Análise IEDI
Um trimestre para não ser repetido
O terceiro trimestre deste ano foi marcado por reversões que, ainda que em alguma medida esperadas, deverão ser acompanhadas mais de perto. Além do resultado negativo global do PIB - queda de 0,5% com relação ao segundo trimestre - há, nos números do IBGE divulgados hoje, mudanças muito desfavoráveis no desempenho das atividades da economia brasileira.
Em primeiro lugar, destaca-se o recuo de 3,5% do valor agregado (VA) do setor agropecuário no terceiro trimestre deste ano, após aumentos de 5,8% e 4,2%, respectivamente, no primeiro e segundo trimestres – taxas calculadas com relação ao trimestre imediatamente anterior, com ajuste sazonal. Provavelmente, esse desempenho não se repetirá no último trimestre de 2013, mas ele já sinalizou que o valor agregado da agropecuária se aproximará mais de uma taxa de crescimento de 7,5% do que (como antes poder-se-ia se imaginar) de 10,0% no ano como um todo – em 2012, o VA da agropecuária caiu 2,1%.
O valor agregado da indústria em geral, após esboçar uma reação mais contundente no segundo trimestre (+2,2%), perdeu ritmo e praticamente ficou estável no terceiro trimestre (0,1%) – taxas também calculadas com relação ao trimestre imediatamente anterior, com ajuste sazonal. Portanto, a indústria voltou àquele padrão de crescimento baixo, observado desde o terceiro trimestre de 2010.
Esse desempenho decepcionante da indústria no terceiro trimestre deveu-se às retrações dos valores agregados da transformação (–0,4%) e da construção (–0,3%) nesse mesmo trimestre. A construção vive um final de ciclo e, portanto, apresentará mais um ano fraco: crescimento próximo de 2,0% neste ano, após a expansão tímida de 1,4% registrada em 2012. A transformação, por sua vez, continua num cenário bastante adverso, movido a muitas incertezas, e talvez somente consiga repor, neste ano, a queda de 2,4% de seu VA observada em 2012.
Mudança de padrão também é vista no setor de serviços. O aumento do valor adicionado desse setor foi de 0,1% no terceiro trimestre, com comércio estagnado (0,0%), intermediação financeira e seguros em queda (–0,2%) e serviços de informação perdendo fôlego (ao passar de um aumento de 2,3% no segundo trimestre para um de 0,7% no terceiro) – taxas com relação ao trimestre imediatamente anterior, com ajuste sazonal. No acumulado do ano até o terceiro trimestre, apesar desse desempenho mais fraco, os VAs de serviços e do comércio apresentam taxas de crescimento relativamente boas: 2,1% e 2,4%, respectivamente.
Do lado da demanda, comparando uma vez mais o terceiro trimestre e o segundo, cabe destacar também os recuos de 2,2% e 1,4% da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) e das exportações, nessa ordem. No caso da FBCF, interrompeu-se uma trajetória positiva e expansiva que vinha sendo observada desde o último trimestre do ano passado. Ainda assim, a expansão de 6,5% no acumulado dos três primeiros trimestres do ano levará a FBCF a um crescimento neste ano que recomporá a queda de 2012 (–4,0%). Ou seja, o ano de 2013 será um ano bom para os investimentos; o que não é tão bom é que essa queda acentuada no terceiro trimestre não deixa claro qual é o ritmo atual de crescimento dos investimentos.
Quanto às exportações, após o aumento de 6,8% no segundo trimestre – que recuperava a queda de 5,1% do primeiro –, o recuo de 1,4% anotado no terceiro trimestre, ainda que esperado, compromete os resultados para frente. O aumento de 1,4% das exportações no acumulado dos três primeiros trimestres deste ano é muito pouco e deixa claro que o Brasil terá mais um ano de exportações fracas (+0,5% em 2012).
Ainda no lado externo, as importações voltaram com tudo neste ano: crescimento de 9,6% no acumulado dos três primeiros trimestres de 2013. É verdade que esse resultado pode refletir, em boa parte, as importações de petróleo e derivados. No entanto, ele também volta a aparecer com um fantasma para a indústria nacional.
Os números do IBGE sobre o Produto Interno Bruto do terceiro trimestre de 2013 apontam recuo da ordem de 0,5% em relação ao segundo trimestre do referido ano, já considerando o ajuste sazonal. Na comparação com o mesmo período do ano anterior, o PIB apresentou expansão de 2,2%. Considerando o acumulado nos quatro últimos trimestres, o crescimento foi de 2,3%. Em valores nominais, o PIB do terceiro trimestre de 2013 atingiu R$ 1.213,4 bilhões.
Ótica da Oferta. Destacam-se as performances nada favoráveis da agropecuária e da indústria no terceiro trimestre deste ano. A primeira apresentou recuo de 3,5% do valor agregado (VA) em relação ao trimestre imediatamente anterior. Já a indústria permaneceu praticamente estável, com variação de 0,1% de seu VA. O desempenho da indústria foi, em grande medida, sustentado pela expansão da indústria extrativa mineral, cujo VA apresentou expansão de 2,9% ante o segundo trimestre de 2013, já que os VAs da transformação e da construção caíram, respectivamente, 0,4% e 0,3%. Na comparação com o terceiro trimestre de 2012, a indústria como um todo apresentou crescimento de 1,9% e obteve resultados positivos para todas as atividades que a compõem. Nessa base de comparação, merece destaque a construção civil, que apresentou crescimento de 2,4%, influenciado pelo crescimento das operações de crédito com recursos direcionados.
Ótica da Demanda. Destacam-se aqui os desempenhos também desfavoráveis da formação bruta de capital fixo (FBCF), do setor externo e o do consumo. A primeira apresentou recuo de 2,2% em relação ao segundo trimestre de 2013. No setor externo, as exportações recuaram 1,4% no terceiro trimestre. Por outro lado, o consumo das famílias e a despesa de consumo da administração pública apresentaram crescimento nesse trimestre, 1,0% e 1,2%, respectivamente.
Já, na comparação com o terceiro trimestre de 2012, a formação bruta de capital fixo (FBCF) cresceu 7,3%. Esse crescimento se deve a expansão da produção interna de bens de capital. A despesa de consumo das famílias, por sua vez, cresceu 2,3% em comparação ao terceiro trimestre de 2012. Esse desempenho foi impulsionado, entre outros motivos, pelo comportamento da massa salarial real.