Carta IEDI
Desindustrialização e Dilemas do Crescimento Econômico Recente
Podemos dizer que a desindustrialização está aumentando e indicamos como causas:
a) A política de altas taxas de juros que afeta a demanda agregada de 3 formas: inibindo o investimento e o gasto público, componentes da demanda que geram renda e emprego, e as exportações pelo efeito que elevadas taxas de juros exercem sobre a conta financeira e de capital. Inibir o crescimento implica em comprometer o crescimento da produtividade industrial e conseqüentemente da competitividade da economia.
b) A tendência à valorização do câmbio, resultado da política de elevadas taxas de juros doméstica, é reforçada pela valorização internacional do preço das commodities. Essa excessiva apreciação cambial e aquecimento no mercado de commodities desestimulam a exportação de outros produtos que perdem competitividade.
c) A valorização cambial provoca a substituição de produção doméstica por produtos importados, o que se observa em especial no setor produtor de bens duráveis de consumo nos períodos mais recentes.
d) O ambiente de política econômica pouco propício ao crescimento não tem estimulado o investimento privado, mesmo com o câmbio favorável à importação de máquinas e equipamentos.
e) Em síntese, mesmo dotado de um parque industrial amplo e diversificado, verifica-se nos últimos anos um processo de desindustrialização no País, fruto da combinação perversa de taxa de juros elevada e câmbio valorizado. Tal combinação restringe a expansão do investimento e das exportações, corroendo a competitividade e levando a perdas de produtividade na indústria.
Do ponto de vista dos setores da indústria geral, os indícios de desindustrialização de 1996 a 2004 podem ser apontados como:
a) A queda na relação Valor da Transformação Industrial (VTI)/ Valor Bruto da Produção Industrial (VBPI) da indústria quase que ininterruptamente desde 1997. Essa relação indica quanto a produção nacional é intensiva em valor agregado gerado no país. Quanto menor for essa relação, menor o conteúdo nacional na produção interna e portanto maior a desindustrialização.
b) Apenas nove dos trinta e quatro segmentos industriais lograram ampliar a relação VTI/VBPI no confronto 2004/1996. Por ordem de ganhos, em pontos percentuais, os destaques foram: Refino de petróleo (14,4 pp), Celulose e outras pastas para a fabricação de papel (6,8 pp), Papel e papelão (6,6 pp), Indústrias extrativas (4,3 pp), Metalurgia básica (3,1 pp) e Vestuário (2,0 pp). Três desses segmentos (Celulose, Metalurgia e indústrias extrativas) se destacaram pelos altos coeficientes de exportação. Ressalte-se que a relevância das exportações na razão VTI/VBPI é relativa: vários segmentos fortemente exportadores tiveram quedas nessa proporção, a exemplo de Fumo e Caminhões e ônibus. Dentre aqueles com maiores perdas, sobressaíram-se os do ramo eletroeletrônico (Aparelhos e equipamentos de telefonia e radiotelefonia e de transmissores de televisão e rádio, Máquinas para escritório e equipamentos de informática, Material eletrônico básico, Máquinas Aparelhos e materiais elétricos), automobilístico (Peças e acessórios para veículos automotores e Caminhões e ônibus) e químico (Produtos químicos, Borracha e plástico).
Pode-se atualizar a estrutura industrial a partir da distribuição do VTI em 2004, informado pela Pesquisa Industrial Anual, e estimada para 2006 através dos índices de evolução da produção física da PIM-PF do IBGE. Essa atualização indica:
a) O setor a ganhar mais peso individualmente, de 2004 para 2006, foram as Indústrias extrativas (+0,4 ponto percentual). O ganho de importância dessa indústria já era esperado, pois a evolução do setor nos últimos anos tem sido nesse sentido. Outro setor a ganhar relevo no período foi o de Veículos automotores, reboques e carrocerias (+0,3 pp).
b) Como grupo, o conjunto de segmentos do setor eletroeletrônico apresentou aumento de peso na estrutura industrial (+0,7 pp). O movimento dessa atividade não lograva uma tendência clara: uns de seus segmentos vinham ganhando relevo (como Máquinas e materiais elétricos), enquanto outros tinham comportamento oscilante (exemplo, Máquinas para escritório e de informática). Até 2003 o setor vinha perdendo peso, tendência revertida nos últimos três anos. Esse grupo tinha em 2006 um peso na indústria geral estimado de 5,4% próximo ao de de Máquinas e equipamentos (5,7%), que vem perdendo peso.
c) Tanto o setor eletroeletrônico quanto o automobilístico têm se destacado também pela forte desindustrialização (queda na relação VTI/VBPI). A substituição de insumos nacionais por importados está beneficiando esses setores, contribuindo para baixar custos. Portanto são setores que se tornam mais competitivos por causa da desindustrialização.
d) As perdas de participação se concentraram em setores tradicionais de baixa intensidade tecnológica: Madeira (-0,3 pp), Couros e fabricação de artefatos de couro, artigos de viagem e calçados (-0,2 pp), Vestuário e acessórios (-0,2 pp) e Têxtil (-0,1 pp). Esses setores, à exceção de Madeira, já vinham ao longo dos últimos anos perdendo espaço na estrutura industrial, portando essa evolução era, até certo ponto, esperada.
Uma conclusão geral sobre as mudanças na estrutura produtiva: a abertura econômica, se não provocou uma regressão tecnológica, também não promoveu um “upgrade” em termos de processos produtivos mais sofisticados. Mas o câmbio valorizado tem estimulado o avanço de indústrias que passam por forte processo de desindustrialização. Tal conclusão reforça a idéia de que a alavancagem em termos de expansão da economia depende de um aumento no nível da taxa de investimento fixo. Esse aumento ocorrer com um esforço em inovação tecnológica, para resultar em uma melhoria no padrão de crescimento do país.
Baixo Dinamismo. O baixo dinamismo da economia brasileira, expresso em baixas taxas de crescimento do PIB, se constitui em um dos principais problemas macroeconômicos da atualidade. O crescimento da indústria de transformação, setor que por suas características de encadeamento de demandas ao longo das cadeias produtivas dentro e fora da indústria exerce um importante efeito de liderar a taxa de crescimento agregada, também tem crescido pouco. O Gráfico abaixo mostra as taxas de crescimento do PIB e do valor adicionado a preços básicos da indústria de transformação desde a estabilização dos preços em 1994. Nesses 13 anos o VA da indústria de transformação foi positivo em 11, mas em apenas 4 anos a taxa superou a de toda a economia (1994, 2000, 2003 e 2004).
A freqüência com que se tem observado menor dinamismo da indústria de transformação em relação aos demais setores da economia coloca na pauta de debates sobre o crescimento econômico a questão da desindustrialização e suas conseqüências. Continuamos a nos desindustrializar? Estamos condenados a um baixo e intermitente processo de crescimento?
<<20070323-01.gif|Fonte: IBGE, Contas Nacionais.
Nota: De 2001 em diante, baseado nos dados revistos tendo como referência 2000, exceto 2005 e 2006, baseados nas Contas Nacionais Trimestrais.|>>
A literatura econômica lista três “leis” de crescimento (conhecidas com as leis de Kaldor) que destacam o papel preponderante da expansão da produção industrial como motor do crescimento econômico de longo prazo. Podem ser sintetizadas como: a) observa-se uma forte correlação positiva entre as taxas de crescimento do PIB e da produção industrial; b) a indústria manufatureira, por apresentar economias de escala crescente, apresenta uma forte correlação entre o crescimento da produção industrial e o crescimento da produtividade industrial, sendo que é o crescimento da produção industrial que provoca o aumento da taxa de crescimento da produtividade da indústria, e c) existe uma forte correlação positiva entre o crescimento da produção industrial e o crescimento da produtividade fora da indústria. À luz dessas propriedades, a perda de importância da indústria dentro da estrutura produtiva compromete o potencial de crescimento futuro da economia pela forte ligação entre o crescimento da produção industrial e o crescimento da produtividade.
O IEDI identificou em estudo em novembro de 2005 que estaria ocorrendo uma desindustrialização relativa na economia brasileira. O processo de desindustrialização teria se acentuado com a abertura econômica nos anos 1990 e só teria sido interrompido com a maxidesvalorização da moeda nacional em 1999. A idéia de uma desindustrialização relativa foi definida face a três aspectos. Uma primeira constatação é que a taxa de crescimento da indústria brasileira tem se situado em níveis bem inferiores aos de outras economias emergentes, como China e Índia. Internamente, o crescimento da indústria tem sido menor que o dos demais setores e, dentro da indústria, setores tradicionais perderam peso, sendo compensado por setores intensivos em recursos naturais.
Uma atualização do estudo anterior aponta para um aprofundamento do processo de desindustrialização nos últimos dois anos. A menor taxa de crescimento da indústria de transformação relativamente aos demais setores da economia é um indicativo de que o processo de desindustrialização está progredindo. Mais ainda, observando os componentes da demanda agregada que mais cresceram no período, o expressivo crescimento das importações (9,3% em 2005 e 18,1% em 2006), com baixo incremento da produção da indústria de transformação (1,1% em 2005 e 1,9% em 2006), sugere que pode estar ocorrendo um forte processo de substituição de produção doméstica por importações.

Para investigarmos se está ocorrendo uma tendência recente à desindustrialização duas linhas de argumentação serão apresentadas. De um lado, a persistência da política econômica que combina elevadas taxas de juros e câmbio apreciado tem desistimulado o crescimento da economia e da indústria em particular. Por outro, as mudanças na estrutura produtiva provocadas em grande parte pela abertura econômica, levaram a uma concentração maior da produção em setores com vantagens competitivas na exploração de recursos naturais em detrimento de setores mais tradicionais e mais empregadores de mão de obra e de setores de alta tecnologia, com vantagens competitivas dinâmicas no comércio internacional. Essa tendência à especialização em recursos naturais torna as exportações industriais do país mais vulneráveis às flutuações de preços no mercado internacional, com consequências negativas para a balança comercial a longo prazo.
O papel da política econômica e a expansão do comércio internacional. A política de manutenção em níveis elevados da taxa de juros básica da economia brasileira tem trazido como conseqüência um baixo ritmo de crescimento econômico, mesmo em um contexto internacional de expansão do comércio e de alta liquidez. Podem ser destacados pelo menos três efeitos negativos da taxa de juros sobre os componentes da demanda agregada. Taxa de juros nominais e reais elevadas inibem o investimento produtivo, que apresenta importante efeito multiplicador de renda e emprego sobre a economia. Taxa de juros elevada encarece a dívida pública, levando a políticas de contenção de gastos públicos correntes e de capital, que também geram renda e emprego. Por fim, outro efeito importante é sobre a apreciação do câmbio, pois altas taxas de juros atraem capital especulativo, valorizando a moeda doméstica e prejudicando as exportações.
Se a taxa de juros elevada tem sido um eficiente mecanismo de controle da inflação, por outro lado, a inibição do crescimento em um mundo competitivo, implica desperdício de oportunidades e comprometimento da competitividade e da produtividade da economia. Portanto, o cenário externo favorável frente ao baixo crescimento doméstico provocado em grande medida pela política de juros altos cria uma situação onde o processo de desindustrialização se agrava pelo baixo dinamismo econômico.
Além desse efeito de descompasso entre o crescimento da economia brasileira e demais economias com mesmo padrão de industrialização, outro fator a contribuir para o aprofundamento da desindustrialização é a valorização da moeda nacional por conta dos expressivos superávits comerciais, resultantes do aumento no preço das commodities exportadas pelo país. A excessiva valorização do câmbio provocada pela alta nos preços internacionais de um grupo pequeno de mercadorias, desestimula a exportação de outras mercadorias, em especial as industriais. Essa é uma situação inédita na história econômica do país onde a melhoria nos termos de troca internacional provoca desindustrialização (a literatura identifica esse movimento como a “doença holandesa”).
A seqüência de gráficos logo abaixo ilustra de diversas formas como a indústria está sendo afetada negativamente pela valorização cambial. O primeiro deles mostra a valorização dos preços por grupos de produtos exportados. É clara a tendência de alta de preços das exportações a partir de 2003, assim também como é clara a maior tendência de alta dos preços dos produtos semi-manufaturados (com menor valor agregado) e básicos (agrícolas e da indústria extrativa mineral), que se situam acima do preço médio das exportações.
Já o gráfico seguinte mostra a evolução dos saldos da Balança Comercial e a contribuição das exportações e importações para o resultado final Os expressivos saldos comerciais, principalmente a partir de 2003, são resultado do crescimento significativo das exportações bem acima das importações, mesmo com o câmbio valorizado.


Os demais gráficos comparam a evolução do quantum da produção industrial e das importações por categoria de uso. Assim, pode-se é avaliar em que medida a valorização cambial pode estar contibuindo para uma substituição de produção doméstica por importação. À medida que a evolução dos índices de quantum importado se situe acima da evolução da produção física doméstica de forma consistente, podemos afirmar que alguma substituição está ocorrendo. A partir de 2005 ocorre um distanciamento sistemático entre as duas curvas, com as importações com taxas maiores de crescimento, na comparação das categorias de bens de consumo durável e não durável e de bens intermediários. No setor de bens de capital, tal tendência é observada a partir de meados de 2006.




Em suma, há indícios de que está havendo uma substituição de produção doméstica por produtos importados, ou seja, o câmbio valorizado, num contexto de baixo crescimento, tem contribuído para a produção doméstica perder competitividade para similares importados. Onde o crescimento do quantum importado acima da produção doméstica pode ser um indicador positivo para a retomada do crescimento econômico em bases mais dinâmicas é no setor de bens de capital. Isso parece estar ocorrendo a partir de meados de 2006.
Pode-se afirmar ainda que é no setor de bens de consumo durável no qual o efeito de substituição de produção doméstica por importação é mais evidente. A próxima tabela mostra a evolução do quantum exportado e importado por categoria de uso para 2005 e 2006. As maiores taxas de importação são observadas nessa categoria de uso, que em 2006 apresentou a maior queda no quantum exportado. Assim, além da produção doméstica estar perdendo espaço para as importações, as exportações estão perdendo espaço no mercado mundial.
Em conclusão, a maior responsabilidade para a persistência do processo de desindustrialização deve ser buscada na manutenção de uma política econômica de juros altos e de câmbio apreciado, que vem constrangendo o ritmo de crescimento da economia, mesmo em um contexto internacional favorável.

Desindustrialização em 1996-2006. Há vários modos de se abordar o tema da desindustrialização e, portanto, diferentes índices para mensurá-la nas diversas fontes de dados existentes. Aqui, avalia-se o tema pela evolução do valor agregado pela indústria em termos de sua distribuição setorial e sua relação com o valor da produção, conceito próximo ao de faturamento das empresas. Se um parque industrial está perdendo importância, seja em termos quantitativos ou qualitativos, esse processo pode se dar de duas formas, não excludentes. Na primeira, determinados setores industriais vão perdendo peso, em termos absolutos e/ou em relação ao total da indústria, não sendo isso compensado pelo ganho de importância de outros segmentos industriais. Esse processo é de maior gravidade, se os setores que encolhem são intensivos em tecnologia (setores de ponta).
A forma de se mensurar esse fenômeno é, sobretudo, através da análise da evolução da participação dos diferentes setores no conjunto da indústria. Para medir a produção industrial utilizaremos o Valor da Transformação Industrial (VTI), uma aproximação do valor agregado (renda gerada). Os dados são da Pesquisa Industrial Anual (PIA) do IBGE que abarca o período 1996-2004, complementados por números da pesquisa industrial mensal de produção física (PIM-PF) para estimativas próprias para 2005-2006.
A desindustrialização pode ocorrer também quando a forma como se produz sofre grandes alterações por meio da terceirização da força de trabalho e da produção de matérias - primas. Com a terceirização da mão-de-obra parte da produção da indústria é transferida para o setor serviços. Um exemplo são os serviços de manutenção de máquinas e equipamentos industriais que, até o final dos anos 1980 estavam, em grande medida, a cargo das próprias empresas industriais. No início dos anos 1990 essa produção passou para empresas do setor terciário. A terceirização da produção de matérias primas, peças e componentes é fruto da adoção da prática de linhas de produção mais especializadas no produto final. Nesse caso a produção industrial é transferida para outras empresas industriais no Brasil ou no exterior. Se a produção se desloca para fora do país, significa menor produção nacional. Na situação limite, a indústria apenas “encaixa” peças e componentes que foram produzidas no exterior. É o caso das indústrias “maquiladoras” que funcionam no México, na fronteira com os EUA. Outro exemplo são indústrias de vestuário, principalmente da Europa e EUA, que apenas colocam a etiqueta num produto que foi inteiramente elaborado fora. Nessas situações o valor adicionado pela indústria é muito pequeno em relação ao valor da produção do produto.
Para mensurar essa questão foi utilizada a evolução da participação do VTI no Valor Bruto da Produção Industrial (VBPI). Uma queda nessa relação indica que a indústria está agregando menos valor por produto produzido. Note-se que como se trata de uma relação entre valores correntes, essa pode ser influenciada por uma mudança nos preços relativos. Por exemplo, se o preço dos insumos aumenta, eleva o VBPI, e a relação VTI/VBPI cai sem que isso tenha relação com substituição de matérias primas nacionais por importadas. A evolução dos preços das matérias-primas domésticas, em princípio, influenciou pouco a relação VTI/VBPI, pois no período considerado (1996-2004), seus preços cresceram apenas 3,9% acima dos da indústria geral segundo o IPA-DI da FGV.
Evolução da Relação VTI/VBPI em 1996-2004. A relação VTI/VBPI vem caindo quase que ininterruptamente desde 1997, indicando que tem se reduzido o conteúdo nacional na produção interna e portanto a desindustrialização tem aumentado.
O comportamento do segmento de Refino de petróleo é digno de nota: sua relação VTI/VBPI passa de 54,1% em 1996 para 68,5% em 2006. Apenas nove dos trinta e quatro segmentos industriais registraram elevação na relação VTI/VBPI no confronto 2004/1996. Por ordem de ganhos, em termos pontos percentuais (pp) os destaques foram: Refino de petróleo (14,4 pp), Celulose e outras pastas para a fabricação de papel (6,8 pp), Papel e papelão (6,6 pp), Indústrias extrativas (4,3 pp), Metalúrgica básica (3,1 pp) e Vestuário (2,0 pp). ). Três desses segmentos (Celulose, Metalúrgica e indústrias extrativas) se destacaram por terem altos coeficientes de exportação. Vale ressaltar que a importância das exportações na relação VTI/VBPI é relativa, pois vários segmentos que são fortemente exportadores tiveram quedas na relação VTI/VBPI, como por exemplo, Fumo e Caminhões e ônibus.
Dentre os segmentos com maiores perdas destacaram-se os do ramo eletroeletrônico (Aparelhos e equipamentos de telefonia e radiotelefonia e de transmissores de televisão e rádio, Máquinas para escritório e equipamentos de informática, Material eletrônico básico, Máquinas Aparelhos e materiais elétricos), cuja relação VTI/VBPI caiu pela metade, passando de 57,2 %em 1996 para 28,1% em 2004; automobilístico (Peças e acessórios para veículos automotores e Caminhões e ônibus); e químico (Produtos químicos Borracha e plástico). Ressalte-se que dentre tais segmentos preponderam sobremaneira atividades de alta ou média-alta intensidade tecnológica segundo os critérios da OCDE.


Evolução da Estrutura Industrial segundo intensidade tecnológica em 1996-2004. O ano de 2000 assinalou uma mudança relevante: o salto das exportações (FOB) que, no período 1997-2000, cresceram 23,2% para os produtos manufaturados e caíram 1,3% para semimanufaturados, contra taxas de 62,8% e 58,0%, respectivamente, de incremento em 2001-2004 (Funcex, disponível no site Ipeadata). Tal aumento das vendas externas em 2001-2004 teve maior impacto sobre os setores caracteristicamente menos intensivos em tecnologia, pois esses, no Brasil, apresentam maior coeficiente de exportação. Utilizando-se a medida de coeficiente de abertura às exportações, apresentada na análise de resultados da Pesquisa Industrial Anual de 2004 do IBGE (razão entre o valor exportado e a receita líquida de vendas), observa-se que durante o período considerado quase dobrou o grau de abertura da indústria às exportações, passando de 10,8% em 1996 para 20,4% em 2004. Porém esse movimento foi mais intenso nos setores tidos pela OCDE como de baixa e média baixa intensidade tecnológica, a exemplo de Papel e celulose – o de maior coeficiente em 2004: 84,8%; Artefatos de couro e artigos de viagem e calçados; produtos alimentícios e bebidas; afora as Indústrias extrativas.
A próxima tabela mostra a evolução da participação do VTI dos segmentos dentro de cada categoria. Os movimentos de ganhos e perda de participação parecem estar mais relacionados à evolução das importações do que das exportações. Um exemplo de setor que praticamente não apresentou ganho na estrutura de 2000 para 2004, mas que aumentou significativamente seu coeficiente de exportação foi o de Refino de petróleo. O mesmo dobrou seu coeficiente de exportação de 2000 para 2004, mas seu peso na indústria pouco se alterou. O setor de Fabricação de produtos alimentícios e bebidas, por sua vez, reduziu sua participação no VTI, embora seu coeficiente de exportação tenha dobrado de 2000 a 2004. O grupo de produtos da indústria eletroeletrônica (Máquinas para escritório e equip. de informática, Máquinas, aparelhos e materiais elétricos, Aparelhos e equipamentos de telefonia e radiotelefonia e de transmissores de TV e rádio, Aparelhos receptores de rádio e TV e de reprodução, gravação ou amplificação de som e vídeo, Equipamento de instrumentação médico-hospitalar, instrumentos de precisão e ópticos, equipamentos de automação industrial, cronômetros e relógios e Material eletrônico básico), no conjunto, reduziu sua participação de 7,8% em 2000 para 5,3% em 2004, com variadas mudanças, mas em geral decrescentes, no coeficiente de exportação. Nesse grupamento de setores, observou-se com intensidade a substituição de produção doméstica por produtos importados, desde a abertura da economia. No entanto, devemos ressaltar que as vendas externas são relevantes para explicar a evolução positiva de alguns segmentos (como por exemplo, Metalúrgica básica). O ganho de importância do Refino de petróleo também influenciou muito a mudança de estrutura da indústria. Esse é um setor que tem uma dinâmica própria, ligada à disponibilidade de matéria-prima e a políticas governamentais de busca de auto-suficiência em petróleo. O movimento do complexo químico – particularmente da indústria farmacêutica e dos demais produtos químicos – tem sido determinante para a evolução dos setores de alta e média-alta intensidade tecnológica, conforme visto inclusive em trabalhos recentes do IEDI.


Mudança na Estrutura Industrial em 2004-2006. Outro exercício interessante consiste em estimar a mudança da estrutura industrial para 2006. Tal estimativa foi obtida pela atualização da estrutura de VTI de 2004 da Pesquisa Industrial Anual pela evolução dos índices de produção física da PIM-PF. Considerou-se, portanto, a abertura setorial da PIA com a da PIM-PF sem utilizar índices de preço na estimativa, ou seja, a atualização da estrutura desconsiderou efeitos de mudanças nos preços relativos em 2005 e 2006.
O setor que individualmente ganhou mais peso de 2004 para 2006 foi a Indústria extrativa (+0,4 ponto percentual). Como grupo foi o setor eletroeletrônico aquele que mais ganhou participação (+0,7 pp), sendo composto por: Máquinas para escritório e equipamentos de informática (+0,3 pp), Máquinas, aparelhos e materiais elétricos (+0,2 pp) e Material eletrônico e de aparelhos e equipamentos de comunicações (+0,2 pp). Outro setor a lograr ganho relevante no período foi o de Veículos automotores, reboques e carrocerias (+0,3 pp). O ganho de importância das Indústrias extrativas era esperado, pois a evolução do setor nos últimos anos tem sido nesse sentido. Já o movimento do setor de eletroeletrônico não apresentava uma tendência clara de alta, alguns de seus segmentos vinham ganhando importância (exemplo, Máquinas aparelhos e materiais elétricos), enquanto outros apresentavam comportamento oscilante (exemplo, Máquinas para escritório e equipamentos de informática). Portanto, é uma novidade o ganho de peso do Complexo eletroeletrônico. Até 2003 esse setor vinha perdendo peso e essa tendência se reverte nos últimos três anos. Esse grupo tinha em 2006 um peso na estrutura industrial estimado de 5,4% próximo ao do setor de Máquinas e equipamentos (5,7%), que vem perdendo espaço. É relevante assinalar que tanto o complexo eletroeletrônico quanto o automobilístico têm se destacado também pela forte desindustrialização (queda na relação VTI/VBPI). A substituição de insumos nacionais por importados está beneficiando tais setores, contribuindo para baixar os custos. Portanto são setores que se tornam mais competitivos por causa da desindustrialização.
As perdas de participação se concentraram em setores tradicionais de baixa intensidade tecnológica (-0,8 pp): Madeira (-0,3 pp), Couros e fabricação de artefatos de couro, artigos de viagem e calçados (-0,2 pp), Vestuário e acessórios (-0,2 pp) e Têxtil (-0,1 pp). Esses setores, à exceção de Madeira, já vinham ao longo dos últimos anos perdendo espaço na estrutura industrial, portando essa evolução era, até certo ponto, esperada.
O complexo Químico também apresentou perdas expressivas (-0,5 pp): Coque, refino de petróleo, elaboração de combustíveis nucleares e produção de álcool (esse setor inclui toda a produção da Petrobrás, pois como empresa é classificada pelo IBGE pela sua atividade preponderante em termos de receita, que é refino de petróleo) (-0,2 pp), Produtos químicos (-0,2 pp), Borracha e plástico (-0,1 pp). Os dois últimos setores já vinham, desde 1996, perdendo peso na estrutura industrial.
Também perdeu peso o grupo da Metalurgia (-0,5 pp): Metalurgia básica (-0,3 pp) e Produtos de metal – exceto máquinas e equipamentos (-0,2 pp). A participação de Produtos de Metal caiu de 1997 a 2000, mas depois se estabilizou. No entanto a Metalurgia básica vinha nitidamente ganhando espaço. Seu peso era de 5,4% em 1996 e chegou a 9,3% em 2004, porém regredindo para 9%. Registre-se que, apesar da forte concorrência com o produto importado, foi pequena a perda de participação de Máquinas e Equipamentos (-0,1 pp). Mas é preocupante que esse setor venha perdendo peso ao longo dos últimos anos.


