Análise IEDI
Processo incompleto
As condições de financiamento da economia vêm mostrando alguns indícios de normalização, depois de um período de forte restrição. Esta é uma realidade mais para alguns segmentos do crédito do que para outros. Sinais positivos no crédito corporativo, por exemplo, são ainda muito recentes e tímidos. Mas é preciso reconhecer que este processo de melhoria continua incompleto, obstruído por alguns aspectos que destacaremos nesta Análise.
Antes, contudo, o que há de positivo no quadro geral é que nos últimos meses novos empréstimos voltaram a irrigar a economia. Como se sabe, a expansão do crédito é um dos pilares do dinamismo em economias de mercado e por isso este é um fator dos mais importantes para acelerar a recuperação da economia.
No primeiro trimestre de 2018, o total das concessões de crédito, já descontada a inflação aferida a partir do IPCA, registrou alta de 9,9% frente ao mesmo período do ano passado. Este resultado foi puxado sobretudo por aquelas operações contratadas junto às pessoas físicas, cujo crescimento atingiu 10,4% na mesma comparação. Este foi o quinto trimestre de alta consecutiva no financiamento das famílias.
Já para as empresas, os avanços têm sido mais modestos. As concessões reais às pessoas jurídicas voltaram ao terreno positivo só no quarto trimestre de 2017 e passou a um ritmo de crescimento próximo ao do crédito às famílias só agora no primeiro trimestre de 2018 ao registrar alta de 9,3% na comparação interanual.
Além da relativa escassez de financiamento às empresas, outros dois fatores funcionam como freio a uma melhora mais expressiva do quadro geral do crédito, dificultando que a recuperação da economia ganhe potência.
O primeiro destes fatores é a contração do crédito direcionado, que já dura 13 trimestres, isto é, desde o início de 2015. Este tipo de financiamento, que tradicionalmente apresentava uma maior estabilidade ao longo dos ciclos econômicos, assumiu um comportamento fortemente pró-cíclico na crise recente e se mantém até hoje no negativo, como mostram as variações interanuais das concessões reais abaixo.
• Concessões totais: +4,6% no 3º Trim/17; +8,0% no 4º Trim/17 e +9,9% no 1º Trim/18
• Concessões de crédito livre: +6,0%; +10,2% e +11,5%;
• Concessões de crédito direcionado: -6,1%; -9,0% e -7,3%, respectivamente.
Já a parcela do mercado de crédito cujas condições são livremente pactuadas entre credores e devedores foi quem permitiu aumento das concessões totais, ao registrar avanço de 11,5% no primeiro trimestre de 2018, já corrigida pela inflação. Estes empréstimos vêm crescendo desde início de 2017, com nítida aceleração inclusive.
O que deixa muito a desejar no crédito livre é o ritmo de redução das taxas de juros dos empréstimos. Mesmo que declinantes, seguem em uma velocidade bem menor que a queda da taxa básica de juros da economia, a Selic. Desde que o Banco Central começou a cortar os juros, a Selic caiu de 14,25% a.a. em set/16 para 6,5% a.a. em mar/18, isto é, uma redução de mais de 50%. Os juros médios do crédito livre, contudo, não caíram nem a metade disso.
A causa desse atraso no declínio dos juros dos empréstimos tem sido a rigidez à baixa dos spreads praticados no país. Além de elevado, no primeiro trimestre de 2018, o patamar médio dos spreads do crédito livre (33,6 p.p.) ficou praticamente imóvel frente àquele praticado no último trimestre de 2017 (33,8 p.p.). Enquanto isso, apesar de alguma oscilação, a inadimplência média dessas operações segue em queda, atingindo em mar/18 (4,8%) o menor nível desde julho de 2015.
Os dados de crédito divulgados hoje pelo Banco Central mostram que o saldo das operações alcançou R$ 3.1 trilhões em março, com expansão de 0,6% no mês e apresentando variação de 0,1% em doze meses. A relação crédito/PIB foi de 46,6%.
A carteira de crédito com recursos livres ficou em R$ 1.590 bilhões, crescimento de 1,3% em relação ao mês anterior e de 3,6% quando comparado com março de 2017. A parcela destas operações realizada junto a pessoas físicas foi de R$ 862,6 bilhões, crescimento de 6,5% quando comparado com o mês de março de 2017, ressaltando-se o aumento nas modalidades de crédito não consignado e aquisição de veículos. Já o valor das operações junto a pessoas jurídicas ficou em R$ 727,5 bilhões, apresentando crescimento de 0,3%, também na comparação com o mesmo período de 2017, e crescimento de 2,1% em relação ao mês anterior, destacando-se os impulsos por descontos de duplicatas e financiamentos de exportações.
O estoque de crédito com recursos direcionados ficou em R$ 1.491 bilhões para março, em termos nominais, indicando queda de -3,4% frente ao mesmo mês do ano anterior e retração de 0,1% quando comparado ao mês de fevereiro de 2018. O saldo referente a pessoas físicas foi de R$ 806 bilhões, apresentando crescimento de 5,3% frente ao mês de março de 2017, com destaque ao financiamento imobiliário. O saldo relativo a pessoas jurídicas foi de R$ 685 bilhões, queda de -11,9%, influenciado pelo crédito rural e BNDES.
Em março, foram concedidos R$ 301,6 bilhões em novas operações de crédito, crescimento de 2,8% frente ao montante de R$ 293,5 bilhões observado no mesmo mês do ano anterior. Deste volume, R$ 277,8 bilhões foram originados de recursos livres e R$ 23,8 bilhões de recursos direcionados, o que representou, quando comparados aos mesmos meses do ano anterior, aumento de 3,4% para recursos livres e queda de -4,4% para recursos direcionados.
Dentre as concessões de crédito às pessoas físicas a partir de recursos livres, destacaram-se as operações de crédito rotativo (R$ 115,3 bilhões), cartão de crédito (R$ 88,5 bilhões), crédito não rotativo (R$ 37,4 bilhões), cheque especial (R$ 30,7 bilhões) e crédito pessoal (R$ 23,0 bilhões). Quanto as pessoas jurídicas, as principais modalidades foram desconto de duplicatas (R$ 25,6 bilhões), cheque especial (R$ 17,1 bilhões), conta garantida (R$ 16,5 bilhões) e capital de giro (R$ 14,4 bilhões).
Nas novas concessões de crédito realizadas com recursos direcionados sobressaíram-se, para pessoas físicas, as modalidades de financiamento imobiliário (R$ 6,6 bilhões), crédito rural (R$ 5,4 Bilhões), microcrédito (R$ 805 milhões) e BNDES (R$ 774 milhões). Já para as empresas, as principais modalidades foram crédito rural (R$ 5,3 bilhões) e BNDES (R$ 3,2 bilhões).
Setores. Considerando o saldo total de crédito do sistema financeiro nacional, a carteira de operações para indústria atingiu R$ 666,9 bilhões, o que significa um acréscimo nominal de 0,1% frente a fevereiro de 2018. Sendo a maior contribuição o segmento automobilístico (7,2%) e alimentos (4,6%). O saldo do setor de serviços foi de R$ 707,8 bilhões, expansão nominal de 1,5% em relação ao mês anterior, com destaque para as variações de comércio geral de bens intermediários (6,1%) e comércio varejo bens duráveis (4,6%). Por fim, o setor agropecuário apresentou crédito de R$ 21,3 bilhões, valor 0,5% maior, em termos nominais, do que o registrado no mesmo mês de fevereiro de 2018.
Juros e Inadimplência. A taxa média de juros das operações contratadas em março situou-se em 26,2% a.a., diminuição de 0,7 p.p. no mês, devolvendo o aumento ocorrido em fevereiro. Essa variação refletiu, notadamente, a redução na taxa de juros livres de 0,8 p.p., para 41,4% a.a., acompanhando declínios tanto nas operações com pessoas jurídicas, 1 p.p., quanto com pessoas físicas, 0,5 p.p. No caso de pessoas jurídicas, ênfase nas reduções em capital de giro, 1,2 p.p., e desconto de duplicatas, 1,9 p.p.; enquanto para pessoas físicas, crédito pessoal não consignado, 0,7 p.p., e aquisição de veículos, 0,7 p.p.