Análise IEDI
Sem os amortecedores da ocupação na indústria
A despeito de uma pequena melhora em dezembro último (aumento de 0,4% com relação a novembro, considerados os ajustes sazonais), o emprego industrial caiu 3,2% em 2014, segundo números do IBGE. Se, no passado recente, a indústria brasileira mantinha seu contingente de trabalhadores mesmo diante de uma produção oscilante com tendência declinante, a partir de 2012 esse quadro começou a mudar e, em 2014, ficou claro que essa “relutância por não desempregar” não existe mais.
De fato, após cair 1,4% em 2012, 1,1% em 2013, a queda da ocupação industrial no ano passado alinhou-se com o tombo de também 3,2% da produção industrial em 2014. O emprego industrial passou a refletir integralmente o andamento da atividade produtiva da indústria. Se antes havia a expectativa de que os negócios na indústria voltariam a crescer em bases mais sólidas e, portanto, a demissão de hoje seria um custo a mais dada a necessidade de se contratar amanhã, essa expectativa também deixou de existir. O “escudo” do emprego industrial não mais perdura.
O tema tem um agravante: no principal centro industrial, São Paulo, a queda do número de ocupados na indústria (–4,3%) em 2014 foi maior que a média brasileira, sendo também a pior registrada na série histórica do IBGE, iniciada em 2002. Superou mesmo o revés do emprego do ano de crise global de 2009.
Em alguns setores industriais, o emprego caiu de modo dramático: calçados e couro, queda de 8,0%; refino de petróleo e produção de álcool, de –7,5%; produtos de metal, de –7,3%; máquinas e aparelhos eletroeletrônicos e de comunicações, de –7,2%; máquinas e equipamentos, de –5,5%; meios de transporte, de –5,4%; e outros produtos da indústria de transformação, de –4,5%.
Em setores mais tradicionais da indústria brasileira, o emprego também decresceu bastante em 2014, como os de produtos têxteis (–4,4%), metalurgia básica (–4,1%) e vestuário (–3,4%). Vale observar que o resultado de 2014 poderia ter sido pior se a queda da ocupação no setor de Alimentos de Bebidas (–0,6%), reconhecidamente um setor de peso importante e disseminado por todo o País, tivesse sido mais severa como nos demais ramos. Nesse caso, a produção e o emprego ainda estão se valendo do crescimento médio real da massa de rendimentos do trabalho observada nos últimos anos.
Para 2015, não se espera uma reversão desse processo. Provavelmente, o número de ocupados na indústria amargará mais um ano de queda que, caso de fato se concretize, será o quarto consecutivo. Essa crise do emprego industrial não deve ser vista como algo isolado. Ela tem repercussões negativas nas atividades produtivas dos demais setores da economia brasileira – Serviços, Comércio e Agropecuário –, bem como nos mercados de trabalho desses mesmos setores.
Em dezembro de 2014, o total do pessoal ocupado assalariado na indústria mostrou variação positiva de 0,4% frente ao patamar do mês imediatamente anterior, na série livre de influências sazonais, interrompendo oito meses de taxas negativas consecutivas. Na comparação com dezembro de 2013, o emprego industrial mostrou queda de 4,0%. Já o índice acumulado no ano de 2014 ficou em –3,2%.
Regionalmente, em comparação com o mesmo mês do ano anterior, o emprego industrial recuou nos 14 locais pesquisados. O principal impacto negativo sobre a média global foi observado em São Paulo (–4,7%). Também vale destacar os resultados negativos assinalados por Região Nordeste (–4,4%), Minas Gerais (–4,5%), Região Norte e Centro–Oeste (–4,4%), Rio Grande do Sul (–3,3%), Paraná (–2,8%) e Rio de Janeiro (–4,0%).
Já no índice acumulado nos doze meses de 2014, o emprego industrial mostrou queda em 13 dos 14 locais, com destaque para São Paulo (–4,3%), que mostrou o principal impacto negativo no total da indústria. Em seguida, vieram Rio Grande do Sul (–4,2%), Paraná (–4,2%), Minas Gerais (–2,8%), Região Nordeste (–2,1%), Rio de Janeiro (–2,8%) e Região Norte e Centro–Oeste (–1,7%). Pernambuco, com ligeiro avanço de 0,1%, exerceu a única pressão positiva.
Na comparação com mesmo mês do ano anterior, o total do pessoal ocupado assalariado recuou em 17 dos 18 ramos pesquisados, com destaque para as pressões negativas vindas de meios de transporte (–7,4%), produtos de metal (–9,0%), máquinas e aparelhos eletroeletrônicos e de comunicações (–8,4%), máquinas e equipamentos (–5,5%), calçados e couro (–7,5%), outros produtos da indústria de transformação (–6,8%), alimentos e bebidas (–1,3%), vestuário (–3,1%), metalurgia básica (–5,7%) e produtos têxteis (–3,5%). O único impacto positivo sobre a média da indústria foi observado no setor de produtos químicos (0,7%).
No acumulado em doze meses, as contribuições negativas mais relevantes vieram de produtos de metal (–7,3%), meios de transporte (–5,4%), máquinas e equipamentos (–5,5%), máquinas e aparelhos eletroeletrônicos e de comunicações (–7,2%), calçados e couro (–8,0%), vestuário (–3,4%), outros produtos da indústria de transformação (–4,5%), produtos têxteis (–4,4%), refino de petróleo e produção de álcool (–7,5%) e metalurgia básica (–4,1%). Em sentido contrário, os impactos positivos foram registrados por produtos químicos (1,4%) e minerais não–metálicos (0,7%).
Número de Horas Pagas. Em dezembro de 2014, o número de horas pagas aos trabalhadores da indústria, já descontadas as influências sazonais, apontou variação negativa de 0,1% frente ao mês imediatamente anterior (oitava taxa negativa consecutiva). Na comparação com dezembro de 2013, o número de horas pagas aos trabalhadores da indústria recuou 5,3% (19ª taxa negativa consecutiva). Com isso, o total do número de horas pagas apontou perda de 3,9% no índice acumulado de janeiro a dezembro e a taxa anualizada, índice acumulado nos últimos doze meses, manteve a trajetória descendente iniciada em setembro de 2013.
Folha de Pagamento Real. Em dezembro de 2014, o valor da folha de pagamento real dos trabalhadores da indústria ajustado sazonalmente avançou 1,9% frente ao mês imediatamente anterior. Na comparação com dezembro de 2013, o valor da folha de pagamento real recuou 3,9% em dezembro de 2014 (sétima taxa negativa consecutiva), sendo que a principal influência negativa foi assinalada por São Paulo (–4,3%), seguido pela Região Nordeste (–5,5%), Minas Gerais (–3,8%), Paraná (–4,5%), Rio Grande do Sul (–3,7%), Rio de Janeiro (–3,8%) e Região Norte e Centro–Oeste (–2,9%). Em sentido contrário, o único impacto positivo sobre a média global foi verificado no Espírito Santo, com variação de 0,6%, impulsionado, em grande parte, pelo avanço registrado no setor de metalurgia básica (15,5%).