Análise IEDI
Recessão dentro da recessão
O resultado do PIB para o terceiro trimestre de 2016, que o IBGE tornou público esta manhã, rompe com uma trajetória de amenização, ainda que muito lenta, da crise econômica. Nesse sentido, traz uma dura reversão de expectativas e o adiamento do início de uma recuperação. Os dados mostram uma nova piora da economia, como se estivéssemos reentrando em uma recessão.
O desempenho do PIB na margem, livre de efeitos sazonais, vinha apresentando uma redução do nível de contração desde o final do ano passado, caminhando claramente para a estabilidade, até a recente piora no último trimestre.
• PIB: -1,1% no 4º trim. 2015, -0,5% no 1º trim. 2016, -0,4% no 2º trim. 2016 e, agora, -0,8% no 3º trim. 2016, sempre com ajuste sazonal frente ao período anterior
• PIB da Indústria: -2,0%; -0,8%; +1,2% e -1,3%, nas mesmas comparações
• PIB da Indústria de Transformação: -2,3%; +0,7%; +0,1% e -2,1%, respectivamente
Em boa medida, esse comportamento estava sob influência da indústria, que entrou em uma fase de moderação de sua crise no início de 2016, a ponto de voltar a crescer no segundo trimestre ainda na série com ajuste sazonal. No caso da indústria de transformação, variações positivas marcaram sua evolução nos dois primeiros trimestres do ano, mesmo que elas tenham sido de pequena magnitude. Por isso, é muito grave que o setor tenha voltado a cair recentemente.
Como os indicadores de produção industrial já haviam sugerido, o PIB industrial para os meses de julho a setembro voltou ao campo negativo, atingindo, inclusive, patamares expressivos: -1,3% no setor como um todo e -2,1% na indústria de transformação, frente ao trimestre anterior, com ajuste sazonal. É como se sua trajetória tivesse assumido um formato de “W”, em que há não apenas um, mas possivelmente dois “fundos de poço”.
Ainda na ótica da oferta, os demais setores da economia tampouco tiveram um resultado melhor. O PIB da agropecuária caiu mais intensamente no terceiro trimestre (-1,4% frente ao segundo trimestre, com ajuste) e o PIB dos serviços permaneceu preso no mesmo patamar de retração (-0,6% na mesma comparação), que, apesar de menor do que aquele que vigorou em 2015, não é desprezível.
Na ótica da demanda, a piora do desempenho de dois componentes é preocupante e merece destaque. O primeiro desses componentes são as exportações que, depois de cinco trimestres sucessivos de resultados positivos, caíram no segundo trimestre de 2016, o que foi aprofundado ainda mais no terceiro trimestre. Por sorte, as importações também voltaram a declinar neste último trimestre, sem o que a contribuição da demanda externa ao crescimento econômico seria bastante negativa.
• Exportações: +0,5% no 4º trim. 2015, +4,8% no 1º trim. 2016, -1,8% no 2º trim. 2016 e, agora, -2,8% no 3º trim. 2016, sempre com ajuste sazonal frente ao período anterior
• Formação Bruta de Capital Fixo: -4,4%; -1,6%; +0,5% e -3,1%
Vale enfatizar mais uma vez que diante de um quadro em que são extremamente escassos os fatores internos de dinamismo, o país não pode se dar ao luxo de deixar sua taxa de câmbio se apreciar, mais do que já se apreciou, porque precisa dos estímulos vindos da demanda externa. Isso é tão mais importante dada a acirrada concorrência nos mercados internacionais devido ao crescimento historicamente baixo do comércio mundial.
O segundo componente do PIB que merece especial atenção é a formação bruta de capital fixo, isto é, os investimentos, cujo patamar de queda foi reduzido no início de 2016, chegando até a apresentar crescimento no segundo trimestre do ano. Agora no terceiro trimestre voltou a cair bastante. Com isso, a taxa de investimento do país recuou para 16,5% (-1,7 p.p. frente ao 3º trim./2015).
Isso mostra a insuficiência da melhora relativa das expectativas nos últimos meses para impulsionar os investimentos, sem que existam sinais suficientemente consistentes de que a economia de fato tenha engrenado em um processo de recuperação. Sem esses sinais, a melhora das expectativas se desmancha no ar. É preciso que elas sejam referendadas pela evolução efetiva da economia para que possam se traduzir em investimentos.
Os demais componentes do PIB pelo lado da demanda também sofreram retração no terceiro trimestre do ano na série com ajuste: os gastos do governo (-0,3%) contribuíram para encolher o PIB, diferentemente dos dois trimestres anteriores, assim como os gastos das famílias (-0,6%), que ao menos vêm declinando a taxas mais moderadas desde o início de 2016 (-1,5% e -1,0% nos dois primeiros trimestres).
Como o IEDI sempre enfatizou em suas Análises, a fase de arrefecimento da crise em 2016 nunca esteve livre de reveses, pois não significava que a economia tinha assumido uma real trajetória de recuperação. O PIB do terceiro trimestre exemplifica esse risco de deterioração adicional. O mais frustrante, é que continua difícil identificar elementos que possam pavimentar uma recuperação.
O câmbio teve o comportamento descrito. Os juros continuam elevados e sua redução, ao que parece, será devagar, quase parando. Os programas de infraestrutura não decolam. O governo está amarrado para poder fazer gastos anticíclicos. O mercado de trabalho sente a crise e está piorando, com a consequente redução do consumo das famílias. O crédito se contrai, inclusive o do BNDES, que tem reduzida sua capacidade de financiamento de eventuais investimentos em infraestrutura.
Ademais, o quadro político voltou a se agravar. Dado o declínio mais acentuado do PIB e da indústria, isto pode estar levando a uma recessão dentro da recessão pela qual o país já passa.
Resultados Gerais. Segundo o IBGE, o Produto Interno Bruto (PIB) do país recuou 0,8% no terceiro trimestre de 2016, em relação ao trimestre anterior (com o ajuste sazonal). Já em relação ao mesmo trimestre de 2015, houve queda de 2,9%. No acumulado do ano, o PIB brasileiro decresceu 4,0%, enquanto que no acumulado dos últimos quatro trimestres, o PIB foi 4,4% menor.
Ótica da Oferta. O desempenho do terceiro trimestre do PIB em relação ao trimestre anterior (com ajuste sazonal) foi resultado do decréscimo em todas as atividades: Agropecuária (-1,4%), a Indústria (-1,3%) e os Serviços (-0,6%).
No setor industrial, a maior queda foi observada na indústria de transformação (-2,1%), seguida pela construção civil (-1,7%) e eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana (-0,2%), enquanto a extrativa mineral registrou crescimento de 3,8%, puxada pela extração de petróleo e gás natural. Nos Serviços, transporte, armazenagem e correio (-2,6%), outros serviços (-1,0%), intermediação financeira e seguros (-0,6%) e comércio (-0,5%) apresentaram queda. Administração, saúde e educação pública (-0,1%) e atividades imobiliárias (0,0%) mantiveram-se praticamente estáveis no trimestre, enquanto a atividade de serviços de informação (0,5%) variou positivamente.
Em relação ao mesmo trimestre de 2015, novamente todos os setores apresentaram queda: agropecuária (-6,0%), indústria (-2,9%) e serviços (-2,2%). Na indústria, a indústria de transformação recuou 3,5%, seguida pela construção (-4,9%) e extrativa mineral (-1,3%). A atividade de eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana registrou expansão de 4,3%. Nos serviços, o destaque negativo ficou para a atividade de transporte, armazenagem e correio (-7,4%) e comércio (-4,4%), seguidos pela intermediação financeira e seguros (-3,3%), outros serviços (-2,5%) e serviços de informação (-1,5%). Administração, saúde e educação pública (0,1%) e as atividades imobiliárias (0,1%) mantiveram-se praticamente estáveis no período.
No ano, o PIB brasileiro acumulou recuo de 4,0% em relação a igual período de 2015, a maior queda acumulada no período de janeiro a setembro desde o início da série histórica iniciada em 1996. Nesta base de comparação, todas as atividades registraram queda: Agropecuária (-6,9%), Indústria (-4,3%) e Serviços (-2,8%).
No acumulado dos quatro últimos trimestres a queda de 4,4% deveu-se ao recuo do valor adicionado na agropecuária (-5,6%), indústria (-5,4%) e serviços (-3,2%).
Ótica da Demanda. Sob a ótica da demanda, na comparação com o segundo trimestre de 2016 (com ajuste sazonal), a Formação Bruta de Capital Fixo voltou a cair (-3,1%), após ter crescido 0,5% no trimestre anterior. A despesa das famílias (-0,6%) caiu pelo sétimo trimestre seguido e a despesa do governo recuou 0,3%. No setor externo, as exportações caíram 2,8%, enquanto que as importações recuaram 3,1% em relação ao segundo trimestre de 2016.
Na comparação entre o terceiro trimestre de 2016 e 2015, a formação bruta de capital fixo sofreu recuo de 8,4%, a 10ª consecutiva, devido a queda das importações e da produção interna de bens de capital, sendo influenciado ainda pelo desempenho negativo da construção. A despesa do governo caiu 0,8%, enquanto a despesa das famílias teve uma variação negativa de 3,4%. No setor externo, as exportações avançaram 0,2%, enquanto que as importações caíram em 6,8%, ambas influenciadas pela valorização de 8,5% na taxa de câmbio e pelo desempenho da atividade econômica
No ano, a FBKF teve uma queda de 11,6%, seguida pelo consumo das famílias (-4,7%) e o consumo do governo (-0,7%). No setor externo, as importações apresentaram uma queda de 13,1%, enquanto que as exportações cresceram 5,2%.
No acumulado dos últimos quatro trimestres, a formação bruta de capital fixo continua em queda: -13,5%. Os demais componentes do PIB também apresentaram queda nessa comparação: Consumo das Famílias (-5,2%) e Consumo do Governo (-0,9%). No setor externo, as exportações cresceram 6,8%, enquanto que as importações recuaram 14,8%.