IEDI na Imprensa - Indústria amarga nova queda na produção: 0,9%
Indústria amarga nova queda na produção: 0,9%
Brasil Econômico – 02/04/2015
Mercado de trabalho adverso já se reflete nos setores de bens de consumo semi e não duráveis, que atingiram a 5ª retração seguida
Aline Salgado
A atividade produtiva da indústria brasileira encolheu 0,9% em fevereiro, frente a janeiro, quando atingira crescimento de 0,3%, após revisão do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que incluiu novas informações na série histórica. Anteriormente, o instituto havia divulgado expansão de 2% em janeiro. Nos dois primeiros meses do ano, a produção industrial acumulou queda de 7,1% e nos 12meses registrou retração de 4,5%.
Embora generalizada—com 11 dos 24 ramos da indústria registrando retração na atividade, na comparação com janeiro — dois setores continuam amargando resultados piores: bens de capital e bens duráveis. Por outro lado, a categoria de bens de consumo semi e não duráveis, que gozava de um melhor desempenho relativo no ano passado (recuo de 0,3%, contra queda da indústria geral de 3,2%), por conta do aumento do rendimento médio dos trabalhadores e do mercado de trabalho ainda forte, começa a contabilizar resultados ruins. A produção das indústrias dessa categoria caiu 0,5% na comparação com o mês de janeiro, acumulando a quinta retração consecutiva. No ano, a queda chegoua6,9%eno acumulado de 12 meses, a 1,7%.
“A crise mais aguda parece que também chegou neste setor, reflexo da reviravolta que já está em processo no emprego e na renda da população”, afirma o economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), Rogério de Souza.
No acumulado janeiro-fevereiro deste ano, frente a igual período de 2014, a produção de bens de capital recuou 21,1% e a de bens duráveis, 20,1%. Em todos os ramos do setor de bens de capital houve queda da produção no bimestre. No ramo de bens de capital para transporte, a retração foi de 27,8%; para agricultura, a taxa foi de -23,1%; construção, –27,3%; uso misto, –19,7%; energia, –9,2%; e para a indústria, –1,6%.
Já dentro do setor de bens duráveis, a queda na produção de automóveis continua sendo a mais sensível, com retração de 22%. Logo em seguida aparecem eletrodomésticos da linha marrom (–36,8%) e da linha branca (–10,5%).
“Esses setores estão paralisados, pois dependem do crédito e das expectativas, de empresários e consumidores. O crédito encolheu e as expectativas colapsaram”, observa Rogério de Souza.
“Embora tente recuperar a confiança dos agentes econômicos, o ajuste fiscal tende, em seu início, a agravar a situação, na medida em que os cortes de investimentos públicos também deixam de induzir os investimentos privados e os aumentos de impostos retiram poder de compra”, acrescenta.
Para a equipe econômica do Bradesco, a indústria deve amargar nova retração na produção em março, com uma queda entre 1,0% e 1,5%.Opior desempenho, segundo a instituição, seria compatível com uma retração de 0,7% do Produto Interno Bruto (PIB) no mesmo período: “Os desafios da indústria continuam elevados, diante dos estoques altos e das pressões de custo, que têm mantido a confiança do empresariado em níveis baixos. Ajustes em importantes cadeias, como construção e óleo e gás, deverão também limitar o desempenho neste ano”.