IEDI na Imprensa - Contribuição do setor externo será menor em 2017
Valor Econômico
Marta Watanabe
As importações devem ficar estáveis ou ter leve elevação no ano que vem, deixando para trás as quedas de dois dígitos registradas em 2015 e projetadas para este ano. Esse comportamento dos desembarques, combinado com uma pequena alta da exportação, deve fazer com que o setor externo contribua positivamente para o PIB em 2017, mas em nível bem menor em relação aos anos anteriores, dizem analistas.
Livio Ribeiro, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre-FGV), chama atenção para a absorção externa, com o fraco desempenho do mercado mundial que, segundo projeções de organismos internacionais, deve crescer a taxa menor de 2% e assim conter as exportações brasileiras. "Tirando os períodos com eventos de crise, como em 2008 e 2009, o comércio mundial está nos níveis mais baixos desde os anos 90."
Em relação aos movimentos do câmbio, o economista considera o dólar em torno de R$ 3,40 "razoável" e não crê em grandes oscilações para essa taxa no próximo ano, embora o cenário seja mais favorável à depreciação, dado aspectos do cenário internacional, como expectativa de elevação da taxa de juros americana e preços de commodities com tendência de alta - embora contida -, combinados ao risco Brasil.
Os preços de exportação estão subindo, destaca Ribeiro, mas nem tanto, e os preços de importação seguem tendência semelhante, embora de forma mais despercebida. Por isso, o que se espera para os próximos 12 meses, diz ele, é estabilidade nos termos de troca, embora com viés de alta por conta de uma reação maior de preços do lado dos embarques do que das importações.
A expectativa para a importação no ano que vem, diz o economista do Ibre, é que fique zerada em relação a este ano, com variações pequenas para mais ou para menos. Os desembarques, portanto, diz Ribeiro, contribuirão menos para o PIB, porque, mesmo com atividade doméstica ainda fraca em 2017, a magnitude da queda de importações experimentada no ano passado, ou neste ano, não deve se repetir.
Fabio Silveira, sócio da MacroSector, tem análise semelhante. Ele destaca a mudança de comportamento das importações. Em 2015, lembra ele, as exportações como componente do PIB cresceram 6,3% contra o ano anterior. As importações caíram 14,1%. Para este ano, a projeção, diz, é de avanço de 5% na exportação e queda de 11% na importação. Para o ano que vem a projeção para exportação não muda muito, diz Silveira. A perspectiva é de crescimento de 6% nos embarques. A importação deve deixar de cair e deve ter leve alta, de 0,5%. Trata-se de um crescimento pequeno nos desembarques, mas muda a trajetória anterior de contribuição positiva para o PIB.
A projeção de alta na exportação leva em conta câmbio mais desvalorizado, diz Silveira, com câmbio médio para o próximo ano entre R$ 3,55 e R$ 3,60. A desaceleração global, porém, deve ser um limitador para a expansão maior dos embarques. Já as importações devem crescer, mas ainda de forma fraca por conta do desempenho da economia doméstica. A avaliação de Silveira é de crescimento zero para o PIB do ano que vem.
"O desempenho da exportação fica cada vez mais importante para uma contribuição mais positiva do setor externo no PIB", diz Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI). Por isso, explica, é crucial a manutenção de taxa de câmbio favorável à exportação principalmente num momento em que a demanda interna não é capaz de reaquecer imediatamente a economia e que a sinalização do Banco Central é de que a redução da taxa de juros será lenta.
"Não é o momento de retirar fatores dinamizadores", diz Cagnin. Para ele, o sinal de alerta ficou claro no segundo e no terceiro trimestres, quando as exportações dentro do PIB recuaram 1,8% e 2,8% respectivamente, na comparação com o trimestre imediatamente anterior, com ajuste sazonal.
Mais que câmbio, o economista do Iedi defende políticas de apoio ao exportador, como a volta de alíquotas maiores do Reintegra, benefício pelo qual o exportador recebe em créditos tributários uma parcela da receita de exportação.
José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), também avalia que, em termos de receita, as exportações cresçam em 2017 cerca de 6%, com superávit da balança comercial em torno de US$ 43 bilhões. Ele projeta câmbio médio entre R$ 3,30 e R$ 3,40 para o ano que vem e conta com alguma recuperação de preços para itens importantes da pauta exportadora.
O minério de ferro, exemplifica ele, embarcado em novembro a US$ 39 a tonelada, pode ficar com preço acima de US$ 45 a tonelada em 2017. Ele lembra, porém, de fatores que podem fazer grande diferença no cenário do comércio internacional, como medidas do presidente americano eleito, Donald Trump, saída do Reino Unido do bloco europeu e reconhecimento da China como economia de mercado.