientado para novos processos e novos produtos e quando bem sucedido resulta em aumenta da produtividade. A atividade de P&D financiada pelo setor privado é, em geral, moderamente pró-cíclica, ou seja, é afetada pelo ciclo de negócios, uma vez que está sujeita a restrições de financiamento.
Os dados mais recentes mostram que a atividade de registro de marcas nos Estados Unidos foi fortemente afetada pela crise econômica. A partir de meados de 2007, houve uma queda acentuada nos registros de marcas dos setores de finanças e seguros junto ao Escritório de Patentes e Marcas (USPTO, na sigla em inglês). No caso dos bens industriais e de outros serviços, o registro de marcas acompanhou de perto o ciclo de negócios, retraindo inicialmente e, em seguida, voltando a subir no início de 2009.
Outra tendência ressaltada pelo relatório é a do crescimento dos registros de marcas relacionadas às atividades de serviço. Com exceções da África do Sul e Islândia, houve aumento nos pedidos de registro de marcas de serviços em todas as economias pesquisadas. Em média, a participação dos pedidos relacionados aos serviços no total de registros de marcas subiu de 32% para 39% na última década. A maior parte dos registros de marcas de serviços ocorre nas atividades de conhecimento intensivo, especialmente em países emergentes, como Indonésia e Brasil.
O registro de marcas em atividades de serviços pode estar relacionado às atividades P & D. Por exemplo, "solução climática Siemens" compreende pesquisa e serviços de consultoria de desenvolvimento nas áreas de engenharia elétrica, eletrônica, tecnologia da informação, engenharia médica, física, química e engenharia mecânica.
Como se sabe a disponibilidade de recursos limita os gastos com P & D. Com as atividades de P&D envolvem alto risco e baixa garantia, os mercados financeiros sãorelutantes em financiar o P & D. Mesmo antes da recente crise financeira, os bancos relutavam em emprestar a pequenas empresas recém-criadas. O acesso das novas e inovadoras pequenas empresas ao financiamento privado se dá, em geral, sob a forma tanto de dívida direta como de capital acionário.
Segundo a OCDE, a crise financeira aumentou ainda mais a lacuna existente entre o financiamento do capital semente (seed money) e o financiamento do estágio inicial (early-stage), uma vez que as empresas de capital de risco passaram a privilegiar os estágios posteriores nos quais os riscos dos investimentos são menores. Com a retração dos capitalistas de risco, cresceu a importância dos investidores anjo – frequentemente, empresários experientes e bem sucedidos – no financiamento das novas empresas inovadoras.
O relatório destaca que houve igualmente mudanças significativas no cenário global de P&D, com a emergência de novos atores. As economias emergentes não membros da OCDE respondem por uma parcela crescente da atividade mundial de pesquisa e desenvolvimento, medida tanto em termos de total de pesquisadores como dos gastos com P&D.
Com gastos da ordem de USD 400 bilhões em 2008, os Estados Unidos se mantêm como líder nos investimentos em P&D. Mas a China já ultrapassou o Japão e ocupa a segunda posição, com gastos equivalentes a um terço do total americano em paridade do poder de compra. A União Europeia em conjunto gasta com P&D o equivalente a três quartos do gasto total dos Estados Unidos.
Na maioria dos países, as despesas de pessoal, que incluem os custos com pesquisador, representam a maior parcela dos gastos com P&D. Segundo a OCDE, isso explicaria a estreita relação entre o gasto com P&D em percentagem do PIB e o número de pesquisadores como percentagem do emprego total. A Finlândia é o país que apresenta a maior intensidade de pesquisa em ambas medidas.
Os governos contam com várias ferramentas para alavancar os investimentos em P&D do setor privado, tais como encomendas de P&D às empresas, apoio financeiro direto via subsídios ou empréstimos ou a concessão de incentivos fiscais, como abatimento ou créditos fiscais de P&D. O suporte financeiro direto é em geral concedido a projetos específicos com potencial elevado retorno social. Os incentivos fiscais reduzem o custo marginal das atividades de P&D, permitindo que as empresas privadas escolham os projetos de pesquisa que irão financiar.
Atualmente, 26 dos 34 países da OCDE e diversas economias não membros da OCDE concedem incentivos fiscais às atividades privadas de P&D. Novas estimativas do custo dos incentivos ficais ao P & D e dados sobre o valor do suporte financeiro público direto para apoiar as atividades empresariais de P&D mostram que alguns países oferecem mais apoio indireto do que direto (por exemplo, Dinamarca e Portugal), enquanto outros, casos dos Estados Unidos e Reino Unido, fornecem relativamente maior apoio direto. Nos últimos anos, tem crescido a importância dos incentivos fiscais como instrumento de estímulo ao P&D privado. Em vários países, os governos estão adotando novos incentivos fiscais ou aumentando a generosidade dos esquemas atuais.








Evolução dos Gastos com P&D. Os gastos com P&D são uma das medidas mais amplamente usadas para avaliar os esforços inovadores das empresas e países. Estes gastos estão diretamente relacionados à inovação mediante novos produtos e novos processos e, indiretamente, como investimento em conhecimento. A intensidade do P&D intensidade – despesas com P&D em percentagem do PIB – é utilizado como indicador do grau relativo dos investimentos de uma economia na geração de novos conhecimentos. Vários países adotaram "metas" para este indicador com propósito de ajustar o foco das decisões de política e do financiamento público.
Dentre os países membros da OCDE, Israel é o que registrava, em 2009, a maior intensidade de P & D, com o gasto doméstico bruto em P&D (GERD, na sigla em inglês) superior a 4% do PIB. Na média da OCDE, o GERD corresponde a 2,3% do PIB. Em termos absolutos, os Estados Unidos respondem por 41,2% do GERD da área da OCDE, seguidos pelo Japão com 15,4% e da Alemanha com 8,5%. Na China, a intensidade do GERD alcançou 1,7% do PIB em 2009 (ante 0,8 em 1999), o que equivale a 12,5% do gasto total da OCDE com P&D.
Dentro dos países, mesmo naqueles mais intensivos em P&D, há também uma variação considerável na intensidade de R&D. Em parte, tal variação expressa diferenças na estrutura industrial e na capacidade de pesquisa. Na Austrália, França, Alemanha, Coréia, Noruega, Estados Unidos e Reino Unido, a intensidade do R&D da região líder é pelo menos o dobro da média nacional. Nos Estados Unidos, o Novo México é a região mais intensiva em P&D, com investimentos equivalentes a 7,5% do PIB regional.
De acordo com o relatório, o setor empresarial se mantém como o principal executar das atividades de P&D na maioria das economias, sendo responsável por quase 70% do P&D realizado na área da OCDE. Já o setor do ensino superior responde por quase 17% do GERD total na área da OCDE. Em Israel, o setor privado responde pela maior fatia do GERD, executando quase 80% do total do P&D, seguido de perto pelo Japão e pela Coreia do Sul. A participação do setor empresarial no P&D só é ultrapassada pelo setor de ensino superior apenas na Turquia, Grécia e Polônia. O governo é o principal executor de P&D apenas na Argentina, onde responde por quase 40% do GERD.
O gasto total do setor de educação superior com P&D (HERD, na sigla em inglês) corresponde a 0,4% do PIB na área da OECD. Na maioria dos países, esses gastos aumentam ao longo da última década. A Suécia é o país que registra a maior intensidade do P&D no setor de educação superior: 0,9% do PIB. Já a Dinamarca e Portugal praticamente duplicaram a intensidade do seu HERD ao longo da década.
Na maioria dos países, a pesquisa básica é executada pelas universidades e organizações públicas de pesquisa. Na área da OCDE, em média, governo e universidades executam mais de três quartos de todas as pesquisas básicas. A participação do setor do ensino superior na pesquisa básica varia de 80% no Chile, Irlanda e Dinamarca a aproximadamente 20% na Coréia, o Reino Unido e Rússia. A participação do governo na pesquisa básica é maior na Rússia, seguida pela República Checa, Eslováquia, Hungria e China.




Atividades de P&D no Setor Privado. O grosso das atividades de P&D na área da OCDE é realizado por empresas e institutos de pesquisa privados. Denominados BERD (na sigla em inglês), esses gastos privados que correspondem a aproximadamente 70% dos gastos totais de P&D realizados na área da OCDE, atingiram 1,62% do PIB em 2008.
De acordo com a OCDE, na comparação da intensidade do BERD dos países é importante considerar as diferenças em suas estruturas industriais. Enquanto haja variação significativa na intensidade de P&D dentro de setores, alguns padrões setoriais tornam muito difícil para um país aumentar significativamente sua intensidade P&D sem alterar de forma profunda sua estrutura industrial. Com o propósito de facilitar a compreensão do quanto as diferenças estruturais podem explicar as diferenças observadas na intensidade de P&D do setor privado, a OCDE construiu um indicador que mostra como seria a intensidade de P&D total de um país se este tiver a mesma estrutura industrial que a média dos países membros da OCDE.
Esse novo indicador – a intensidade do gasto privado com P&D ajustado pela estrutura industrial – mostra que, em países como Finlândia, Alemanha e Coréia, cujas economias são relativamente especializadas em alta e média alta tecnologia, a intensidade do BERD ajustada estaria abaixo da média da OCDE de 2,5%. Em contrate, países como França, Islândia e Holanda teriam uma intensidade do BERD maior caso tivessem a estrutura industrial média da OCDE. Nos países da Europa meridional e oriental e no México, contudo, uma estrutura industrial mais próxima da média da OCDE não resultaria em maior intensidade do P&D. Isto indica que o gasto privado com P&D é inferior à média, independentemente da especialização sectorial.
No que se refere aos gastos com P&D realizados pelas empresas industriais, o corte por intensidade tecnológica revela diferenças significativas entre os países. Na Irlanda, Finlândia, Estados Unidos Estados e Islândia, as indústrias de alta tecnologia respondem por mais de dois terços dos gastos com P&D da indústria de transformação. Já na República Checa, Turquia, Alemanha e Áustria são as indústrias de média-alta tecnologia que mais investem em P&D, respondendo por mais da metade dos gastos totais do setor manufatureiro. No México, Austrália, Estônia e Portugal, os gastos com P&D ainda é muito concentrado nas indústrias de média-baixa e baixa tecnologia.
Também no setor de serviços, em particular naquelas atividades intensivas em conhecimento, o P&D desempenha um papel significativo. Na maioria dos países da OECD, o setor de serviços responde por um terço ou mais do BERD, participação que veio aumentando ao longo da última década.
As filiais de empresas estrangeiras podem desempenhar um papel importante nos esforços nacionais de P&D. Na maioria dos países da OCDE, as filiais estrangeiras foram responsáveis por mais de um quinto dos gastos privados totais com P&D em 2007-08. Em algumas pequenas economias abertas, a participação das empresas estrangeiras foi superior a 50% do BERD total, como foram os casos de Israel (61,8%) e da Irlanda (72,4%). Em contraposição, a participação estrangeira foi mais baixa nas duas economias da OCDE com os maiores volumes de BERD: 14,3% nos Estados Unidos e menos de 5% no Japão.
As empresas pequenas e médias empresas (PME) desempenham igualmente um papel importante no esforço de P&D na maioria dos países da OCDE. Contudo, a participação das PMEs no BERD total tende a ser maior nas economias menores: 73% na Nova Zelândia, 71% na Estónia e 63% no Chile, em comparação com menos de 20% na França, Suécia, Finlândia, Estados Unidos e Alemanha, e somente 6% no Japão.






Fontes de Financiamento das Atividades de P&D. As fontes de financiamento das atividades de P&D (BERD) podem ser nacionais ou estrangeiros. Também podem se originar de empresas privadas, instituições públicas (governo e educação superior) ou de organizações internacionais.
Na maioria dos países da OCDE, contudo, o setor privado é a principal fonte de financiamento dos investimentos de P&D, respondendo por cerca de dois terços do total em 2008. Todavia, há diferenças significativas entre os países no que se refere à contribuição dos governos no financiamento das atividades de P&D do setor privado. Embora no conjunto da área da OCDE a participação do governo no financiamento do BERD tenha declinado de cerca de 9% em 1999 para 6,5% em 2009, o suporte financeiro dos governos ao P&D executado pelo setor empresarial privado aumentou em vários países. Esses foram os casos da Rússia, onde subiu de 40% para 57% no mesmo período, África do Sul, Espanha, Hungria e Turquia.
Em contraste, a importância do governo no financiamento do BERD se reduziu significativamente na Polônia, na Estônia, na Eslováquia, na Itália, em Israel (onde os dados excluem o P&D do setor de defesa) e em Portugal. Nos Estados Unidos e na Alemanha também ocorreu redução da participação governamental no funding do BERD, mas essas foram relativamente menos expressivas. O mesmo ocorreu na China, onde a participação do governo declinou de 6,8% em 2000 para 4,3% em 2009.
Em 2009, os governos nos países da OCDE investiram o equivalente a cerca de 0,75% do PIB no financiamento direto das atividades de P&D. Os Estados Unidos apresentam o maior orçamento governamental de P&D (GBAORD na sigla em inglês) em percentagem do PIB (1,2%), seguido por Finlândia, Islândia, Portugal e Coréia, que variam de cerca de 1,02% para 1,1%. Na maioria dos países, esse indicador está acima em relação a níveis pré-recessão, refletindo tanto o uso de pacotes de estímulo no apoio às atividades de P&D como a queda nas taxas de crescimento do PIB.
O setor de educação superior é o principal beneficiário das alocação do GBAORD na maioria dos 15 países da OCDE que disponibilizam esse tipo de informação. No caso da Suíça, o setor de educação superior absorve quase 90% dos GBAORD. Nessa amostra de 15 países, somente na Polónia, Alemanha, República Checa e Coréia, o próprio setor governamental registra participação no GBAORD.
O suporte governamental à pesquisa básica é crucial e assume a forma de financiamento direto do P&D. Os dois principais modos de financiamento público direto são o financiamento institucional e o financiamento com base em projeto. Enquanto o primeiro modo garante um financiamento estável de longo prazo para a atividade de pesquisa, o segundo modo estimula a concorrência dentro do sistema de pesquisa e facilita o estímulo a áreas estratégicas de pesquisa. Entre os países da OCDE, os modos de financiamento da pesquisa básica realizada pelo setor de educação superior variam significativamente e refletem as distintas configurações dos sistemas nacionais de pesquisa. Na Dinamarca, Israel, Nova Zelândia, Áustria e Alemanha, o financiamento institucional é o modo principal, enquanto a Bélgica e Coréia predominam o financiamento de projetos.
O relatório destaca que há uma complexa interação entre os setores público e privado no financiamento e na execução das atividades de P&D. Os países diferem significativamente em seus sistemas "público" de P&D, os quais apresentam diferentes combinações de institutos governamentais de pesquisa e universidades privadas e/ou públicas, contando com diferentes graus de financiamento do governo. Para analisar a contribuição do setor empresarial para o P&D realizada neste domínio quase-público e melhorar a comparabilidade internacional, a OCDE agrupou os institutos governamentais de pesquisa e o setor de ensino. Os dados mais recentes mostram que na Hungria, Holanda, China, Turquia, Rússia e Alemanha, o setor empresarial desempenha um papel relevante no financiamento de P&D executado pelos setores de educação superior e de pesquisa governamental. Nos países da OCDE, a situação não se alterou significativamente ao longo da última década, mas houve um aumento substancial na importância do setor privado na Alemanha, Holanda e Hungria e diminuições significativas na Eslovênia, África do Sul, Polónia e Reino Unido.
Já as fontes estrangeiras de funding das atividades de P&D incluem, por exemplo, o P&D executado por filiais de empresas estrangeiras, o P&D executado sob contrato em nome de empresas sediadas no exterior ou bolsas de pesquisa concedidas por organizações internacionais. Em média, na área da OCDE, o financiamento do exterior de atividades de P&D desempenha um papel bastante importante no funding do BERD. Na União Europeia, por exemplo, as fontes externas representavam cerca de 10% do BERD total em 2008.
De acordo com o relatório, a importância do funding estrangeiro para o P&D parece estar relacionada com o peso das multinacionais estrangeiras na economia e na produção nacional de tecnologia. Assim para a Áustria, a Irlanda, Eslováquia e Reino Unido, os fundos do exterior representavam 20% ou mais do BERD total em 2009 (2007 no caso da Áustria).
Na maioria dos países, o financiamento estrangeiro do BERD é efetuado por outras empresas privadas. Em um grupo de 19 países para os quais existem dados disponíveis, as empresas estrangeiras contribuem com menos de 80% do total dos recursos estrangeiros para o BERD nacional apenas na França (78%), Espanha (71%), Eslovênia (70%) e Portugal (67%). Os percentuais mais elevados são assinalados pela Coréia (99,2%), Reino Unido (98,7%), Eslováquia (96,4%) e Áustria (96,1%).
Para 16 países, a informação coletada permite identificar a proporção de recursos correspondente a financiamento intrafirma ou financiamento de outras empresas. Dentre esses, somente a Eslovênia relata uma maior participação de recursos provenientes de empresas não coligadas, que representam quase 70% do total dos fundos recebidos do exterior. Na Finlândia, Hungria, Portugal e Eslováquia, a proporção de recursos provenientes de por empresas do mesmo grupo é significativamente maior.







