IEDI na Imprensa - Indústria encolhe em 13 das 15 regiões pesquisadas pelo IBGE
Indústria encolhe em 13 das 15 regiões pesquisadas pelo IBGE
Brasil Econômico - 10/06/2015
Desempenho negativo na comparação com abril de 2014 não era visto de forma tão generalizada desde 2009
Aline Salgado
Depois de abalar todas as grandes categorias econômicas, a crise na indústria se alastra agora por mais regiões do país. Os dados de abril da Pesquisa Industrial Mensal — Produção Regional do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que, frente a abril do ano passado, 13 dos 15 principais centros industriais do país registraram retração na atividade produtiva. Um desempenho tão generalizado não era visto desde julho de 2009. Para analistas, a crise no setor é tão aguda que nem mesmo o recém-lançado pacote de concessões na infraestrutura conseguirá melhorar facilmente o humor dos empresários.
Os estados mais impactados pela retração na produção industrial em abril são aqueles cujos parques estão fortemente atrelados à produção de bens de capital e de consumo duráveis, categorias que apresentam as maiores quedas de produção, com recuos de 24% e 17,1%, respectivamente—na comparação abril/2015 com abril/2014. Por outro lado, salvam se as regiões que têm como pilar a produção extrativa, em especial, a de minério de ferro, como o Pará e o Espírito Santo — com expansão de 5,8% e 14,4%. No país, a atividade cresceu 11,1% no período.
Enquanto a indústria geral registrou retração de 7,6% em abril, frente a igual mês do ano passado, o Amazonas, no topo do ranking de desempenhos negativos regionais, encolheu 19,9%, puxado pela queda na fabricação de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos e outros equipamentos de transporte. Em segundo lugar, aparece o Ceará, com retração de 14,7%, reflexo da redução na produção de artefatos de couro e calçados, produtos têxteis e coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis. Em seguida aparece a Bahia, que retraiu 12,8% em função da perda de fôlego da produção de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis e metalurgia.
A quarta região como pior desempenho na produção industrial, com recuo de 11,3%, foi São Paulo. Diferentemente das demais, a situação no estado reflete o cenário da generalização da crise, que atinge todos os ramos produtivos, conforme observa o economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), Rogério de Souza.
“Quando se atinge tal grau de generalização é porque a crise já se alastrou para todo o tecido industrial, abrangendo bens de capital e bens duráveis de consumo, como também as indústrias de bens intermediários e as de consumo não duráveis ou semiduráveis. São Paulo tem uma indústria bastante diversificada e, como a produção está retraindo de forma geral, há uma queda em todos os ramos produtivos”, diz Souza.
Embora ressalte que a crise na indústria “não é de hoje”, o economista lembra que o mau momento da economia se espalhou por outros setores—comércio e serviços —, atingindo a confiança dos empresários e das famílias, o emprego e a rendado trabalho. “Tudo isso se reflete na indústria de forma acentuada e o ajuste fiscal deixa mais difícil o cenário”, afirma.
Embora possa trazer novo fôlego para a economia, analistas veem o novo pacote de concessões em infraestrutura com dúvidas. Para Thiago Custódio Biscuola, da RC Consultores, uma virada no humor dos empresários da indústria só deve se concretizar a partir do sucesso real dos leilões e do início das obras.
“O cenário atual da indústria é bastante preocupante, com os dados do IBGE mostrando a disseminação da crise para além dos grandes polos industriais. Uma mudança do cenário atual depende mais de uma decisão mais estrutural por parte do governo, como a reforma tributária”, diz Biscuola.
Para Rogério de Souza, se o modelo de concessões seguir um formato claro, com retornos bem definidos aos investidores, uma virada na confiança da indústria pode começar a dar sinais a partir do segundo semestre de 2016: “Embora as boas notícias do pacote possam mexer com os ânimos, os resultados concretos vão ficar mais para frente”.