Análise IEDI
A moderação da crise na indústria de maior intensidade tecnológica
Em 2016, a indústria sofreu mais um capítulo de sua crise que se desenrola desde 2014. São três anos seguidos em que a produção industrial encolheu nada menos do que 17% em termos acumulados. Como vimos em outras Análises, ao menos, no ano passado a retração industrial, que chegou a 6,6%, não foi tão aguda como em 2015 (-8,3%). Esta evolução não deixa de ser favorável, mas está longe de autorizar qualquer comemoração.
A Carta IEDI a ser divulgada hoje analisará como essa etapa de moderação da crise industrial se deu nos diferentes setores da indústria de transformação agrupados em quatro faixas de intensidade tecnológica, segundo a metodologia desenvolvida pela OCDE.
No acumulado do ano, em praticamente todas as faixas o quadro foi menos severo em 2016 do que em 2015, com destaque para as indústrias de alta (-9,6% contra -19,9%) e média-alta (-8,2% contra -16,2%) intensidade tecnológica, que reúnem setores de bens de capital e de bens de consumo duráveis, cujo desempenho depende em maior medida das expectativas em relação ao futuro, do crédito e do nível dos juros. Mas é preciso ponderar pelo fato de que essas faixas suportaram perdas sem precedentes em 2015, gerando uma base de comparação muito baixa.
A faixa de baixa intensidade tecnológica, a seu turno, também teve um resultado menos negativo em 2016: -2,0% contra -5,0% em 2015. Tal movimento deve, contudo, ser interpretado com alguma cautela, como veremos a seguir nos resultados dos últimos trimestres do ano.
Por fim, a única faixa a não apresentar nenhuma melhora em 2016 foi a de média-baixa intensidade tecnológica (-8,9% contra -7,7% em 2015), muito em função dos resultados da indústria de petróleo e derivados, em que pesam as decisões estratégicas da Petrobras, e do setor siderúrgico, que enfrenta já há alguns anos um ambiente internacional de acirrada concorrência.
Para todas essas faixas, o desempenho em 2016 poderia ter sido mais favorável se o ritmo de arrefecimento das perdas nos dois primeiros trimestres desse ano tivesse se mantido no restante do ano. A falta de estímulo à demanda – que poderia ter sido impulsionada pela redução de juros, que só veio à tona em 2017, ou pela concessão de obras de infraestrutura, que vem sendo sempre adiada, ou ainda pela resistência à valorização da moeda – acabou enfraquecendo esse movimento no segundo semestre e adiou ainda mais a tão aguardada recuperação industrial.
Cabe então uma consideração sobre o encadeamento trimestre a trimestre em 2016 da indústria em suas distintas faixas de intensidade tecnológica, inclusive como apontamento do que esperar para o início de 2017. Seguem, então, abaixo as variações trimestrais frente ao mesmo período do ano anterior:
• Indústria de Transformação total: -10,9% no primeiro trimestre; -5,5% no segundo trimestre; -4,6% no terceiro trimestre e -3,7% no quarto trimestre.
• Alta intensidade tecnológica: -16,0%; -6,7%; -7,7% e -7,8%, respectivamente;
• Média-alta intensidade tecnológica: -18,9%; -7,5%; -4,8% e -0,1%;
• Média-baixa intensidade tecnológica: -9,6%; -9,9%; -8,1% e -7,7%;
• Baixa intensidade tecnológica: -5,0%; -0,3%; -1,1% e -2,0%.
Na faixa de alta intensidade tecnológica, na passagem do primeiro para o segundo trimestre de 2016, há uma forte ruptura do ritmo de queda de dois dígitos que vinha ocorrendo desde o início de 2015. Contudo, depois dessa moderação expressiva no segundo trimestre, o quadro parou de melhorar, chegando até a regredir levemente. Muito disso se deveu à deterioração da indústria farmacêutica nos dois últimos trimestres, contrabalanceando a melhora relativa de dois outros componentes dessa faixa: material de escritório e informática e equipamentos de rádio, TV e comunicação, que inclusive fechou o quarto trimestre com alta de 16,2%.
Na faixa de média-alta intensidade tecnológica também houve um movimento de recuo expressivo do patamar de queda do primeiro para o segundo trimestre, mas neste caso o movimento de moderação das perdas continuou nos trimestres seguintes, ainda que mais lentamente. Por isso, esta faixa apresenta trajetória mais promissora. À exceção da produção de máquinas e equipamentos elétricos, todos seus componentes terminaram o ano melhor do que começaram. O destaque vai para o setor de veículos, com alta de 7,5% no último trimestre, e para produtos químicos exceto farmacêuticos, que conseguiu aumentar um pouco sua produção no terceiro (+0,3%) e quarto trimestre (+0,2%).
Já para a faixa de média-baixa intensidade tecnológica, cuja produção caiu mais em 2016 do que em 2015, cabe um atenuante: após um primeiro semestre ruim, suas perdas recuaram um pouco nos dois últimos trimestres. Mesmo que titubeante, produtos metálicos e produtos de borracha e plástico apresentaram quedas menores na segunda metade do ano, ocorrendo o oposto na produção de petróleo e derivados e de minerais não-metálicos, para quem é muito prejudicial o baixo dinamismo das atividades de construção.
Por sua vez, na faixa de baixa intensidade tecnológica, assim como nas duas faixas de maior intensidade, a crise se desacelerou substancialmente na primeira metade do ano. Muito provavelmente contribuiu para isso a taxa de câmbio mais competitiva do início de 2016, já que esse movimento foi condicionado por madeira, papel e celulose e alimentos, bebidas e tabaco, dois setores exportadores, e por têxteis, calçados e couros, onde houve um mix de substituição de importações e aumento de exportações. A partir do terceiro trimestre, entretanto, a deterioração em alimentos, bebidas e tabaco reverteu a evolução da faixa como um todo, que voltou a apresentar taxas maiores de queda.