IEDI na Imprensa - 'Uma coisa é parar de cair, outra é voltar a crescer', diz economista sobre a indústria
O Globo
Thais Herédia
A indústria brasileira entrou sozinha na recessão e ninguém deu muita bola à época, em meados de 2014. Enquanto ela começava a afundar, os brasileiros se esbaldavam com crédito barato, conta de luz reduzida, incentivo para renovar os eletrodomésticos. E o setor de serviços ainda comemorava a chegada da nova classe C, que despontou no governo Lula.
Agora que a indústria se prepara para sair da crise, novamente não causa muita comoção. Estamos todos chocados com os efeitos nefastos daquela farra de três anos antes, que deixou 13 milhões de desempregados, famílias e empresas endividadas. Mas alguém tem que começar o caminho da retomada e esta responsabilidade pesa para o setor que está “exausto”, como me disse o Rafael Cagnin, economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial, o IEDI.
“O cenário é de exaustão. Estamos num período de exaustão industrial. Temos uma trajetória de redução das perdas, mas isto não garante que vamos virar a página da crise industrial. Uma coisa é parar de cair, mas isto não quer dizer que vai crescer. Antes de comemorar a reversão do quadro, temos que prestar atenção se ela vai mesmo acontecer. Podemos passar mais tempo do que gostaríamos presos nesta morosidade que marcaram os dois primeiros meses do ano”, me disse ao telefone.
Rafael se referia ao resultado da produção industrial de fevereiro, divulgado nesta terça-feira (4) pelo IBGE. A alta foi tímida demais, de apenas 0,1% comparado a janeiro – quando subiu 1,4%. O resultado veio abaixo do esperado pelos economistas e, no bimestre, a indústria cresceu apenas 0,3%. O economista está atento à trajetória no segundo trimestre, que começa agora.
Perguntei a ele qual efeito esperado da melhora da confiança dos empresários. O índice calculado para a indústria pelo IBRE/FGV está no maior nível desde 2014, quando a derrocada começou.
“Quem tem puxado esse aumento [da confiança] é avaliação sobre o futuro. Como todo processo de formação de expectativa é instável, se não tiver um quadro positivo para corroborar esta expectativa, ela desgasta. A aceleração da queda dos juros entra como ponto positivo, a liberação do FGTS também. Tudo é uma questão de timing, de quanto vai demorar para os juros do crédito baixarem lá na ponta, para que a melhora da confiança tenha fôlego de continuar. Para que os gastos com vistas ao futuro comecem a ser tomados no presente”, avalia Rafael.