Capital Estrangeiro, Globalização Pela Metade
Capital Estrangeiro, Globalização Pela Metade
O Estado de São Paulo - 14/11/2002
Exportadoras Brasileiras Têm Buscado Mais Mercados Que As Transnacionais
Rolf Kuntz
A exportação tem sido mais importante para o faturamento das grandes empresas nacionais do que para as de capital estrangeiro, segundo o Instituto de Estudos de Desenvolvimento Industrial (Iedi). Além disso, as transnacionais concentram suas vendas na Aladi, principalmente no Mercosul, enquanto as nacionais buscam mercados em maior número de regiões. Esse quadro começou a mudar com a crise no Mercosul. Estes dados aparecem num estudo sobre a participação de grandes empresas industriais no comércio exterior brasileiro. A pesquisa cobre 85 firmas industriais de capital estrangeiro e 80 nacionais. Essas empresas foram responsáveis por um terço do valor da produção industrial e das exportações, em 2000, e por 20% das importações.
Uma das conclusões mais importantes é que o Brasil precisa mudar a política de atração de investimentos diretos. Essa política deve privilegiar investimentos mais voltados para a exportação e para um comércio mais diversificado em produtos e em destinos. Esta conclusão é sustentável, também, com base no último relatório sobre investimento direto global divulgado pela Unctad (Conferência das Nações Unidas para o Comércio e do Desenvolvimento).
Segundo o trabalho do Iedi, o valor da exportação das empresas de capital estrangeiro cresceu 8,8% ao ano, entre 1989 e 1997, enquanto o da importação aumentou à taxa anual de 23%. Na fase de abertura, estabilização econômica e valorização cambial, o comércio das transnacionais cresceu mais velozmente que o das brasileiras, mas de forma desequilibrada. No caso das empresas brasileiras, a receita de exportação cresceu 5,6% ao ano e o gasto com importação, 6%. Na fase seguinte, até 2000, a exportação das estrangeiras diminuiu 2,8% ao ano e sua importação encolheu 12,3%. No caso das brasileiras, aumentaram a exportação e a importação, 7,1% e 3,9%, respectivamente. Resultado final de 11 anos: para as nacionais, crescimento médio de 6% ao ano para exportação e de 5,4% para importação; para as transnacionais, aumento de 5,5% para exportação e de 12,3% para importação.
O coeficiente de abertura evoluiu desigualmente. A relação entre valor exportado e receita total passou de 12,9% em 1997 para 19,2% em 2000, no caso das nacionais, e de 13,1% para 17,5%, no das estrangeiras. O coeficiente de importação das brasileiras cresceu de 5,2% para 7,8% e o das transnacionais, de 5,2% para 13,3%. O valor exportado pelas brasileiras só não aumentou mais, nesse período, porque diminuíram os preços das commodities. Com exceção de uma indústria, a Embraer, as empresas nacionais operam principalmente no comércio de commodities industriais, como aço, outros produtos metalúrgicos, alimentos processados e tecidos.
As estrangeiras têm maior peso na exportação de bens mais elaborados, como automóveis, caminhões e equipamentos. Importam basicamente do mundo rico (regiões de origem) e exportam principalmente para a América Latina. Por isso foram mais afetadas que as nacionais pela crise no Mercosul. Só com a crise a participação da América do Norte e da União Européia em suas exportações passou de 36,6% para 52,3% entre 1997 e 2000. No caso das brasileiras, a variação das vendas para esses mercados foi de 44,9% para 60,2% do valor total. Em 1989, a Aladi e o Mercosul absorviam 12% das exportações das multinacionais e 4,3% das vendas daquelas empresas brasileiras. Em 1997, aquelas fatias corresponderam a 43% e 12,7%. O Mercosul foi um importante fator de atração de investimento estrangeiro. O problema é que as empresas transnacionais concentraram-se em produzir para essa região e negligenciaram, até recentemente, a conquista de outros mercados. Para um país em busca de inserção global, foi uma estratégia empresarial ineficiente, mas possibilitada pelas políticas nacionais dos anos 90.