Análise IEDI
A reversão de resultados e o agravamento da crise
Depois de um terceiro trimestre ruim, a indústria voltou a cair no mês outubro. Segundo a divulgação de hoje do IBGE, a produção industrial regrediu 1,1% frente a setembro, com ajuste sazonal. Frente a igual mês de 2015, a queda foi de 7,3%. O resultado no acumulado dos dez meses de 2016 atingiu -7,6%, isto é, praticamente o mesmo patamar de igual acumulado de 2015 (-7,5%).
A essa altura dos acontecimentos, fica claro que perdeu força o processo de moderação da crise industrial que marcou o primeiro semestre de 2016. A sucessão de resultados mensais positivos na série com ajuste sazonal foi interrompida, dando lugar a taxas negativas não desprezíveis. Para se ter ideia, a indústria encerrou o primeiro semestre do ano com alta de 1,6% em relação a dez/15 na série com ajuste, algo que viria a se perder nos últimos meses, com a produção caindo 4,3% entre junho e outubro.
Na linha de frente dessa reversão de resultado estão justamente os setores que mais vinham melhorando na primeira metade do ano e que, agora, pioraram novamente. O destaque vai para bens de capital (-2,2% frente a set/16, com ajuste), cuja produção cresceu sistematicamente entre janeiro e junho, mas a partir de julho só acumulou retrocessos.
Outro macrossetor que voltou a piorar muito foi o de bens de consumo semi e não duráveis (-0,8% frente a set/16, com ajuste), que a despeito de não ter deixado de apresentar variações mensais negativas no primeiro semestre, parecia caminhar em direção ao crescimento. Desde julho, contudo, apresenta quedas sucessivas.
A seguir, um resumo dos resultados dos macrossetores:
• Indústria geral: +1,6% no primeiro semestre e -4,3% entre jun/16 e out/16, na série com ajuste sazonal;
• Bens de capital: +13,8% e -9,5%, respectivamente;
• Bens de consumo semi e não duráveis: -0,9% e -5,4%;
• Bens de consumo duráveis: -4,7% e -2,7%;
• Bens intermediários: +0,1% e -3,0%, nas mesmas comparações.
Os outros dois macrossetores, bens intermediários e bens de consumo duráveis, também tiveram declínio, na série com ajuste, tanto em outubro como nestes quatro meses do segundo semestre. Outro aspecto muito desfavorável dos últimos dados da indústria é o elevado grau de disseminação das quedas, atingindo 20 dos 24 ramos acompanhados pelo IBGE.
Por detrás desse desempenho decepcionante, estão: a) a forte contração dos investimentos, como os dados do PIB desta semana mostraram, devido à falta de perspectivas favoráveis para a evolução futura dos mercados; e b) o declínio persistente da massa de rendimentos reais, em função da piora das condições do emprego no país. Diante disso, não é surpreendente a marcha à ré assumida pelos bens de capital e de consumo semi e não duráveis.
A consequência deste quadro é o revés do crescimento do PIB no terceiro trimestre do ano, que pode se repetir no quarto trimestre. A política econômica tem assistido de forma passiva este nova deterioração, em curso já há quatro meses. Não seria hora de mudar de postura?
Poderiam entrar na pauta a redução mais rápida dos juros; a aceleração das concessões, encontrando soluções para seu financiamento; a facilitação e barateamento dos financiamentos do BNDES; a manutenção de uma taxa de câmbio competitiva e a adoção de um programa comedido, porém efetivo, de gastos do setor público em investimentos em infraestrutura.
Em outubro, segundo dados divulgados pelo IBGE, a produção industrial apontou variação negativa de 1,1% frente ao mês imediatamente anterior, na série livre de influências sazonais. No confronto com igual mês do ano anterior, o total da indústria mostrou queda de 7,3% em outubro de 2016 (32ª taxa negativa consecutiva nesse tipo de comparação). Assim, para o acumulado dos dez meses do ano a variação foi de -7,7%. O indicador acumulado nos últimos doze meses, reduzindo ritmo de queda em relação aos meses anteriores.
Categorias de Uso. Entre as categorias de uso na comparação com o mês imediatamente anterior, bens de capital (-2,2%) e bens intermediários (-1,9%) registraram as quedas mais significativas. Os bens de consumo duráveis (-1,2%) e bens de consumo semi e não-duráveis (-0,8%) também registraram taxas negativas nesse mês.
No confronto com igual mês do ano anterior, os setores produtores de bens de capital (-9,8%) e bens de consumo semi e não-duráveis (-7,5%) assinalaram as reduções mais acentuadas. Os setores produtores de bens intermediários (-7,0%) e de bens de consumo duráveis (-6,8%) também mostraram resultados negativos nesse mês.
No acumulado do ano, bens de consumo duráveis (-17,5%) e bens de capital (-14,4%) foram as categorias que mais se destacaram negativamente. Os segmentos produtores de bens intermediários (-7,4%) e de bens de consumo semi e não-duráveis (-3,6%) também assinalaram taxas negativas no índice acumulado do ano.
Setores. A retração da atividade industrial na passagem de setembro para outubro de 2016 foi influenciada pelo recuo de 20 dos 24 ramos pesquisados, especialmente produtos alimentícios (-3,1%) e veículos automotores, reboques e carrocerias (-4,5%). Outras contribuições negativas importantes vieram de produtos de borracha e de material plástico (-4,9%), de metalurgia (-2,8%), de bebidas (-3,5%), de perfumaria, sabões, produtos de limpeza e de higiene pessoal (-2,0%), de máquinas e equipamentos (-2,3%), de indústrias extrativas (-0,7%), de máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-3,2%), de produtos de metal (-2,0%) e de celulose, papel e produtos de papel (-1,6%). Entre os quatro ramos que ampliaram a produção nesse mês, podemos destacar coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (1,9%).
Na comparação com outubro de 2015, o setor industrial mostrou queda de 7,3% em outubro de 2016, com perfil disseminado de resultados negativos: 22 dos 26 ramos apontaram redução na produção. Entre as atividades, podemos destacar: indústrias extrativas (-8,6%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-9,0%) e produtos alimentícios (-5,7%). Outros destaques negativos: máquinas e equipamentos (-13,6%), produtos de minerais não-metálicos (-14,0%), veículos automotores, reboques e carrocerias (-6,8%), outros equipamentos de transporte(-25,8%), produtos de borracha e de material plástico (-10,3%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-11,8%), produtos de metal (-9,1%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-10,9%), bebidas (-7,3%), produtos do fumo (-51,1%), metalurgia (-3,0%) e confecção de artigos do vestuário e acessórios (-6,2%). Por outro lado, entre as atividades que apontaram expansão na produção, as principais influências foram registradas por celulose, papel e produtos de papel (4,6%) e impressão e reprodução de gravações (17,1%).
No índice acumulado no ano, houve queda em 23 dos 26 ramos (atingindo 72,2% dos 805 produtos investigados). Os principais impactos negativos foram observados em indústrias extrativas (-12,1%), veículos automotores, reboques e carrocerias (-15,8%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-8,3%), máquinas e equipamentos (-13,9%), produtos de minerais não-metálicos (-11,7%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-19,5%), metalurgia (-7,5%), outros equipamentos de transporte (-21,8%), produtos de metal (-10,7%), produtos de borracha e de material plástico (-8,2%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-8,1%), confecção de artigos do vestuário e acessórios (-8,7%), produtos do fumo (-25,5%) e móveis (-12,6%). Por outro lado, entre as atividades que registraram aumento de produção, podemos destacara produtos alimentícios (1,1%).