IEDI na Imprensa - Em cenário de crise, indústria tem leve alento
Em cenário de crise, indústria tem leve alento
Brasil Econômico - 05/03/2015
Produção industrial cresce2%em janeiro, mas ainda acumula retração de 3,5%nos 12meses. Sondagem afasta recuperação
Aline Salgado
Depois de dois meses seguidos de retração, a indústria brasileira registrou sinais positivos, com um crescimento de 2% na passagem de janeiro para dezembro, segundo a Pesquisa Industrial Mensal do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O avanço, no entanto, está longe de indicar recuperação. Nos 12meses, a atividade acumula retração de 3,5%, e no confronto com janeiro de 2014, a indústria teve redução de 5,2% — a 11ª taxa negativa consecutiva. Diante do cenário de desaceleração da economia, juros altos, queda da demanda interna e dificuldades com o mercado externo, a confiança dos empresários só piora. Para analistas, mais um indicador de que a indústria terá dificuldades para sair da crise.
O resultado mensal da indústria foi puxado pelo crescimento de 9,1% da produção de bens de capital, o mais intenso desde julho de 2014, quando tinha alcançado alta de 14,7%. Longe de ser um efeito da retomada dos investimentos pelos empresários, segundo o superintendente adjunto de Ciclos Econômicos da Fundação Getulio Vargas (FGV/IBRE), Aloisio Campelo, a expansão esconde a retomada das atividades após férias coletivas, especialmente dos setores ligados à produção de caminhões e itens de máquinas e equipamentos.
“A produção física cresceu 9,1% depois de cair 11,5%. Nos dois meses anteriores, a produção do setor mostrou queda também. E não há sinal de reversão dessa tendência negativa da produção de bens de capital”, afirma.
Economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Rogério de Souza reforça o ponto de vista: “Para afirmar que a indústria entrou em uma trajetória de crescimento, vamos precisar de seis taxas positivas consecutivas, no mínimo”.
“Os resultados negativos podem arrefecer um pouco, mas não consolam a indústria. Outros indicadores comprovam que não vai haver recuperação fácil no curto prazo”, acrescenta Souza.
O Índice de Confiança da Indústria (ICI), medido pela Fundação Getulio Vargas, é um desses sinais. O indicador recuou3,4% entre janeiro e fevereiro, ao passar de 85,9 pontos para 83 pontos. Componente do ICI, o Índice de Expectativas (IE) caiu mais fortemente, 4,9%, passando a 81,9 pontos, mesmo patamar de setembro passado, e o menor desde abril de 2009 — em 80,9 pontos. Enquanto isso, o Índice da Situação Atual (ISA) teve queda de 2,1% e alcançou os 84 pontos, mesmo patamar de dezembro.
“As expectativas apresentadas pelas sondagens também não apontam para uma recuperação. O índice de fevereiro está no patamar mais baixo, desde 2009, quando se vivia o epicentro da crise financeira internacional. Além disso, o nível de utilização da capacidade instalada está baixo. O que reforça um cenário de dificuldades”, analisa Aloisio Campelo.
Segundo o IBGE, entre as grandes categorias econômicas, o segmento de bens intermediários também mostrou expansão, porém menor, de 0,7%. Já as categorias mais dependentes do consumo das famílias amargaram taxas negativas em janeiro. A indústria de bens de duráveis registrou retração de 1,4% e a de bens de consumo semi e não duráveis, queda de 0,3% — ambos registraram o quarto mês consecutivo de queda na produção.
Ainda na comparação mensal, 13 das 24 atividades pesquisas pelo IBGE tiveram resultados positivos, com destaque para o avanço de 9% na produção de máquinas, aparelhos e materiais elétricos, 7,6% de máquinas e equipamentos, e 5,4% da metalurgia. Em sentido contrário, a produção de coque, derivados de petróleo e biocombustíveis recuou 5,8%.